A FILA - DA CAIXA PRO CAIXOTE DA FECAMEPA!!!!! Gentamiga do meu Brasil varonil, olha só: se tem uma coisa abominável, repudiante, execrável e que me tira do sério nesse Brasil é a tal da fila. Não que eu seja fura-fila ou me ache o sumo do privilégio, não, nada disso. É que tudo no Brasil é tão mal planejado que para onde a gente se vira tem uma fila empacada pra desconjuntar nossa vida. É ou não é? Veja só: se a gente precisa de alguma coisa, vixe! Lá está uma fila quilométrica enganchada num mata-burro. É fila pra concurso, nos aeroportos, no posto de saúde, na polícia, no Detran, ige! É fila pra isso, praquilo, praqueloutro, uma droga! Mas a campeã mesmo é a Caixa Economica Federal em dia de pagamento de aposentado. Um desrespeito! Ou seja: todo dia e o dia todo. Eita que o fuzuê é na medida mesmo, pois todo brasileiro, salvo raríssimas e bote raridade de exceção nisso, é expert em futebol, doido de perder o juízo por automóvel e capaz de ensinar Barrichello como era que devia ter feito para deixar o alemão comendo poeira.Quer mais? E tem: é apreciador de uma vida mole cheia dos pileques, porque adora uma farofada e se comove com qualquer leseira. E se tiver rabo-de-saia no meio, vôte, perde até a noção do tempo. Ah, isso não é nada! Pois outra característica enraizada na índole do brasileiro é a de andar com um olho no padre e outro no capiroto, vez que é profeta religioso cheio das razões, sabia? Isso para não dar moleza para urucubaca, tá doido? Cruizecredos! Pois é, brasileiro de verdade guarda um devotado, mas num cochila em fazer uma fezinha no malsinado - de preferência reza pros dois, mode não haver a menor dúvida na sua cabecinha cheia de caraminhola. Ôxe, bate no peito e se orgulha de Deus ser brasileiro e quando não é ruim da cabeça, nem inchado dos ossos e muito menos doente do pé, isto é, quando não se mete a burguês metido a besta, traça o maior gingado, pinotando, arrastando o solado e saculejando o esqueleto ao som da maior variedade musical. E com o detalhe de escolher a coreografia mais inaproporiada, viu? Como dança, hem? Outra que é apreciável mesmo é o seu dom de possuir o maior bom gosto para escolher a poposuda mais gostosa, parecendo mais ser o maior juiz de desfile de modas.
Disso entende mesmo. Pois pode enxergar um pouco mais que menos de um palmo além do nariz, mas deixa tudo para se resolver na última hora, entende tudo de economia e possui uma puta habilidade para sair de saia justa com seu jeitinho malandro mais descompromissado que se possa imaginar. Ó. Sim, para quê, hem? Ohhhhhhh! Mel na chupeta, meu! Todos nós sabemos que qualquer brasileiro é capaz de jogar nas onze, bater o escanteio e, ainda, correr para cabecear pro gol. Na comemoração bate bombo e se arvora a conversar com os mortos quando é preciso engalobar meio mundo de besta, além de possuir a sapiência mais privilegiada em dar a marretada na cabeça do otário que zanza tonto por aí. Eita! Vantagem em tudo, né mesmo?! Arrepare, só. Isso ainda num é nada, pois que se passa aperto, renasce das cinzas com a maior cara de tacho risonha, mangando da desgraça alheia. Queima o rabo, mas só vê o incêndio dos outros. Consegue mais ser o mesmo no litoral, no agreste, no sertão, no cerrado, nas florestas, no pampa, no pantanal e na casa da rotônica duzentos e cinqûenta quilômetros de cabeça pra baixo adentro. E o que é pior ainda: é judiado como a praga e num tá nem aí, sacou? Grita e esperneia, mas no frigir, maior bagaça, meu. Parece mais que sabe que, um dia, a casa cai e vai ser a maior zuretada ver o enterro voltando, pois adora um boi-de-fogo. Além do jeitinho para sair do aperto ou se lascar nele