sexta-feira, outubro 17, 2008

WILLIAM BLAKE, UMBERTO ECO, LEJEUNE, MULHER GREGA & NICOLE LORAUX,BURNE-JONES, ROSANA SIMPSON & LITERÓTICA


Arte do artista e designer inglês Edward Burne-Jones (1833-1898).

LITERÓTICA: A VARANDA – A lua reinava com a chegada da noite naquelas paragens. Era cheia na penumbra e transversal dos beijos estalados com sabor de cerveja e mar. No escurinho, frente a frente, mergulhamos no confronto dos corpos e ela beijoqueira começou a uivar com seus olhos de faroleiro errante. Primeiro naufraguei no seu decote e embarquei lépido rumo à plataforma do amor e nele fiz morada para sempre sem abrir mão de cavoucar todos os acidentes geográficos de sua assimetria provocadora. E fui, com uma mão entre a pele da cintura e o elástico do biquíni rompendo os vales do ventre umedecido. A outra alisando impune o dorso da coxa divisando a mina púbica de todos os desejos florescidos. Essa a nossa balada, o momento perfeito. Foi quando ela transida pela loucura da sedução infringiu todos os limites. Investigou, virando a cabeça, inspecionando lado a lado, conferindo os mínimos detalhes do ambiente para ver a existência de alguma presença afora a nossa, algum testemunho ou atrapalho flagrante. Enquanto fazia sua minuciosa conferência por toda dimensão territorial, eu me rendia ao toque de suas mãos inquietas e usurpadoras. Era porque enquanto ela inspecionava tudo, as suas mãos percorriam minha carne agitando minhas veias., vasculhando meu ventre e, depois da conferência geral, foi se ajeitando comodamente até que ajoelhou-se no piso forrado da paixão como uma Juliete Binoche arrepiada com a intimidade desnuda embaixo da saia levantada que dava comodamente com a vagina nua assentada e esfregada no meu pé como se fosse a sela do corcel onde ela rebolava e se arrastava à medida que se preparava para uma prece em frente da minha vela viva e empunhada pelo seu bulício. Parecia que estava insatisfeita de tudo e como quem quer mais do que possui, aos murmúrios lancinantes do cio, ela arremessou a vida no alvo do meu sexo premiado e dele fez o pavio de sua busca para alimentar o hábito de querer no hálito de sua alma requerente com o trabalho de quem faz por amor na labuta dos amantes, fazendo-o da pira iluminada com a sua língua acendedora de lampião no breu. Acolhedora atirou-se incansável e frenética e foi recolhendo todo meu edifício vistoso, andar por andar, lentamente, centímetro por milímetro, delicada e vorazmente implorando por misericórdia porque queria mais e muito mais do que havia até então se apropriado. Ela rangia os dentes, boca cheia dágua da baba escorrer pelo canto. E mais agitada ia acomodando o meu rijo tridente pelos vãos dos seus lábios que apontam os jardins do Éden. E ruminava contornando toda cúpula, torre e superfície acesa descortinando a lâmina afiada da minha espada porque sua boca movediça tratava de dar cabo de toda dimensão da minha estatura agora untada por sua saliva e batom vermelho que é a rosa em flor de lótus com mil pétalas estelares para toda a cobiça e se apossava com todo gosto e me destrinchava reavendo o que perdi na existência e não me restava mais nada do que aquilo tudo da dádiva dela. Foi aí que seguiu desmedida e sussurrava amolegando o meu guidon energizado, completamente abocanhado por sua faminta determinação. E gemia com a lareira do seu ventre grudado na minha pele. E prostrada sobre o meu ventre ela encarava a minha serpente de gumes afiados e que descobre todos os seus mistérios e que a faz mais que o esplendor do veludo sobre o meu mel. E lambia os lábios abastados como quem se prepara para o banquete de gratidão, como quem se arma para o bote benfazejo ao paladar e se arregalava quando suas mãos arregaçavam com mil beijos de sua gula profana que invadia e lambuzava, segurava e sobejava o meu sobejo e vicejava afogada na mira, retendo para si entre os dedos esgoelada e sugava e eu crescia. E afagava com o rosto, e tomava insaciável o falo como quem mede o palmo na palma da mão, ah, fodoral. Aí ela fechava o cerco e nada perco porque o meu cajado luzidio é o pico salivado pela sua sede e fome como quem escava o poço da garganta quando emerso da sua arma mais estreito transponho a abertura do seu empenho que se sujeitava a caprichar no vai-e-vem e a confiscar minha vigília como quem persegue a sua vingança, como quem rompe o senso de quem quer consolo a qualquer preço, como quem quer colo a qualquer custo e comendo bolo no maior rolo e eu aceso nos seus beiços que são novelos que me envolve na alquimia que me faz fruta madura quando a noite não cabe mais e retomo sem me deter e puxo, repuxo com força e quero atravessar sua laringe até onde mais der porque as suas margens esborraram com a lambida caleidoscópica onde toda cornucópia é mais que abundante e faustosa e tudo é imenso e absorve a minha manivela por inteiro porque ela engole o cabo e eu no seu reduto de cadela rosnando no osso de carne como quem saboreia um picolé delicioso e eu no auge vou como quem perde o leme, esquece a rota e ela me leva ao tálamo da sua presença ampla, vasta e totalmente viva entre as sombras que tenho porque fecho os olhos e ela sorve meu sêmen completamente embriagada e deliciando o néctar do meu gozo vivo nas galáxias de sua divina abóbada palatina que é a taça do desejo de sua mais que viçosa alma de nenhum fastio e transcendente precipício das chamas no maremoto da saliva que é o véu e que inventa o abismo delicioso que colhi e decifrei com toda e nenhuma direção e consinto que se sirva enquanto eu vulnerável vou sucumbindo à paixão do amor mais que desejado. Estava eu entregue e sob o seu jugo enquanto ela, olhar de sonsa, jeito de manhosa que não tem nada a ver com isso, risinho safado oculto no olhar, satisfação de tímida e nua reluzente, danada de gostosura e me tratando por herói, me fazendo amo e querendo ainda ser estraçalhada pela minha voraz vontade de esganá-la por inteiro com meus beijos, carícias e esfregões. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.


