quinta-feira, outubro 02, 2008

MIA COUTO, AMIRI BARAKA, RAINALD GOETZ, MARIA ISABEL LEITE, ADOLF WÖLFLI, LEO CHARRE, LITERÓTICA & DICIONÁRIO TATARITARITATÁ


 
A arte do artista suíço Adolf Wölfli (1864-1930).

LITERÓTICA: MOLENGA – Art by Leo Charre - Nada melhor que a sua chegada no mormaço da tarde: carne fresca e trêmula de Luisa Micheletti suspirando desejo dentro do vestido. E eu enamorado pelo decote valho nada mais que menos de R$ 1,99 porque viro a sua criptonita e babo canibal pronto pro repasto delicioso que palpita e seduz entre as suas coxas no saiote que me fazem Goya no seu olhar Natalie Portman quando sou mais que Lobão na cobiça do seu remexido sensual de Vanessa da Mata. É aí que ela se rende, vendida, inheta de manha e cheia de munganga como quem desfila em trajes mínimos pela praia do Janga a me chamar de banguelo na rua, na chuva, na fazenda. Ah! Cobiçada prenda que faz ao vivo o que sabe e eu a ela, dois bicudos, dou meu recado e topa tudo autografando a foto e eu D2 carburando na sua fogueira, pronto para incendiar o mundo e o universo. É aí que vou Gustave Courbet enquanto ela Catherine Deneuve nua Séverine no devaneio do meu coração Luis Buñuel me provocando pra que eu seja o motorboy mandando ver na lambreta, levando na maior toda a máquina indomável que nua, linda, implacável vai se insinuando e vou pastorando com jeito e jinga até não resistir sem qualquer empecilho. É quando ela mexe os cílios, desenfreada, finda emo com toda aura domada pela minha certeira ferveção que espragata os tomates, descasca banana, chupa laranja - minha língua vira solo de guitarra Kisser Sepultura reverberando nas entranhas como o meu mergulho na Ponta Verde do seu corpo. Ela ronrona, resmunga, fala feito hap e eu repente como o sol na pele lavando a alma e a jega na sua graça e sanha, porque sou vilão sem papas na língua nem escrúpulo nem nada, sou Nelinho mandando o canudo nela goleira vazada com prazer bola na caçapa, gol, sou goleada, sou passe certo na jogada, ela de voleio e eu gozando na jangada com minha tocha viva e ela sádica:porque sou campeão e ganho a taça e o premio Nobel, porque tudo se arregaça, tudo é ignóbil e tudo me dá e tudo dou pra ela, sem piedade nem noção, porque tudo finda dela nua e dada numa gravura tatuada no meu coração. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.


DITOS & DESDITOSNada é tão fantasticamente esmagador como o autêntico, nada é tão incrível como a realidade real. Pensamento do escritor e dramaturgo alemão Rainald Goetz.

A CIDADE – [...] Visitar outra cidade – sair do conhecido chão – é poder alargar experiências emocionais, culturais, estrética e imagéticas importantíssimas para o nosso continuo desenvolvimento e aprendizagem. [...]. Trecho do artigo Experiência estética e formação cultural: rediscutindo o papel da cidade e de seus equipamentos culturais, de Maria Isabel Leite, extraído da obra Ensaios em torno da Arte (Argos,2006), organizado por Sandra Ramalho Oliveira & Sandra Makowieck.

ROSA CARAMELA - [...] A cara dela era linda, apesar. Excluída do corpo, era até de acender desejos. Mas se às arrecuas, lhe espreitassem inteira, logo se anulava tal lindeza. Nós lhe víamos vagueando nos passeios, com seus passinhos curtos, quase juntos. Nos jardins, ela se entretinha: falava com as estátuas. Das doenças que sofria essa era a pior. Tudo o resto que ela fazia eram coisas de silêncio escondido, ninguém via nem ouvia. Mas palavrear com estátuas, isso não, ninguém podia aceitar. Porque a alma que ela punha nessas conversas chegava mesmo de assustar. Ela queria curar a cicatriz das pedras? Com maternal inclinação, consolava cada estátua: — Deixa, eu te limpo. Vou tirar esse sujo, é sujo deles. E passava uma toalha, imundíssima, pelos corpos petrimóveis. Depois, retomava os atalhos, iluminando-se de enquantos, no círculo de cada poste. De dia lhe esquecíamos a existência. Mas às noites, o luar nos confirmava seu desenho torto. A lua parecia pegar-se à marreca, como moeda em encosto avaro. E ela, frente aos estatuados, cantava de rouca e inumana voz: pedia-lhes que saíssem da pedra. Sobressonhava. Nos domingos ela se recolhia, ninguém. [...]. Conto extraído da obra Cada homem é uma raça (Caminho, 2008), do premiado escritor e biólogo moçambicano Mia Couto. Veja mais aqui.

