segunda-feira, agosto 12, 2013

COEUR-BULANT, ELSA VON FREYTAG, FREUD & LA GOULUE

 

LA GOULUE (Louise Joséphine Weber – 1866-1929) – Quem dera, Louise, desde a infância judia de Clichy ter recolhido seus antepassados da Alsácia, e da mãe lavadeira – de quem usava a roupa dos clientes para se amostrar nos salões de baile -, tomasse o jeito de seguir sempre adiante. Quem dera a canceriana dançarina de nascença saltasse aos meus olhos mais que fascinados com sua performance, enquanto ainda adolescente convivia com estranhos na via du Bois. Quem dera me visse na estreia do Teatro de Revista no circo Grille d’égout, ou desse conta da atenção enquanto recebia as lições da coreógrafa Céleste Mogador. Acompanhei sua travessia para Montparnasse a brilhar no Balé Bullier e tornar-se atração se expondo ao Cancan do café Closerie des Lilas. Quem dera um olhar ao passar fulgurante como destaque na quadrilha naturalista, revolvendo as saias, rendas íntimas à mostra, os lábios de felatriz, pernas pro alto com os dedos do pé a roubar o chapéu dos marmanjos chutando-os para longe. Quem dera chegasse pra minha mesa para beber rápida e freneticamente os goles dos copos, enquanto passa ao largo pelas mesas dos outros fregueses. Quem dera me ouvisse a gritar seu e soubesse a querer Gulosa, vedete audaciosa e cativante sob os meus lençóis e cobertores. Soubesse meus olhos vivos para flagrar a modelo de Renoir com seus decotes generosos, fotografada nua por Achille Delmaet e o frisson da minha alma aplaudi-la provocante lúbrica no Moulin Rouge com o par Renaudin – o Valentin le Désossé, aquele que perdeu os ossos da carne no chahut e que era eu alquebrado de amores pelos caracóis rebeldes de suas tranças, vivendo na pele a inspiração da arte de Toulouse-Lautrec, enquanto sensualmente engalanada inaugurava o palco do Olympia de Paris. Quem dera me visse a torcer pela iniciativa de seu próprio negócio com gravuras de Lautrec na tenda do Foire, da Place du Trône, e que me desse a oportunidade no meio de sua dança exótica ser o pai desconhecido de seu filho Simon Victor. Mas não, preferiu o casório com aquele mágico Droxler, para viver no boulevard de Rochechouart. Ele também era domador, quando foram atacados pelos animais. Poderia tê-la salvado do vexame, nunca mais. Quem dera me visse atento enquanto empobrecia atriz de teatro entregue ao álcool e à depressão, a obesidade, eu a faria o que sempre foi: trapezista boa de cama, cópula inesquecível de comida gostosa e seu insaciável apetite por cima e por baixo, saias à cabeça deixando-me flagrar o coração bordado na calcinha da bunda, aos olhos de Jane Avril, Oscar Wilde e Fénéon, enquanto eu já sabia dela florista, domadora, mulher-canhão e lutadora na feira de Neuilly, já na decadência para sobreviver entre circos e plateias vazias. Já então viúva de guerra, a Madame da casa-reboque, desdentada e desabrigada vendendo cigarros e fósforos à porta do teatro, cercada por cães e gatos doentes e pelos rejeitados da cidade. Sou mais um entre eles a guardar seu glamour. Veja mais aqui e aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Nossas sábias da memória abençoada disseram que não devemos desfrutar de nenhum prazer neste mundo sem recitar uma bênção. Se comermos qualquer comida ou beber qualquer bebida, devemos recitar uma bênção sobre eles antes e depois. Se respiramos o cheiro de bons grama, a fragrância das especiarias, o aroma de boas frutas, pronunciamos uma bênção sobre o prazer. O mesmo se aplica aos prazeres da visão. E o mesmo se aplica aos prazeres do ouvido. Pensamento do escritor israelense Shmuel Yosef Agnon (Shmuel Yosef Czaczkes – 1888-1970).

 

ALGUÉM FALOU - Para sufocar antecipadamente qualquer revolta, não é necessário agir de forma violenta... Basta criar um condicionamento coletivo tão poderoso que a própria ideia de revolta já nem virá à mente dos homens... Pensamento do jornalista, filósofo e ensaísta judeu alemão Günther Anders (Günther Siegmund Stern – 1902-1992).

