Ao som do show Ao Vivo (Instrumental Sesc Brasil, 2023), da baixista e backing vocal Ana Karina Sebastião,
que é graduada com Licenciatura Musical e estudou na antiga Universidade Livre
de Música (ULM), atual EMESP Tom Jobim, integrou os grupos Banda D’Brothers, Claras
e Crocodilos e O Neurótico e As Histéricas de Arrigo Barnabé, entre outros.
CONVERSA DE
RODAPÉ - A vida ensolarada & a Lua premia o
caminho: entre as estrelas a minha morada. À primeira esquina semblantes
estranhos, nem me reconhecem: todos me olham como se prosopagnóstico no meio da
eterna corrida da frioleira meritocracia dos ratos. A sensação que tenho é de que estou vivendo na
Próxima Centauri B, com meus limeriques manuscritos na ponta da língua e para
ninguém ouvir ou ver. A bem da surpresa exulto com a
presença de Alice Ann Munro como se tivesse chegado visceralmente da
caverna de Movile e segurando um azevinho pernambucano: A gente pensa
umas coisas que preferia não pensar. Acontece na vida... Sim, acontece, contradições
na venta de parracho, vidraças estilhaçadas, feridas expostas, peito, faces,
pernas & braços. Em meu socorro desavisado Rita Rudner me chega do
asteroide Bennu com o gatilho da Tsar Bomb: Nunca entro em pânico quando me
perco. Eu apenas mudo para onde quero ir... Assim também o faço, não por fuga,
mas por precaução. Ela sorri aos salamaleques: Fala, solitário! E se aproxima
com jeito de coisa familiar, o que foi marcante e sempre o é pelo perfume
feminil. Tornou-se companhia de viagem, eu de carona, na vera pegando bigu e
apresendendo o que seria viajar-si, viajando-se, ela viajarte. Nem bem
entendia, muito menos dava pra pensar porque ouvi de Anna Deavere Smith: Então todo mundo vai embora, e você fica, todas as
noites, sozinho, com uma multidão de pessoas interessantes - a maioria das
quais você não conhece - sentadas no escuro... Cada pessoa tem uma literatura
dentro de si... Disso eu me esqueci entre nomes estranhos. Ela, então, olhou-me surpresa:
Ai de ti, errante! Eu sei, tudo acaba tão depressa. Seria mais fácil se saísse
tão furtiva quanto chegou, de fininho, até perder-se na noite. Sinto-me
deslocado, como quem entre o alto da montanha e o rés-do-chão, boiando por não
saber levitar. Os grilos nem cantam mais, afinal, não há mais ninguém, apenas
eu. Até mais ver.
DOIS POEMAS
Imagem: Acervo ArtLAM.
A ÚLTIMA CARTA: Você mal viu o pico do meu iceberg,
\ desculpe pelo lugar-comum, \ não consigo encontrar outro jeito de chamar
desse jeito \ que a vida teve de me obrigar a ter que te procurar novamente \
para nos encontrarmos cara a cara \ em um espaço infinito onde você foi e eu \
Eu ainda não sei. \ Ele secou ao sol a bandeira branca \ que pretendia mostrar
até a morte, três \ Parece que era um número suficiente, \ até que o espaço
voltasse a ser pequeno. \ momento e mais negro, todo negro o futuro. \ E quando o prego da
circunstância obriga você a se perguntar \ se existe aquele tempo pendente ou
se existe apenas um caminho \ uma linha que sempre quebra. \ Que futuro? Eu que nunca
neguei as cicatrizes, \ sinto-me cansado de ser um, \ cada pedaço de coração
que mal cicatriza, \ se abre novamente e o choro, que de tanto se mostrar para
poucos, \ não consegue mais sair, fica preso, \ fica no peito e vira bater. \
Esta carta não chegará mais até você, \ nem todas as coisas que íamos contar um
ao outro serão realidade. \ Somos uma história que nem descobriu
como começar e ficou vez, \ ele derrapou em alguma rua escura e molhada \ para
bater e me faça gritar que você nunca mais ouvirá. \ E ainda assim, escrevo a
carta para você, \ porque quero poder lê-la para você todas as vezes. \ Eu li
para o mundo e talvez isso chegue até você como um sussurro do outro lado da
dor.
BUKOWSKI PEDE MENINAS CALMAS E LIMPAS COM BELOS
VESTIDOS: De repente, um homem no fim de sua vida, \ depois de distribuir seus
bens e suas forças entre mulheres que reivindicaram seu amor, \ requer uma
mulher “boa”. \ Ele precisa tanto que pode imaginar tudo que eu faria por ela.
\ Sem nunca construir a calçada, pegue travesseiros para sua cabeça ou provocar
sua risada. \ Ele precisa disso, ele diz, A Ele pede a seus amigos que não lhe
tragam mais prostitutas. \ Você sabe que isso existe, mas ele não encontra. \
Eu nasci de novo, Hank, e deixar o álcool,\ o ciúme e os socos no papel, \ não
nas mulheres que você transformou em prostitutas.
Poemas da escritora costariquenha Rebeca Bolaños
Cubillo. (1973), que é graduada en RRPP y
Comunicación y en Bellas Artes, estudiante de Antropología.
