Arte do fotógrafo australiano Toby Burrows.
A MULHER ASSÍRIA-BABILÔNIA - ASSUR E NÍNIVE – Assur era a sede sagrada
do deus epônimo Assur, senhor de Ebih, deus do tempo, deidade semítica
ocidental, de origem hurrita. Tanto o culto quanto a cidade foram destruídas
quando revivesceu o períoro Parta. O deus Assus é representadono disco solar
alado, como um varão de barbas empunhando arco e flechas. Depois ele tornou-se
deus do império, tornando-se o foco de identidade assíria. O seu nome causava
medo à população de terras distantes da Mesopotâmia. Nos tempos atuais, os
cristãos nestorianos remanescentes localizados no Norte da Síria e do Iraque se
identificam como assírios, simbolizados oficialmente pelo deus dentro do disco
solar, guardião da identidade assumida. Nínive era a sede sagrada da deusa do
amor e da guerra Ishtar. Assur e Nínive foram cidades assírias construídas por
reis poderosos, localizadas no altiplano de pedra calcária da Mesopotâmia
setentrional. Ambas tiveram histórias particularmente longas de ocupação e se
tornaram lugares sagrados, enquanto que Nimrud ou Gala, outras das capitais
assíriasforam habitadas pelo rei por apenas breves períodos de menos de um
século. OS ASSÍRIOS - Praticavam também o comércio das mulheres. A respeito
disto, Heródoto nos diz mais ou menos o que se segue: "Em cada aldeia, uma
vez por ano, logo que as moças estão maduras para casamento, são reunidas e
levadas a um determinado lugar, onde estão muitos homens, e então o pregoeiro
as faz levantar umas após outras, a começar pelas mais belas. Logo que a mais
bela tenha achado comprador, então fazem com que se levante outra, e assim por
diante. Os caldeus ricos que desejam casar rivalizam entre si, para comprar as
mulheres mais formosas. Depois o pregoeiro põe à venda as mais feias, e
oferece-as aos homens que têm menos dinheiro. Finalmente, os que ficarem com as
mais feias são pagos para isto. O dinheiro obtido com a venda das mais formosas
é destinado ao dote das mais feias”. Ninguém podia levar uma mulher, sem se
comprometer a casar-se com ela. O indivíduo que recebia dinheiro para ficar com
uma mulher feia era obrigado a casar-se com ela, e se não o fizesse, era obrigado
a devolver o mesmo dinheiro. A MULHER ASSÍRIA – A pena de talião que constava
do código de Hamurabi, rei dos babilônios e o primeiro a coligir as leis, não
foi adotada pelos assírios. Não há provas de que outras leis do código tivessem
prevalecido entre eles. Mas a influência que exerceu sobre o direito assírio
foi enorme. Algumas leis assírias determinavam a inteira sujeição da mulher; a
esposa era tida como objeto de uso do marido. Só ele tinha direito ao divórcio
e a poligamia. Enfim, a mulher era totalmente denegrida, e ai daquela que não
cobrisse o rosto com véus. BABILÔNIA, A GRANDE PROSTITUTA – A Babilônia exerceu
forte influência sobre Assur no período do final do terceiro milênio, quando a
cidade era parte do estado de Ur III. O primeiro império babilônio data de
2.500 a 1.500 a.C. e o segundo império de 625 a 536 a.C. A queda da Babilônia é
anunciada no Apocalipse Bíblico onde era representada como a Grande Prostituta:
“Vem cá e te mostrarei a sentença contra a grande prostituta, a que está
sentada sobre muitas águas. Com ela fornicaram os reis da terra, e os
habitantes da terra se têm embriagado com o vinho de sua fornicação [...]
Levou-me no Espírito ao deserto, e vi a uma mulher sentada sobre uma besta
escarlata cheia de nomes de blasfemia, que tinha sete cabeças e dez chifres. A
mulher estava vestida de púrpura e escarlata, enfeitada de ouro, pedras
preciosas e pérolas, e tinha na mão um cálice de ouro cheio de abominações e da
imundicie de sua fornicação. Em sua fronte tinha um nome escrito, mistério:
Babilonia a grande, a mãe das prostitutas e das abominações da terra. Vi à
mulher embriagada com o sangue dos santos e do sangue dos mártires de Jesús.
