A arte do pintor suíço Johann
Heinrich Füssli (1741-1825).
LITERÓTICA: MINISSAIA
– Naquela manhã ela chegara com o sol na carne. Não fosse
aquela minissaia, por certo, nada teria acontecido fora do normal. Mas
aconteceu. Tudo por causa da irradiação sedutora que exalava daquela candura de
gente naquele momento mais encantador no tope da poesia de sua própria
emanação. De fato ela chegara, como de costume, para alegrar a vida dos que ali se
enfurnavam por anos na labuta intragável. Eu mesmo, desde que ela fora admitida
na repartição, que fui contemplado por uma motivação nunca dantes sentida,
para, ali, estar arduamente todos os dias. Mas naquele dia ela passara da
conta. Por certo, não fosse aquela minissaia o mundo jamais seria o mesmo e eu
jamais teria ousado além da minha timidez. É certo também que não havia quem
não lhe dedicasse atenção. Muito menos quem não lhe acenasse simpatia, não lhe
quisesse com afeto e ternura. Isso porque ela sempre fora a figura encantadora
que envolvia as pessoas com a magnitude de sua gentileza e carinho. Todos, sem
exceção alguma, todos, inclusive os chatos de galocha, os superiores
necrófilos, os misóginos enrustidos, todos adoravam aquele seu jeito doce de
ser: uma lindeza fora do comum. Verdade. E naquele dia, realmente, ela passara
da conta. Tudo por causa de uma minissaia. Se já se flagrava dela uma boniteza
acima do usual e que perfumava o ambiente de trabalho, que coloria as horas
mórbidas da rotina, incendiava os ânimos mais enterrados, iluminava a vontade
de viver recôndita na carestia, tudo isso e ainda mais futucava paixões remotas
em seres embrutecidos. Nossa, era demais mesmo. Réu confesso, eu posso dizer
que já era um dos mais agudos sujeitos afeiçoados por tudo que ela representava
de lindo, de sedutor, de apaixonante, de maravilhoso além do limite de todas
espetacularidades concebidas. A tal ponto de sua mínima aproximação provocar o
mais louco descontrole em mim. Nossa, cada vez que ela chegava ao meu lado,
tudo revolucionava. E reitero que eu mesmo não me continha e logo procurava
esconder a tesão que se insinuava no meu membro, deixando-me atordoado com
tanta sedução ali imantando todo o meu desejo. Tanto é que se há uma palavra
que possa legitimar toda singularidade da sua beleza, confesso que não há como
se definir num único termo, pois o que há de fantástico, o que se der por
extraordinário, o que se mensurar por insuperável, ali, naquela pessoa,
reduzia-se ao simplesmente magnífico jeito de ser próximo da imortalidade
cândida dos contemplados da magnitude dos deuses. Foi tanta sedução que não
resisti cobiçar tudo além daquela blusinha de alça coladinha no tronco,
delineando-lhe os apetitosos seios com ductos salientes acedendo a minha
libido. Com o umbigo exposto no centro da estonteante plataforma corporal que
dava na sugestão de uma mina púbica para lá de farta e coberta por uma
minissaia que guardava apenas o necessário para insinuar a revelação mais
esplendorosa de todas as missões iniciáticas. Ah, tudo estonteantemente muito
devastador, desde os pés de uma delicadeza aconchegante, das pernas torneadas a
convidar passos no mundo de todas as lonjuras, coxas de pele acetinada a dar
com o limite na minissaia junto ao encontro delas para realçar-lhe toda sedução
que começava no olhar querente incendiando todos, nos lábios de Angelina Jolie,
no rosto angelical de Mônica Bellucci, ah quanta loucura prestes a explodir. Foi
quando a tarde veio no meio da loucura e na impossibilidade de conter as
amarras, recorri dela para me acompanhar nos afazeres externos, ao que fiquei
feliz com sua aquiescência. - Que legal, estava precisando de uma carona para
resolver umas coisinhas. E o melhor: vai dar certinho no seu itinerário! Nossa,
que coincidência, havia algo de diabólico no ar para dar tão certo, ao passo
que sempre dera tudo errado para minha banda. Pé na taboa, a oportunidade não
se perdera. Ela entrou com jeito top model no assento dianteiro da kombi, ao
meu lado, mostrando logo a pontinha de sua calcinha branca que insinuava toda
gostosura protegida, enquanto eu me denunciava com o boticão de olho naquela
deliciosíssima fonte sob mil e uma peripécia comendo no centro do meu cérebro
