LA GOULUE (Louise Joséphine Weber – 1866-1929) – Quem dera, Louise, desde a infância
judia de Clichy ter recolhido seus antepassados da Alsácia, e da mãe lavadeira
– de quem usava a roupa dos clientes para se amostrar nos salões de baile -,
tomasse o jeito de seguir sempre adiante. Quem dera a canceriana dançarina de
nascença saltasse aos meus olhos mais que fascinados com sua performance,
enquanto ainda adolescente convivia com estranhos na via du Bois. Quem dera me
visse na estreia do Teatro de Revista no circo Grille d’égout, ou desse conta
da atenção enquanto recebia as lições da coreógrafa Céleste Mogador. Acompanhei
sua travessia para Montparnasse a brilhar no Balé Bullier e tornar-se atração
se expondo ao Cancan do café Closerie des Lilas. Quem dera um olhar ao passar
fulgurante como destaque na quadrilha naturalista, revolvendo as saias, rendas
íntimas à mostra, os lábios de felatriz, pernas pro alto com os dedos do pé a
roubar o chapéu dos marmanjos chutando-os para longe. Quem dera chegasse pra minha
mesa para beber rápida e freneticamente os goles dos copos, enquanto passa ao
largo pelas mesas dos outros fregueses. Quem dera me ouvisse a gritar seu e
soubesse a querer Gulosa, vedete audaciosa e cativante sob os meus lençóis e
cobertores. Soubesse meus olhos vivos para flagrar a modelo de Renoir com seus
decotes generosos, fotografada nua por Achille Delmaet e o frisson da minha
alma aplaudi-la provocante lúbrica no Moulin Rouge com o par Renaudin – o
Valentin le Désossé, aquele que perdeu os ossos da carne no chahut e que era eu
alquebrado de amores pelos caracóis rebeldes de suas tranças, vivendo na pele a
inspiração da arte de Toulouse-Lautrec, enquanto sensualmente engalanada inaugurava
o palco do Olympia de Paris. Quem dera me visse a torcer pela iniciativa de seu
próprio negócio com gravuras de Lautrec na tenda do Foire, da Place du Trône, e
que me desse a oportunidade no meio de sua dança exótica ser o pai desconhecido
de seu filho Simon Victor. Mas não, preferiu o casório com aquele mágico
Droxler, para viver no boulevard de Rochechouart. Ele também era domador,
quando foram atacados pelos animais. Poderia tê-la salvado do vexame, nunca
mais. Quem dera me visse atento enquanto empobrecia atriz de teatro entregue ao
álcool e à depressão, a obesidade, eu a faria o que sempre foi: trapezista boa
de cama, cópula inesquecível de comida gostosa e seu insaciável apetite por
cima e por baixo, saias à cabeça deixando-me flagrar o coração bordado na
calcinha da bunda, aos olhos de Jane Avril, Oscar Wilde e Fénéon, enquanto eu já
sabia dela florista, domadora, mulher-canhão e lutadora na feira de Neuilly, já
na decadência para sobreviver entre circos e plateias vazias. Já então viúva de
guerra, a Madame da casa-reboque, desdentada e desabrigada vendendo cigarros e
fósforos à porta do teatro, cercada por cães e gatos doentes e pelos rejeitados
da cidade. Sou mais um entre eles a guardar seu glamour. Veja mais aqui e aqui.
DITOS &
DESDITOS - Nossas sábias da memória abençoada
disseram que não devemos desfrutar de nenhum prazer neste mundo sem recitar uma
bênção. Se comermos qualquer comida ou beber qualquer bebida, devemos recitar
uma bênção sobre eles antes e depois. Se respiramos o cheiro de bons grama, a
fragrância das especiarias, o aroma de boas frutas, pronunciamos uma bênção
sobre o prazer. O mesmo se aplica aos prazeres da visão. E o mesmo se aplica
aos prazeres do ouvido. Pensamento do escritor israelense Shmuel Yosef
Agnon (Shmuel Yosef Czaczkes – 1888-1970).
ALGUÉM FALOU - Para sufocar antecipadamente qualquer revolta, não é necessário
agir de forma violenta... Basta criar um condicionamento coletivo tão poderoso
que a própria ideia de revolta já nem virá à mente dos homens... Pensamento
do jornalista, filósofo e ensaísta judeu alemão Günther Anders (Günther
Siegmund Stern – 1902-1992).
