TRÍPTICO
DQP – Verba volant, scripta manent...- Ao som dos 24 preludes, op. 11, de Scriabin, na interpretação da pianista sueca Maria Lettberg. – Tudo que disse, fiz ou vivi
voou. O que ficou quase nem sei: dois olhos nas escuras direções, passos sem
rumo de funâmbulo, mãos soltas de quem se perdeu ou deixou escapar, peito aos
ventos e circunstâncias, indiferente à maldição de Tutancâmon
ou aos versos do Túmulo do poeta grego Kostís
Palamás (1859-1943): ... E se você está com sede
no submundo / Não beba a água da negação pobre corte de hortelã. / Não beba, ou
você vai nos esquecer para sempre, por toda a eternidade... Sigo tal iconófilo sem que
precise de outra oportunidade para encontrar o caminho de volta, talvez nem
quisesse porque não estou pro que quer que seja, apenas prefiro o sabor náufrago
da correnteza. O bom de tudo isso é que posso ouvir Amanda Araújo versejar: Dos alicerces que a vida me proporcionou / A
introversão foi meu único escudo / Um silêncio mútuo se refez dentro da taberna
/ E quando vi já não existia conversa. Sim minha cara poeta, a festa não tem graça
alguma, no outro dia só ressaca e desídia. Sei dos meus passos e mais outros
quase intermináveis, mas não me cansei e sou adiante se pés sem chão ou
desequilíbrio das pernas, até quando.
O poeta, a estação, o trem jamais virá... – Imagem: O poeta Vital Corrêa de Araújo na estação de nenhuma chegada ou partida,
foto de Admmauro Gommes. - Na
estação do meio dia o poeta Vital
não guarda esperança, nem precisa. Ali tudo desativado, acéfalo, arbitrário e
algumas coincidências: os olhos perdidos na paisagem, a calça na barra da
parede, a pose para a fotografia: como se nada olvidasse da conturbada e
difícil convivência entre desumanidades e coações, tal como o Pedro pedreiro penseiro do Chico e os rituais do sofrimento de Sílvia
Viana Rodrigues, em que uma tela imaginária desse o tom do show dos
horrores e jogos cruéis da tevê, quanta corda num mundo surreal de exceções e
meritocracia do demérito nos infernos do genocídio ali da rua aqui perto agora
mesmo, ouvindo insistentemente do poeta inglês Stephen Spender
(1909-1995): O essencial é / Que todos os
eus permaneçam separados / Apoiados em flores, e ninguém sofra / Pelo próximo.
/ Então o horror é adiado / Para todos até que se apodere dele / E o arraste
para aquela dor incomunicável / Que é todo mistério ou nada... Mas o poeta
é além de, não só espreita como uma brincadeira de outro dia após ontens e se
não se passa incólume é porque algo pode ocorrer além do que vive e sonha. E há
muito para fazer entre a vida e a sonhação, os olhos aberto e...
Néstogas... – Imagem: ArtLAM. - O quê? Se vésperas ou
crástinos, o que se sabe de mesmo é que Homero
primeiro escreveu Néstogas, depois é que vieram a Ilíada e Odisseia.
E que Sócrates foi levado por Diotima para Néstogas: foi lá que
ganhou a sabedoria dita pelo Oráculo de Delfos. E que Jesus aos três anos de idade recebeu a revisita dos três reis magos
que o levou para Néstogas e só os três e os místicos sabem o que aconteceu até
chegar aos trinta e três e lá vai teibei que todo mundo saber de cor... E se de
anos em décadas, séculos ou milênios, assim com Mozart que trouxe de Néstogas a sua Flauta Mágica para encantar a
todos e daí se propagou o que era singular em toda pluralidade, como o beijo justiçado
da cambojana Rindy Sam no painel branco osso do tríptico Phaedrus do artista Cy Twombly (1928-2011): Foi só um beijo,
um gesto de amor. Eu a beijei sem pensar; eu pensei que o artista fosse
entender... Foi um ato artístico provocado pelo poder da Arte... Não,
não, a vida não seria reduzida apenas a isso ou aos dois poemas de Marwin, nem que tenha muita sede mesmo a ponto de me
pegar com pensamentos alheios ao que realmente sou, coisas da loucura iminente,
incoerência irreversível da expectativa da surpresa, como se todo dia fosse a
espera daquele que seria o momento exato, a horagá. Tá. E o que porra é
Néstogas? O escambau. Até mais ver.
É possível
que a educação se torne sempre melhor e que cada geração, por sua vez, dê um
passo a mais em direção ao aperfeiçoamento da humanidade; pois é no fundo da
educação que jaz o grande segredo da perfeição da natureza humana. A partir de
agora pode-se caminhar por essa via. Pois só atualmente é que se começa a
julgar corretamente e a captar com clareza o que é verdadeiramente necessário para
uma boa educação. É uma coisa entusiasmante pensar que a natureza humana será
sempre melhor desenvolvida pela educação e que se pode conseguir dar a esta
última uma forma que convenha à humanidade. Isso nos abre uma perspectiva sobre
uma futura espécie humana mais feliz...
Trecho extraído da obra A mistificação pedagógica:
realidades sociais e processos ideológicos na teoria da educação (Guanabara,
1976), do professor universitário francês Bernard
Charlot. Veja mais educação aqui e aqui.