A arte do artista plástico mexicano Lui Ferreyra.
PROEZAS DO BIRITOALDO - IX - Quando Risca Fogo, o Rabo Inflamável Sofre Que Só Sovaco de Aleijado - Birito andou uns dias meio aluado, meio lasso, assim, fora das esferas, à toa, por causa do incidente presenciado. - Cachorra da molesta! Catraia da catenga! Vai pro Satanás, fi'a da peste! -, pigarreava injuriado. Num é pra menos, né? Mais puto ainda porque encheram-no de apelido: ora Gnu, ora Alce-irlandês, ora outras trepeças galhudas. Intrigado, remoía, que queriam dizer com isso? Sabia que se tratava de chacota braba, derriço desgraçado causando uma fissura na sua adolescência. Até o papagaio Popó mangava da cara dele entoando: - "Ouviram do Ipiranga às margens..." côooooooooornuuu!... "De um povo heróico o brado..." côoooooooornuuuu! Grugrugurugrugru.... Tem cabimento? Logo ele que se via o roliúde como astro de seriado da TV, ufano e xucro incorporando todo pantim de herói, jogador de bola sete na sinuca, adivinhão de porrinha, cantador de loas e ardoroso defensor da vida boa, cair numa deprê assim, era de lascar. - Espere não, que eu num tô a fim de fazer graça pra ninguém, não. Vai tomar na sapata do olho de bico, vai! Eu quero é esfolar quem inventou estudo, trabalho e mulher safada! Se vou! Chica Doida era perdida, os-pés-da-doida, uma verdadeira carniça: vivia em tudo quanto fosse bico de urubú. Namorava com um e com outro, trocando de parceiro como quem troca de blusa a cada suadeira. Prova disso foi saber através do boato dos maiores caboetas que aos onze anos de idade ela, presumivelmente, perdeu a virgindade numa situação incomum que ainda hoje ela conta na maior das risadagens. Lembra daquele dia como uma boa recordação, levando-a por devaneios perceptíveis. - Havia uma amendoeira -, dizia ela com ar poético e nostálgico -, hoje passa uma rodovia. Foi ali que eu perdi o meu cabaço aos onze anos de idade! Soubesse antes que era tão bom, já tinha nascido fudendo! Biritoaldo se apaixonara pela doida perdidamente. Mesmo depois do flagra, três meses amuado com os seus botões e chifres coçando, arrumou ungüento pra dor-de-cotovelo e voltou, como se nada tivesse acontecido, pros pés dela propondo casamento para muito breve. Ela encarava a proposta como uma piada e se ria da leseira dele. - Ou esse cara tá variando, ou a gaia afetou o juízo dele! -, dizia ela que nada queria, só gozar a juventude, ficando. E era esfregado com Pedim-do-padre, Carrinho Xôxo, Didi-papa-cú, xambregando nas esquinas escuras se ajeitando nos lugares de iluminação insuficiente, principalmente atrás da prefeitura, local do plantão mais freqüentado pelos supostos fudedores; se enganchando no pescoço dum nos arruados distantes; pulando cerca para libidinagens na beira do riacho; sarrando com gato e chachorro e morrendo de inveja da Benta Mouca que fora flagrada pelo marido estrepada na pomba dum jegue na Lagoa do Mundaú. - Ora, que felizarda! Eu mesma sou doida por torneira grande! Esses negocim miudinho, fininho, sai-te, só gosto do chapéu-de-vaqueiro de esfolar tudo! Pois é, principalmente agora, na flor da idade, casar? porra nenhuma. Biritoaldo se abestalhava tanto com a negativa dela, quanto com a pilhéria dos maloqueiros. Ai, cebola! Tempeiro de boceta é rola! Ai, tirica! Tempeiro de boceta é pica! Um verdadeiro sururu da Nega: todo mundo mete a mão na cumbuca, de graça. A Ilmena olhava de soslaio para a folgança da Chica, menina nova, de futuro e pais respeitados. E tentando reaprumar a vida dela, a professora deitou reportagem completa aos seus pais. Como é? Incrédulos, quase defenestravam-na dali com porta e tudo. - Que é isso? Com nossa filha, não! Arrede, fofoqueira! -, aquilo doía