AS PRIMAS DO
CORONEL - […] Madame Briquart conhecia o coração
humano, sabia que era cheio de inconsistências e não ignorava que seu sobrinho,
tendo feito uso extensivo de seus direitos celibatários, era um grande pecador diante
do Eterno. [...] Passara as horas de lazer da juventude, e mesmo depois, num
ambiente mais voluptuoso do que inteligente, onde o luxo extremo toma o lugar
das emoções da alma ausentes ou raras entre as sacerdotisas de Vênus; ela não queria que os sentidos
do marido experimentassem choques comparativos; a sua memória
recordou-lhe um casal cujo caminho parecia semeado com as mais doces flores do
amor, e que formavam os mais terríveis lares quinze dias depois da sua união,
porque a jovem, mal orientada pela mãe, mais dona de casa do que inteligente,
tinha, na noite de núpcias, exibiu um par de meias lisas de algodão cru e uma
camisola da mesma escola. Assim, ela não poupou problemas nem
cuidados. O grande dia finalmente chegou. Deliciosamente bonita,
sob sua coroa de flores de laranjeira, envolta na branca nuvem de noivas,
florentina jurou amor sincero e fidelidade ao marido, e foi um pouco comovida,
mas não assustada, que depois de um almoço com amigos, ela entrou no cupê que
os levava ao castelo onde Georges, de acordo com Madame Briquart, queria passar
as primeiras horas de intimidade conjugal. Também ele não gostava
dessa moda atual de ir pelos quatro cantos dos caminhos semear as impressões
mais delicadas de sua vida, de tomar como testemunhas dos primeiros
florescimentos de sua jovem esposa as paredes banais de um quarto de hotel. Preferia que os ecos da
morada onde iriam passar as suas vidas, onde iriam nascer os seus filhos, se
aprouvesse a Deus dar-lhes alguns, pudessem, nos momentos difíceis — há para
todos — confortá-los com as suas boas recordações. aquele que se sentiria fraco. [...] Já que
estamos entre mulheres — a nova esposa pronunciou isso “entre mulheres” com uma
seriedade que fez a velha sorrir — posso dizer-lhe que experimentei uma
sensação física que me encantou dentro de mim; que aconteceu sem luta,
sem derramamento de sangue e renovado da mesma forma. - Ah! mas então... Uma ideia
atroz passou pela cabeça de Madame Briquart, ela rejeitou-a como uma loucura. Não. Essa jovem nunca a
abandonou desde a infância, e a ingenuidade com que relatou suas impressões
provou a integridade de sua pureza. Ela teve uma intuição da
realidade dos fatos, e disse para si mesma: “Diavolo! meu querido sobrinho, ao
contrário, seria menos verde do que eu supunha? ” - Então, querida, seu
marido ainda não usou seus direitos de marido, ele não vai querer te assustar. Isso mesmo. - Mas se, mas se. "Então eu não
entendo mais." - Para que ? menina malvada que se
faz de ignorante, porque afinal você era casado e meu primo estava usando seus
direitos de marido. - Oh sim ! ele o usou tão bem já na
primeira noite de núpcias que o médico teve que ser chamado quatro dias depois,
porque ele havia me transformado abruptamente de virgem em mulher. "Então eu ainda não
sou uma mulher, primo?" “Acho que não, querida; você é uma virgem
maluca, mas é isso, ou pelo menos é o que eu acho. "Gostaria de
saber..." murmurou Florentine... A prima puxou a jovem para si, quase
jogando-a de joelhos, e enfiando a mão sob as anáguas de Florentine, tocou
levemente o clitóris que levantou sua cabecinha rosa . Descendo assim com
cuidadosa precaução entre os dois lábios da vulva, ela tentou entrar na vagina,
mas uma barreira resistente se opôs aos seus esforços. "Você está me machucando,
primo", disse ela. "Você pode ver claramente que
terá que sofrer para ser mulher, porque você só será uma quando Georges tiver,
por golpes agudos e repetidos do membro viril que possui, indubitavelmente
pressionado nesta membrana que é chamada de do casamento ; então, com delícias que
você ainda não conhece, ele afundará em você, inundará você com o licor quente
do amor que ele carrega dentro de si e fertilizará seu seio virgem. “Mas o sangue terá que
correr, e você deve, através de alguns momentos de dor passageira, comprar
esses prazeres do amor e os da maternidade. “Georges deve ter
querido poupá-lo. ” — No entanto, primo, eu vivi... —
O que você vai passar de novo. E a velha, passando o
dedo ágil pelas partes sexuais da jovem, voltou a provocar o espasmo encantador
que Florentino acreditava ser o da possessão. - Ah! meu Deus ! É tão bom quanto com
Georges, ela murmurou. Mas então uma mulher pode... pode...