Quando a vi fiquei assombrado com grande assombro" (Apocalipse 17:1-6). E
mais adiante: "Com ela prostituiram os reis da terra, e os habitantes da
terra se têm embriagado com o vinho de sua prostituição" (Apocalipse
17:2). O historiador Heródoto (490 – 429 a.C) escreveu acerca de um costume
horrendo na Babilônia: a prática disseminada da prostituição no Templo de
Ishtar. Uma vez durante suas vidas, todas as mulheres do país eram obrigadas a
sentar-se no templo e entregar-se a um estranho por dinheiro. Nessa época as mulheres
ricas e esnobes chegavam em carruagens cobertas. As filhas virgens, por volta
dos 12 anos, eram dedicadas ao culto da prostituição. Elas tratavam seus amantes
com tamanha cordialidade que até mesmo os entretêm. Tais atos eram considerados
hábitos religiosos perversos, costume esse que se propagou entre os persas e o
judeus qadeshes que praticavam a prostituição sagrada, tanto do sexo masculino
quanto feminino. Na Babilônia, as crianças eram levadas pelos pais para o
casamento sagrado com o deus Marduk. A NOSSA SENHORA BABALON E DA BESTA QUE
MONTA - Babalon ou Babylon, também conhecida como Mulher Escarlate, Grande Mãe e Mãe das Abominações, é descrita portando uma
espada à cintura e montando a Besta. É tratada como a Prostituta Sagrada,
simboliada pelo Graal ou Cálice, símbolo do útero gerado, sendo uma das deusas
centrais da filosofia religiosa conhecida como Thelema, estabelecida em 1904
por Aleister Crowley no Liber AL vel Legis. Em sua
forma mais abstrata, representa o impulso sexual feminino e a liberdade da
mulher. Contudo pode também ser identificada com a Mãe Terra, no sentido
simbólico da fertilidade, possuindo, além disso, uma contraparte masculina
denominada To Mega Therion (A Grande
Besta). O seu consorte simbólico é Caos, o Pai da Vida, princípio criador
masculino. É também definida como Shakti, a negativa corrente da natureza e se
assemelha a Kali, a destruidora deusa da morte para os tugues. É reconhecida
como a amante de Shiva, o cadáver que copula a deusa. É também identificada
como a terceira Sephirah da Arvore da Vida, Binah, a Esfera, representando
todas as mães da terra. TRÍADES - A religião babilônica conhecia duas tríades,
ou seja, conjunto de três deuses, segundo o esquema familial, pai, mãe e filho.
A primeira tríade babilónica é composta de Anu, Enlil e Ea; a segunda é formada
por Sin, Sarnas e Istar. ISHTAR – Deusa da fecundidade e da guerra. É
representada com seu leão ou com a pomba. Na segunda tríade, também era a deusa
que despertava o impulso sexual nos animais e nos homens. A MULHER, OS CULTOS
FEMININOS E O CASAMENTO BABILÔNICO - A família babilônica tinha o casamento
monogâmico como base, mas era permitido o concubinato ou poligamia. Pelo
Hamurabi, um cidadão livre casado com uma sacerdotisa, pode ser oferecido a uma
escrava para procriação. Este poderia legitimar o concubinato, tornando a
escrava sua esposa. Há também registros de situações incestuosas. Quanto ao
adultério: "A mulher adúltera deve ser atirada ao rio, mas se o marido
perdoar o adultério, os dois devem ser atirados ao rio. A mulher do
prisioneiro, se não tem com que se sustentar, pode casar-se com outro; mas se o
marido puder voltar para o lar, ela é obrigada a voltar para o marido".