 


AS PRIMAS DO CORONEL - […] Madame Briquart conhecia o coração humano, sabia que era cheio de inconsistências e não ignorava que seu sobrinho, tendo feito uso extensivo de seus direitos celibatários, era um grande pecador diante do Eterno. [...] Passara as horas de lazer da juventude, e mesmo depois, num ambiente mais voluptuoso do que inteligente, onde o luxo extremo toma o lugar das emoções da alma ausentes ou raras entre as sacerdotisas de Vênus; ela não queria que os sentidos do marido experimentassem choques comparativos; a sua memória recordou-lhe um casal cujo caminho parecia semeado com as mais doces flores do amor, e que formavam os mais terríveis lares quinze dias depois da sua união, porque a jovem, mal orientada pela mãe, mais dona de casa do que inteligente, tinha, na noite de núpcias, exibiu um par de meias lisas de algodão cru e uma camisola da mesma escola. Assim, ela não poupou problemas nem cuidados. O grande dia finalmente chegou. Deliciosamente bonita, sob sua coroa de flores de laranjeira, envolta na branca nuvem de noivas, florentina jurou amor sincero e fidelidade ao marido, e foi um pouco comovida, mas não assustada, que depois de um almoço com amigos, ela entrou no cupê que os levava ao castelo onde Georges, de acordo com Madame Briquart, queria passar as primeiras horas de intimidade conjugal. Também ele não gostava dessa moda atual de ir pelos quatro cantos dos caminhos semear as impressões mais delicadas de sua vida, de tomar como testemunhas dos primeiros florescimentos de sua jovem esposa as paredes banais de um quarto de hotel. Preferia que os ecos da morada onde iriam passar as suas vidas, onde iriam nascer os seus filhos, se aprouvesse a Deus dar-lhes alguns, pudessem, nos momentos difíceis — há para todos — confortá-los com as suas boas recordações. aquele que se sentiria fraco. [...] Já que estamos entre mulheres — a nova esposa pronunciou isso “entre mulheres” com uma seriedade que fez a velha sorrir — posso dizer-lhe que experimentei uma sensação física que me encantou dentro de mim; que aconteceu sem luta, sem derramamento de sangue e renovado da mesma forma. - Ah! mas então... Uma ideia atroz passou pela cabeça de Madame Briquart, ela rejeitou-a como uma loucura. Não. Essa jovem nunca a abandonou desde a infância, e a ingenuidade com que relatou suas impressões provou a integridade de sua pureza. Ela teve uma intuição da realidade dos fatos, e disse para si mesma: “Diavolo! meu querido sobrinho, ao contrário, seria menos verde do que eu supunha? ” - Então, querida, seu marido ainda não usou seus direitos de marido, ele não vai querer te assustar. Isso mesmo. - Mas se, mas se. "Então eu não entendo mais." - Para que ? menina malvada que se faz de ignorante, porque afinal você era casado e meu primo estava usando seus direitos de marido. - Oh sim ! ele o usou tão bem já na primeira noite de núpcias que o médico teve que ser chamado quatro dias depois, porque ele havia me transformado abruptamente de virgem em mulher. "Então eu ainda não sou uma mulher, primo?" “Acho que não, querida; você é uma virgem maluca, mas é isso, ou pelo menos é o que eu acho. "Gostaria de saber..." murmurou Florentine... A prima puxou a jovem para si, quase jogando-a de joelhos, e enfiando a mão sob as anáguas de Florentine, tocou levemente o clitóris que levantou sua cabecinha rosa . Descendo assim com cuidadosa precaução entre os dois lábios da vulva, ela tentou entrar na vagina, mas uma barreira