fazer um amigo feliz. A prima reprimiu um sorriso
enigmático nos lábios e apontou discretamente para a porta do banheiro onde não
se ouvia mais o vaivém de Júlia remexendo nos armários. Florentina sentou-se
apressadamente, deu um longo beijo na prima e ela chamou a irmã, que
imediatamente apareceu à porta, com as faces muito vermelhas, os olhos animados. […] Coragem, minha querida, é só à custa de alguns minutos de sofrimento que
posso te fazer feliz. “Ajude-me e sofrerá menos. Sem a conversa que a
jovem tivera com Madame Briquart, sem dúvida ela teria se defendido um pouco,
mas estava aborrecida por ainda ser virgem; parecia-lhe que seu
primo estava zombando dela. Mais à vontade com o
marido do que na véspera, obedecia-lhe, sustentando-lhe os esforços com um
vaivém, entremeado de pequenos gemidos que Georges abafava com os beijos; logo, com a ajuda do
cold-cream, os movimentos ficaram mais fáceis, a dilatação aconteceu, uma
pancada certeira provocou o lacrimejamento desejado. O grito de triunfo de
Georges se misturou à reclamação de Florentine; sentiu-se trespassada,
mas ao mesmo tempo produziu-se uma sensação de extremo prazer: a dor cessou sob
a influência das carícias interiores que o marido lhe dispensava; então algo quente e doce
a inundou; o espasmo já conhecido voltou a
ocorrer desta vez com particular intensidade; ela perdeu a consciência
do que estava acontecendo e só acordou alguns momentos depois sob os beijos de
Georges. [...] Um dos seios da jovem havia meio escapado de sua bainha branca e
levantava sua pequenez ávida de prazer: delicadamente, Gastão a agarrou entre
seus lábios ardentes e a rolou suavemente. Julia, sob esta carícia
inebriante, contorceu-se de prazer. Com uma mão invasora,
ele acariciou suas virilhas, deslizou por suas virilhas enquanto ela subia
lentamente as colinas; Por fim, agarrou as coxas da jovem
com as duas mãos, abriu-as e passou a língua ávida pelos contornos roxos que
delineiam a entrada do templo do amor... [...]. Trechos extraídos da obra
Les Cousines de la Colonelle (Dominique Leroy, 1986),
da Vicomtesse de Coeur-Bulant (Henriette de
Mannoury Marquise de d'Ectot), a primeira escritora erótica que narra uma
história repleta de recomendações sobre como despir e acariciar uma mulher e a depravação
das grandes damas do reinado de Napoleão III, contando sobre Florentine e Julia
que se casam graças a sua prima, o coronel Briquart. Eles descobrem os
prazeres do sexo e a busca da volúpia é o motor do livre.
TROVÕES E
RELÂMPAGOS - Deixe-me beber seus lábios \ Deixe-me engolir sua
respiração \ Deixe-me provar a transpiração de \ Sua pele emaranhada pelo vento
\ Seu cabelo preto cai em cascata \ Na agonia do amor \ Seu rosto relâmpago -
trovão \ Uma flor bêbada. Poema da artista e poeta polonesa
Elsa von Freytag-Loringhoven (1874-1927). Veja mais aqui.
PRIMEIRAS PUBLICAÇÕES PSICANALITICAS – O livro Primeiras publicações psicanalíticas
(1893-1899), de Sigmund Freud, aborda temas como Charcot, mecanismo psíquico
dos fenômenos histéricos, as neuropsicoses de defesa, obsessões e fobias: seu
mecanismo psíquico e sua etiologia, sobre os critérios para destacar da
neurastenia uma síndrome particular intitulada neurose de angústia, uma réplica
às criticas do artigo sobre neurose de angustia, hereditariedade e a etiologia
das neuroses, novos comentários sobre as neuropsicoses de defesa, etiologia da
histeria, sinopses dos escritos científicos, a sexualidade na etiologia das
neuroses e o mecanismo psíquico do esquecimento.