no juízo deles. Logo a filha santa, recatada, nunca! Por via de dúvidas, os genitores de Chica recolheram a libertina num convento. Ave, Maria! Para eles, agora sim. Pronto, queriam ver alguém enredar dela. Hum! Nem imaginem quantas aprontou pras bandas das freiras. Quer ver? Às escondidas das irmãs Carmelitas, ela namorou Zito Cuiambuca, Bilau Cadida, Zé da Jega, Ciço Pacaru, Pedim-do-padre, perdendo vez por outra as caçolas nos lugares mais insólitos quanto recônditos, como o púlpito - eita! -, alicerces do clube ferroviário - danou-se! -, escadaria do cinema - tá c'a gota!-, banheiro da rodoviária - vôte! -, batente da prefeitura - virgem santa! -, beco da casa do vigário - espia, só! -, avelóis da usina de cana - oxente, bandoleira de uma figa! -, pedreira do riacho - arre, praga! -, cruzeiro do matadouro - tais vendo? -, no monumento das armas nacionais - esp'ritou-se! -, na sacada da sede do Rotary Club - pela luz de Cristo! -, num capô dum fusca - arrepare, sonsa! -; tantas caçolas perdidas que já andava sem as tais, facilitando a função, pei. Bicha danada, ladina. Era mais falada que artista de cinema que num deixava um só segundo de estar nas manchetes da fofocagem. - Essa, tem mais hora de foda que urubu de vôo! O pior foi que todos, com pena dos pais, começaram a devolver suas caçolinhas. Muitos deles entregaram de bandeja: para a madre superiora. Arre égua! Era castigo certo. Que covardia, tadinha. O convento se arrepiava das imagens ficarem de costas. Basta tempo, moleza enrolá-las, a pá virada conseguia escapulir do castigo e toda noite se travava com qualquer marmanjo das cercanias. Era uma dor de cabeça para as santas do convento, levando, a fim da força, a convocar os pais dela para uma reunião às portas fechadas, tintim por tintim, e relataram arrepiadas as suas presepadas. Botaram todos os pingos possíveis e inimagináveis em todos os iis. Era a constatação. Deus acuda o trupicão! - Uma menina tão boa, tão santa, num acreditamos nisso, a senhora é enredeira feito aquela professorinha metida a besta! O bate-boca durou por horas até que por sentença Chica fora expulsa a bem da moral cristã, não antes deixar um rastro devastador nas atitudes e faces avermelhadas das pacatas pingüins de Jesuisis. Tava, agora, tudo assanhada. Teve até uma delas que não aguentando mais tanto celibato largou o hábito e nunca mais se afastou de homem. Sabe-se que ainda hoje ela mora lá para as bandas de Salvador, dando a priquita à beça. Vírus bom, hem? Com a expulsão, ela passou a ser vigiada cada segundo dos seus dias e noites. Destá. Piscasse o olho ela estava se bandeando para qualquer cafajeste, passando pinto na tocaia dos pais e se escondendo daquelas inoportunas vigilâncias, atrapalhando o coito com cada ferroada de levar o sujeito para grota a se cagar, quando não findava rancôlho. Todo mundo sabia da sandice de Chica, por isso todos queriam tirar uma casquinha nela. A bicha era jeitosa de perna, aquela batata cheia, de côxa saliente, bem apessoada corporalmente, uma carinha de anjo safada, o jeitinho atirado, atrevida, provocadora, a perdição em pessoa. Daí aguçar o apetite da raça pra molhar o biscoito. Um dia depois de passar pela mão de púberes, impúberes, marmanjos e anciões, Biritoaldo teve a sua chance. Depois de muita lenga-lenga de casório nas ouças dela, ela inquiriu-lhe se era macho. Claro, ora! Então vamos traquinar, abestalhado. Os olhos dele quase pulam fora. Eu quero casar, mulher! Larga de ser besta, otário, vamos aproveitar! E acertaram tudo para mais tarde nas ferragens dos destroços da usina abandonada, um fogo morto que acenderia naquele dia idílio voluptuoso, local propício para sua iniciação naquela