segunda-feira, novembro 16, 2009

ALEJANDRA PIZARNIK, DINKINSON, SÓFOCLES, ORTEGA Y GASSET, CELSO FURTADO, BOURDIEU, CARROL BAKER, LITERÓTICA: AFRODITE & BÍBLIAS DO VOYEURISMO


A vida parece ser uma série interminável de sobrevivências, não é? Comecei a me opor a tudo, mas era tarde demais. A imagem do símbolo sexual já havia começado. Recusei as peças e elas me colocaram na lista negra. A imprensa me atacou violentamente a cada oportunidade. Eu cheguei muito perto do suicídio.
A arte da atriz estadunidense Carrol Baker (pseudônimo de Caroline Rose Baker).

AFRODITE – Era sexta-feira quando a celeste e marinha deusa surgiu diante da minha surpresa para me deixar para lá de extasiado com tanta beleza exposta. Era a sexta dela, daquela que nasceu dentro de uma madrepérola do Chipre e nem sabia que era o seu dia para adorá-la, o dia ela era toda feita de espumas do mar e aquecida pelo sangue do deus pra me incendiar. Era sexta na qual ela era conduzida por Zéfiro para as Horas e ao se deparar comigo nas florestas do Monte Líbano sorridente e nua, emergiu do seio das ondas mais esbeltas, ereta com sua coroa de rosas para me enfeitiçar inclemente. Era sexta e ela sorriu com toda galanteria de sua graça para que eu me rendesse ao seu encanto ao me dar o cinto nos bosques do Cáucaso, despir-se dos véus e qual água límpida de fonte inesgotável, bailou nua dominando todos os meus sentidos. Fez-se aos meus olhos Anêmona, a efêmera da primavera esvoaçante para me apaziguar com seus afetos e mais se fez Cipres como quem se dá resoluta sobre a minha pele eriçada e se fez Citereia para que eu me embriagasse com sua perfume de rosa fêmea e me entregou seu segredo da Cnide de Praxíteles a me envolver com a placidez das manhãs ensolaradas, e se entregou Dioneia como quem se deixa escravizar sobre meu sexo devorado por sua latejante erupção e me fez seu Adônis para nos amássemos desregrados em Chipre, em Pafos, Amatonpe, Citera, no paraíso de todos os gozos com todos os prazeres do amor. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.


DITOS & DESDITOS - A civilização avançada envolve problemas árduos. Por isso, quanto maior o progresso, mais está ameaçada. A vida está cada vez melhor; porém, evidentemente, cada vez mais complicada. Podemos pretender ser quanto queiramos; mas não é lícito fingir que somos o que não somos. Liderar não é tanto uma questão de mão pesada mas mais de assento firme. Pouco se pode esperar de alguém que só se esforça quando tem a certeza de vir a ser recompensado. O importante é a lembrança dos erros, que nos permite não cometer sempre os mesmos. O verdadeiro tesouro do homem é o tesouro dos seus erros, a larga experiência vital decantada por milénios, gota a gota. Sem missão não há homem. Pensamento do ensaísta, jornalista e ativista político espanhol José Ortega y Gasset (1883-1955). Veja mais aqui.

ALGUÉM FALOU: A doença grave do Brasil é social, não econômica. Expressão do economista brasileiro Celso Furtado (1920-2004), em entrevista à revista Caros Amigos, fevereiro de 2003. Veja mais aqui.

O CORPO DO CAMPONÊS – [...] A sociologia talvez não merecesse uma hora de esforço se tivesse por finalidade apenas descobrir os cordões que movem os indivíduos que ela observa, se esquecesse que lida com os homens, mesmo quando estes, à maneira das marionetes, jogam um jogo cujas regras ignoram, em suma, se ela não se desse à tarefa de restituir a esses homens o sentido de suas ações. [...]. Trecho do artigo O camponês e seu corpo (Revista Sociologia Política, jun. 2006), do sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002). Veja mais aqui.

AS MULHERES - As mulheres nunca tiveram os mesmos direitos que os homens. Eu não acho que a sociedade de hoje precise de reforma. Eu acho que precisa de uma mudança radical e é nesse sentido que pode trazer benefícios para as mulheres. Embora ser mulher não me impeça de escrever, acho que vale a pena começar com uma lucidez exasperada. Deste modo, afirmo que nascer mulher é uma desgraça, como ser judeu, ser pobre, ser negro, ser homossexual, ser poeta, ser argentino etc. Obviamente, o que importa é o que fazemos com nossos infortúnios. Cada um possui seu próprio corpo, cada um controla-o como quer e como pode. É o demônio das baixas proibições que, sob a proteção de mentiras "morais", colocou as leis que governam o aborto nas mãos do governo ou eclesiásticas. Essas leis são imorais, donas de inéditas crueldades. Os conflitos das mulheres não residem em um único problema possível a ser destacado. Nesse caso, e em outros, o slogan permanece: mude a vida! A poesia não é uma carreira; é um destino. Pensamento da escritora argentina Alejandra Pizarnik (1936-1972). Veja mais aqui, aqui e aqui.

POESIA - A palavra morre / Quando é dita, / Alguém diz. / Eu digo que ela começa / A viver / Naquele dia. Poema da poeta estadunidense Emily Dickinson (1830-1886). Veja mais abaixo e aqui.

