Ao som dos álbuns Ninhal (Maritaca, 1997) e Cartas Brasileiras
(2007), da flautista e compositora Léa Freire.
PASSADOÍDOENDAGORA – Era
junho e já passou: por trinta e um dias eu fui manhã chuvensolarada pelas
alegorias do Oficina de José Celso Martinez Correia. Por trinta e um
dias eu parêntesis de junhoutros de nenhumoutra lembrança perdida na memória,
para que eu indagasse quem aquele da foto na sala, quem aquele: os nossos
filhos nos responsabilizarão pelo que perdemos da coragem de sermos deste tempo
e terra. Salvou-se uma alma e Maria Luisa Bomball ao meu ouvido: É muito possível desejar morrer,
quando se ama demais a vida. A morte me parece uma aventura mais acessível do
que a fuga... E se
de morte ou de fuga sei eu quase nada, restava-me a solidária companhia de Käthe Kollwitz: Os seres humanos estão tão confusos e precisam de ajuda... Só sei
que por trinta e um dias a tarde anoiteceu e eu fiquei na escuridão de séculos,
contando os dedos de nenhuma estrela, com meu peito desabotoado a expor o
estigma da solidão. E se não fosse Tunga Vê-nus com as afinidades
afetivas à luz de dois mundos, sabe-se lá o que poderia acontecer… Só sei que
passadoídendagora arrasta a carne terra afora e até mais ver.
DITOS
& DESDITOS
Imagem: Acervo ArtLAM.
[...] Os educadores estão cientes de que
só podem atingir os jovens fazendo uso do espírito de gangue e orientando-o,
não trabalhando contra ele. […]. Trecho extraído de Life and
Thought in America (1972), do professor e historiador neerlandês
Johan Huizinga (1872-1945). Já na
obra Homo ludens
(Perspectiva, 2000) ele expressa: [...] mesmo em suas formas mais simples, ao nível
animal, o jogo é mais do que um fenômeno fisiológico ou um reflexo psicológico.
Ultrapassa os limites da atividade puramente física ou biológica. É uma função significante, isto é, encerra um determinado sentido.
No jogo existe alguma coisa “em jogo” que transcende as necessidades imediatas
da vida e confere um sentido à ação. Todo jogo significa alguma coisa. Não se
explica nada chamando “instinto” ao princípio ativo que constitui a essência do
jogo; chamar-lhe “espírito” ou “vontade” seria dizer demasiado. Seja qual for a
maneira como o considerem, o simples fato de o jogo encerrar um sentido implica
a presença de um elemento não material em sua própria essência. [...]
Se verificamos que o jogo se baseia na manipulação de certas imagens, numa
certa “imaginação” da realidade (ou seja, a transformação desta em imagens),
nossa preocupação fundamental será, então, captar o valor e o significado
dessas imagens e dessa “imaginação”. Observaremos a ação destas no próprio
jogo, procurando assim compreendê-lo como fator cultural da vida. As grandes
atividades arquetípicas da sociedade humana são, desde o início, inteiramente
marcadas pelo jogo. Como por exemplo, no caso da linguagem, esse primeiro e
supremo instrumento que o homem forjou a fim de poder comunicar, ensinar e
comandar. [...] Por detrás de toda expressão abstrata se oculta uma
metáfora, e toda metáfora é jogo de palavras. Assim, ao dar expressão à vida, o
homem cria um outro mundo, um mundo poético, ao lado do da natureza. Um outro
exemplo é o mito, que também é uma transformação ao uma “imaginação” do mundo
exterior, mas implica em um processo mais elaborado do que ocorre no caso das
palavras isoladas. O homem primitivo procura, através do mito, dar conta do
mundo dos fenômenos atribuindo a este um fundamento divino. Em todas as
caprichosas invenções da mitologia, há um espírito fantasista que joga no
extremo limite entre a brincadeira e a seriedade. Se, finalmente, observarmos o
fenômeno do culto, verificaremos que as sociedades primitivas celebram seus
ritos sagrados, seus sacrifícios, consagrações e mistérios, destinados a
assegurarem a tranquilidade do mundo, dentro de um espírito de puro jogo,
tomando-se aqui o verdadeiro sentido da palavra. Ora, é no mito e no culto que
têm origem as grandes forças instintivas da vida civilizada: o direito e a
ordem, o comércio e o lucro, a indústria e a arte, a poesia, a sabedoria e a
ciência. Todas têm suas raízes no solo primevo do jogo. [...]. Veja mais
aqui e aqui.