PSICANÁLISE – Termo
criado por Freud para nomear um método particular de psicoterapia ou tratamento
pela fala, proveniente do processo catártico (catarse) de Josef Breuer e
pautado na exploração do inconsciente, com a ajuda da associação livre, por
parte do paciente, e da interpretação, por parte do psicanalista. Trata-se do
tratamento conduzido de acordo com esse método, sendo a disciplina que abrange
um método terapêutico, uma organização clinica, uma técnica psicanalítica, um
sistema de pensamento e uma modalidade de transmissão do saber (analise
didática, supervisão) que se apoia na transferência e permite formar praticantes
do inconsciente. É uma escola de pensamento que engloba todas as correntes do
freudismo.
CHARCOT – O médico e
neurologista francês Jean Martin Charcot (1825-1893) mereceu de Freud especial
consideração, tendo em vista que seu nome é inseparável da história da
histeria, da hipnose e das origens da psicanalise. Além disse, pela atenção
dispensada às mulheres do povo dedicada pelo médico, levando-o à gloria.
Charcot era rival de Hyppolyte Bernheim que era o pioneiro da noção moderna de
psicoterapia e demonstrou que a hipnose era um estado de sugestionabilidade
provocado pela sugestão. Enquanto Charcot assimilava a hipnose como um estado
patológico e se servia dela não como meio terapêutico, mas para provocar crises
convulsivas e dar um estatuto de neurose, para Bernheim a hipnose era apenas
uma questão de sugestão verbal, uma clinica de palavra substituía a clínica do
olhar. Dessa forma, Charcot tornou-se representante da primeira psiquiatria
dinâmica, inaugurando um modo de classificação inspirado no olhar
anátomo-clínico de Claude Bernard, distinguindo a crise histérica da crise
epitética e permitindo ao doente histérico escapar da acusação de simulação.
Enfim, substituiu a antiga definição de histeria, para adoção do moderno
conceito de neurose. Para ele o ataque histérico possui quatro fases: a fase
epileptoide, quando o doente se contraía em uma bola e dava uma volta completa
em torno de si mesmo; a fase de clownismo, com seu movimento em arco de
círculo; a fase passional, com seus êxtases; e o período terminal, com suas
crises de contratura generalizada. Acrescentou a variedade demoníaca da
história, aquela em que a Inquisição via os sinais da presença do diabo no
útero das mulheres. Freud, por sua vez, destruiu simultaneamente as teses de
Bernheim e de Charcot. De Charcot ele tomou uma nova conceitualização da
histeia e de Bernheim o princípio de uma terapia pela palavra.
METÓDO CATÁRTICO – O
médico austríaco Josef Breuer (1842-1925) desempenhou papel considerável na
vida de Sigmund Freud, entre 1882 e 1895. Ele começou a trabalhar em um
laboratório de fisiologia tratando do problema da respiração. Tornou-se célebre
em 1868 por um estudo sobre o papel do nervo pneumogástrico na regulação da
respiração, estudou depois os canais semicirculares do ouvido interno. Foi em
1870 que ele passou da fisiologia para a psicologia e se interessou pela
hipnose, experimentando em sua paciente Bertha Papperheim. Foi a partir daí que
criou o método catártico. A catarse é uma palavra grega utilizada por
Aristóteles para designar o processo de purgação ou eliminação das paixões que
se produz no espectador quando, no teatro, ele assiste à representação de uma
tragédia. O termo foi retomado por Freud e Breuer que, nos estudos sobre a
histeria, chamam de método catártico o procedimento terapêutico pelo qual um
sujeito consegue eliminar seus afetos patogênicos e então ab-reagi-los,
revivendo os acontecimentos a que eles estão ligados. A ab-reação é um termo
introduzido por ambos, em 1893, para definir um processo de descarga emocional
que, liberando o afeto ligado à lembrança de um trauma, anula seus efeitos
patogênicos. Esse estudo se direcionava para o mecanismo psíquico atuante nos
fenômenos histéricos. O procedimento consiste em conseguir, tomando como ponto
de partida as formas de que os sintomas se revestem, identificar o
acontecimento que, a primeiro e amiúde num passado distante, provocou o
fenômeno histérico. O estabelecimento dessa gênese esbarra em diversos
obstáculos oriundos do paciente, aos quais Freud posteriormente chamaria de
resistências, e que somente o recurso à hipnose permite superar. Na maioria das
vezes, o sujeito afetado por um acontecimento reage a ele, voluntariamente ou
não, de modo reflexo: assim, o afeto ligado ao acontecimento é evacuado,
por menos que essa reação seja suficientemente intensa. É importante que o ato
possa ser substituído pela linguagem, pois, para eles, somente as palavras
constituem o reflexo adequado. O emprego do termo psico-análise introduzido
posteriormente por Freud não significa o desaparecimento do termo ab-reação,
pelas razões de seja qual for o método, a análise continua sendo um lugar de
fortes reações emocionais e, ao mesmo tempo, a análise recorre à rememoração e
a repetição como formas paralelas de ab-reação.