ANTÍGONA DE SÓFOCLES – obras do dramaturgo grego Sófocles, colocando o confronto entre a coragem da princesa Antígona e a tirania do rei déspota Creonte. A tragédia trata dos filhos de Édipo, os irmãos Polinices e Etéocles, que se atraiçoam e reciprocamente se matam pelo poder, restando apenas da linhagem edipiana as duas filhas Antígona e Ismenia. Com a morte dos irmãos, assume Creonte o poder, uma vez cunhado de Édipo e tio de seus filhos, indignado com Polinices e honrando a memória de Etéocles. Por isso, lança édito condenando Polinices ao relento sem sepultamento, o que leva Antígona a se indignar e descumprir suas ordens. Indignado com Antígona Creonte planeja uma morte dolorosa e lenta, determinando que fosse levada a sua última morada, para se juntar com o que ela venerava: os mortos. Após esse desfecho, Creonte ouve do adivinho Tirésias o que poderia acontecer se concretizasse todo o seu ódio em relação à filha de Édipo.Com receio que suas premonições se realizassem Creonte vai ao local onde mandou aprisionar Antígona, chegando à tumba encontra ao lado do corpo dela o de seu filho, que num ato de revolta volta-se contra seu pai e não conseguindo aplacá-lo, suicida-se. Não bastando à morte do filho sua esposa ao tomar conhecimento do fato também suicida. (Tradução de J. B. Mello e Souza).

Numerosas são as maravilhas da natureza, mas de todas a maior é o Homem! Singrando os mares espumosos, impelido pelos ventos do sul, ele avança, e arrosta as vagas imensas que rugem ao redor! Gê, a suprema divindade, que todas as mais supera, na sua eternidade, ele a corta com suas charruas que, de ano em ano, vão e vem, revolvendo e fertilizando o solo, graças à força das alimárias! A tribo dos pássaros ligeiros, ele a captura, ele a domina; as hordas de animais selvagens, e de viventes das águas do mar, o Homem imaginoso as prende nas malhas de suas redes. E amansa, igualmente, o animal agreste, bem como o dócil cavalo, que o conduzirá, sob o jugo e os freios, que o prendem dos dois lados; bem assim o touro bravio das campinas. E a língua, o pensamento alado, e os costumes moralizados, tudo isso ele aprendeu! E tambem, a evitar as intempéries e os rigores da natureza! Fecundo em seus recursos, ele realiza sempre o ideal a que aspira! Só a Morte, ele não encontrará nunca, o meio de evitar! Embora de muitas doenças, contra as quais nada se podia fazer outrora, já se descobriu remédio eficaz para a cura. Industrioso e hábil, ele se dirige, ora para o bem... ora para o mal... confundindo as leis de natureza, e também as leis divinas a que jurou obedecer, quando está à frente de uma cidade, muita vez se torna indigno, e pratica o mal, audaciosamente! Oh! Que nunca transponha minha soleira, nem repouse junto ao meu fogo, quem não pense como eu, e proceda de modo tão infame!” “[...] não há estado algum que pertença a um único homem!” “[...] e seja nosso guia Baco, que faz tremar a terra tebana!”. “[...] virá o dia em que veremos se tens sentimentos nobres, ou se desmentes teu nascimento”. Tudo porque Jupiter detesta a presunçosa jactância de uma língua altaneira”. “[...] ao passo que dois infelizes, filhos do mesmo pai e da mesma mãe, ergueram, um contra o outro, suas lanças soberanas, e deram-se reciprocamente a morrer”. 
FONTE: 
SÓFOCLES. Antígona. São Paulo: W. M. Jacnson Inc, 1969. Veja mais Antígona de Sófocles.

OUTRAS TUITADAS DAS BIBLIAS DO VOYEURISMO MUNDANO:

CELEBRIDADE – Como já dizia Emily Dicksinson: a celebridade é a punição do mérito e o castigo do talento.

CELEBRIDADE II – Como já também dizia Sérgio Augusto: “Não tenha dúvida: a mídia é a maior responsável pela patética e jeca vassalagem a celebridades que, a partir da década de 90, virou um flagelo mundial. O jeca é uma cortesia de Paulo Francis, que sentia furibundo desprezo pela fama imerecida, por celebridades forjadas pela mídia, criaturas que-são-famosas-porque-são-famosas, que nada fizeram de meritório para o destaque que a imprensa lhes dá. Ou então fazem coisas que a imprensa, por uma questão de decoro, deveria ocultar de seus leitores. (Se você pensou em Narcisa Tamborindeguy e quejandos, meus parabéns). Sabe por que os editores de jornais e revistas dão tanata luz a essa gentalha?, comentou comigo Paulo Francis, pouco antes de morrer, porque todos eles, com raras exceções, são jecas e deslumbrados, que ainda ontem só andavam de ônibus, vestiam terno da Ducal, achavam o fino tomar vinho rose e comeram o seu primeiro patê aos 25 anos”. Veja mais aqui e aqui



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Vamos aprumar a conversa, Ariano Suassuna, Elomar Figueira de Mello & Camerata Kaleidoscópio, Luís da Câmara Cascudo, Leandro Gomes de Barros, Cantadores de Leonardo Mota, Lauro Palhano, Sylvie Debs, Mariana Pabst Martins & Ciro Fernandes aqui.

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CRÔNICA DE AMOR POR ELA - LITERÓTICA
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CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
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