resistente se opôs aos seus esforços. "Você está me machucando, primo", disse ela. "Você pode ver claramente que terá que sofrer para ser mulher, porque você só será uma quando Georges tiver, por golpes agudos e repetidos do membro viril que possui, indubitavelmente pressionado nesta membrana que é chamada de do casamento ; então, com delícias que você ainda não conhece, ele afundará em você, inundará você com o licor quente do amor que ele carrega dentro de si e fertilizará seu seio virgem. “Mas o sangue terá que correr, e você deve, através de alguns momentos de dor passageira, comprar esses prazeres do amor e os da maternidade. “Georges deve ter querido poupá-lo. ” — No entanto, primo, eu vivi... — O que você vai passar de novo. E a velha, passando o dedo ágil pelas partes sexuais da jovem, voltou a provocar o espasmo encantador que Florentino acreditava ser o da possessão. - Ah! meu Deus ! É tão bom quanto com Georges, ela murmurou. Mas então uma mulher pode... pode... fazer um amigo feliz. A prima reprimiu um sorriso enigmático nos lábios e apontou discretamente para a porta do banheiro onde não se ouvia mais o vaivém de Júlia remexendo nos armários. Florentina sentou-se apressadamente, deu um longo beijo na prima e ela chamou a irmã, que imediatamente apareceu à porta, com as faces muito vermelhas, os olhos animados. […] Coragem, minha querida, é só à custa de alguns minutos de sofrimento que posso te fazer feliz. “Ajude-me e sofrerá menos. Sem a conversa que a jovem tivera com Madame Briquart, sem dúvida ela teria se defendido um pouco, mas estava aborrecida por ainda ser virgem; parecia-lhe que seu primo estava zombando dela. Mais à vontade com o marido do que na véspera, obedecia-lhe, sustentando-lhe os esforços com um vaivém, entremeado de pequenos gemidos que Georges abafava com os beijos; logo, com a ajuda do cold-cream, os movimentos ficaram mais fáceis, a dilatação aconteceu, uma pancada certeira provocou o lacrimejamento desejado. O grito de triunfo de Georges se misturou à reclamação de Florentine; sentiu-se trespassada, mas ao mesmo tempo produziu-se uma sensação de extremo prazer: a dor cessou sob a influência das carícias interiores que o marido lhe dispensava; então algo quente e doce a inundou; o espasmo já conhecido voltou a ocorrer desta vez com particular intensidade; ela perdeu a consciência do que estava acontecendo e só acordou alguns momentos depois sob os beijos de Georges. [...] Um dos seios da jovem havia meio escapado de sua bainha branca e levantava sua pequenez ávida de prazer: delicadamente, Gastão a agarrou entre seus lábios ardentes e a rolou suavemente. Julia, sob esta carícia inebriante, contorceu-se de prazer. Com uma mão invasora, ele acariciou suas virilhas, deslizou por suas virilhas enquanto ela subia lentamente as colinas; Por fim, agarrou as coxas da jovem com as duas mãos, abriu-as e passou a língua ávida pelos contornos roxos que delineiam a entrada do templo do amor... [...]. Trechos extraídos da obra Les Cousines de la Colonelle (Dominique Leroy, 1986), da Vicomtesse de Coeur-Bulant (Henriette de Mannoury Marquise de d'Ectot), a primeira escritora erótica que narra uma história repleta de recomendações sobre como despir e acariciar uma mulher e a depravação das grandes damas do reinado de Napoleão III, contando sobre Florentine e Julia que se casam graças a sua prima, o coronel Briquart. Eles descobrem os prazeres do sexo e a busca da volúpia é o motor do livre.

