segunda-feira, março 06, 2023

MARIA RESSA, MACLEISH, FILIPA MELO, CHANTAL THOMAS & TEJUCUPAPO

 

 Ao som de Umbrales (2018), Le Repas du Serpent (2004), Retour a la Raison (2004), Espectros de Água (2021), Rabeca (2021), Céu da Boca (2021) e Ronín (2021), da premiada violoncelista, compositora, musicista, pesquisadora e docente Iracema de Andrade.

 

TRÍPTICO DQP: - Cio do amanhecer... - O que é da vida (vem de, vai pra) outra! E eu com as perguntas de Gauguin nos lampejos do dia em plena madrugada. Que segunda ou sei lá relógio ou calendário, sem hoje nem onde, tudo se consome em erros e enganos. Quanta rebordosa na lição de Archibald MacLeish: Só existe uma coisa pior do que aprender com os erros - é não aprender nada com eles... Mesmo assim entoei o Hino de Akhenaton ao ver a estrela de Bandeira, como se vivesse no campo de Auta de Souza ou na palidez do inverno de Pessoa. E na do futuro de Sophia Breyner fui pelas quatro e meia de Bukowski e por toda de Affonso Romano de Sant’Anna, pensando com José Godoy Garcia e tecendo com João Cabral. Mudagora: destampou chuva de enxurrada lavando o meu país, enquanto assobiava as estranhezas dos lugares, a ligeireza do tempo e sentia o que jamais entendi. Sim, o sorriso se tornou espasmo com Maria Ressa: Sempre faça a escolha de aprender... Durante toda a minha vida, quando me deparo com uma decisão difícil, sempre me pergunto - onde posso aprender mais. Faça a escolha de aprender... E eu só pedia que não arrancassem minhas pálpebras, não fincassem dores no meu peito, não vazassem meus olhos, nem triturassem minhas unhas e dedos, não me dissessem de adeuses, nem fustigassem cem por cento meu coração, senão, sóis e lás, larilarás, bemóis, frases sem aspas, hemistíquios no impasse: nada cessava tampouco, pelo menos precisamos viver um pouco de paz...


 

A todo vapor... – Imagem: Report from Rockport (1940), do artista estadunidense Stuart Davis. - Maneiroutra: tinaceso, espreitubíqua; senão, cochilo de cachimbo entre pequenidades, era quase meio dia. Bem o diz Filipa Melo: Morremos todos de excesso ou falta de amor, que morremos todos do coração, acreditem!... Sim e isso porque o humano morre em cada um, essa a surpresa no meio do flagelo: todo o mundo vasto de desunião fundamentalista, feições desafinadas, os escarros da sorte se mantem tanto de besta e miserável, mais do que nunca. Melhor a tirada de Chantal Thomas: Na sociedade moderna há muito lazer e pouco prazer... Sim, todas as carências na supremacia, como se fossem dilacerados sábados pelas esquinas medievais, com suas palavras estranguladas e nenhum nome ficou ao exorcizar a história infame no charco silencioso, ocos ouvidos pelas labaredas dos pesadelos e eu apenas viver no que resta, sem querer saber o que será de mim...

 


Ares de Tejucupapo... – Imagem: arte de Tereza Costa Rêgo. – Quandepois, a vida triunfa de tarde. Afinal, nem só de inferno se vive, vezoutra o paraíso pouquinho, mas vale a pena. E era Clara entre outras anônimas Marias, jeito pontual, havido e devido, um sorriso de quem solta balões em festa. Olhou-me de seu, marisqueira unhas na terra: livrou-se da pilhagem holandesa apenas com pedras, pano, chuços e água quente com pimenta no Monte das Trincheiras, era a insurreição do Porto do Ferreira, muito tempo atrás. Hoje não, agora dia de sururu, ostra, aratu, mariscos outros no chão da maré, as cacimbas em que só eram abris recorrentes, alma senão feliz, satisfeita. E me dizia Langston Hughes: Agarre-se a seus sonhos, pois, se eles morrerem, a vida será como um pássaro de asa quebrada, incapaz de voar... A vida é para os vivos. A morte é para os mortos. Deixe a vida ser como música. E morte uma nota não dita... Ajeitou os afazeres, lavou as mãos e com afeto redobrado deitou os ombros ao poente enquanto eu apenas fagulhas das narinas de setembro, os suores lascivos e ela se enramava imantada com as ancas ondulantes de sibila ungida. Sorvia seu jeito, servo a servia. Lá pras tantas tudo descansava boquinha da noite, foi aí um lance na paisagem escura e seu púbis orvalhado abriu meu cofre fálico com um beijo no crepúsculo da garganta. Ah, perdi meu rosto no solfejo brando dela e me fiz por suas pálpebras celestes, o seu delíquio tirando fino à beira do Aqueronte, a vida breve e vã, os prazeres ficaram na promessa da eternidade, nada esqueceria. E dela a hestória e o amor. Até mais ver.


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