A PAZ QUE NINGUÉM VÊ – Imagem: Statue
of Pax, in Pavlovsl Garden, St. Petersburg, Russia, sculptor Pietro Baratta. - Um dia ela apareceu tão
divina quanto ensolarada paratodos, carregada de céus e com uma mensagem no
altar dos tempos. Dos seus cabelos sedosos aos ventos a placidez da vida. Dos
seus olhos de céu todas as emoções e sentimentos profundos. Das suas faces
plácidas a candura de todas as afeições mais amáveis. Da sua boca rubra bem
torneada todos os encantos da brisa primaveril ecoando sua voz o hálito do
aroma florido dos jardins. Dos seus ombros macios o aconchego para todas as
aflições e abandonos. Dos seus braços fraternos o refúgio para os que se
perderam sem esperanças. Das suas mãos ternas a doação fagueira de todos os
carinhos. Dos seus seios maternos a guarida para os desesperos insones. Do seu ventre
fértil a reluzência vital de todos os seres. De suas coxas prementes e de suas
pernas firmes as torres seguras de guias aos desencontrados. E dos seus pés fincados
todos os caminhos seguidos e por seguir. A todos se dirigiu e sua voz ecoava aos
quatros cantos. Pros ouvintes, uma chuva que lava a Terra, alimentando as
sementes. E mais disse de todos, enquanto sabiam apenas do espetáculo. Nenhuma sílada
ficou aos ouvidos, todas se perderam nos olhos vidrados. Seus lábios
silenciaram e chorou. Seus olhos pra todos, um por um, torrenciais lágrimas
murmurando: é preciso paz. Sim, a paz, repetiu diversas vezes. E mais chorou. Não
tendo mais nada a dizer, deu as costas e, ao primeiro passo, ainda se virou
para mirar mais uma vez a multidão silente. Depois, foi embora sem se desdepedir,
aos prantos. Ninguém, ninguém mesmo foi capaz de se solidarizar, mudos e intringados.
Amaram sua presença endeusada, sequer ouviram suas palavras, apenas que era
preciso paz. Ela se foi, no choro o seu desapontamento. Ao desaparecer, emergiu
sua imagem, estátua na praça. Ninguém entendeu, uma estátua apenas e se
ajoelharam ao que sentiram pra venerá-la e, cada qual, sua oração, sua
compreensão, seu cotidiano, a vida prossegue e ninguém sabe da paz. © Luiz
Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
O CERTO & ERRADO DE THOMAS NAGEL
[...] A preocupação
fundamental da filosofia consiste em questionarmos e compreendermos ideias
muito comuns que usamos todos os dias sem pensarmos nelas. Um historiador pode
perguntar o que aconteceu em determinado momento do passado, mas um filósofo
perguntará: “O que é o tempo?” Um matemático pode investigar as relações entre
os números, mas um filósofo perguntará: “O que é um número?” Um físico
perguntará de que são constituídos os átomos ou o que explica a gravidade, mas
um filósofo irá perguntar como podemos saber que existe qualquer coisa fora das
nossas mentes. Um psicólogo pode investigar como é que as crianças aprendem uma
linguagem, mas um filósofo perguntará: “Que faz uma palavra significar qualquer
coisa?” Qualquer pessoa pode perguntar se entrar num cinema sem pagar está
errado, mas um filósofo perguntará: “O que torna uma ação certa ou errada?” Não
poderíamos viver sem tomarmos como garantidas as ideias de tempo, número,
conhecimento, linguagem, certo e errado, a maior parte do tempo, mas em
filosofia investigamos essas mesmas coisas. O objetivo é levar o conhecimento
do mundo e de nós um pouco mais longe. É óbvio que não é fácil. Quanto mais
básicas são as ideias que tentamos investigar, menos instrumentos temos para
nos ajudarem. Não há muitas coisas que possamos assumir como verdadeiras ou
tomar como garantidas. Por isso, a filosofia é uma atividade de certa forma
vertiginosa, e poucos dos seus resultados ficam por desafiar por muito tempo. [...] a idéia de que uma coisa é errada depende do
impacto que ela tem não apenas sobre aqueles que a praticam, mas também sobre
outras pessoas [...] se o fato de algo ser errado deveria ser uma
razão para não fazê-lo e suas razões para fazer as coisas dependem de seus
motivos, e os motivos das pessoas podem variar muito, parece então que não
haverá um único certo e errado para todo o mundo [...] Muitas coisas que
você provavelmente considera erradas foram aceitas como moralmente corretas por
grandes grupos de pessoas no passado: escravidão, servidão, sacrifício humano, segregação
racial, negação de liberdade política e religiosa, sistemas de castas
hereditária [...]
Trechos do
capítulo 7 – Certo e errado, da obra Que quer dizer
tudo isto? Uma breve introdução à
filosofia
(Martins Fontes, 2007), do filósofo estadunidense Thomas Nagel,
relatando os problemas centrais da investigação filosófica, deixando questões
fundamentais em aberto para permitir aos estudantes acolher outras soluções e
encorajando-os a pensar por si mesmos sobre como sabemos alguma coisa, o
problema mente-corpo, o significado das palavras, livre-arbítrio, certo e
errado, justiça, morte e o significado da vida. Veja mais aqui.
Veja
mais sobre:
Uma
coisa quando outra, A aventura da modernidade de Marshall Berman, a poesia de Adolfo Casais
Monteiro, a música de Tom Jobim & Maucha Adnet, Arquiteturas líquidas de Marcos Novak, Renie Britenbucher & Adriana Garambone, a arte de Alyssa Monks & Luciah Lopez aqui.