 

TROVÕES E RELÂMPAGOS - Deixe-me beber seus lábios \ Deixe-me engolir sua respiração \ Deixe-me provar a transpiração de \ Sua pele emaranhada pelo vento \ Seu cabelo preto cai em cascata \ Na agonia do amor \ Seu rosto relâmpago - trovão \ Uma flor bêbada. Poema da artista e poeta polonesa Elsa von Freytag-Loringhoven (1874-1927). Veja mais aqui.

 

PRIMEIRAS PUBLICAÇÕES PSICANALITICAS – O livro Primeiras publicações psicanalíticas (1893-1899), de Sigmund Freud, aborda temas como Charcot, mecanismo psíquico dos fenômenos histéricos, as neuropsicoses de defesa, obsessões e fobias: seu mecanismo psíquico e sua etiologia, sobre os critérios para destacar da neurastenia uma síndrome particular intitulada neurose de angústia, uma réplica às criticas do artigo sobre neurose de angustia, hereditariedade e a etiologia das neuroses, novos comentários sobre as neuropsicoses de defesa, etiologia da histeria, sinopses dos escritos científicos, a sexualidade na etiologia das neuroses e o mecanismo psíquico do esquecimento.

PSICANÁLISE – Termo criado por Freud para nomear um método particular de psicoterapia ou tratamento pela fala, proveniente do processo catártico (catarse) de Josef Breuer e pautado na exploração do inconsciente, com a ajuda da associação livre, por parte do paciente, e da interpretação, por parte do psicanalista. Trata-se do tratamento conduzido de acordo com esse método, sendo a disciplina que abrange um método terapêutico, uma organização clinica, uma técnica psicanalítica, um sistema de pensamento e uma modalidade de transmissão do saber (analise didática, supervisão) que se apoia na transferência e permite formar praticantes do inconsciente. É uma escola de pensamento que engloba todas as correntes do freudismo.

CHARCOT – O médico e neurologista francês Jean Martin Charcot (1825-1893) mereceu de Freud especial consideração, tendo em vista que seu nome é inseparável da história da histeria, da hipnose e das origens da psicanalise. Além disse, pela atenção dispensada às mulheres do povo dedicada pelo médico, levando-o à gloria. Charcot era rival de Hyppolyte Bernheim que era o pioneiro da noção moderna de psicoterapia e demonstrou que a hipnose era um estado de sugestionabilidade provocado pela sugestão. Enquanto Charcot assimilava a hipnose como um estado patológico e se servia dela não como meio terapêutico, mas para provocar crises convulsivas e dar um estatuto de neurose, para Bernheim a hipnose era apenas uma questão de sugestão verbal, uma clinica de palavra substituía a clínica do olhar. Dessa forma, Charcot tornou-se representante da primeira psiquiatria dinâmica, inaugurando um modo de classificação inspirado no olhar anátomo-clínico de Claude Bernard, distinguindo a crise histérica da crise epitética e permitindo ao doente histérico escapar da acusação de simulação. Enfim, substituiu a antiga definição de histeria, para adoção do moderno conceito de neurose. Para ele o ataque histérico possui quatro fases: a fase epileptoide, quando o doente se contraía em uma bola e dava uma volta completa em torno de si mesmo; a fase de clownismo, com seu movimento em arco de círculo; a fase passional, com seus êxtases; e o período terminal, com suas crises de contratura generalizada. Acrescentou a variedade demoníaca da história, aquela em que a Inquisição via os sinais da presença do diabo no útero das mulheres. Freud, por sua vez, destruiu simultaneamente as teses de Bernheim e de Charcot. De Charcot ele tomou uma nova conceitualização da histeia e de Bernheim o princípio de uma terapia pela palavra.

METÓDO CATÁRTICO – O médico austríaco Josef Breuer (1842-1925) desempenhou papel considerável na vida de Sigmund Freud, entre 1882 e 1895. Ele começou a trabalhar em um laboratório de fisiologia tratando do problema da respiração. Tornou-se célebre em 1868 por um estudo sobre o papel do nervo pneumogástrico na regulação da respiração, estudou depois os canais semicirculares do ouvido interno. Foi em 1870 que ele passou da fisiologia para a psicologia e se interessou pela hipnose, experimentando em sua paciente Bertha Papperheim. Foi a partir daí que criou o método catártico. A catarse é uma palavra grega utilizada por Aristóteles para designar o processo de purgação ou eliminação das paixões que se produz no espectador quando, no teatro, ele assiste à representação de uma tragédia. O termo foi retomado por Freud e Breuer que, nos estudos sobre a histeria, chamam de método catártico o procedimento terapêutico pelo qual um sujeito consegue eliminar seus afetos patogênicos e então ab-reagi-los, revivendo os acontecimentos a que eles estão ligados. A ab-reação é um termo introduzido por ambos, em 1893, para definir um processo de descarga emocional que, liberando o afeto ligado à lembrança de um trauma, anula seus efeitos patogênicos. Esse estudo se direcionava para o mecanismo psíquico atuante nos fenômenos histéricos. O procedimento consiste em conseguir, tomando como ponto de partida as formas de que os sintomas se revestem, identificar o acontecimento que, a primeiro e amiúde num passado distante, provocou o fenômeno histérico. O estabelecimento dessa gênese esbarra em diversos obstáculos oriundos do paciente, aos quais Freud posteriormente chamaria de resistências, e que somente o recurso à hipnose permite superar. Na maioria das vezes, o sujeito afetado por um acontecimento reage a ele, voluntariamente ou não,  de modo reflexo: assim, o afeto ligado ao acontecimento é evacuado, por menos que essa reação seja suficientemente intensa. É importante que o ato possa ser substituído pela linguagem, pois, para eles, somente as palavras constituem o reflexo adequado. O emprego do termo psico-análise introduzido posteriormente por Freud não significa o desaparecimento do termo ab-reação, pelas razões de seja qual for o método, a análise continua sendo um lugar de fortes reações emocionais e, ao mesmo tempo, a análise recorre à rememoração e a repetição como formas paralelas de ab-reação.