O LÚDICO NA EDUCAÇÃO – Na obra
Jogo, teatro & pensamento (Perspectiva, 1980), Richard Courtney
expressa que: [...] as atividades lúdicas são vistas como projeções:
expressões dos pensamentos, impulsos, motivações, mais íntimos da criança que
expressam significados particulares: o que um indivíduo faz em uma situação
projetiva pode estar expressando diretamente seu mundo privado e processos de
personalidade característicos [...]. Afirmação esta que levou a considerar
o exposto na obra A formação
social da mente (Fontes, 1989), de Lev Vygotsky,
expressando que: [...] a ludicidade é uma necessidade do ser humano em
qualquer idade e não pode ser vista apenas como diversão. O desenvolvimento do
aspecto lúdico facilita à aprendizagem, do desenvolvimento pessoal, social e
cultural e colabora para boa saúde mental e física [...]. Bem como na obra Pedagogia do Oprimido (Paz
e Terra, 2008), de Paulo Freire, ele expressa que: [...] A ludicidade
é uma necessidade do ser humano em qualquer idade e não pode ser vista apenas
como diversão. A promoção das atividades lúdicas, sejam elas individuais ou
grupais, oportuniza situações privilegiadas que conduzem à aprendizagem e ao
desenvolvimento pessoal, social e cultural, produzindo conhecimentos e
experiências que se incorporarão à vida do aluno, abrindo-lhe possibilidades de
ser livre e de tomar decisões de acordo com a sua própria consciência
[...]. A respeito do tema, o artigo Ludicidade (Revista PUC Educação
Física, 1990), o filósofo e pedagogo francês Georges Snyders (1917-2011) expressou que:
[...] O lúdico apresenta valores específicos para todas as fases da vida
humana. Assim, na idade infantil e na adolescência a finalidade é
essencialmente pedagógica. A criança, e mesmo o jovem opõe uma resistência à
escola e ao ensino, porque acima de tudo ela não é lúdica, não é prazerosa [...].
Tais conduções levaram ao estudo Sala de aula e avaliação: caminhos e
desafios (2002), da professora Regina Shudo, que observou: [...] Algumas
questões são quase que determinantes no processo de desenvolvimento da mente
infantil, como os ambientes estimulantes; as práticas educativas estimulantes,
a exploração de diversos objetos; o encorajamento do adulto nas atividades que
possibilitem à criança superar desafios, usar sua imaginação e criatividade
[...]. É o que também observa o artigo Ludicidade e atividades lúdicas: uma
abordagem a partir da experiência interna (Revista Entreideias, 2014), do
processor Cipriano Luckesi ao mencionar que: [...] Enquanto estamos
participando verdadeiramente de uma atividade lúdica, não há lugar, na nossa
experiência, para qualquer outra coisa além dessa própria atividade. Não há
divisão. Estamos inteiros, plenos, flexíveis, alegres, saudáveis. [...]. Tais
considerações levaram ao artigo O lúdico como estratégias no Ensino
Fundamental II (Revista Gestão Universitária, 2018), de Camila Franco, Luiz
Fernando Godinho, Patrick do Nascimento
e Shirley Gomes, no qual encontra-se que: [...] o lúdico deve fazer
parte do cotidiano dos alunos, estar presente durante as aulas, como algo mais
natural possível, que quando introduzido seja visível a transformação no
desenvolvimento e aprendizagem dos alunos, por que o lúdico auxilia em muitos
aspectos quebrando todos os paradigmas existentes, com todas as regras e normas
que os conteúdos de Educação Física possui. Assim, tornará o aluno criativo
para se relacionar e estar com os colegas, ou até de demonstrar qualquer
situação competitiva, ou de liderança durante as atividades desenvolvidas.
[....]. Veja mais aqui.
LUDOTERAPIA – Por consequência levou-se
a pesquisa para o tema terapêutico, pelo qual encontrou-se que a Ludoterapia atualmente
é destinada a todas as idades, desde crianças, jovens, adultos ou idosos e o
seu uso tanto pode ser a nível da psicoterapia do indivíduo como terapia de
grupo, tendo em vista que a terapia do jogo e do contexto lúdico é importante para
a aprendizagem e equilíbrio dos seres humanos. É o que advoga a obra Introdução
à pedagogia (Coimbra, 1962), de E. Planchard, ao mencionar que:
[...] Quanto mais ativa for esta força lúdica, mais a criança, candidata a
homem, é inteligente e disponível para um destino superior. É carácter de
impulso para o alto e para o futuro que permite fazer do jogo, em que toda a
alma está empenhada, mola da educação. [...]. É o que se apreende da
leitura da obra Desenvolvimento psicomotor e aprendizagem (Artmed, 2008),
de Vitor da Fonseca, ao observar que: [...] a característica mais
genérica que os indivíduos com Dificuldades de Aprendizagem (DA) apresentam é
uma discrepância acentuada entre o seu potencial estimado (inteligência igual
ou superior à média) e a sua realização escolar (abaixo da média numa ou mais
áreas académicas, mas nunca em todas) [...]. O esclarecimento desta questão
encontra-se no artigo A importância do lúdico no processo de ensino
aprendizagem na educação infantil (Revista Científica Multidisciplinar
Núcleo do Conhecimento, 2021), de Gisele Mariotti Putton, ao entender
que: [,,,] A ludicidade proporciona uma diversidade de atividades prazerosas
que desenvolvem a criança em seus aspectos: cognitivo, afetivo, social e motor.