pra se foder de vez, tem mais uma: adora uma fila! E fila que não anda mesmo! Puta-que-pariu meus demônios todos! Vai gostar de fila assim no raio que o parta! Isso não! Quando é fila que anda, ainda vai, dá pra passar o tempo. Mas fila empancada, vôte! Reitero, isso não! Fila? A fila não é desse povo extraordinário que gosta de levar chuva, sereno, o pino do meio dia, o mormaço da tarde, tudo lascando o quengo na maior paciência. Não, de fila, ora, se tem uma coisa que merece a gente esculhambar, é a tal da fila. Chegue aonde chegar, tem uma lá prontinha para você desfilar sem sair do lugar. E a pior é em dia de pagamento de aposentados e pensionistas na Caixa Econômica Federal! Isto é, o dia todo, o tempo todo, o ano todo. Tem exemplo, por acaso, de fila melhor? Essa é a gota, digna de figurar no Guiness, né não? Alguém desavisado, por acaso, assim, de veneta, já entrou numa agência duma Caixa dessa sem ter que enfrentar uma fila fuderosa daquela de enervar o cara mais atarantado que exista? Não? Ou? Se você respondeu não, dá licença, ou você é um ET. ou um privilegiado que nunca precisou dos serviços dela. Vai lá, vai! Vai e dá uma checadinha só para ver o desmantelo: é fila que não anda, é auto-atendimento que não funciona, é sistema fora do ar, é uma coisa tão impensável que chega a se conjeturar que tudo é possível, menos solução para isso. Eu mesmo penso cá comigo: ou os economiários são uns caras tudo roda presa daquela mais ronceira, ou lá devia ter mil e tantos só tendo dez por cento dos funcionários necessários. Parece mesmo. Porque o atendimento é de última categoria e, para nossa indignação, o que é pior é que quando chega a sua vez, tem sempre uma porra duma desconfigurada lá no toitiço do negócio, a ponto de só se resolver quando Deus der bom tempo. Já viu, né? Já passaram por isso? Ah! Quem não passou, ainda não viveu nadica de nada de aperreio cabuloso para cima do vitimado. Vá lá, faça um teste! Primeiro acorde cedo senão perde a senha do atendimento. De preferência nem durma, fique lá de plantão tomando conta do que é seu que está lá dentro. Aconselho levar algum brebote de sua simpatia para conseguir matar o tempo, será um lazer e tanto, um dia inesquecível. Como sei que todo mundo só recorre de uma instituição bancária quando tá liso na maior apertura, tenha paciência, Deus estará do seu lado o tempo todo e vai facilitar as coisas para a sua banda. E mais: nem se avexe, você será sempre atendido assim em qualquer instituição pública municipal, estadual ou federal, e até nos bancos particulares, nos Detrans, nas secretarias das escolas e faculdades, nos caixas e guichês que tem de montão por aí, nas bilheterias, nas entradas, enfim, nos... nos, em tudo porra, ora! O Brasil é uma porra duma fila que nunca chega ao final, saiba disso, viu? Mas quando você estiver coarando num fila, se você não for o primeiro, melhor, pelo menos vai ter com quem soltar umas piadinhas, uns perdigotos, umas blasfêmias, mangação, piada e outras maloqueiragens para tornar aquele delicioso passatempo mais aprazível. Não cochile. Olhe, não cochile, pelo amor que você tem à sua santa mãezinha, não cochile, senão perde a vez. Vá no velho ditado: cochilou, cachimbo cai e já era, viu? E quando o dia amanhecer, não perca tempo e aproveite para fazer o seu testemunho desse espetáculo que é a permissão de você estar vivo exatamente naquele momento mágico. Sorria, o dia só está começando e sol nasce para todos. Mais um pouquinho e vai começar a torcida. Quando a funcionária distribuir as fichas, não esquente se o seu número for mais de mil, mantenha a calma. De preferência pense como foi que o homem