trepada. Ele que teimava em botar quente na das da vida, tornara-se verdadeiro beócio de galocha. Mas foi, mesmo assim. Às dezenove e trinta, noite enluarada, lá estava ele, nervoso, roendo as unhas e com um frio na barriga, espinhela arrepiada, comendo vento e amolegando a pêia. Às vinte e uma e trinta, chegava ela esbaforida, toda apressada, suculenta. Tais esperando o quê, alesado? O quê, Chica? Vai ser brôco assim no raio que o parta! Com um cara desse a gente perde até a tesão! Que foi? Arre. Peraí, mulher, eu sou o seu amor, quero ser... atrapalhando a pieguice dele, atracou-se naquela figura estúpida com um beijo dos mais ardentes e gulosos que ele jamais poderia ter visto, enquanto levantava a saia e esfregando a cheba na virilha dele num acôcho arrochado. Biritoaldo nem teve tempo de se dar conta da garanhagem, ela já botou logo o pinto dele para fora, levantando uma das pernas e lá vai o vuque-vuque. As calças dele ao serem desabotoadas, arrearam aos pés e ficou ele nuzinho da silva da barriga para baixo a enfiar o pingulim no engole-pomba dela. Remexido medonho, fungado desnorteado de ambas as partes. Nisso, um empata-foda. No meio desse chove-num-molha, nem se deram conta de algo subindo pelas pernas, aumentando ainda mais a fudelança. Foi aí que ela sentiu uma picada na beirada do priquito, êpa! Ui! Ai! Outro no osso do mucumbú, eita! Ai! Doeu! Qué isso, cara? Tá me estranhando, é? Chica fez cara feia pra dele. Ele mesmo levou uma ferroada no colhão esquerdo: aaaaaaiiiiiiiiiiiiiiii! Desmoronou tudo, ela largou-lhe um tabefe no toitiço e saiu indignada, aos gritos. Acontece que pra desespero dele, nem davam conta no alvoroço da sacanagem que estavam sobre um ninho de saúvas-tocandiras. Com o pisunhado elas se assanharam e ai-jesus! Fora de si, ele tentou vestir as calças e percebeu logo a merda que fez: infestada. Plutão em questão de segundos seria alcançado. Puta-que-o-pariu! Foi picada até umasoras do colhão ficar maior que queijo do reino. Nem cagava, nem mijava, tudo inchado pelas ferroadas das traiçoeiras nas partes pudendas do mofino. Por fim, Chica arribou se debatendo toda, ficando Biritoaldo com as mãos na cabeça, sem tesão nem para uma bronha. - Não deu nem tempo de gozar, porra! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. VEJA MAIS: PROEZAS DO BIRITOALDO
PENSAMENTO DO DIA – Não
livros morais e livros imorais. Há livros bem escritos e livros mal-escritos.
Pensamento do
escritor e dramaturgo irlandês Oscar Wilde (1854-1900). Veja mais aqui,
aqui e aqui.
ESTÉTICA & A TEORIA DA
FORMATIVIDADE - [...] A obra de arte [...] é matéria e espirito, fisicidade e
personalidade, objeto e interioridade. Por outro lado, com efeito, ela é apenas
matéria formada, objeto entre outros objetos, coisa entre outras coisas; objeto
físico e material, em que a matéria não é nem invólucro nem parte nem meio, mas
tudo [...] essa matéria é formada
segundo um irrepetível e todo singular modo de formar, que é a própria
espiritualidade e personalidade do artista. [...]. Trecho extraído da obra Estética: teoria da formatividade
(Vozes, 1993), do filósofo italiano Luigi
Pareyson (1918-1991). Veja mais aqui.
ESTÉTICA & OBRA DE ARTE - [...] em cada elemento sensível está operante o mundo que nele se encarna,
com todo o meio ambiente ao qual pertence e que nutre. Este meio ambiente e
esse mundo estão pedindo de per si um material sensível adequado para ser
plasmado luminosamente. Em cada obra de arte o chamado 'material’ e o
‘espiritual’ se influenciam mutuamente. [...]. Trecho extraído da obra Estética (Vozes, 1993), do pedagogo e
filósofo espanhol Alfonso López Quintás.
OS CHISTES E SUA RELAÇÃO COM O INCONSCIENTE – [...]