E mais:
Os vexames dum curau no sul, O absurdo & viver para quê de Thomas Nagel, Voragem de Junichiro Tanizaki,
Eu mesmo de Emílio de Meneses, Mão na luva de Oduvaldo Vianna Filho, a deusa
Pax, a música de Rosalia de
Souza, o cinema de Olivier Assayas & Maggie Cheung, a pintura de Pierre-Auguste Renoir & Suzanne Frie aqui.
Doro & a copa do mundo, a música de Astor Piazzola, a poesia de Adolfo
Casais Monteiro, Adriana Garambone, A arte de Roberto Burle Marx & Antônio Miranda aqui.
Desenvolvimento
psicossocial de Erik Erikson & Justiça à poesia com Simone Moura Mendes, o ator Chico de Assis e a cantora Wilma
Araújo & o violonista Marcão,
entre poetas e outros participantes aqui.
Vamos aprumar a conversa,O eu profundo & os outros eus de Fernando
Pessoa, Culto da feminilidade de André Van Lysebeth, Psicologia social & Lev
Vygotsky, o cinema de Philippe Blasband,
as gravuras de Lasar Segall, a música de Guinga & Quinteto Villa-Lobos, a pintura de Luciano Freire & a xilogravura de Manassés
Borges aqui.
O
espelho de João Guimarães Rosa aqui.
Brincarte do Nitolino & festejos juninos,
Guerra & paz de Cândido Portinari, a música de Egberto Gismonti, Platero e eu de Juan
Ramón Jiménez, Menino antigo de Carlos Drummond de Andrade, Família composta de
Domingos Pellegrini, a pintura de Jamilton Barbosa Correia, Contador de histórias & Maria de Medeiros aqui.
Vamos aprumar a conversa,Simulacro & simulações de Jean Baudrillard, a música de Patricia
Glatzl & Lígia Moreno, Um estado muito interessante de Zulmira Ribeiro Tavares. O rato no
muro de Hilda Hilst, o cinema de Roger Vadin & Brigitte Bardot,Composição humana de Manabu Mabe, a pintura de Theodore Roussel & Nicolas Poussin aqui.
A
rodagem de Badalejo & a bodega de Água Preta, O
analista de Bagé de Luis Fernando Veríssimo, a música de Meredith Monk,
Iniciação ao teatro de Sábato Magaldi, Narração
& narrativas de Samira Nahid Mesquita, o cinema de Hector Babenco, a
arte de Vanice Zimermam, a pintura de Robert
Luciano & Vlaho Bukovac aqui.
O dono
da razão, Canção do exílio de Murilo Mendes, Identidade & etnia de Carlos
Rodrigues Brandão, Socioantropologia da educação de Maria Sérgio
Michaliszyn, a arte de Francisco
Zúñiga, a pintura de Jules Pascin, Peace in earth & a música
de Jú Martins aqui.
Não era
pra ser, nem foi, Entre a vida e a morte de Nathalie Sarraute, a música de Galina
Ustvolskaya, Aquarium World de Takashi Amano, o
ativismo de Emmeline Parnkhurst, o cinema de Sarah Gravon & Carey Mulligan, as gravuras de Jean-Frédéric Maximilien de Waldeck, a pintura de Paul-Émile Chabas & Carlos Alberto
Santos aqui.
A
esperança equilibrista, O espaço da cidadania de Milton Santos, Admirável mundo novo de Aldous
Huxley, Saberes necessários de Edgar
Morin, a música de Vivaldi & Michala
Petri, a fotografia de Andreas Feininger, a pintura de Gianluca Mantovani & Jose De la Barra, a arte de Daniele Lunghin & Dave Stevens aqui.
Eita!
Vou por ali no que vem e que vai, a literatura de Ítalo Calvino, Os tempos da Praieira de Costa Porto,
O efêmero de Louise Glück, a música de Edson Zampronha, Neurofilosofia e
Neurociência Cognitiva, Betina Muller, a arte de
Laszlo Moholy-Nagy & Anke Catesby aqui.
&
A VIDA
DE BASKERVILLE
A peça teatral A vida, do ator, diretor, autor e
artista plástico Nelson Baskerville, traz para cena seis
atores e seu diretor propondo investigar suas tragédias pessoais e cotidianas, num
espetáculo caótico e imponderável como a vida, como se fosse um mergulho em questões
viscerais que resistiram à passagem do tempo e são mostradas num caleidoscópio
que expressa uma rede de encontros preciosos que emergem por uma relação mútua
existente em cada cena. O espetáculo foi encenado pela AntiKatártiKa Teatral
(AKK).
RÁDIO
TATARITARITATÁ: FLORA PURIM
Hoje é dia do especial da cantora Flora Purim, com músicas dos seus
principais álbuns como Stories to Tell (1974), Butterfly Dreams (1973), MPM
(1964), Encounter (1976), Open your eyes can fly (1976), & show ao vivo com
Airto Moreira no Ohne Filter, entre outros. Veja mais aqui e aqui.
A ARTE DE TCHELLO D’BARROS
& ENTREVISTA
Tchello d'Barros é escritor e artista visual que tem desenvolvido sua
criação em desenho, gravura, pintura e arte digital. Ele tem participado de exposições,
individuais e coletivas, afora ter 6 livros de literatura publicados e uma
série de contos, crônicas, ensaios e poemas publicados em mais de 50
coletâneas, antologias e livros didáticos. Agora ele concedeu uma entrevista
exclusiva pro Tataritaritatá, com a jornalista e editora Lucília Dowslley. Confira
a entrevista aqui & outra que ele
concedeu ao Guia de Poesia aqui e mais dele aqui.