chegou na lua, ou como se atravessa o oceano Atlântico a nado, ou coisa parecida. Bem, depois de ficar com o número do fim da fila, seja criativa. Se não tiver dinheiro para dar uma escapulida prum lanche um instantinho só de nada, ou para pegar a condução nem para encher a pança com a gororoba do almoço, disfarce, faça como quem está de bucho cheio: solte uns peidinhos daqueles para ver se alguém abre caminho. Quem sabe, com isso, alguém não desista e você seja promovido de posição, hem? Apele pra sorte, também, ué!? Também não se abufele quando o gerente chegar todo ruim dos ossos querendo endireitar a porra do que já está desindireitado, ou enretar o que está desinretado – ô mania que tem certas trepeças de querer arrumar o que nunca terá jeito, hem? Isso é pura mania dele, considere: gente tem cada pantim! Mas espere, tenha sempre paciência, conte até dez, cem ou até mil sempre. Conte nos dedos, das mãos e dos pés, brincadeira saudável essa. Se não tiver mais como aguentar, torre a paciência dos outros também, assim ficarão todos empatados e de saco cheio na maior esportiva. Mais uma coisinha: se a fila não andar, ah, faça o mesmo que você fez esses anos todos desde que sufragou voto na eleição direta para presidente e demais calhordas do governo e Congresso Nacional! Eles são os responsáveis por isso. E você também, não se engane. Mais para diante quando conseguir atravessar o umbral da agência, festeje, é hora de comemoração mesmo com uns palavrõeszinhos de calão cabeludo, mas baixinho, nada que chame atenção, pois agora você será contemplado com um excelente atendimento, hum... Um alerta: não xingue nem detrate nenhum funcionário, pelo amor de Deus. Eles mandam e quando empacam são pior que jumento e travam as quatro rodas e o hidrovaco na beira dum rio. Pois é, você está num verdadeiro mata-burro, sorte sua! Outro alerta: cuidado, se sentir uma canseira nas pernas, nem leve a sério, nem rebole para descansar de banda, os cambitos foram feitos para a gente ficar ali feito poste, esperando ser agraciado pela gentileza do atendimento da maior qualidade que os funcionários públicos e privados se acham no direito de dispensar pra gente. Mas se na hora agá, você chegando no birô do atendimento e lá, com a cara mais azeda do mundo, mandarem voltar dali uns dias, eita, nem se abufele, agradeça pelo milagre de ter sido atendido em tempo recorde. Principalmente se a sua necessidade for premente, dê um jeito: tapie a morte, plante bananeira, dê uns saltos soltos, tente sapecar umas baboseiras, invente umas arruelas tronchas, faça uma doidice diferente e arrume uma forma de se agüentar até tudo ser resolvido. De preferência esculhambe os políticos todos, de Lula até o seu vereador eleito, também a mãe do padre, das autoridades e fura-filas, os parentes e aderentes dos que mamam nas têtas da mãe-pátria e você abomina como quem prefere ver o diabo e nunca esses nem pelas costas. Se depois de tudo isso você conseguir escapar ileso dessa pantomina toda, salve! Você é mais um privilegiado que passou pelos organismos oficiais zerando todos os pecados, sem hematoma, sem ferida em parte alguma, sem juízo mole, nem traumatizado, mas baqueado do fígado, da coluna, das pernas e até da alma. Leve tudo na conta do lucro porque pense no melhor: você ficou santo duma hora para outra com uma cópia da chave do céu. Parabéns! Acredita? E viva o Brasil! Bié, bié, glup, glup (PS: publicado originalmente em 24 de dezembro de 2002 nos mais diversos espaços disponibilizados na rede e em vários alternativos e publicações impressas do país). Veja mais aqui e aqui.
Imagem: Gisele, do artista plástico Denis
Mandarino.
