TRÍPTICO DQP – Vertigens de lembranças, a vida dentro de um
sonho... – Imagem: ArtLAM, ao som de Ciclos - sons
do silêncio, da calma, do vazio, do ciclo da vida: tropeços, acertos, branco,
breu, pássaros voando
(2021), do compositor Marwin Lima.
- Desdontem ou quasempre,
umoutremoção azulalva diadia. Ah, não, há muito o que fazer da vida no gerúndio,
contra a abulia do nada dizer na travessia inconclusa e sonhos para lá de postergados.
Ainda escuto longe Jalāl-ad-Dīn Rūmī: A razão é
como um oficial quando o rei aparece: o oficial então perde o seu poder e
ninguém mais se lembra dele. A razão é a sombra que some diante de Deus que é o
Sol. Talvez sirva da minha loucura. O bom é que não há outros rostos no espelho
reflexivo, muito embora seja tantos eus que perdi a conta. O cenário é quase o
mesmo e reinvento a cada lâmina do tempo, cortes que não saram com o átimo do
voo, olhos bem abertos na escuridão. O que vale é que a Julia
Butterfly Hill me sorri: As feridas na paisagem externa existem primeiro na
paisagem interna. Nós recriamos essas feridas internas do lado de fora, no
planeta... Se vamos pedir às pessoas que se abram para a dor da
terra, devemos ter sistemas implementados que nos permitam aliviar a dor uns
dos outros... Ainda
bem que suas mãos sorridentes me abrigaram para que eu pudesse estar pronto
mesmo que o céu despenque ruinas subterrêaneas e tudo seja feito carnaval ano
após séculos, com a batucada denunciando o reino da mentira e nuvens soprassem
no dolorido coração que ainda há tempo. Não fossem meus braços hélices na
imaginação, tragado já estaria pelo estupor na vacância da sensatez.
Demorou muito, será... - Imagem: da artista norueguesa Kesja Tabaczuk - Uma vez mais
testemunho o meu país ruindo pelas tabelas do que se compra e se vende e tudo
demora. No peito ainda os escalavros do que esperei e retardou demais, alguns
até nem vieram ou serviram, outros se foram com a fumaça e fiquei como se
ouvisse A
hora chegou da
poetativista australiana Louisa Lawson (1848-1920):
Como ela lutou? Ela lutou bem. / Como ela
ascendeu? Ah, ela caiu. / Por que ela caiu? Deus, que tudo sabe, / Só pode
dizer. / Aqueles pelos quais ela estava lutando – eles / certamente iriam até
ela? Não! / E a dor dela! Deles é o ganho. / Sempre o caminho. / Eles não a
ajudarão a se levantar / Se houver morte em seus olhos? / Você não pode ver?
Ela os libertou. / E se ela morrer? / Não podemos ajudá-la? Oh não! / Em sua
boa luta é assim / Que todos os que trabalham nunca devem fugir / do sofrimento
e da aflição. / Mas ela nunca vai deitar - / Em sua cabeça, na poeira, está uma
coroa / Jóia e brilhante, sob cuja luz / Ela vai subir sozinha. Era um estalo no meio do tempo da gente e o de todas as coisas: um
verso não brota à toa e o poema de Admmauro Gommes dizia que também sigo sozinho. Melhor nunca tive a satisfação
cabotina da enrolação nem aos achegamentos hipócritas mais simpáticos, já me
despi das carapuças, carapaças, amarras, camisas-de-força, grilhões, apenas um
metido a beletrista que não passa de um escrevinhador cheio das pregas
desembrulhando o presente, enquanto ouço o arrastado de relógios e calendários
vidafora. Dela a voz da escritora inglesa Ruth
Rendell (1930-2015) afagando os meus ouvidos: Sempre sabemos, quando estamos acordados, que não podemos
estar sonhando, embora, ao sonhar de fato, sintamos que tudo isso pode ser
real. Alguns dizem que a vida é o que importa, mas eu prefiro ler. Nela aprendi com as minhas mil maneiras de
errar o próprio caminho entre tumultos e agonias, errâncias
indissolúveis, desvios demais de perder o rumo e o atalho. Bati cabeça demais, agora já passou, resta o olhar de quem
vai rasgando quantos nãos, os pés prontos para voar.
Os lábios da Sibila...- Imagem: do artista visual mexicano
Armand Rom. - Demorei tanto para
aprender o que sou e já nem tenho chão, só abismos. E a salvação se mostrava no
meio do labiríntico verbo vital. Ainda
bem que ela voltou tal Ariadne, com aquele Insignificante do poeta francês Francis Ponge (1899-1988): O que há de mais atrativo que o azul, a não
ser uma nuvem, na dócil claridade? / Por isso prefiro ao silêncio uma teoria
qualquer e, mais ainda, a uma página branca um escrito quando passa por
insignificante. / É todo meu exercício e meu suspiro higiênico. O que fiz de mim foi nos lábios
oraculares dela de Pítia Sibila e o
que sobrou de ânimo diante de todos os mais fugazes relentos que me fizeram
partir. Até mais ver.
A
principal tarefa da educação moderna não é somente alfabetizar, mas humanizar
criaturas.
Pensamento da escritora,
pintora, professora e jornalista Cecília Meireles (1901-1964). Veja mais
da autora aqui e sobre Educação aqui, aqui e aqui.