PIERRE JANET – O
medico e psicólogo francês Pierre Janer ((1859-1947) foi o teórico do
automatismo psicológico e fundador da corrente da analise psicologia. Criador
do método de psicoterapia, ao qual deu o nome de análise psicológica, baseada
em três regras fundamentais: exame do doente face a face e sem testemunhas,
anotação rigorosa das palavras pronunciadas (ou método da caneta), exploração
dos antecedentes e dos tratamentos aos quais o doente fora submetido.
Fundamentava sua análise na investigação consciente e não na escuta de um
discurso inconsciente, adotando a nomenclatura de subconsciente. Este rejeitava
cruamente os trabalhos de Freud, acusando-o, juntamente com Breuer de
plagiários e que faziam a psicanalise passar por uma obscenidade vienense. É
inegável a influencia de Janet no trabalho de Freud e na construção da
psicanálise.
HISTERIA – Derivada da
palavra grega hysteria (matriz, útero), a histeria é uma neurose
caracterizada por quadros clínicos variados. Sua originalidade reside no fato
de que os conflitos psíquicos inconscientes se exprimem de maneira teatral e
sob a forma de simbolizações, através de sintomas corporais paroxísticos –
ataques ou convulsões de aparência epiléptica – ou duradouros (paralisias,
contratura, cegueira). As duas principais formas de histeria teorizadas por
Freud foram a histeria de angustia, cujo sintoma central é a fobia, e a
histeria de conversão, onde se exprimem através do corpo representações sexuais
recalcadas. A isso se acrescentam duas outras formas freudianas de histeria: a
histeria de defesa, que se exerce contra os afetos desprazerosos, e a histeria
de retenção, onde os afetos não conseguem se exprimir pela ab-reação. A
expressão histeria hipnoide pertence ao vocabulário de Freud e Breuer no
período de 1894-1895. Nos Estudos sobre a histeria, de 1895, a histeria
permanece como a doença princeps e proteiforme que possibilitou não apenas a
existência de uma clinica freudiana, mas também o nascimento de um novo olhar
sobre a feminilidade. A noção remete aos sofrimentos psíquicos das burguesas
ricas da sociedade vienense, quanto à miséria mental das loucas do povo.
Credita-se a Anton Mesmer ter operado em meados do sec. XVIII a passagem de uma
concepção demoníaca da histeria e da loucura, para uma concepção científica. Freud
entre 1888 e 1893, forjou um novo conceito de histeria, retomando de Charcot a
ideia da origem traumática e elaborou a teoria da sedução afirmando que o
trauma tinha causas sexuais, sublinhando que a histeria era fruto de um abuso
sexual realmente vivido pelo sujeito na infância. Foi quando apresentou a noção
de fantasia e retirar da sexologia a noção de libido. Nos Estudos sobre a
histeria, Freud propôs nova apreensão do inconsciente com conceitos de
recalcamento, ab-reação, defesa, resistência e conversão, graças a qual
tornou-se possível compreender como uma energia libidinal se transformava numa
inervação somática, numa somatização dotada de uma significação simbólica. A
partir da Interpretação dos Sonhos, Freud colocará o conflito psíquico como principal
causa da histeria, destacando as fantasias e não as reminiscências. Defendia
que ao lado de uma realidade material existia uma realidade psíquica igualmente
importante em termos da historia do sujeito. Do mesmo modo, a conversão devia
ser encarada como modo de realização do desejo: um desejo sempre insatisfeito.
Com a teorização da sexualidade infantil, Freud identificou o conflito nuclear
da neurose histérica (a impossibilidade de o sujeito liquidar o complexo de
Édipo e evitar a angustia da castração que o leva a rejeitar a sexualidade).