PIERRE JANET – O medico e psicólogo francês Pierre Janer ((1859-1947) foi o teórico do automatismo psicológico e fundador da corrente da analise psicologia. Criador do método de psicoterapia, ao qual deu o nome de análise psicológica, baseada em três regras fundamentais: exame do doente face a face e sem testemunhas, anotação rigorosa das palavras pronunciadas (ou método da caneta), exploração dos antecedentes e dos tratamentos aos quais o doente fora submetido. Fundamentava sua análise na investigação consciente e não na escuta de um discurso inconsciente, adotando a nomenclatura de subconsciente. Este rejeitava cruamente os trabalhos de Freud, acusando-o, juntamente com Breuer de plagiários e que faziam a psicanalise passar por uma obscenidade vienense. É inegável a influencia de Janet no trabalho de Freud e na construção da psicanálise.

HISTERIA – Derivada da palavra grega hysteria (matriz, útero), a histeria é uma neurose caracterizada por quadros clínicos variados. Sua originalidade reside no fato de que os conflitos psíquicos inconscientes se exprimem de maneira teatral e sob a forma de simbolizações, através de sintomas corporais paroxísticos – ataques ou convulsões de aparência epiléptica – ou duradouros (paralisias, contratura, cegueira). As duas principais formas de histeria teorizadas por Freud foram a histeria de angustia, cujo sintoma central é a fobia, e a histeria de conversão, onde se exprimem através do corpo representações sexuais recalcadas. A isso se acrescentam duas outras formas freudianas de histeria: a histeria de defesa, que se exerce contra os afetos desprazerosos, e a histeria de retenção, onde os afetos não conseguem se exprimir pela ab-reação. A expressão histeria hipnoide pertence ao vocabulário de Freud e Breuer no período de 1894-1895. Nos Estudos sobre a histeria, de 1895, a histeria permanece como a doença princeps e proteiforme que possibilitou não apenas a existência de uma clinica freudiana, mas também o nascimento de um novo olhar sobre a feminilidade. A noção remete aos sofrimentos psíquicos das burguesas ricas da sociedade vienense, quanto à miséria mental das loucas do povo. Credita-se a Anton Mesmer ter operado em meados do sec. XVIII a passagem de uma concepção demoníaca da histeria e da loucura, para uma concepção científica. Freud entre 1888 e 1893, forjou um novo conceito de histeria, retomando de Charcot a ideia da origem traumática e elaborou a teoria da sedução afirmando que o trauma tinha causas sexuais, sublinhando que a histeria era fruto de um abuso sexual realmente vivido pelo sujeito na infância. Foi quando apresentou a noção de fantasia e retirar da sexologia a noção de libido. Nos Estudos sobre a histeria, Freud propôs nova apreensão do inconsciente com conceitos de recalcamento, ab-reação, defesa, resistência e conversão, graças a qual tornou-se possível compreender como uma energia libidinal se transformava numa inervação somática, numa somatização dotada de uma significação simbólica. A partir da Interpretação dos Sonhos, Freud colocará o conflito psíquico como principal causa da histeria, destacando as fantasias e não as reminiscências. Defendia que ao lado de uma realidade material existia uma realidade psíquica igualmente importante em termos da historia do sujeito. Do mesmo modo, a conversão devia ser encarada como modo de realização do desejo: um desejo sempre insatisfeito. Com a teorização da sexualidade infantil, Freud identificou o conflito nuclear da neurose histérica (a impossibilidade de o sujeito liquidar o complexo de Édipo e evitar a angustia da castração que o leva a rejeitar a sexualidade).