Os propósitos dos chistes podem facilmente ser
passados em revista. Onde um chiste não tem objetivo em si mesmo - isto é, onde
não é um chiste inocente - pode servir a apenas dois propósitos, que podem ser
subsumidos sob um único rótulo. Ou será um chiste hostil (servindo ao propósito de agressividade, sátira ou
defesa) ou um chiste obsceno
(servindo ao propósito de desnudamento). Deve-se reiterar desde já que as
espécies técnicas do chiste - verbal ou conceptual - não se relacionam com
esses dois propósitos. [...] os chistes executam a serviço de seu propósito.
Tornam possível a satisfação de um instinto (seja libidinoso ou hostil) face a
um obstáculo. Evitam esse obstáculo e assim extraem prazer de uma fonte que o
obstáculo tornara inacessível. O obstáculo interferente nada mais é em
realidade que a incapacidade da mulher em tolerar a sexualidade sem disfarces,
incapacidade correspondentemente aumentada com a elevação do nível educacional
e social. [...] Chegamos
agora ao fim de nossa tarefa, tendo reproduzido o mecanismo do humor a uma
fórmula análoga àquelas referentes ao prazer cômico e aos chistes. O prazer nos
chistes pareceu-nos proceder de uma economia na despesa com a inibição, o
prazer no cômico de uma economia na despesa com a ideação (catexia) e o prazer
no humor de uma economia na despesa com o sentimento. Em todos os três modos de
trabalho do nosso aparato mental o prazer derivava de uma economia. Todos os
três concordavam em representarem métodos de restabelecimento, a partir da
atividade mental, de um prazer que se perdera no desenvolvimento daquela
atividade. Pois a euforia que nos esforçamos por atingir através desses meios
nada mais é que um estado de ânimo comum em uma época de nossa vida quando
costumávamos operar nosso trabalho psíquico em geral com pequena despesa de
energia - o estado de ânimo de nossa infância, quando ignorávamos o cômico, éramos
incapazes de chistes e não necessitávamos do humor para sentir-nos felizes em
nossas vidas. [...] O livro Os chistes
e sua relação com o inconsciente, de Sigmund Freud, trata na parte
analítica sobre os chistes e o cômico na literatura, a caricatura e o juízo
lúdico, as similaridades dessemelhantes, contrastes de ideias, nonsense,
desconcerto, esclarecimento, Kant, Heine, a brevidade e os eventos mentais. Na
parte das técnicas dos chistes trata sobre a forma verbal dos chistes, Flaubert
e Salmbô, a interpretação dos sonhos, duplo sentido e jogo de palavras,
trocadilhos, deslocamento, o absurdo, o raciocínio falho, omissão e alusão,
representação, exagero, analogias chistosas, entre outras. Na parte dos
propósitos dos chistes, trata sobre os chistes verbais e conceptuais,
substancia do pensamento e envoltório chistoso, Smut, a libido, os chistes
cínicos. Na parte sintética trata sobre o mecanismo do prazer e a psicogênese
dos chistes, as fontes do prazer, os chistes inocentes, a redescoberta do que é
familiar e gratificante, o jogo do gracejo, a produção do prazer, Fechner, os
motivos dos chistes, os chistes como processo social. Na parte teórica trata da
relação dos chistes com os sonhos e o inconsciente, os chistes e as espécies do
cômico, o cômico da sexualidade e da obscenidade, o deslocamento humorístico e
um apêndice sobre os enigmas de Franz Brentano. REFERÊNCIA: FREUD, Sigmund. Os
chistes e sua relação com o inconsciente. Rio de Janeiro: Imago, 1980. Veja
mais aqui.
OS IRMÃOS KARAMAZÓV –[...] E
o espantoso não é que Deus exista realmente, mas que essa ideia da necessidade
de Deus tenha surgido no espírito de um animal feroz e mau como o homem
[...]. Trecho do livro Os irmãos
Karamázov (1879 - 34, 2008), do escritor russo Fiódor Dostoiévski (1821 - 1881). Veja mais aqui.