Podia a mulher casar com outro homem, se não tivesse com que se manter; se o
marido voltava, ela tinha de voltar para o primeiro marido. "Se a mulher
repudiada pelo marido é leviana, não pode exigir indenização, e o marido pode reduzi-la
a sua escrava. A mulher que abandona o marido é atirada ao rio". Também:
"Não é lícito ao marido repudiar a mulher enferma. Mas pode tomar outra
mulher para si". AS SACERDOTISAS – o corpo das sacerdotisas não tinha
menor importância. A grande sacerdotisa, entu, possuía autoridade sobre todas
elas: a maioria está relacionada ao culto de Ishtar, deusa da fecundidade, que,
sob o nome de Ishara, preside à consumação das uniões. Algumas dessas
sacerdotisas parecem ter por função permitir aos fieis praticarem com elas o
ato que, por magia simpática, deve provocar o crescimento das famílias e dos
rebanhos. Diversas categorias de sacerdotisas não podem ter filhos, tais como a
naditu, a sinnsihat zikrum, a gadishtu (a que passa bem) e a zer mashtu (aquela
que apaga a samente). As sacerdotisas que formam a corte de Ishtar constituem a
classe das Ishtarati que são as kishreti (as encerradas), as shambati e
harimati (as prostituídas). Embora ligadas ao culto, as harimati são julgadas
severamente, tendo, inclusive, um provérbio recomendando não toma-las por
esposas. Contudo, é uma shamatu, digado hieródula, que, no poema de Gilgamesh,
deve domar Enkidu, o homem selvagem, para conduzi-lo à santa morada de Anu e de
Ishtar. Essa deusa, de resto, conta entre seus epítetos o de cortesã dos
deuses. HARIMTUM – eram as prostitutas profissionais com conexões cultistas,
que ofereciam um serviço sexual em prol do templo. Os sacerdotes atuavam como
cafetões e coletavam parte dos lucros. Eram os bordéis sagrados. O CULTO À
GRANDE DEUSA NUA– Deusa da fertilidade e da fecundidade. Oferenda de frutas, de
laticínios, de animais domésticos. Uma das figuras mais populares desse culto é
a multidão de representações da deusa nua, plaquetas de terracota às vezes
rudimentares, às vezes mais aprimoradas, que figuram uma mulher nua sustentando
os seios com as mãos. Todas essas figuras não são propriamente deusas, são
talsmãs que te por finalidade assegurar na morada da multiplicação desse bem
precioso que é a família. A grande deusa escoltada por divindidades das cidades
principaos do império, que vai se encontrar com o grande deus para celebração
da união. DEUSA GULA – também incorporada por Babu ou Baba, deusa da medicina,
que havia sido companheira de Ningirsu, esposa de Ninurta. Também assumia as
designações de Nintinugga ou Ninisinna. Ela era a mais invocada porque conhecia
as plantas, tratada como a ressuscitadora de mortos, pPresidia à saúde e curava
as doenças dos homens; mas podia, também, infligir grandes danos aos mortais.
O cão, companheiro de Gula, tornou-se, entre os gregos, o de Esculápio. ERESKIGAL
– irmã de Ishtar e Sarnas, rainha do mundo subterrâneo. Nergal, um dia, invadiu
os infernos, país do qual não se retorna, e maltratou Eresquigal; esta
ofereceu-se-lhe em casamento. Nergal aceitou e tornou-se o rei dos infernos. DEUSA
NISABA – também conhecida como Nidaba, deusa da fertilidade e esposa de
Ningirsu. Era, propriamente, uma divindade-grão, deusa dos caniços e dos
juncos, tão abundantes nos terrenos paludosos junto aos rios e aos canais. Como
o caniço servisse para fazer cálamos, os estiletes com os quais se escrevia
sobre a argila, Nidaba tornou-se a deusa dos números e dos presságios. Além
disso se qualificava como a deusa das plantas, em geral. OUTRAS DEUSAS – Outras
deusas são identificadas como Nana, outro aspecto de Ishtar. Também Zarpanitum,
deusa da gravidez, esposa de Marduk, criadora da vida, humana e vegetal,
chamada ainda de Erua. Shala era esposa do deus Adad, de natureza pacífica,
conhecida pelo nome de Dama da Espiga, e uma espiga de cevada a representa nos
kuduru. SEMÍRAMIS, A SEDUTORA RAÍNHA – Semíramis, ou Sammu-ramat, segundo Heródoto
e Didorus Siculus, era uma rainha lendária da Assíria, filha da deusa Dérceto
ou Dércetis; abandonada pela mãe, tornou-se escrava. Um general de Nino,
pressentindo seu génio e fascinado pela beleza da escrava, tomou-a por esposa;
o próprio Nino por ela se apaixonou, o qual, antes ficara impressionado com a
coragem que a jovem demonstrara por ocasião do ataque dos bactros. Nino, então,