FOBIAS – Termo derivado do grego phobos e utilizado na língua francesa como sufixo, para designar o pavor de um sujeito em relação a um objeto, um ser vivo ou uma situação. Em psicanálise, a fobia é um sintoma, e não uma neurose, donde a utilização da expressão histeria de angustia em lugar da palavra fobia. A histeria de angustia, para Freud, é uma neurose de tipo histérico, que converte uma angustia num terror imotivado, frente a um objeto, um ser vivo ou uma situação que não apresentam em si nenhum perigo real. Essa expressão foi adotada por Freud por permitir situar a sexualidade no centro do sintoma fóbico, constatando que este sintoma estava presente em toda sorte de distúrbios neuróticos ou psicóticos, porém, mais particularmente, na neurose obsessiva e na neurose de angustia, sendo uma conversão da angustia em temor, em pacientes que praticavam a continência e se mostravam fanáticos com a limpeza, porque tinham horror às coisas da sexualidade. Depois, na análise do Pequeno Hans, em 1909, Freud constatou que existia pelo menos uma neurose em que o sintoma fóbico era central, designando-o de histeria de angustia. Nesses casos, a libido não é convertida, mas liberada sob a forma de angustia.

NEUROSES – Termo empregado por Freud com o sentido de designação de uma doença nervosa cujos sintomas simbolizam um conflito psíquico recalcado, de origem infantil. Com o desenvolvimento da psicanalise, o conceito evoluiu, passando a ter uma estrutura tripartite, ao lado da psicose e da perversão. Assim, a neurose é classificada como registro da neurose a histeria e a neurose obsessiva, às quais é preciso acrescentar a neurose atual, que abrange a neurose de angustia e a neurastenia, e a psiconeurose, que abarca a neurose de transferência e a neurose narcísica. A neurose obsessiva é uma afecção autônoma e independente.

LEMBRANÇAS ENCOBRIDORAS – Expressão composta e empregada por Freud para designar uma lembrança infantil insignificante que, por deslocamento, passa a mascarar uma outra lembrança recalcada ou não guardada. O deslocamento compreende o processo psíquico inconsciente, teorizado por Freud, por meio de um deslizamento associativo, transforma elementos primordiais de um conteúdo latente em detalhes secundários de um conteúdo manifesto. Entende, pois, tratar-se de alguma coisa, um quantum de energia, que é passível de aumento, diminuição, deslocamento e descarga, e que se espalha pelos traços mnêmicos das representações mais ou menos como uma carga elétrica sobre a superfície dos corpos. O processo de deslocamento e as lembranças encobridoras explicam as razões das escolhas efetuadas pela memoria entre os diversos elementos de uma experiência vivida. Duas forças psíquicas entram em confronto, uma trabalhando na memorização dos acontecimentos importantes, outra sendo uma resistência que se opõe a esta. O conflito termina num compromisso, por uma operação responsável pela existência das lembranças infantis que se referem a coisas indiferentes ou secundárias. Assim, o deslocamento consiste numa operação de substituição, que incide sobre impressões importantes cuja memorização esbarrou numa resistência, e cuja existência será estabelecida pela análise. Na Análise dos Sonhos, o deslocamento e a condensação constituem as duas grandes operações que se deve, essencialmente, a forma dos sonhos.