AS IMAGINAÇÕES ERÓTICAS – [...] - teu corpo impuro até aos vis corrompe / E só
nos puros ele se abastece” (SONETO DE DORMITÓRIO) [...] nos trechos escuros de tua nudez / Eu
capinava matos onde o amor se iniciava” (A MORTA) BALADA DE ADEUS OU O AMOR
EM MONTPARNASSE: Eu dormirei contigo em
Montparnasse / Sob um céu belo, intacto e surpreendido: / Contigo dormirei
embora passe / Este desejo de te amar demais / Que, de repente, sob o céu
ferido, / Me vem preciso, louco, vão, fugaz. / Nosso encontro campestre, na
distancia, / Não dispensa boninas, madrigais, / Para desgraça minha, o amor
audaz / Faz com que me conquiste doce ânsia / E teu corpo estrangeiro se
desfaça / Em musicas de abismos dissolventes. / Uma aragem marítima perpassa / Nos
contrapontos de teus seios quentes. / Em Montparnasse, que faremos nós? / Teus
adeuses não são mais de neblina / E não repousas mais no ultimo andar / Do
edifício sem sombra de pudor. / Jamais, porem, nos ficaremos sós / Pois teu
corpo escaldante de menino / Novos jogos de amor há de inventar / Em que o
desejo se misture à dor. / Teus dedos matam pássaros que ficam / Depois mais
vivos e então te dedicam / Intermináveis bailes sempre alados. / Ó rosa branca,
ó flor sem virgindade, / Tremes ao vento sem peste no obscuro / Lugar de mil
amores desprezados. / A claridade é treva, e esconde o escuro / Seios, cabelos,
pernas, coxas, sexos / Dos que se possuírem sem amizade / E tiveram do amor
tristes reflexos. / Corpo desnudo, como te ofereces! / És como um sino cujo
toque fosse / Um convite de amor, um triste e doce / Convite à posse do que bem
mereces. / Em Montparnasse, eu te farei amar / Como se fosse ao próprio amor
que amasse / A tua carne viva em Montparnasse. / Em Montparnasse, eu te farei
gritar. FAZENDA DO AMOR CAMPESTRE: Deixaste
a marca de teus pés na terra / Despertando os grãos / Que se esqueceram de
germinar. / A unidade perdida dos campos / Te sepultava, te naufragava. / Ias
para a fazenda / Porem caminhavas pela floresta. / O ar que respiravas era / Um
oxigênio sem resistência ou pudor. / Confiavas a ti mesma / E caminhavas
orgulhosa levando o campo. / Em teu corpo havia muitos países de amor / Alguns
que só poderiam ser atingidos via nunca mais / Outros que a mão ruralmente
alcançaria. / Foi quando – tu o esperavas, moça! – / Fui ao teu encontro e te
derrubei / No mato que cheirava a paz e a morte. SONETO DO POETA BRASILEIRO:
Não sou viril somente nas poesias. / Quero
dormir contigo, pois teus pés / Amassavam pitangas e trazias / No corpo inteiro
a marca das marés. / Disseste que comigo casarias / - amor na cama, beijos,
cafunés. / Entre-sombras de carne oferecias / Tão navegáveis como os igarapés.