fez com que o general a cedesse, e a tomou por esposa. Semíramis de imediato
conseguiu poder sem limites sobre seu novo marido; dessa união nasceu um filho,
Nínias. Segundo antiga tradição, Semíramis, um dia, pediu ao esposo que lhe
confiasse, por um momento, o poder real absoluto; este cedeu aos rogos da
esposa e foi logo massacrado. Ela sucedeu a Nino no trono. Engrandeceu,
fortificou e embelezou a Babilônia; cercou-a de muros tão largos que dois
carros podiam cruzar por cima deles tranquilamente, e construiu os Jardins
suspensos da Babilônia, sobre o Eufrates. Submeteu a Arábia, o Egito, uma parte
da Etiópia e da Líbia e só não teve sucesso na expedição que dirigiu contra a
Índia. Morreu depois de ter reinado 42 anos; sucedeu-lhe Ninias, seu filho,
que, talvez, tenha lhe abreviado os dias. Ela foi adorada pelos assírios sob a
forma de pomba, por isso contava-se que ela tinha sido criada por pombas e que
ao morrer subira aos céus sob a forma de uma dessas aves. Outras tradições
referem que ela matou o marido e todos os filhos, com exceção de Nínias. Contam
Heródoto, Diodoro da Sicilia e Valério Máximo que a rainha da beleza e da
elegância, nasceu dos amores furtivos de uma deusa de Ascalon, na costa
mediterrânea, e de um simples mortal. Na ocasião foi milagrosamente assistida
por pombas e depois foi cuidada por pastoras. Era tão bela que um dia, quando
uma revolta irrompeu em sua capital no momento em que fazia sua toalete, foi só
se mostrar seminua e com os cabelos soltos que tudo entrou em ordem. Isso
porque ela inventou um traje ao mesmo tempo cômodo e elegante, com o qual podia
tanto se mostrar nos atos ordinários da vida, como montar a cavalo e combater.
Um alto funcionário assírio, que passava por esta região longínqua, apaixona-se
por ela e, impressionado com sua beleza, casa-se com ela, levando-a para
Nínive. O rei da Assiria, que naquela ocasião empreendia a conquista da
Bactriana, defrontava-se com a grande resistência. Semíramis é pressionada para
intervir e vestida com elegante traje masculino, assume a responsabilidade e
torna idade que resistia ao rei. O marido, funcionário, é afastado.
Maravilhado com as façanhas e com a beleza dessa mulher, o rei toma-a para si e
depois morre. Ela sobe ao trono com vinte anos de idade, edifica construções
magníficas, funda Babilonia, partindo para conquistar o Egito, até a Etiopia e
a India. O seu epitáfio: "A natureza deu-me um corpo de mulher, mas meus
atos me igualaram ao mais valente dos homens. Antes de mim, nenhum assírio
havia visto os mares. Já vi quatro, onde ninguém chega. Fiz com que os rios
corressem onde eu queria. Com o ferro construi estradas através dos rochedos
intransitáveis. Abri, para meus carros, caminhos que nem os a animais ferozes
haviam, percorrido. E, entre minhas preocupações, encontrei tempo para
satisfazer meus prazeres e meus amores”. Ela foi cantada por Paul Valery,
Voltaire e Rossini. O MITO DE TAMMUZ – Tamuz é uma deidade babilônica, também
chamado de Dumuzi ou Dumuzid, o filho verdadeiro ou filho fiel. A Bíblia contém
uma referência à sua adoração por parte de mulheres de Yehudá (Judá). Tamuz
originalmente era um governante, que posteriormente foi deificado. Ele aparece
na lista de governantes babilônios como um rei anti-diluviano. É mencionado
tambem no Épico de Gilgamesh. Ele passa seis dias com cada uma das irmãs
deusas, Ishtar e Ereskigal. Só mais tarde Ishtar buscará pessoalmente nos
infernos para de lá trazer seu esposo. Essa festa naturista era celebrada em
várias cidades sumérias e diversos hinos cantandos nessa circunstância faem alusão
ao citado Mito. Existe um texto antigo chamado Paixão do Deus Lilly, do qual se
traz o episódio do deus que lamenta e com ele sua companheira, de ser retido
nos infernos. O deus está prisioneiro subtraído à terra e pode exalar seus
queixumes. BIBLIOGRAFIA - CONTENEAU, Georges. A civilização de Assur e
Babilônia. Rio de Janeiro: Otto Pierre, 1975 DEL PRIORE, Mary. História das
mulheres: As vozes do silêncio In: FREITAS, Marcos Cezar (org.) Historiografia
brasileira em perspectiva. São Paulo: Contexto, 1998. EIDOUX, Henri-Paul.
Realidades e enigmas da arqueologia. Rio de Janeiro: Otto Pierre,1977. HUNT,
Dave. A mulher montada na besta. São Paulo: Actual, 2001. LEICK Gwendolyn.
Mesopotamia, a invenção da cidade: Rio de Janeiro, Imago, 2003. LIMA, Mónica I.
F. Sequeira. Evolução histórica da união de facto: da sociedade babilônica ao
direito português contemporâneo. Lisboa: UAL, 2008. PANTEL, Pauline Schmitt
(Org). História das mulheres: a antiguidade. Porto: Afrontamento, 1993. PERROT, Michelle; DUBY,
Georges. História das Mulheres no Ocidente -1- A Antigüidade. Porto:
Afrontamento, 1990. SEIXAS, Ana Maria Ramos. Sexualidade feminina: história,
cultura, família, personalidade & psicodrama. São Paulo: Senac, 1998. Veja
mais aqui.
PENSAMENTO DO DIA – [...] Os
seres humanos são ‘representadores’. Não homo faber, digo eu, mas homo depctor.
São as pessoas que fazem as representações. [...] Tudo que chamo de representação é público [...] Não há, pelo que sabemos, representações sem
estilo [...] Novas teorias são novas
representações. Elas representam em formas diferentes para que haja novas
formas de realidade. [...]. Pensamento extraído
de Representing and intervening:
Introductory Topics in the Philosophy of Natural Science (Cambridge
University Press, 1983), do filósofo canadense Ian Hacking.
AUTOR X LEITOR - [...] O
escritor finge que está relatando determinado discurso e o leitor aceita tal
fingimento. Mais especificamente, o leitor constrói (imagina) um falante e um
conjunto de circunstancias que acompanham o “quase" […]. Trecho extraído de Speech acts and the defiticion of literature (Philosophy and
Rhetoric, 1971), de Richard Ohmann.
FILOSOFIA & CONHECIMENTO – […] O
conhecimento filosófico é um trabalho intelectual. É sistemático porque não se
contenta em obter respostas para as questões colocadas, mas exige que as
próprias questões sejam válidas e, em segundo lugar, que as respostas sejam
verdadeiras, estejam relacionadas entre si, esclareçam umas às outras, formem
conjuntos coerentes de idéias e significações, sejam provadas e demonstradas
racionalmente. [...]. Trecho
extraído da obra Convite à filosofia
(Atica, 1995), da filósofa e educadora brasileira Marilena Chauí. Veja mais aqui.
SAÚDE MENTAL – Fui
convidado a fazer uma preleção sobre saúde mental. Os que me convidaram
supuseram que eu, na qualidade de psicanalista, deveria ser um especialista no
assunto. E eu também pensei. Tanto que aceitei. Mas foi só parar para pensar
para me arrepender. Percebi que nada sabia. Eu me explico. Comecei o meu
pensamento fazendo uma lista das pessoas que, do meu ponto de vista, tiveram
uma vida mental rica e excitante, pessoas cujos livros e obras são alimento
para a minha alma. Nietzsche, Fernando Pessoa, Van Gogh, Wittgenstein, Cecília
Meireles, Maikóvski. E logo me assustei. Nietzsche ficou louco. Fernando Pessoa
era dado à bebida. Van Gogh se matou. Wittgenstein se alegrou ao saber que iria
morrer em breve: não suportava mais viver com tanta angústia. Cecília Meireles
sofria de uma suave depressão crônica. Maiakóvski suicidou. Essas eram pessoas
lúcidas e profundas que continuarão a ser pão para os vivos muito depois de nós
termos sido completamente esquecidos. Mas será que tinham saúde mental? Saúde
mental, essa condição em que as ideias se comportam bem, sempre iguais,
previsíveis, sem surpresas, obedientes ao comando do dever, todas as coisas nos
seus lugares, como soldados em ordem unida, jamais permitindo que o corpo falte
ao trabalho, ou que faça algo inesperado, nem é preciso dar uma volta ao mundo
num barco a vela, basta fazer o que fez a Shirley Valentine (se ainda não viu,
veja o filme!), ou ter um amor proibido ou, mais perigoso que tudo isso, que
tenha a coragem de pensar o que nunca pensou. Pensar é coisa muito perigosa… Não,
saúde mental elas não tinham. Eram lúcidas demais para isso. Elas sabiam que o
mundo é controlado pelos loucos e idiotas de gravata. Sendo donos do poder, os
loucos passam a ser os protótipos da saúde mental. É claro que nenhuma mamãe
consciente quererá que o seu filho seja como Van Gogh ou Maiakóvski. O
desejável é que seja executivo de grande empresa, na pior das hipóteses
funcionário do Banco do Brasil ou da CPFL. Preferível ser elefante ou tartaruga
a ser borboleta ou condor. Claro que nenhum dos nomes que citei sobreviveria
aos testes psicológicos a que teria de se submeter se fosse pedir emprego. Mas
nunca ouvi falar de político que tivesse stress ou depressão, com exceção do
Suplicy. Andam sempre fortes e certos de si mesmos, em passeatas pelas ruas da
cidade, distribuindo sorrisos e certezas. Sinto que meus pensamentos podem
parecer pensamentos de louco e por isso apresso-me aos devidos esclarecimentos.