AMMONITE - [...] Eu não pertenço a ninguém! Não sou uma coisa que
possa ser mantida, ordenada ou levada a tal desespero que abra minhas próprias
veias. Olhe para mim, Aoife. Olhe para mim! Eu sou uma mulher [...] Eles estavam
conectados: o mundo, o corpo dela, o rosto dela. Talvez ela não devesse
perguntar quem ela era, mas sim, do que ela fazia parte. [...] Ela observou
seu amante em silêncio; as palavras teriam sido grandes
demais, sólidas demais para o que haviam feito juntos. [...] Somos mais da
metade da humanidade. Não somos imitações, nem camaleões
assumindo uma coloração masculina protetora, ansiando pelo dia em que os homens
irão embora e poderemos voltar a ser quem somos, como os verdadeiros insetos. Estamos aqui, agora. Nós somos como você. [...]. Trechos
extraidos da obra Ammonite (Del Rey Books, 2002), da escritora, ensaísta e
professora inglesa, Nicola Griffith. Veja mais aqui.
AS TECNOLOGIAS & OS CÉREBROS – [...] Quanto mais conexões você puder fazer em uma gama cada
vez mais ampla e díspar de conhecimento, mais profundamente você compreenderá
algo. Os motores de busca e os videojogos
não oferecem essa facilidade; nada faz, além do seu próprio cérebro [...] que a leitura eletrônica resultou em pior compreensão, em decorrência das
limitações físicas do texto que obrigavam os leitores a rolar para cima e para
baixo, atrapalhando a leitura com instabilidade espacial [...] Os nativos digitais nascidos naquela época sabiam ler e
escrever, o e-mail (que começou por volta de 1993) teria se tornado uma parte
inevitável da vida. A
distinção importante é que os Nativos Digitais não conhecem outro modo de vida
além da cultura da Internet, do laptop e do celular. Podem libertar-se das restrições dos
costumes locais e da autoridade hierárquica e, como cidadãos autónomos do
mundo, personalizarão actividades e serviços baseados em ecrãs, ao mesmo tempo
que colaboram e contribuem para redes sociais e fontes de informação globais. [...] Como espécie, parecemos ter um desejo tão grande de auto-revelação que isso
poderia ser considerado uma parte muito básica da psique humana. Cientistas de Harvard demonstraram
que a partilha de informações pessoais sobre si mesmo, como acontece em sites
de redes sociais, ativa os sistemas de recompensa no cérebro da mesma forma que
a comida e o sexo. [...] redução do risco de constrangimento e sentimentos de
desconforto na interação social. Ninguém pode ver você corar, ouvir sua voz
estridente ou sentir as palmas das mãos úmidas. Mas, novamente, você também não
consegue captar essas dicas tão importantes para descobrir como a outra pessoa
pode estar reagindo. Em 2012, o órgão fiscalizador das comunicações britânico,
Ofcom, produziu o seu nono Relatório Anual do Mercado de Comunicações. O
diretor de pesquisa da Ofcom, James Thickett, estava perfeitamente consciente
da importância do declínio que o relatório daquele ano encontrou no número de chamadas
móveis, que caiu 1 por cento, e no número de chamadas fixas, que diminuiu 10
por cento. Ele concluiu: Em apenas alguns anos, as novas tecnologias mudaram
fundamentalmente a forma como nos comunicamos. Falar cara a cara ou ao telefone
não é mais a forma mais comum de interagirmos uns com os outros. Em seu lugar,
estão a surgir novas formas de comunicação que não exigem que falemos uns com
os outros, especialmente entre os grupos etários mais jovens. Esta tendência
deverá continuar à medida que a tecnologia avança e avançamos na era digital. [...] Uma consideração adicional na leitura em uma tela é o
maior potencial de fadiga ocular. As diferenças entre a página impressa e a tela têm consequências
significativas para a ergonomia visual. [...] Aprender uma segunda língua aumenta a densidade da massa cinzenta, sendo as
alterações observadas correlacionadas com o nível de habilidade. [...] Cerca de quatrocentos anos antes do nascimento de Cristo, Sócrates estava
preocupado com a possibilidade de a escrita destruir a capacidade mental, com
argumentos assustadoramente semelhantes aos que exploramos aqui em relação à
Internet. [...].
Trechos extraídos da obra Mind
Change: How Digital Technologies Are Leaving Their Mark on Our Brains (Random, 2015), da
neurocientista britânica Susan Adele Greenfield.
VIOLA DO NORDESTE
Sobre a criação
do método é como se eu há cerca de trinta anos atrás tivesse engravidado, e
tive que lutar durante dezenas de anos para ter a alegria de parir esta criança.
Viva a viola do Nordeste!...
Trecho extraído
da obra Viola do Nordeste: da cantoria à viola progressiva (Nova
Presença, 2022), do compositor, instrumentista, arranjador e violeiro Adelmo
Arcoverde, autor dos álbuns musicais solo O convertido (2013) e Mensageiro
(2014), integrante da Orquestra de Cordas e Dedilhas de Pernambuco. Veja mais
aqui, aqui e aqui.