É NELA O FESTIVAL DE ISHTAR - Não
conto quantas vezes entregue aos meus pensamentos solitários e longínquos,
quase largando tudo de mão, a sorte às pedras, não fui ao cúmulo da loucura,
sem saber mais o que fazer, ontens cinzas pro amanhã. Quantas e tantas vezes me
danei pelo mundo, entre passos que seguiam os alaridos e ecos no mormaço das
ruidosas noites estivais, sem ter nem para onde ir, algures de nunca existir.
Não sei quantas e muitas vezes perdido me vi como uma jangada à deriva, vida
aos ventos e correntes impetuosas, relutando ao naufrágio, águas acima do
pescoço. Nem sempre me dei conta de quantas vezes não sucumbi quase ao
desespero, tantas vezes deprimido ao rés do chão, lágrima alguma pra me lavar a
culpa, o corpo, a alma, jamais vencido de tudo, desertos por trilhar. Em um
desses dédalos enlouquecidos foi que um dia, noite qualquer entre outras
infindas, ela imantada, como se escondesse a sua deidade nas feições de uma
simples mortal, desviou meu olhar para sua atenção. Ela surgiu na minha dor
anoitecida, qual Ishtar reinando no céu entre estrelas a refulgir sua passagem,
como um cinturão ao seu redor ao controle do tempo e dos astros, para me
envolver até me levar para a carruagem com seus leões indomáveis pelas lonjuras
do universo. Mais que sempre perdido, não objetei; segurei sua mão e deixei me
levar. Fez-se, então, dela a lua brilhante na minha solidão noturna, submersa
entre lembranças perdidas e memórias revogadas, a fertilizar minhas ideias com
pensamentos que vinham e iam a se perderem num carrossel multicor que irradiava
cenas e tramas do que fui e não sou mais, valendo-me dos seus olhos vivos e
riso estelar. Completamente rendido pelas adversidades, deixei-me levar pelos
acontecimentos e deitei a cabeça desamparada entre seus seios fartos de Magna
Dea, entre os quais se equilibravam meus desastres de errar vezes sem conta,
menino sem chão, olhos sem paradeiro. Deu-me a guarida entre seus braços como
se apascentasse toda minha expectativa e inquietude, pra tomar do festival em
que ela descia de Vênus com os encantos de todas as sacerdotisas, a me ensinar
a arte do êxtase e do amor. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.
Curtindo os álbuns That girl from Ipanema (Audio Fidelity, 1977), Live in New York (Pony Canyon, 1996), Jungle (Magya, 2002) e The
Diva Series (Verve, 2003), da cantora Astrud
Gilberto.
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A arte do escultor estadunidense Wayland Gregory (1905-1971).
DESTAQUE: LENDA BORORO
Deus atirou no espaço um punhado de estrelas. Uma caiu na
terra. Outras, tardam ainda. A que desceu, por certo a mais luzentes delas,
veio e se transformou numa cidade índia. Desceu, porque do alto, o Paraguai
parece nesse ponto uma jóia: escreve em prata um S, que a estrela imaginara um
prendedor ideal, ligando à serrania o imenso pantanal. E como a muita estrela o
céu azul não baste, - caiu, como um brilhante, à procura do engaste. E Corumbá
surgiu por sobre a terra branca, na alegria sem par do gentil casario, entre o
verde do momento – no alto da barranca, debruçada, a sorrir, para o espelho do
rio.
Recolhida de Pedro Medeiros (Revista A
Violeta – Imprensa Oficial, 1939). Veja mais aqui.
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
A arte do pintor português Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918)
DEDICATÓRIA:
A edição de hoje é dedicada à conterrâneamiga
Maria de Lourdes Oliveira.
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra: