Ao som dos álbuns Luiza (RCA Victor, 1964), Saudade (Blue Note, 1974), Opus
3 nº 1 (Discovery, 1978) e Choros e Alegria (Adventure, 2005), do arranjador,
compositor, maestro e multi-instrumentista Moacir Santos (1926-2006).
Veja mais abaixo.
AUTOBIOGRAFIA RENEGADA – Simplesmente nasci e
do nada que tinha não disse nenhuma sequer perguntaram. Escapei de muitas para
hoje contar hestórias como se fosse Henri Michaux: De mãos vazias vou
ao reino noturno \ ao barro final dissolver o ser, eu que vivi a eternidade de
uma tarde... O que não possuia por juízo sobrava em ousadia: aprendia pelo
modo mais difícil, entre mãos e joelhos estrepados pelos escorregões nas quinas
de paralelepípedos. Furava o cerco e arames farpados, sem contar escalavraduras
na pele. Atravessei noites medonhas e dias torpes a findar com o horror de todos
os bichos e momentos chuvosos. O tempo de outrora era o polimento às lembranças
perdidas, os amigos de antanho eram outros solidários das horas intransponíveis.
Senti o ônus por ter ido catando benesses pra voltar. Do que previa exitoso,
juntava os cacos crepusculares. Hoje resta nenhum desaforo na cara nem pra
casa, afora obscuridade na boca quase emudecida e o que sou de inextricáveis
trevas e memórias ressequidas pela insondável solidão, entre a perplexidade e o
sortilégio. Vez ou outra contemplado pela magia dos encantos da ressurreta
desnuda La Goule e eu a chamá-la desacordado de paixão para vê-la Louise
nas noites interminaveis de espera. Vez em quando reaparecia furtiva a me levar
num Pas de Deux onírico: embalava minhas fantasias a sussurrar como se
fosse a escritora mauriciana Marie-Thérèse Humbert: …lugares tanto quanto fantasias, onde
trajetórias humanas se entrelaçam aninhadas umas nas outras... Quase um espantalho na noite inominável,
sigo a fio meadas esgarçadas e longínquos acenos nas miragens. Até mais ver.
DITOS & DESDITOS
Imagem: Acervo ArtLAM.
O bem
comum se distingue do individual e do público... Parte do problema é saber
educar as crianças sobre aves, biodiversidade e outras coisas quando elas vivem
em grandes cidades... Os seres humanos têm uma estrutura motivacional mais complexa e mais
capacidade de resolver dilemas sociais do que a teoria anterior da escolha
racional. Projetar instituições para forçar
(ou cutucar) indivíduos totalmente egoístas a alcançar melhores resultados tem
sido o principal objetivo proposto por analistas de políticas para os governos
realizarem durante grande parte do último meio século. Uma extensa pesquisa empírica me
leva a argumentar que, em vez disso, um objetivo central da política pública
deveria ser facilitar o desenvolvimento de instituições que trazem à tona o
melhor dos seres humanos... Devemos continuar a usar modelos simples onde eles
capturam o suficiente da estrutura e incentivos básicos subjacentes para prever
resultados de maneira útil. Quando o mundo que estamos tentando explicar e melhorar, no entanto, não é
bem descrito por um modelo simples, devemos continuar a melhorar nossas
estruturas e teorias para poder entender a complexidade e não simplesmente
rejeitá-la...
Pensamento da economista estadunidense Elinor
Ostrom (1933-2012), a primeira mulher a ganhar o Prêmio Nobel
de Economia, em 2009.
A EDUCAÇÃO & A MÚSICA – Entre as
artes a música é uma das formas que leva à educação e isto por conta da leitura
da obra As bases psicológicas da educação musical
(Bienne\Pró-Música, 1970), do educador e músico belga Edgar Willems (1890-1978)
que expressou: [...] A educação, bem compreendida, não é apenas uma
preparação para a vida; ela própria é uma manifestação permanente e harmoniosa
da vida. Assim deveria ser com todos os estudos artísticos e, particularmente,
com a educação musical, que recorre à maioria das principais faculdades do ser
humano [...]. A partir dele tive acesso à obra O
som e o Sentido: uma outra história das músicas (Companhia das Letras, 1989),
de José Miguel Wisnick, na qual apreendi: [...] Os sons preenchem cada minuto
do dia e as pessoas vivem imersas num mundo de vibrações sonoras, cujos apelos
produzem nelas, efeitos diferenciados dos outros estímulos sensoriais. Isso se
deve ao fato de que a música “fala ao mesmo tempo ao horizonte da sociedade e
ao vértice subjetivo de cada um, sem se deixar reduzir às outras linguagens [...].
