TERCEIRO POEMA
DE AMOR PRA ELA - (Imagem: Acervo LAM) - O terceiro poema pra ela é como o terreiro
aquarela, tudo dela que faz comigo: a cobiça, os castigos, as explorações do
umbigo, tudo que nela vem pra mim. Assim: ela me tira o sono, me larga em
abandono. Rouba meu sossego, se fecha em segredo; me prega uma peça, me faz de
trepeça; me torra a paciência, me larga na demência do coração a pedir
clemência e ela embromando, nem aí. Taí, ela me dá nos nervos, chega eu me
atrevo a cobrar atenção. Ah, não! Ela me faz de desvalido, aquele que foi
vencido, caso sem solução. Mas que azarão! Ah, ela come meu juízo no meio duma
chuva de granizo d´eu me lascar de montão. Que desolação! Sou fritado na sua frigideira,
todo meu afeto é só brincadeira na sua cavilação. E me lasco de antemão porque
sou resto de comida, a data preterida, maior sujeito broco. Ela me passa por
troco, me larga por descarte, nem sirvo pra estandarte porque sou mala sem
alça. Não tem a menor graça ser mercadoria sem nota, feito a caçola da
Maricota, ou cotoco no osso mucumbu. Que azedo angu, d´eu pular numa perna só,
de num saber desatar esse nó, sem frenagem na banguela. Tô me acabando feito
panela num mata-burro que me empaco, com a moleta no sovaco, a bosta do cavalo
do bandido. Nessa eu tô mesmo fudido, sem valer sequer um taco, verdadeiro cara
de tabaco, feito papagaio de pirata ou vassoura atrás da porta. Ela nem
desentorta e me deixa chutando lata, dando a cara à tapa, ruim que só arroz de
terceira. Mas que moedeira, sou pra ela farinha de Araripina, do lixo a
fedentina, inda mais carne de pescoço, liso sem tostão no bolso, jogado quem
nem lavagem na pia, no castigo da água fria na latrina dá descarga, que nem
mesmo a mãe do guarda vem pra me salvar. É de lascar! Sou atleta de regra três,
o mais otário freguês, um juiz em campo minado, um refém seqüestrado e com o
ataque na banheira, com o vacilo da bobeira e a mão à palmatória. Isso é que é
uma luta inglória, feito duplicata vencida, feito cata o chefe sem torcida,
eita, trabalhão danado! Sou inquilino despejado sujeito mais sem noção de
perder o camburão no pantim da malcriada. Pacutia incruada que no toitiço
esfrega, é aí que o bicho pega, tiro logo nove horas, dou bafejo e tudo tora,
ela fica então mansinha. Faz-se então toda tadinha, com a cara mais lisa, como
a guerra fosse brisa, fiquei só no esculacho. Aí acendo o facho no pinguelo da
priquita, dou um jeito que ela grita chega a baba a boca larga. Tomo logo a
vanguarda e me aprumo na manzanza, no meio dessa bonança da menina dos seus
olhos. É nela que eu me molho, quando o milagre opera, quando ela exaspera de
pernas pro ar. Aí vou me arrumar, tirando ali todo proveito, de dar-se a todo
respeito, nela até morrer de amar. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui, aqui e aqui.
DITOS & DESDITOS – Prefiro estar do lado dos
perdedores, das pessoas incompreendidas ou solitárias, em vez de escrever sobre
os fortes e poderosos. Pensamento da escritora espanhola Núria Añó. Veja mais aqui.
ALGUÉM FALOU: Você tem
que ser realista, a objetividade é a base de qualquer plano bom. Estranho pode
ser bastante normal. Pensamento da premiada escritora argentina Samanta Schweblin. Veja mais aqui.
MINIMA MORALIA – [...] Após a extinção do sujeito, a arte é o que
menos se deixa salvar pelo empalhamento do sujeito, e o único objeto que dela
seria digno atualmente, o puro inumano, furta-se ao mesmo tempo a ela por sua
enormidade e sua inumanidade. [...] Trecho
extraído de Minima moralia (Beco do
Azougue, 2008), do filósofo e musicólo alemão,Theodor W. Adorno (1903- 1969), que no
livro Prismas
– Crítica cultural e sociedade (Ática, 1998) ele diz: Escrever um poema após Auschwitz é um ato
bárbaro, e isso corroi até mesmo o conhecimento de por que hoje se tornou impossível
escrever poemas. Também no Dialética do esclarecimento (Zahar, 1985) expressa: O conceito é a ferramenta ideal que se encaixa nas coisas pelo lado por
onde se pode pegá-las. Por fim, no Palavras
e sinais: modelos críticos (Vozes, 1995): Paz é um estado de diferenciação sem dominação, no qual o diferente é
compartido. Veja mais aqui, aqui e aqui.
COCANHA, COCAGNE, COCAIGNE & CUCCAGNA – Cocagne é um país de localização desconhecida,
registrado na comedia Le Roi
de Cocagne (Paris, 1719), de um relato anônimo Le Dit de Cocagne,
do séc. XIII, registrado por Marc-Antoine Legrand, local famoso por sua comida requintada, que não é cozida, mas
cresce como flores. Doces e chocolates nascem na borda das florestas, pombos
assados voam pelo ar, vinho perfumado jorra das fontes e bolinhos chovem do
céu. O palácio real é feito inteiramente de açúcar de confeiteiro, as casas são
de maltose, as ruas são calçadas com pasteis e as lojas fornecem mercadorias de
graça. Diz-se que a casa de biscoito de gengibre existente em uma das florestas
alemãs, famosa graça às explorações de um par de irmãos, vem de Cocagne. Os habitantes
gozam de uma espécie de imortalidade porque desconhecem a guerra e, além disso,
quando atingem cinquenta anos, voltam aos dez anos de idade. Servem-nos uma
tropa de silfos, gnomos e ninfas aquáticas. Por outro lado, Cocaigne, recolhido
de Jurgen: A comedy of justice (N.Y.