[...] Por isso, quem trata das
perturbações do software humano nunca se vale de recursos físicos para tal.
Suas ferramentas são palavras, e eles podem ser poetas, humoristas, palhaços,
escritores, gurus, amigos e até mesmo psicanalistas. Acontece, entretanto, que
esse computador que é o corpo humano tem uma peculiaridade que o diferencia dos
outros: o seu hardware, o corpo, é sensível às coisas que o seu software
produz. Pois não é isso que acontece conosco? Ouvimos uma música e choramos. Lemos
os poemas eróticos do Drummond e o corpo fica excitado. Imagine um aparelho de
som. Imagine que o toca-discos e acessórios, o software, tenha a capacidade de
ouvir a música que ele toca, e de se comover. Imagine mais, que a beleza é tão
grande que o hardware não a comporta, e se arrebenta de emoção! Pois foi isso
que aconteceu com aquelas pessoas que citei, no princípio: a música que saía do
seu software era tão bonita que o seu hardware não suportou. A beleza pode
fazer mal à saúde mental. Sábias, portanto, são as empresas estatais, que têm
retratos dos governadores e presidentes espalhados por todos os lados: eles
estão lá para exorcizar a beleza e para produzir o suave estado de
insensibilidade necessário ao bom trabalho. Dadas essas reflexões científicas
sobre a saúde mental, vai aqui uma receita que, se seguida à risca, garantirá
que ninguém será afetado pelas perturbações que afetaram os senhores que citei
no início, evitando assim o triste fim que tiveram. Opte por um software
modesto. Evite as coisas belas e comoventes. Cuidado com a música. Brahms e
Mahler são especialmente perigosos. Já o roque pode ser tomado à vontade, sem
contra indicações. Quanto às leituras, evite aquelas que fazem pensar. Há uma
vasta literatura especializada em impedir o pensamento. Se há livros do Dr.
Lair Ribeiro, por que arriscar-se a ler Saramago? Os jornais têm o mesmo
efeito. Devem ser lidos diariamente. Como eles publicam diariamente sempre a
mesma coisa com nomes e caras diferentes, fica garantido que o nosso software
pensará sempre coisas iguais. A saúde mental é um estômago que entra em
convulsão sempre que lhe é servido um prato diferente. Por isso que as pessoas
de boa saúde mental têm sempre as mesmas ideias. Essa cotidiana ingestão do
banal é condição necessária para a produção da dormência da inteligência ligada
à saúde mental. E, aos domingos, não se esqueca do Sílvio Santos e do Gugu
Liberato. Seguindo esta receita você terá uma vida tranquila, embora banal. Mas
como você cultivou a insensibilidade, você não perceberá o quão banal ela é. E,
ao invés de ter o fim que tiveram os senhores que mencionei, você se aposentará
para, então, realizar os seus sonhos. Infelizmente, entretanto, quando chegar
tal momento, você já não mais saberá como eles eram. Extraído da obra Melhores crônicas (Papirus, 2008), do psicanalista, educador, teólogo e escritor Rubem Alves
(1933-2014). Veja mais aqui e aqui.
SEXTILHA – Eu
só comparo esta vida / à curva da letra S: / tem uma ponta que sobe / tem outra
ponta que desce / e a volta que dá no meio / nem todo mundo conhece. Poema do
repentista e poeta popular Pinto de
Monteiro (Severino Lourenço da Silva Pinto – 1895-1990).
SHIRLEY VALENTINE – A comédia dramática Shirley Valentine (1989), dirigida
por Lewis Gilbert, é baseada na peça teatral homônima escrita pelo roteirista
do filme, Lewis Gilbert que estreou na Broadway em 1986, contando a história de
uma dona de casa em crise existencial, conversando com as paredes na tentativa
de entender o que aconteceu com os sonhos da juventude, quando, de repente, uma
sua amiga ganha uma viagem para a Grécia com tudo pago e a convida para acompanha-la.