POEMA QUE ALGUNS TERÃO QUE ENTENDER - Sujas e opacas janelas dos olhos / e edifícios de esforço. Que / esforço faço eu? Um menino / preto e esperto, a 3 quilômetros da sua / casa. Não faço nenhum esforço. / Já não sou motivo de orgulho / pra minha raça. Leio um pouco, / trabalho contra o silêncio lentas tardes / de primavera. / Pensei, antes, alguns anos atrás / que chegaria ao fim da minha vida. / Ego de aquarela. Sem a exatidão / que um homem violento poderia oferecer. / Mas a sorte, e as sortes, / Não nos abandonarão. Toda a fantasia / e justiça, e invernos de carvão seco / Todos os cidadãos lamentavelmente inteligentes / Que me forcei a amar. / Esperávamos a vinda de um fenômeno / natural. Místicos e românticos, versados / trabalhadores / da terra. / Mas nenhum veio. / (Repita) / mas nenhum veio. / Metralhadores, por favor, podem dar um passo à frente? Poema do poeta, dramaturgo, ensaíta e militante negro estadunidente da Geração Beat, LeRoi Jones – Amiri Baraka (1934-2014). Veja mais aqui.


Art by Leo Charre


DICIONÁRIO TATARITARITATÁ

ABRIR A PORTEIRA – nascer.

AH, NÃO! – Interjeição reprovativa. Usada comumente para condenar a merda dos outros.

BEÓCIO – ignorante, simplório, broco, bronco.

BRONHA – punheta. Masturbação.

BRUGUELO – pivete, pixote, meninote.

CABIDELA – galinha cozida. Quando se refere à mulher, menstruada.

CABOETA – alcagüete, caga-pau, dedo-duro.

CABULOSO – chato-de-galocha.

CAPÔ-DE-FUSCA – região pélvica feminina. A testa da chiranha, da cheba, da vagina.

CRUZETA – armação, tocaia, encurralada.

CUZÃO – Mequetrefe tolo.

DINDIN – dinheiro na mão dos outros.

ENDIVIDADO – sujeito que anda cheio de nó pelas costas, coberto de dívidas. Fudido de débitos.

FUDIDO – sujeito lascado.

GAIATO – maloqueiro. Mangador. Presepeiro.

IMBROGLIO – Aranzel. Miolo de pote. Asneiras. Despautérios.

INHETA – inquieta. Fuviando. Mexedora. No cio.

LASCADO – fudido e meio.

MUMUNHA – munganga.

NADICA – porra nenhuma.

PATOLINO – aquele que paga o pato, oxente!

PENCÓ – o cabrunco, bicho-ruim, a coisa-pega.

PERSEGUIDA – Priquita. Buceta. Xoxota.

PINGUELO – clitóris.

PINOTE – pulo. Salto.

PULAR A CERCA – infidelidade. Botar gaia, 2 de 500.

REBORDOSA – enterro-voltando, sina ruim, negócio péssimo, momento azarento.

REINAR – Trelar.

TAPADO – nó-cego, Zé-prego, Zé-ruela.

TÓMEM – também. Servem para mandar todo mundo tomar naquele lugar, sabe?

TRELAR – reinação. Inquietação que parece ter um pitoco no cu.

UTI – bronca da porra, na casa da peste, sem saída.

V – gaia. Duas de quinhentos.

VOTO – Prest´enção, seu porra!

ZEZINHO – Zé-prego, badameco, reles sujeito.

ZORÓ – beócio.



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Se o mundo deu o créu, sorria!, Maria Clara Machado, Fridrich Witt, Bram Stocker, Susanne Barner, Darren Aronofsky, Aldemir Martins, Artur Griz, Ellen Burstyn, Claudia Andujar & Holismo, ecologia e espiritualidade aqui.

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Dicionário Tataritaritatá aqui.
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