FOBIAS – Termo
derivado do grego phobos e utilizado na língua francesa como sufixo,
para designar o pavor de um sujeito em relação a um objeto, um ser vivo ou uma
situação. Em psicanálise, a fobia é um sintoma, e não uma neurose, donde a
utilização da expressão histeria de angustia em lugar da palavra fobia. A
histeria de angustia, para Freud, é uma neurose de tipo histérico, que converte
uma angustia num terror imotivado, frente a um objeto, um ser vivo ou uma situação
que não apresentam em si nenhum perigo real. Essa expressão foi adotada por
Freud por permitir situar a sexualidade no centro do sintoma fóbico,
constatando que este sintoma estava presente em toda sorte de distúrbios
neuróticos ou psicóticos, porém, mais particularmente, na neurose obsessiva e
na neurose de angustia, sendo uma conversão da angustia em temor, em pacientes
que praticavam a continência e se mostravam fanáticos com a limpeza, porque
tinham horror às coisas da sexualidade. Depois, na análise do Pequeno Hans, em
1909, Freud constatou que existia pelo menos uma neurose em que o sintoma
fóbico era central, designando-o de histeria de angustia. Nesses casos, a
libido não é convertida, mas liberada sob a forma de angustia.
NEUROSES – Termo empregado
por Freud com o sentido de designação de uma doença nervosa cujos sintomas
simbolizam um conflito psíquico recalcado, de origem infantil. Com o
desenvolvimento da psicanalise, o conceito evoluiu, passando a ter uma
estrutura tripartite, ao lado da psicose e da perversão. Assim, a neurose é
classificada como registro da neurose a histeria e a neurose obsessiva, às
quais é preciso acrescentar a neurose atual, que abrange a neurose de angustia
e a neurastenia, e a psiconeurose, que abarca a neurose de transferência e a
neurose narcísica. A neurose obsessiva é uma afecção autônoma e independente.
LEMBRANÇAS ENCOBRIDORAS –
Expressão composta e empregada por Freud para designar uma lembrança infantil
insignificante que, por deslocamento, passa a mascarar uma outra lembrança
recalcada ou não guardada. O deslocamento compreende o processo psíquico
inconsciente, teorizado por Freud, por meio de um deslizamento associativo,
transforma elementos primordiais de um conteúdo latente em detalhes secundários
de um conteúdo manifesto. Entende, pois, tratar-se de alguma coisa, um quantum
de energia, que é passível de aumento, diminuição, deslocamento e descarga, e
que se espalha pelos traços mnêmicos das representações mais ou menos como uma
carga elétrica sobre a superfície dos corpos. O processo de deslocamento e as
lembranças encobridoras explicam as razões das escolhas efetuadas pela memoria
entre os diversos elementos de uma experiência vivida. Duas forças psíquicas
entram em confronto, uma trabalhando na memorização dos acontecimentos
importantes, outra sendo uma resistência que se opõe a esta. O conflito termina
num compromisso, por uma operação responsável pela existência das lembranças
infantis que se referem a coisas indiferentes ou secundárias. Assim, o deslocamento
consiste numa operação de substituição, que incide sobre impressões importantes
cuja memorização esbarrou numa resistência, e cuja existência será estabelecida
pela análise. Na Análise dos Sonhos, o deslocamento e a condensação constituem
as duas grandes operações que se deve, essencialmente, a forma dos sonhos.
POSTULADOS DO ANALÍTICO E PSICANÁLISE HOJE – Os princípios do ato psicanalíticos estão
assentados nos seguintes postulados: uma prática da fala na condição de dois
parceiros: analista e analisado; a inexistência de um tratamento standard,
regido pelo inconsciente e pela linguagem; duração de tratamento variável; e a
formação do analista não pode ser regida pela universidade.
A psicanalise hoje se assenta no princípio freudiano de
que não existe organização social perfeita, direcionando-se por isso para os
novos problemas e novas soluções, com a ideia de acompanhar o tempo, sua
evolução se estrutura além do Édipo, o analisando sendo o responsável por sua
existência, na elaboração dos seus conflitos e diminuição dos seus sofrimentos
com oferecimento de uma escuta privilegiada.