enlouquecido com o cenário mais altissonante de todas as cenas luxuriosas que
se possam existir. Evidentemente que ela percebera a minha fixação no seu tufo
desejoso como se ali residisse todo segredo da botija de seu corpo. E esse
flagra surtiu efeito e ela parece que mais desleixava um jeito para lá de
conivente com a minha volúpia, gesticulando mais que sempre, ajeitando o decote
da blusa, apertando mais a minissaia já colada, minúscula e rente a tudo que
houvesse de maravilhoso no mundo. Ah. E sorria um riso largo com tudo que eu
inventasse dizer naquela hora para que eu me deliciasse com ela cada vez mais
linda e acessível, combinação perfeita. Mãos bobas, lábios errantes cruzando o
triz, perna roçando perna, tudo timidamente insinuando entregas de carícias
aqui e ali, descompromissados dos afazeres, ela indo e vindo no turbilhão de
ânsias, tudo se confundindo de vitalidade, luxúria e estertor. No meio desse
bombardeamento, respiramos molhando o íntimo de nossos quereres enquanto uma
cerveja apaziguava os queimores instantâneos na garganta, ao passo que nos
revelava efusivos, largados, despojados e eu levitando no close da sua
intimidade cada vez mais exposta para o meu regalo exploratório. Sei que nos
aboletamos nalgum lugar em uma das mesas mais afastada dali e ficamos
bebericando enquanto eu mergulhava no seu olhar e nadava nas ondas mais
movediças dos maremotos mais ruidosos. Eu viajava no som da sua fala como que
embalado pela ária mais etérea de encantamento humano. Eu bordejava pelas
curvas do seu rosto e me despencava na geografia do seu corpo como o cosmonauta
mais insone de todas as galáxias. Ao perceber todo meu encantamento, ela
passou-me as mãos pelos olhos e me disse: - Acorda! Tomei um susto. Evidente
que ela havia percebido que eu estava enfeitiçado. Não se fez de rogada,
trouxe-me seu copo à boca, bebi e senti-lhe a primeira ponta do sabor. -
Gostou? -, perguntou-me. - Adorei seu sabor. - Ah, é? Então ali os seus lábios
enleavam a dança na rotação do meus sentidos que se seguravam na translação
iridescente da sua nudez que suguei como quem apetece o mel de sua alma de
abelha-mestra. E percorri seus seios à beça com a minha boca sedenta que
baldeou sua imensidão despudoradamente com todas as carícias do meu ser rijo a
transgredir sua saia e correndo o risco de alcançar o interior da calcinha que
vai escondendo a diáfana gruta de veludo que me captava com bruscos movimentos
de suas pernas errantes e quadris indomáveis a me lambuzar com a vontade
gigantesca do seu prazer no que há de mais alvino e saboroso para o apetite nas
encostas da caverna mais deliciosamente abocanhada para me fartar domador de
feras na rota austral do encontro piaçabuçu de sua íntima rede potâmica, quando
vou pistão lubrificado pelo carter da sua cambota, imergindo na sua câmara de
combustão até o escape com toda força de tração para o apogeu de nossas almas
incendiadas. Ali nos agarramos um ao outro com beliscões ousados, mordiscantes
gestos, todos os puxavanques carinhosos de remexidos cambaleantes e
agarramentos famintos a nos esfregar na sacada do prédio, a nos desnudar na
penumbra do quarto e a nos curtir com a loucura do trânsito que é onda de mar
onde surfamos traquinos até que vençamos a última instância do nosso gozo
irrefreável a quedarmos vencidos um na premência do outro. O mundo rodou com a
nossa querência. Era bom demais para ser desastroso. Não conseguia largar de
mim nem dela naquela loucura de redemoinho delicioso. Éramos retirados dos
escombros ainda enlevados por tudo e levados para observação médica. Nosso
olhar se cruzou e ela, delirantemente, me sussurrou: - Não dá para perceber
nada na vida além... - Não dá mesmo -, concordei. A kombi fora dada com perda
total. Nós dois incólumes do acidente estávamos mais que levados pela luxúria
da nossa entrega. © Luiz
Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
DITOS & DESDITOS - O
aprendizado humano pressupõe uma natureza social específica e um processo pelo
qual a criança cresce para a vida intelectual daqueles que estão ao seu redor. Pensamento
do cientista e psicólogo russo Lev Vygotsky (1896-1934). Veja mais aqui.
O CORPO & BELEZA NA ATUALIDADE – [...]