/Minha morena até dizer que não, / O nosso amor demais me recordava / Duas
lagoas onde me banhei. / Sou macho e brasileiro, coração: / Em teu olhar eu nu
e forte estava / E foi assim, morena, que te amei. PRAIA DO SOBRAL: Esperava que ela afastasse de mim os seios
puros / E passeava com ela pela praia e a beijava / E enfeitava seus cabelos
com uma flor. / Permanecia tranqüilo mesmo junto de sua carne / Pois no litoral
Doralice era a flor esquiva / Que restaurava em mim o obscuro desequilíbrio. / Misteriosamente
claros seus seios tentavam / Minha mão direita que a louvaria em verso / E
minha mão esquerda frágil e inconsistente / Inútil quando não a acariciava. / Praia
debruçada sobre o seu corpo, / O amor era a gratidão marítima / E as ondas
obedeciam ao fremir de suas coxas. / Doralice era a utilidade que sob o sol / Ou
sob a lua me afastava do céu. / Era o crepúsculo invasor de alguma manhã. / Sonhos
caminhando, tardes naufragas, noites grandes, / Doralice era como a lagoa da
terra em que nasci: / Me perturbava e me acendia. / Era a areia quente / Onde o
sol de minha infância se nutria. / A noite vinha do sexo de Doralice / Para o
litoral que era / Como um colchão onde se amava. / Depois Doralice vomitou a
infância / E eu fiquei, menino, na praia sonhando. A DAMA: Sempre te vejo, Dama Esportiva, / Inclinada
para o espaço como uma torre / No gesto de uma partida de tênis. / Acompanhada
de duzentas figurantes de opereta / Reconstituir o crime de um sono nostálgico
/ E a náusea das residências do noroeste. / Telegrafas para a eternidade / Com
a fúria de tuas coxas. / Sempre te vejo e confesso / Que teu corpo de bailarina
me aniquila / Teus braços me aprisionam / E tua boca me sorve. / És uma mistura
de carne e de opera / Imóvel na tarde com os teus espelhos, / Tua geografia e
teu porta-seios. / Flor que sempre viaja incógnita / Ou rosa verde que provoca
suicídios em massa e desfalques / És uma calamidade pública. ESMERALDA: O internato em que estavas / Voava contigo
nas manhãs sem nuvens / Ficavas acima do farol / Azul e branco e saia de sino /
Dominavas um azul que não existirá / E estudavas química. / Esmeralda, tormento
e magia / Naquele tempo teu corpo germinava como um campo / E tua carne
inventava novas formas / Que desfiguravam a ausência. / Eu desenhava na praia a
curva de teu seio. / E continuavas voando, entre o farol e o mar, / Ballet de
minha adolescência. CANTIGA PARA A AMIGA FUTIL: Venho cantar tua pronuncia inglesa, digna de Oxford. / Teus múltiplos
passeios. / Teu complexo de Elextra. / E venho te convidar para partir comigo /
Na corveta de Euterpe, / Para o país sem nome e sem dia. / Andaremos de
velocípedes nas nuvens / Faremos filhos por via aérea / E navegaremos na lagoa
escaldante do mistério. / Venho te convidar ó perpetua senhora / Para a
contemplação no espelho da Sala do Fim do Mundo. / Teus seios, outrora lunares,
teu secreto charme, / Teu corpo mais eterno do que realmente é, / Teu exímio
processo de amar. / Venho te convidar para o amor / No jardim-terraço da corveta Euterpe. / Com o teu corpo de fragata ou tua
paixão, vem. / Sou menor que tudo. ADRIANA E A POESIA: Adriana estava dormindo e um sonho se levantava de seu corpo / Neste
momento faltou inspiração aos poetas porque todas as inspirações estavam em
Adriana / As sereias tentaram em vão roubar os seus cabelos / Porem um anjo
guardião não permitiu que ela fosse destituída de sua beleza durante o sono / Seus
seios arfavam docemente como as rosas ao vento – todos vós sabeis que os seios
de Adriana não morrem / Uma sonata celebre fugiu de um concerto com um suspiro
de Adriana / Desembargadores tiraram o chapéu porque pensaram em Adriana
dormindo / Ela repousava e então caixas de música enlouqueceram
inexplicavelmente / E as amadas dos poetas se cobriram misteriosamente de
neblina / Temporais desapareceram e naus antigas fugiram de velhos livros de
historias infantis e acordaram nos portos sonhados / Um trapezista julgou ver Adriana
com os braços abertos tentando-o no ar e precipitou-se irreparavelmente no
vazio / Incontáveis elegias descobriram-na dormindo / O Presidente da Republica
decretou feriado porque Adriana estava dormindo / Sendo revogadas as
disposições em contrário / Berceuses partiram em maravilhosos crepúsculos / Países
em guerra concordaram em tréguas indeterminadas / Para que as batalhas não
perturbasse o sono de Adriana / Que algum tempo depois despertou docemente e
descobriu não estar como antes do descanso / Pois Cristo havia desapropriado
sua grande poesia / Para que ela pertencesse a todos os homens e a todos os
mágicos. LEDO IVO – O poeta, jornalista, escritor e
ensaísta alagoano Ledo Ivo, foi e leito em 13 de novembro de 1986 para a
Cadeira n. 10, sucedendo a Orígenes Lessa, foi recebido em 7 de abril de 1987,
pelo acadêmico Dom Marcos Barbosa. Ele estreou na literatura em 1944, com o
livro de poesias As imaginações. No ano seguinte, publicou Ode e elegia,
distinguido com o Prêmio Olavo Bilac, da Academia Brasileira de Letras, o
primeiro de uma série de prêmios que Lêdo Ivo irá obter, nos anos subseqüentes,
com a publicação de obras de poesia, romance, conto, crônica e ensaio. Lêdo Ivo
é uma das figuras de maior destaque na moderna literatura brasileira,
notadamente na poesia. Seu romance Ninho de cobras (1973) foi traduzido para o
inglês, sob o título Snakes’ Nest, e em dinamarquês, sob o título Slangeboet.