Conforme Eizirik, Aguiar e Schstatsky (2005), a
psicanálise e a psicoterapia do analítico constituem o tratamento de escolha
para as fobias, permitindo os esclarecimentos dos conflitos e dos dispositivos
básicos utilizados pelas fobias, em especial o mecanismo de deslocamento a
objetos e situações externas. O estabelecimento pleno do dispositivo analítico
clássico supõe a alta frequência de sessões, associação livre, atenção
flutuante, uso do divã, emprego predominante da interpretação de transferência,
analise das resistências, entre outros elementos. Fundamenta-se nos postulados
da teoria psicanalítica e implementada tecnicamente sobre as bases das
condições possíveis a determinada situação. Trata-se de um modo particular de
tratamento do desequilibro mental e, ao mesmo tempo, uma teoria psicologia que
se ocupa dos processos mentais inconscientes, tornando-se, com isso, uma teoria
da estrutura e funcionamento da mente humana, utilizando-se do método de
analise dos motivos do comportamento. é um método terapêutico de doenças de
natureza psicológica supostamente sem motivação orgânica transformada em uma
doutrina filosófica. Originada a partir da prática clínica de Breuer e Freud,
considerando a estrutura tripartite da mente, suas funções e correspondentes
tipos de personalidade, a teoria do inconsciente e o método terapêutico da
catarse. Os postulados da teoria são numerosos, cabendo nomear a importância do
instinto sexual, a estrutura tripartite da mente (Id, Ego e SuperEgo), o
inconsciente, os atos falhos ou sintomáticos, motivação, fases do
desenvolvimento sexual (oral, anal, genital ou fálica), tipos de personalidade,
complexo de Édipo e Electra, narcisismo, mecanismo de defesa, repressão,
projeção, regressão, substituição, sublimação, transferência, perversão, os
sonhos e seus conteúdos manifesto e latente, entre outros. A análise
psicanalítica é realizada por meio de um método investigativo denominado de
associação livre, evidenciando o significado inconsciente das palavras, ações,
sonhos, fantasias e delírio do sujeito, especificado pela interpretação
controlada da resistência, da transferência e do desejo, sistematizados para
investigações e tratamento.
A psicanálise na atualidade, segundo Bastos (2006), Falbo
(2007) e Leguil (2012), não está desatrelada ao seu tempo, pela definição do
homem e da orientação ética da psicanálise, questionando-se sobre a proposição
de um declínio da linguagem favorecendo o entendimento fora do sentido na
progressão do ensino lacaniano, propondo-se, ainda, a revisão das abordagens da
linguagem e do real por meio da retomada do diálogo com a linguística, além da
introdução lacaniana de alingua e a sua correlação com a linguagem pertinente
para o tratamento psicanalítico, sobretudo no autismo e nas psicoses. As
discussões sobre a psicanalise aplicada pela criação da clínica ampliada em
saúde mental, como alternativa aos impasses que a transferência tem imposto nos
pacientes psicóticos, além da observância da particularidade do trágico
contemporâneo que revigora as ideias de Lacan. Veja mais sobre Psicanálise
aqui, aqui e aqui.
REFERÊNCIAS
BASTOS, Angélica (Org.). Psicanalisar hoje. Rio de
Janeiro: Contra-Capa, 2006.
FALBO, Giaselle. A atualidade da psicanálise. Ágora, Rio
de Janeiro, vol. 10, nº 2, jul/dez, 2007.
LEGUIL, Clotilde. Uma visão ultrapassada da psicanálise
Para responder ao Nouvel Observateur do dia 19 de abril de 2012. Sociedade de
Psicanalise da Cidade do Rio de Janeiro, 2012.
EIZIRIK, Claudio; AGUIAR, Rogerio; SCHESTATSKY, Sidnei.
Psicoterapia de Orientação Analítica: Fundamentos Teóricos e Clínicos. Porto
Alegre: Artmed, 2005.
FREUD, Sigmund. Primeiras publicações psicanalíticas
(1893-1899). Rio de Janeiro: Imago, 1976.
ROUDINESCO, Elisabeth; PLON, Michel. Dicionário de psicanálise.
Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
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mais sobre:
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na Folia Tataritaritatá, Pablo
Neruda, João Ubaldo Ribeiro, Egberto Gismonti, Capiba, Ricardo
Palma, Tsai Ming-liang, Cristiane Campos, Fernanda
Torres, Chen Shiang-Chyi, Revista Germina, Digerson
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