Não menos esclarecedora a leitura da publicação Música na Educação Infantil:
propostas para a formação integral da criança (Fundação Peirópolis, 2003), da
musicista, professora, educadora e pesquisadora Teca Alencar de Brito,
expressando que: [...] Para a grande maioria das pessoas, incluindo os
educadores e educadoras (especializados ou não), a música era (e é) entendida como
“algo pronto”, cabendo a nós a tarefa máxima de interpretá-la. Ensinar música,
a partir dessa óptica, significa ensinar a reproduzir e interpretar músicas,
desconsiderando a possibilidade de experimentar, improvisar, inventar como
ferramenta pedagógica de fundamental importância no processo de construção do conhecimento
musical [...]. Até me deparar com o pensamento da professora e pesquisadora
Marisa Fonterrada: brincar com sons, montar e desmontar sonoridades,
descobrir, criar, organizar, juntar, separar, são fontes de prazer e apontam
para uma nova maneira de compreender a vida através de critérios sonoros.
MÚSICA NA
ESCOLA – A partir dessas leituras
passei a pesquisa sobre o tema Música na Escola, encontrando de primeira a obra
Reavaliações e buscas em musicalização (Loyola, 1990), da professora e
pesquisadora Maura Penna, na qual encontrei suas reflexões: [...] existem
diversas definições para música. Mas, de modo geral, ela é considerada ciência
e arte, na medida em que as relações entre os elementos musicais são relações
matemáticas e físicas; a arte manifesta-se pela escolha dos arranjos e
combinações [...] A música é um instrumento facilitador no processo de aprendizagem,
pois o aluno aprende a ouvir de maneira ativa e refletida, já que quando for o
exercício de sensibilidade para os sons, maior será a capacidade para o aluno
desenvolver sua atenção e memória [...]. Não menos esclarecedora foi a
expressão encontrada na obra Educação
Musical: bases psicológicas e ação preventiva (Átomo, 2003), da
musicoterapeuta Vera Bréscia, expressando que: [...] A música
contribui para o desenvolvimento psicomotor, socioafetivo, cognitivo e
linguístico, além de ser um recurso facilitador na aprendizagem [...]. Por
fim, a obra Música na Escola: a contribuição do ensino da música no
aprendizado e no convívio social da criança (Paulinas, 2009), do músico
alemão Hans Günther Bastian (1944-2011), mencionando que: [...] a música é
um guia competente nos diversos acessos ao terceiro milênio, em que muita coisa
se abre, mas apenas uma está clara, e é mais provável que o improvável aconteça
do que o provável. Se dá, pois, uma oportunidade à música, para que se possa
também ter uma oportunidade, pois a música está no fim? Não, no fim, está a
música! [...]. Veja mais aqui, aqui e aqui.
DOIS
POEMAS
Imagem: Acervo ArtLAM.
HOJE: Hoje
\ O hoje é nosso, vamos vivê-lo \ E o amor é forte, vamos dar \ Uma música pode
ajudar, vamos cantar \ E a paz é querida, vamos trazê-la \ O passado já foi,
não o lamentemos \ Nosso trabalho está aqui, vamos fazer \ Nosso mundo está
errado, vamos corrigi-lo \ A batalha dura, vamos lutar \ A estrada é difícil,
vamos desbravá-la \ O futuro vasto, não o tema \ A fé está adormecida? \ Vamos
acordá-la \ Hoje é nosso, vamos em frente.