POSTULADOS DO ANALÍTICO E PSICANÁLISE HOJE – Os princípios do ato psicanalíticos estão assentados nos seguintes postulados: uma prática da fala na condição de dois parceiros: analista e analisado; a inexistência de um tratamento standard, regido pelo inconsciente e pela linguagem; duração de tratamento variável; e a formação do analista não pode ser regida pela universidade.
A psicanalise hoje se assenta no princípio freudiano de que não existe organização social perfeita, direcionando-se por isso para os novos problemas e novas soluções, com a ideia de acompanhar o tempo, sua evolução se estrutura além do Édipo, o analisando sendo o responsável por sua existência, na elaboração dos seus conflitos e diminuição dos seus sofrimentos com oferecimento de uma escuta privilegiada.
Conforme Eizirik, Aguiar e Schstatsky (2005), a psicanálise e a psicoterapia do analítico constituem o tratamento de escolha para as fobias, permitindo os esclarecimentos dos conflitos e dos dispositivos básicos utilizados pelas fobias, em especial o mecanismo de deslocamento a objetos e situações externas. O estabelecimento pleno do dispositivo analítico clássico supõe a alta frequência de sessões, associação livre, atenção flutuante, uso do divã, emprego predominante da interpretação de transferência, analise das resistências, entre outros elementos. Fundamenta-se nos postulados da teoria psicanalítica e implementada tecnicamente sobre as bases das condições possíveis a determinada situação. Trata-se de um modo particular de tratamento do desequilibro mental e, ao mesmo tempo, uma teoria psicologia que se ocupa dos processos mentais inconscientes, tornando-se, com isso, uma teoria da estrutura e funcionamento da mente humana, utilizando-se do método de analise dos motivos do comportamento. é um método terapêutico de doenças de natureza psicológica supostamente sem motivação orgânica transformada em uma doutrina filosófica. Originada a partir da prática clínica de Breuer e Freud, considerando a estrutura tripartite da mente, suas funções e correspondentes tipos de personalidade, a teoria do inconsciente e o método terapêutico da catarse. Os postulados da teoria são numerosos, cabendo nomear a importância do instinto sexual,  a estrutura tripartite da mente (Id, Ego e SuperEgo), o inconsciente, os atos falhos ou sintomáticos, motivação, fases do desenvolvimento sexual (oral, anal, genital ou fálica), tipos de personalidade, complexo de Édipo e Electra, narcisismo, mecanismo de defesa,  repressão, projeção, regressão, substituição, sublimação, transferência, perversão, os sonhos e seus conteúdos manifesto e latente, entre outros. A análise psicanalítica é realizada por meio de um método investigativo denominado de associação livre, evidenciando o significado inconsciente das palavras, ações, sonhos, fantasias e delírio do sujeito, especificado pela interpretação controlada da resistência, da transferência e do desejo, sistematizados para investigações e tratamento.
A psicanálise na atualidade, segundo Bastos (2006), Falbo (2007) e Leguil (2012), não está desatrelada ao seu tempo, pela definição do homem e da orientação ética da psicanálise, questionando-se sobre a proposição de um declínio da linguagem favorecendo o entendimento fora do sentido na progressão do ensino lacaniano, propondo-se, ainda, a revisão das abordagens da linguagem e do real por meio da retomada do diálogo com a linguística, além da introdução lacaniana de alingua e a sua correlação com a linguagem pertinente para o tratamento psicanalítico, sobretudo no autismo e nas psicoses. As discussões sobre a psicanalise aplicada pela criação da clínica ampliada em saúde mental, como alternativa aos impasses que a transferência tem imposto nos pacientes psicóticos, além da observância da particularidade do trágico contemporâneo que revigora as ideias de Lacan. Veja mais sobre Psicanálise aqui, aqui e aqui.

REFERÊNCIAS
BASTOS, Angélica (Org.). Psicanalisar hoje. Rio de Janeiro: Contra-Capa, 2006.
FALBO, Giaselle. A atualidade da psicanálise. Ágora, Rio de Janeiro, vol. 10, nº 2, jul/dez, 2007.
LEGUIL, Clotilde. Uma visão ultrapassada da psicanálise Para responder ao Nouvel Observateur do dia 19 de abril de 2012. Sociedade de Psicanalise da Cidade do Rio de Janeiro, 2012.
EIZIRIK, Claudio; AGUIAR, Rogerio; SCHESTATSKY, Sidnei. Psicoterapia de Orientação Analítica: Fundamentos Teóricos e Clínicos. Porto Alegre: Artmed, 2005.
FREUD, Sigmund. Primeiras publicações psicanalíticas (1893-1899). Rio de Janeiro: Imago, 1976.
ROUDINESCO, Elisabeth; PLON, Michel. Dicionário de psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.


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