Obras: As imaginações, poesia (1944); Ode e elegia, poesia (1945); As alianças,
romance (1947); Acontecimento do soneto, poesia (1948); O caminho sem aventura,
romance (1948); Ode ao crepúsculo, poesia (1948); Cântico, poesia (1949);
Linguagem, poesia (1951); Lição de Mário de Andrade, ensaio (1951); Ode
equatorial, poesia (1951); Um brasileiro em Paris e O rei da Europa, poesia
(1955); O preto no branco, ensaio (1955): A cidade e os dias, crônicas (1957);
Magias (contendo: Os amantes sonoros), poesia (1960); O girassol às avessas,
ensaio (1960); Use a passagem subterrânea, contos (1961); Paraísos de papel,
ensaio (1961); Uma lira dos vinte anos, reunião de obras poéticas anteriores
(1962); Ladrão de flor, ensaio (1963); O universo poético de Raul Pompéia,
ensaio (1963); O sobrinho do general, romance (1964); Estação central, poesia
(1964); Poesia observada, ensaios (1967); Finisterra, poesia (1972); Modernismo
e modernidade, ensaio (1972); Ninho de cobras, romance (1973); O sinal
semafórico, reunião de sua obra poética, desde As imaginações até Estação
central (1974); Teoria e celebração, ensaio (1976); Alagoas, ensaio (1976);
Confissões de um poeta, autobiografia (1979); O soldado raso, poesia (1980); A
ética da aventura, ensaio (1982) A noite misteriosa, poesia (1982); A morte do Brasil,
romance (1984); Calabar, poesia (1985); Mar oceano, poesia (1987); Crepúsculo
civil, poesia (1990); O aluno relapso, autobiografia (1991); A república das
desilusões, ensaios (1995); Curral de peixe, poesia (1995). FONTES: IVO, Ledo.
As imaginações. Rio de Janeiro: Pongetti, 1944. ____. Poesia completa
(1940-2004). Rio de Janeiro: Topbooks, 2004. Veja mais aqui.
A arte do artista plástico mexicano Lui Ferreyra.
Veja mais sobre Teatro & o caminho para
libertação, Rubem Alves, Lya Luft, Bocage, Arrigo Barnabé, Fernanda Torres, Oliver Stone, José
Júlio Sousa Pinto, Blake
Liverly, Henri Cartier-Brersson & Literatura Infantil aqui.
E mais:
Quando o negócio tá num nó-cego da peste, o melhor
mesmo é se infincar na rebeldia e partir para a desobediência civil de Henri
Thoreau aqui.
Escalavradura,
Hermes Trismegistus,
Sinclair Lewis, Walter Kerr, Beth Gibbons, Phil Morrison, Amy Adams, Yannick
Corboz, Jean-Léon Gérôme & Marly
Vasconcelos aqui.
Fecamepa,
Harvey Spencer Lewis, Donna Tartt, Casimiro
de Abreu, Gil Vicente, Cris Delanno, Maeve Quinlan, Gustave Courbet, George Dawnay & Dimensão ético-afetiva do adoecer da
classe trabalhadora aqui.
Buda, Loius Claude de Saint-Martin, Omar Khayyãm, Leo Huberman, Otto Friedrich, Dominique Ingres, Felicja Blumental, Mabel Collins, Ingrid Koudela, James
Ivory, Ewa Kienko Gawlik & João Câmara aqui.
CRÔNICA
DE AMOR POR ELA
Leitora
parabenizando o Tataritaritatá.
CANTARAU: VAMOS
APRUMAR A CONVERSA
Paz na Terra
Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.