1919), de James Branch Cabell, é uma ilha situada adiante de Sargyll, reino de
Anaitis, conhecida também como Dama do Lago, suposta filha do Sol e parente da
Lua. Sua missão é desviar, virar para o lado e derivar. Ela viaja muito,
demonstrando especial interesse em tirar ascetas da trilha espiritual que
conduz à canonização. Foi ela que deu a Artur de Camelot a espada de Excalibur
e que fez Guinevere, esposa dele, se apaixonar por Lancelot. As primeiras
pessoas a chegar em suas portas foram Adão e Eva, agora representados na
aldrava da porta. Há somente uma lei nesse reino insular: Faze o que parece bom para ti. Já Cuccagna é um pequeno país não
muito longe da Alemanha, registrado por anônimos nos relatos Capitolo di
Cuccagna (sec. XVI), Storia del Campriano contadino (sec. XVII) e Trionfo del
poltroni (sec. XVII). De acordo com alguns viajantes, entra-se por um rio. No meio
do pais ergue-se o monte Mecca, um vulcão cheio de sopa borbulhante. De suas
entranhas saem raviólis e outras massas que, rolando por suas encostas cobertas
de queijo, caem num vale de manteiga derretida. Lá os visitantes verão macacos
jogando xadrez, a família real dormindo três anos de cada vez numa cama de
linguiças, faisões assados correndo ao som de trompas e chuvas de capões caindo
do céu. O solo produz trufas do tamanho de casas, os rios estão cheios de leite
ou vinho. No inverno as montanhas ficam cobertas de requeijão, e durante o ano
inteiro doces deliciosos crescem ao longo das estradas. As casas são feitas de
vários tipos de comida italiana e as pontes são grandes salames. As carruagens
andam sozinhas, sem necessidade de cavalos, e as árvores dão todo tipo de
frutas. Uma fonte pequena está ao dispor de quem queira reduzir a idade lavando-se
em suas águas. As mulheres dão à luz cantando e os bebês falam assim que
nascem. Quem dorme mais, ganha mais; quem for encontrado trabaçhando é levado
imediatamente para a prisão. Veja mais aqui e aqui.
A MULHER DE PEDRA – [...] Como
vivemos nossas vidas não depende, infelizmente, apenas de nós. Circunstâncias,
boas ou ruins, intervêm constantemente. Uma pessoa próxima a nós morre. Uma
pessoa não tão próxima de nós continua vivendo. Todas essas coisas afetam a
forma como vivemos. [...]. Trecho extraído da obra Mulher de Pedra
(Record, 2002), do escritor,
roteirista e cineasta paquistanês Tariq
Ali, que expressa a atualidade assim: Afinal, vivemos em um mundo onde as ilusões são sagradas e a verdade,
profana. Veja mais aqui.
QUEM DEVE DIZER: Quem
deve dizer / que a Casa das Línguas não é aquele lugar / onde os ratos
enxameiam em torno de seus pés / sob sofás florescendo / não é aquele lugar /
de neve envenenada, canetas que secam / e segredos agora tarde demais para
saber / e, certamente, o murmúrio lá embaixo / era um mur-era um mur-era um /
murmurando quase para ser ouvido / um borbulhando como água / invisível, por
baixo / E olhe a sombra de uma asa / cai aqui como sangue / bebe profundamente
de si mesmo / e sussurra sim por não / Uma vez que aqueles rostos por trás do
vidro / podem ter retornado seu olhar / podem até ter se reunido / a seus
membros, a fim de ficar / Quem deve dizer / que certas palavras não se
espalharam / tanto quanto os olhos dos gatos podiam ver / do outro lado do rio
no escuro. Poema do poeta estadunidense Michael Palmer. Veja mais aqui.
PROGRAMA
DOMINGO ROMÂNTICO – O programa Domingo
Romântico que vai ao ar todos os domingos, a partir das 10hs (horário
de Brasilia), é comandado pela poeta e radialista Meimei Corrêa na Rádio
Cidade, em Minas Gerais. Confira a programação deste domingo aqui. Na edição deste 30/09 do programa Domingo Romântico, uma produção da
radialista e poeta Meimei Correa e
apresentado por Luiz Alberto Machado,
está com uma programação pra lá de especial, confira as atrações: George
Gershwin,
Mahatma Gandhi,
Johan Svendsen, Miguel de Cervantes, Miles Davis, Machado de Assis,
Alessandro Stradella, Baden Powell, Jerry Lee Lewis, Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta),
Sting, Milton
Nascimento, Ronald Golias, Monica Bellucci, Mário Bortolotto, Ivan Lins, Gal Costa, Plinio Marcos, Wilson Simonal, Maria Rita, Geraldo
Azevedo, Fito Paez, Johny Mathis, Alceu Valença, Tim Maia, Jorge Vercilo, Zelia
Duncan e Lenine, Sonia Mello, Eliane Bastos, Thalita Carauta, Elaine Kundera,
Paulinho Moska, Luciana Soler, Ozi dos Palmares, Chacrinha, Roberta Miranda, o
Rei da Voz Francisco Alves, Chitãozinho & Xororó, Paulynho Duarte, Cantor
Pitanga, Walter Pepê, tudo isso muito mais!! Veja mais aqui.