Chegando lá, uma reviravolta acontece na vida da protagonista que é vivida pela
atriz Pauline Collins.
Arte do
fotógrafo australiano Toby Burrows.
Foto recebida por mail sem indicação de autoria.
TIRADAS, SACADAS & OUTROS TATARITARITATÁS!!!!
NO REINO DO MAMOEIRO:
“(...) O senhor sabe: sertão é onde manda quem é forte, com as astúcias. Deus mesmo, quando vier, que venha armado! E bala é um pedacinho de metal...” (João Guimarães Rosa, Grande Sertão Veredas).
ICONOCLASTIA
“Eles ergueram a Torre de Babel
Para escalar o Céu,
Mas Deus não estava lá!
Estava ali mesmo, entre eles,
Ajudando a construir a torre.”
Para escalar o Céu,
Mas Deus não estava lá!
Estava ali mesmo, entre eles,
Ajudando a construir a torre.”
(Mário Quintana, A Construção).
AFULEROU DE VEZ, VIROU ZONA MESMO!!!!
Resta apenas dizer como o tocador de berimbau de barriga e repentista cearense de Itapipoca, Pedro Nonato da Cunha: “(...) quem tem seus óio bem vê, se se engana é porque qué!”. (recolhido do livro MOTA, Leonardo. Cantadores: poesia e linguagem do sertão cearense. Rio de Janeiro: Cátedra, 1978).
Veja mais sobre
Por um novo dia, Daniel Goleman, Max Ehrmann, Yes, Truman Capote, Eugène Delacroix, Annie
Leibovitz, Literatura Infantil, Patrícia França & A filha do rei do céu aqui.
E mais:
Riacho Salgadinho, Dee Brown, Pablo
Neruda, Nelson Rodrigues, Tatiana Parra, Philippe de Broca,
Jean-François Millet, Françoise Dorléac, Harvey
Kurtzman, Literatura Infantil, Direito
Ambiental & Recursos Hídricos aqui.
Manoel Bentevi, Sinhô, Marshal McLuhan,
Andrea Camileri, Marcelo Pereira, Mario Martone, Giulia Gam, Anna Bonaiuto Fecamepa
– quando o Brasil dá uma demonstração de que deve mesmo ser levado a sério!
& Parafilias aqui.
A poesia de Bocage aqui.
Proezas do Biritoaldo: Quando o Balde Tá Entupido, a Topada Leva a
Merda Pro Ventilador aqui.
Ralf Waldo
Emerson, Spencer Johnson,
Monty Alexander, Gabriele Muccino, Nicolletta Tomas, Felipe Cerquize, História
do Teatro, Nicoletta
Romanoff, A
escola, a sociedade e a formação humana, Onde há fumaça, há fogo & Folia
Tataritaritatá aqui.
Fecamepa: o Brasil holandês aqui.
Todo dia é dia do idoso, Darcy Ribeiro,
Annie Besant, Stephen Spender, Rita Cléos, Prosper Mérimée, Nicolaes
Berchem, Alessandro
Stradella, Paz Vega, Hanz Kovacq &
Literatura Infantil aqui.
Junichiro Tanizaki, Asha Bhosle, Sandra
Werneck, Márcio Baraldi, Louis Jean Baptiste Igout, Vilmar Lopes, Luis Francisco Carvalho Filho, A mundialização da
cultura, Internet & Inclusão, Gestão do capital humano, Lucy Lee &
Raimundo Fontenele aqui.
A aventura do Zé Bilola pra vereança aqui.
Por um novo dia, Herminio Bello de Carvalho, Brian
Friel, Julia Lemmertz, Paolo Sorrentino, Ismael Nery, Bruno
Steinbach, J. R. Duran, Iremar Marinho de Barros, Rachel Weisz & O
papel do professor e a sua formação na prática pedagógica aqui.
Doro Presidente aqui.
Tolinho & Bestinha: Quando Bestinha enfiou-se na bronca da vida e
num teve quem desse jeito aqui.
CRÔNICA
DE AMOR POR ELA
Leitora
parabenizando o Tataritaritatá.
CANTARAU: VAMOS
APRUMAR A CONVERSA
Paz na Terra
Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.