Por meio das atividades lúdicas a criança experimenta, descobre, cria, adquire
habilidades, desenvolve a autoconfiança, criatividade, pensamento, expande o
desenvolvimento da linguagem, a autonomia e a atenção. Através da dinâmica, o
lúdico possibilita além de situações satisfatórias, o surgimento de condutas e
assimilação de regras sociais, proporciona o desenvolvimento de seu intelecto,
tornando claro seu sentimento, suas angústias, ansiedades, ajudando com o
reconhecimento suas dificuldades, proporcionando assim soluções e um
engrandecimento na vida interior da criança. [...]. Veja mais aqui, aqui e
aqui.
DOIS
POEMAS
Imagem: Acervo ArtLAM.
AUTO-RETRATO
EM AGONIA: A extinção não é um sino, uma rosa ou uma pegada subaquática, \ Tem
a ver com o cabelo escuro das sombras, \ com a tempestade que para a peste e o
pesadelo ainda intransponível. \ Cheira a escuridão quente. \ Afaste-se de
casa. \ Gire o botão, respiração desinteressada da chave. \ Não olhe para trás.
SEQUÊNCIA
DO TAPETE: Um tapete perturbador mora no consultório do psicólogo. \ Como
muitos outros pacientes, caminhando sobre as atrocidades, bordo-o uma vez por semana
com as espirais amarelas da culpa que trago, o pescoço aberto de uma mulher nas
lajes do trem. \ Determinado tenho tentado me enterrar todo nela, todas as
noites, antes de dormir, tenho medo da poeira que posso sentir e que um dia ela
vai embora. \ Onde colocar meus olhos então? Onde a fúria preservada entre os
dedos? \ Asséptico sorriu para ela enquanto esperava a queda, só ela vê as
feridas sob os sapatos, e sabe que não importam, que ninguém pode curá-las.
Poemas da
escritora venezuelana María
Ramírez Delgado. Veja mais aqui.
DIVERGENTE – [...] Acreditamos em atos comuns de
bravura, na coragem que leva uma pessoa a defender outra. [...] Tornar-se destemido não é
o ponto. Isso é impossível. É aprender a controlar seu medo e a
se livrar dele. [...] Eu tenho uma teoria de que o altruísmo e a bravura não são tão
diferentes. [...] Às vezes, chorar ou rir são as únicas opções que
restam, e rir é melhor agora. [...].
Trechos extraídos da obra Divergent (Katherine
Tegen, 2012), da escritora estadunidense Veronica
Roth.
JORNADA DA AUTODESCOBERTA – […] O paradoxo da educação é
precisamente este: quando alguém começa a se tornar consciente, começa a
examinar a sociedade na qual está sendo educado. [...] Uma das lições mais
fundamentais da ciência é que uma correlação ou ligação entre fatores não
significa necessariamente que um fator seja a causa de outro. Este importante princípio,
infelizmente, raramente informou a política de drogas. Na verdade, a evidência empírica é
frequentemente ignorada quando a política de drogas é formulada [...] o que parecem desvantagens
de uma perspectiva podem ser vantagens de outra – e as formas de saber e
responder podem ser vantajosas e adaptáveis em um ambiente e desvantajosas e disruptivas em outro [...] Trechos extraídos da obra High Price: A Neuroscientist’s Journey of Self-Discovery That Challenges
Everything You Know About Drugs and Society (Harper Perennial, 2014), do professor de
psicologia e psiquiatria estadunidense, Carl Hart.
LITERATURA
PERNAMBUCANA
[...] A cena literária pernambucana vem, de uns anos para cá, vivendo uma verve realmente efervescente; quase nunca tivemos tantos movimentos trabalhando ao mesmo tempo. [...]
Trecho
extraído da obra Literatura pernambucana: uma disciplina necessária (Audax,
2017), organizada pelo professor Roberto Queiroz. Veja mais aqui, aqui e aqui.