DITOS & DESDITOS – [...] O papel é espelho. Uma vez projetados no papel, podemos nos olhar com distanciamento [...]. Trecho extraído da obra O pacto autobiográfico: de Rousseau à Internet (EdUFMG, 2008), do professor e ensaísta francês Philippe Lejeune.

AS MULHERES GREGAS – [...] há seguramente razões históricas, razões de civilização: uma mulher grega vivia sua existência de moça, de esposa e de mãe no lugar mais recôndito da casa; ela também devia partir desta vida de sua casa bem fechada, ao abrigo dos olhos, longe de todo o público. [...] Sem dúvida nem todos os homens de Atenas morrem em combate, mas não existe um cujo epitáfio não confie de alguma maneira à cidade a lembrança eterna das qualidades do morto; nem todas as mulheres de Atenas extinguem-se em seu leito, mas é sempre ao marido (ou na pior das hipóteses à família) que compete preservar a lembrança da morta. Do ponto de vista paradigmático dos modelos sociais, é verdade que a cidade nada tem a dizer a respeito da morte de uma mulher, fosse ela tão perfeita quanto lhe é permitido ser; com efeito, a única realização para uma mulher e levar sem alarde uma existência exemplar de esposa e de mãe ao lado de um homem que vive sua vida de cidadão. Sem ruído. [...] seja qual for a liberdade oferecida pelo discurso trágico dos gregos às mulheres, ele lhes recusa a de transgredir até o fim a fronteira que divide e opõe os sexos. Sem dúvida a tragédia transgride, confunde, esta é sua lei, esta é sua ordem. Mas nunca a ponto de subverter irreversivelmente a ordem cívica dos valores [...]. Trechos extraídos da obra Maneiras trágicas de matar uma mulher: imaginário da Grécia Antiga (Jorge Zahar, 1988), da historiadora francesa Nicole Loraux (1943-2003). Veja mais aqui.

FICÇÃO – [...] Na ficção, as referências precisas ao mundo real são tão intimamente ligadas que, depois de passar algum tempo no mundo do romance e de misturar elementos ficcionais com referências à realidade, como se deve, o leitor já não sabe muito onde está [...]. Trecho extraído da obra Seis passeios pelo bosque da ficção (Companhia das Letras, 1994), do escritor, filósofo e bibliófilo italiano Umberto Eco (1932-2016). Veja mais aqui.

O JARDIM DO AMOR - Tendo ingressado no Jardim do Amor, / Deparei-me com algo inusitado: / haviam construído uma Capela / No meio, onde eu brincava no gramado. / E ela estava fechada; "Tu não podes" / Era a legenda sobre a porta escrita. / Voltei-me então para o Jardim do Amor, / Onde crescia tanta flor bonita, / E recoberto o vi de sepulturas / E lousas sepulcrais, em vez de flores; / E em vestes negras e hediondas os padres faziam rondas, / E atavam com nó espinhoso meus desejos e meu gozo. Poema do poeta, tipógrafo e pintor inglês William Blake (1757-1827). Veja mais aqui.

 Arte do artista e designer inglês Edward Burne-Jones (1833-1898).


MUSA DA SEMANA: ROSANA SIMPSOM – A cantora, compositora, produtora musical e publicitária pernambucana Rosana Simpsom, é uma artista atuante e oriunda de uma familia de músicos. Traz na sua trajetória a bagagem de quem foi considerada a melhor cantora da noite recifense no final dos anos 80, sendo a “Grande Vencedora” do Concurso de Música Carnavalesca Pernambucana 2007/2008 obtendo o 1º lugar na categoria Frevo Canção com a música “Frevendo” e 2º lugar na categoria Frevo de Bloco com a música “Antigos Carnavais”.


Além do seu trabalho artístico, a Rosana Simpsom também se dedica a trabalhos de solidariedade na categoria, sendo idealizadora dos projetos “Encontro dos Músicos de Pernambuco”, “Noite dos Músicos”, Movimento dos Músicos de Pernambuco & OMB” e “Quarteto Novo ao Vivo”.


Na sua discografia estão os cds “Tela de Cinema”, “Sucesso de barzinho - vol 2” e “Coletânea”. Atualmente prepara o seu próximo cd autoral “Só”.


Como hoje é o aniversário dela, daqui a nossa homenagem: Feliz aniversário, linda mulher Rosana Simpsom.



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