LIBERDADE
É VIVER: Eu movi mansões do sul, \ mas você moveu montanhas. \ Eu vi o coração
do grande caçador branco, \ de dentro para fora, repetidas vezes. \ Enquanto
você bombeava água no oceano. \ Quando falo de poesia \ com frequência, sou
superficial e anseio \ por autenticidade. O tipo de amor \ que só uma mulher
negra merece. \De debaixo do peito \ De conservas fecundas. \ Beah, você é a
noite \ Beah, você é o útero \ Beah, você estava certo \ Em ser sempre você. \ Quando
eu li você pela primeira vez, \ eu sabia que \ uma torre da rainha \ a espada
de uma caneta. \ Corajoso, amplo, \ Escravo da Broadway, Casa, Democracia \Carvão,
prensado, diamante \ Uma Mulher Forte. \ Você nunca foi uma \ empregada de oito
linhas no meu filme. \ Você é a \ coisa mais próxima de uma mãe que jamais
encontrarei, \ a voz colorida mais pura que ousaria rebobinar. \ Beah, você é a
noite \ Beah, você é o útero \ Beah, você é a luta \ Pelo que precisamos \ ver.
Poemas da
atriz, poeta e dramaturga estadunidense Beah Richards (1920-2000).
ALGUÉM DISSE A RESPEITO - O
destino das mulheres é precisamente o mesmo dos homens: converter-se em seres
humanos. Pensamento da pedagoga e feminista norueguesa Ragna Nielsen
(Ragna Vilhelmine Ullmann – 1845-1924).
ALGUÉM MAIS FALOU: Seu
cérebro é altamente ativo, mesmo quando você não está fazendo nada. Seu cérebro
nunca está em silêncio... Toda vez que você aprende um novo fato ou habilidade,
você muda seu cérebro. Isso se chama neuroplasticidade. A neuroplasticidade
pode funcionar de maneira positiva e negativa. Isso pode ajudá-lo a aprender
uma nova habilidade, mas também pode fazer com que você esqueça algo ou cause
um vício... Conforme você envelhece, seu cérebro não apenas diminui. Cada um de
nossos comportamentos pode mudar nosso cérebro, e isso acontece
independentemente da idade. Na verdade, após um dano cerebral, é importante
trabalhar para mudar seu cérebro para recuperação... O principal impulsionador
da mudança em seu cérebro é o seu comportamento. Prática. Você tem que fazer o
trabalho... Seu comportamento é o melhor impulsionador da mudança em seu
cérebro. Não há atalho. Os comportamentos que você emprega em sua vida
cotidiana são importantes porque estão constantemente mudando seu cérebro; além
disso, uma mudança de longo prazo no cérebro requer prática e trabalho
contínuos. Seu cérebro é moldado pelo que você faz E pelo que você não faz.. Conheça
a si mesmo. Estude o que você aprende melhor e de uma forma que o ajude a
aprender melhor. Não tente aprender de uma maneira específica porque lhe
disseram que você deveria fazê-lo dessa maneira... Faça mais comportamentos que
ajudem seu cérebro a se tornar mais saudável. Quebre os que não. Por exemplo,
abandone a reclamação e faça o trabalho quando necessário. Pratique, pratique,
pratique. Tudo o que você experimenta muda seu cérebro para melhor ou para
pior, então, lembrando-se disso, saia e construa o cérebro que você deseja. Seu
cérebro é incrível e está constantemente sendo moldado pelo mundo ao seu redor.
Você pode mudar seu cérebro. Faça as coisas que o ajudam a construir o cérebro
que você deseja... Pensamento da neurocientista e fisioterapeuta
estadunidense Lara Boyd. Veja mais aqui.
MOACIR
SANTOS
Depois de tanto procurar \ motivações, explicações \ depois de tanto palmilhar \ desvios e bifurcações \ da proa desta embarcação \ consigo interpretar, enfim, \ a carta de navegação \ que o mar traçou dentro de mim. \ A previsão sombria \ assim se dissipou \ aquela estrela-guia \ do céu me orientou \ milhões de milhas naveguei \ nem sempre ventos a favor \ o cais da paz interior. Poema Navegação, do compositor e maestro Moacir Santos (1926-2006), extraído do livro Moacir Santos: o Ouro Negro do Pajeú (Comunigraf, 2004), de Marilourdes Ferraz. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.