Curtindo o álbum Recital
- Homage To Jennie Tourel (EMI, 1998), da cantora lírica e soprano estadunidense
Barbara Hendricks. Veja mais aqui.
EPÍGRAFE - Não exijam no outro suas próprias qualidades; vocês não
exigiram nele seus próprios defeitos, do filósofo e escritor místico
francês, Raimond Bernard. Veja mais
aqui.
OS
SONHOS E A MORTE – O
livro Os sonhos e a morte: uma
interpretação junguiana (Cultrix, 1984), de Marie-Louise von Franz, aborda assuntos como o mistério do corpo
morto e a tumba de Osíris, a vegetação, árvore, relva, grão e flor, o primeiro
casamento com a morte, a passagem escur4a para o nascimento e o espirito de
desalento, morte, o outro sinistro ou benévolo, a passagem pelo fogo e pela
água, o sacrifício ou tratamento do corpo velho, a oscilação da identidade do
ego, as almas múltiplas e sua fixação no fruto, a ressurreição final, reunião
da psique com o corpo, o corpo sutil e
suas variantes, a nova hipótese de Jung, entre outros assuntos. Veja mais aqui.
CONFISSÕES – O célebre filósofo e escritor francês Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), em
seu livro Confessions (Confissões) sua autobiografia em que o autor nada oculta
do que fez de bem e de mal, publicada depois de sua morte, em 1781, descreve
inclusive que gostava de ser chicoteado pela senhorita Lambercier e que,
durante toda a vida, amor e humilhação estavam sempre juntos. Tinha tendências
masoquistas desde a infância, cultivadas por certa governanta e que ele próprio
relatou nessa obra. Veja mais aqui.
AULAS
DE MÚSICA NA ESCOLA – A Lei
nº 11.769, aprovada pelo ex-presidente Lula em 18 de agosto de 2008, alterou a
Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de 20 de dezembro de 1996, tornando
novamente obrigatórias as aulas de música nos ensinos fundamental e médio. A
primeira vez que a obrigatoriedade da disciplina foi lei aconteceu em 1932,
quando Getúlio Vargas aprovou o projeto do compositor Heitor Villa-Lobos, então
Superintendente de Educação Musical e Artística do governo federal. Veja mais aqui.
RINGU – O filme de terror Ringu (1998), dirigido pelo cineasta japonês Hideo Nakata, é baseado no livro homônimo do escritor Koji Suzuki, contando
a história de uma repórter que decide investigar a morte misteriosa de sua
sobrinha. Ela descobre que tudo isso foi por conta de uma fita de vídeo que a
quem a assiste, morre em sete dias. Curiosa, a repórter vê o vídeo para ter
certeza. Quando a fita acaba o telefone toca, e um ruído macabro se escuta.
Então ela tem exatos sete dias para descobrir como acabar com a maldição e
salvar sua vida e a de seu filho que também viu a fita. Para isso, esta conta
com seu ex-marido, um professor cético, mas dotado de poderes extra-sensoriais,
para investigar o misterioso vídeo amaldiçoado. Destaque para atuação da atriz
japonesa Yūko Takeuchi. Veja mais
aqui.
IMAGEM
DO DIA
Todo
dia é dia da atriz japonesa Yūko
Takeuchi
Veja
mais sobre:
E o poema se fez domingo, André
Gide, Margaret Atwood, Joaquín Rodrigo,
Pedro Demo, Márlio Silveira Silva, Sara
Marianovich, Tom Jobim & Vinicius de Morais, Leon Hirszman, Miguel
Covarrubias & Christian Rohlfs aqui.
E mais:
Sacadas
& tuitadas aqui.
Leitura,
escrita, aprendizagem & avaliação na educação aqui.
Coisas
de Maceió: Coagro aqui.
Pequena
história da formação social brasileira aqui.
Idealismo
& educação aqui.
Psicanálise
e educação aqui.
&
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
CANTARAU:
VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Recital Musical Tataritaritatá