Ao som de Umbrales (2018), Le Repas du Serpent (2004), Retour a la Raison (2004), Espectros de Água (2021), Rabeca (2021), Céu da Boca (2021) e Ronín (2021), da premiada violoncelista, compositora, musicista, pesquisadora e docente Iracema de Andrade.
TRÍPTICO
DQP: - Cio do amanhecer... - O que é da
vida (vem de, vai pra) outra! E eu com as perguntas de Gauguin nos lampejos do dia em plena madrugada. Que segunda ou sei
lá relógio ou calendário, sem hoje nem onde, tudo se consome em erros e enganos.
Quanta rebordosa na lição de Archibald MacLeish: Só existe uma coisa pior do
que aprender com os erros - é não aprender nada com eles... Mesmo assim entoei o Hino de
Akhenaton ao ver a
estrela de Bandeira, como se vivesse
no campo de Auta de Souza ou na
palidez do inverno de Pessoa. E na
do futuro de Sophia Breyner fui pelas
quatro e meia de Bukowski e por toda
de Affonso Romano de Sant’Anna, pensando
com José Godoy Garcia e tecendo com João Cabral. Mudagora: destampou chuva
de enxurrada lavando o meu país, enquanto assobiava as estranhezas dos lugares,
a ligeireza do tempo e sentia o que jamais entendi. Sim, o sorriso se tornou
espasmo com Maria Ressa: Sempre faça a escolha de aprender... Durante
toda a minha vida, quando me deparo com uma decisão difícil, sempre me pergunto
- onde posso aprender mais. Faça a escolha de aprender... E eu só pedia que
não arrancassem minhas pálpebras, não fincassem dores
no meu peito, não vazassem meus olhos, nem triturassem minhas unhas e dedos,
não me dissessem de adeuses, nem fustigassem cem por cento meu coração, senão,
sóis e lás, larilarás, bemóis, frases sem aspas, hemistíquios no impasse: nada
cessava tampouco, pelo menos precisamos viver um pouco de paz...
A
todo vapor... –
Imagem: Report from Rockport (1940),
do artista estadunidense Stuart Davis.
- Maneiroutra: tinaceso, espreitubíqua; senão,
cochilo de cachimbo entre pequenidades, era quase meio dia. Bem o diz Filipa Melo: Morremos todos de excesso ou falta de
amor, que morremos todos do coração, acreditem!... Sim e isso porque o humano morre em cada um, essa a surpresa no
meio do flagelo: todo o mundo vasto de desunião fundamentalista, feições desafinadas,
os escarros da sorte se mantem tanto de besta e miserável, mais do que nunca.
Melhor a tirada de Chantal Thomas: Na sociedade moderna há muito lazer e pouco
prazer... Sim, todas as carências na supremacia, como se fossem dilacerados sábados pelas esquinas medievais, com suas palavras
estranguladas e nenhum nome ficou ao exorcizar a história infame no charco
silencioso, ocos ouvidos pelas labaredas dos pesadelos e eu apenas viver no que
resta, sem querer saber o que será de mim...
Ares
de Tejucupapo... – Imagem:
arte de Tereza Costa Rêgo. – Quandepois, a vida triunfa de tarde. Afinal, nem só
de inferno se vive, vezoutra o paraíso pouquinho, mas vale a pena. E era Clara entre outras anônimas Marias, jeito pontual, havido e devido,
um sorriso de quem solta balões em festa. Olhou-me de seu, marisqueira unhas na
terra: livrou-se da pilhagem holandesa apenas com pedras, pano, chuços e água
quente com pimenta no Monte das Trincheiras, era a insurreição do Porto do
Ferreira, muito tempo atrás. Hoje não, agora dia de sururu, ostra, aratu,
mariscos outros no chão da maré, as cacimbas em que só eram abris recorrentes,
alma senão feliz, satisfeita. E me dizia Langston Hughes: Agarre-se
a seus sonhos, pois, se eles morrerem, a vida será como um pássaro de asa
quebrada, incapaz de voar... A vida é
para os vivos. A morte é para os mortos. Deixe a vida ser como música. E morte
uma nota não dita... Ajeitou os afazeres, lavou as mãos e com afeto
redobrado deitou os ombros ao poente enquanto eu apenas
fagulhas das narinas de setembro, os suores lascivos e ela se enramava imantada
com as ancas ondulantes de sibila ungida. Sorvia seu jeito, servo a servia. Lá pras
tantas tudo descansava boquinha da noite, foi aí um lance na paisagem escura e seu
púbis orvalhado abriu meu cofre fálico com um beijo no crepúsculo da garganta.
Ah, perdi meu rosto no solfejo brando dela e me fiz por suas pálpebras celestes,
o seu delíquio tirando fino à beira do Aqueronte, a vida breve e vã, os
prazeres ficaram na promessa da eternidade, nada esqueceria. E dela a hestória
e o amor. Até mais ver.
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