Vivemos
hoje sob uma ditadura do corpo, se você não está dentro de um tipo determinado,
será um excluído social. Pessoas querem a todo custo se adaptar aos padrões
reinantes, e visando um resultado rápido recorrem a grandes cirurgias de
correção e implantes, em processos que muitas vezes submetem o paciente a diversos
tipos de procedimento em uma só cirurgia. A cirurgia plástica não é uma
cirurgia no corpo, mas no cérebro. Modifica-se a personalidade da pessoa com o bisturi. [...]. Trecho extrado de Ditadura da beleza: Epistemo-somática (Belo Horizonte,
2006), de Jorge Antonio de Menezes.
JUVENTUDE & LINGUAGEM – [...] Meu pai lia
diariamente o Neue Freie Presse, e era um grande momento quando ele desdobrava
lentamente seu jornal. Depois que começava a ler, não tinha mais olhos para
mim, eu sabia que ele não me responderia de modo algum, minha própria mãe não
lhe perguntava nada nesse momento, nem mesmo em alemão. Eu procurava saber o
que esse jornal podia ter de tão atraente; no início, pensava que era seu odor;
quando estava sozinho e ninguém me via, eu subia na cadeira e cheirava
avidamente o jornal. Apenas mais tarde, percebi que a cabeça de meu pai não
parava de se mexer ao longo de todo o jornal; fiz o mesmo, nas suas costas,
enquanto brincava no chão, sem nem mesmo ter sob os olhos, portanto, o jornal
que ele segurava com as duas mãos sobre a mesa. Um visitante entrou uma vez de
imprevisto e falou então comigo, antes mesmo de atender o visitante, explicando-me
que se tratava das letras, todas as letrinhas ali, e bateu em cima delas com o
indicador. Vou ensiná-las eu mesmo para você, logo, acrescentou, despertando em
mim uma curiosidade insaciável pelas letras.
[...]. Trecho extraído da obra História de um jovem, a
linguagem salva (Albin Michel, 1980), do
escritor e ensaísta búlgaro e Prêmio Nobel de Literatura de 1981, Elias
Canetti (1905-1994). Veja mais aqui e aqui.
TRES POEMAS - SOMBRAS DOS DIAS
QUE VIRÃO – Amanhã /
me vestirão com cinzas na aurora, / me encherão a boca de flores / Aprenderei a
dormir / na memória de um muro, / na respiração / de um animal que sonha. OS PASSOS PERDIDOS - Antes foi
uma luz / na minha linguagem nascida / a poucos passos do amor. / Noite aberta.
Noite presença. A CARÊNCIA - Não
sei sobre pássaros, / não conheço a história do fogo. / Mas creio que minha
solidão deveria ter asas. Poemas da escritora argentina Alejandra Pizarnik (1936-1972).
A arte do pintor suíço Johann
Heinrich Füssli (1741-1825).
MUSA DA SEMANA: DI MOSTACATTO – a cantora e compositora carioca Di Mostacatto, começou a cantar aos quinze anos e dedicou-se, a partir disso, aos estudos de teoria musical e canto.
Foi vencedora do FAMPOP, de Avaré, São Paulo, e do FAMA, em Alegre, no Espírito Santo. Também no Cantagosto, de Formiga, Minas Gerais, no Festival de Ilha Solteira, em São Paulo e chegou a ser a melhor intérprete no Canto da Lagoa, em Encantado, no Rio Grande do Sul.
Gravou jingles, participou do coro em vários discos e shows de artistas, trabalhou com publicidade e em participações de festivais, ampliando sua bagagem e construindo uma trajetória sólida de voz, canto e sons dignos de nota.
O seu primeiro cd “Di Mostacatto”, foi lançado em 2000, realizando show em diversas cidades brasileiras.
Lançou também “Best Seller”, com a maioria de suas composições e parcerias.
Ela persegue a sua estrada e merece todo o nosso aplauso. Aqui, a nossa homenagem para esta linda e maravilhosa cantora e compositora, Di Mostacatto.
VEJA MAIS:
MUSA DA SEMANA
Veja
mais sobre:
Das idas
e vindas, a vida, Roberto Crema, Martins Pena, Leila Diniz, Angeli, Sharon
Bezaly, Paulo César Saraceni. Anders Zorn, Eudes Jarbas de
Melo & João Monteiro aqui.
E mais:
Uns
trecos dos tecos, A importância do
sono, Doro arretado & Zé Bilola aqui.
Horário
eleitoral puto da vida: a campanha de Zé Bilola aqui.
Cordel O sertanejo Antonio Cobra Choca, de José Vila
Nova aqui.
Voto
Moral aqui.
Maurren Maggi aqui.
Horário
eleitoral, Dani Calabreza & outras presepadas aqui.
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Leitora Tataritaritatá.
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.