quinta-feira, setembro 28, 2023

REBECA BOLAÑOS, NICOLA GRIFFITH, SUSAN GREENFIELD & VIOLA DO NORDESTE

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som do show Ao Vivo (Instrumental Sesc Brasil, 2023), da baixista e backing vocal Ana Karina Sebastião, que é graduada com Licenciatura Musical e estudou na antiga Universidade Livre de Música (ULM), atual EMESP Tom Jobim, integrou os grupos Banda D’Brothers, Claras e Crocodilos e O Neurótico e As Histéricas de Arrigo Barnabé, entre outros.

 

CONVERSA DE RODAPÉ - A vida ensolarada & a Lua premia o caminho: entre as estrelas a minha morada. À primeira esquina semblantes estranhos, nem me reconhecem: todos me olham como se prosopagnóstico no meio da eterna corrida da frioleira meritocracia dos ratos. A sensação que tenho é de que estou vivendo na Próxima Centauri B, com meus limeriques manuscritos na ponta da língua e para ninguém ouvir ou ver. A bem da surpresa exulto com a presença de Alice Ann Munro como se tivesse chegado visceralmente da caverna de Movile e segurando um azevinho pernambucano: A gente pensa umas coisas que preferia não pensar. Acontece na vida... Sim, acontece, contradições na venta de parracho, vidraças estilhaçadas, feridas expostas, peito, faces, pernas & braços. Em meu socorro desavisado Rita Rudner me chega do asteroide Bennu com o gatilho da Tsar Bomb: Nunca entro em pânico quando me perco. Eu apenas mudo para onde quero ir... Assim também o faço, não por fuga, mas por precaução. Ela sorri aos salamaleques: Fala, solitário! E se aproxima com jeito de coisa familiar, o que foi marcante e sempre o é pelo perfume feminil. Tornou-se companhia de viagem, eu de carona, na vera pegando bigu e apresendendo o que seria viajar-si, viajando-se, ela viajarte. Nem bem entendia, muito menos dava pra pensar porque ouvi de Anna Deavere Smith: Então todo mundo vai embora, e você fica, todas as noites, sozinho, com uma multidão de pessoas interessantes - a maioria das quais você não conhece - sentadas no escuro... Cada pessoa tem uma literatura dentro de si... Disso eu me esqueci entre nomes estranhos. Ela, então, olhou-me surpresa: Ai de ti, errante! Eu sei, tudo acaba tão depressa. Seria mais fácil se saísse tão furtiva quanto chegou, de fininho, até perder-se na noite. Sinto-me deslocado, como quem entre o alto da montanha e o rés-do-chão, boiando por não saber levitar. Os grilos nem cantam mais, afinal, não há mais ninguém, apenas eu. Até mais ver.

 

DOIS POEMAS

Imagem: Acervo ArtLAM.

A ÚLTIMA CARTA: Você mal viu o pico do meu iceberg, \ desculpe pelo lugar-comum, \ não consigo encontrar outro jeito de chamar desse jeito \ que a vida teve de me obrigar a ter que te procurar novamente \ para nos encontrarmos cara a cara \ em um espaço infinito onde você foi e eu \ Eu ainda não sei. \ Ele secou ao sol a bandeira branca \ que pretendia mostrar até a morte, três \ Parece que era um número suficiente, \ até que o espaço voltasse a ser pequeno. \ momento e mais negro, todo negro o futuro. \ E quando o prego da circunstância obriga você a se perguntar \ se existe aquele tempo pendente ou se existe apenas um caminho \ uma linha que sempre quebra. \ Que futuro? Eu que nunca neguei as cicatrizes, \ sinto-me cansado de ser um, \ cada pedaço de coração que mal cicatriza, \ se abre novamente e o choro, que de tanto se mostrar para poucos, \ não consegue mais sair, fica preso, \ fica no peito e vira bater. \ Esta carta não chegará mais até você, \ nem todas as coisas que íamos contar um ao outro serão realidade. \ Somos uma história que nem descobriu como começar e ficou vez, \ ele derrapou em alguma rua escura e molhada \ para bater e me faça gritar que você nunca mais ouvirá. \ E ainda assim, escrevo a carta para você, \ porque quero poder lê-la para você todas as vezes. \ Eu li para o mundo e talvez isso chegue até você como um sussurro do outro lado da dor.

BUKOWSKI PEDE MENINAS CALMAS E LIMPAS COM BELOS VESTIDOS: De repente, um homem no fim de sua vida, \ depois de distribuir seus bens e suas forças entre mulheres que reivindicaram seu amor, \ requer uma mulher “boa”. \ Ele precisa tanto que pode imaginar tudo que eu faria por ela. \ Sem nunca construir a calçada, pegue travesseiros para sua cabeça ou provocar sua risada. \ Ele precisa disso, ele diz, A Ele pede a seus amigos que não lhe tragam mais prostitutas. \ Você sabe que isso existe, mas ele não encontra. \ Eu nasci de novo, Hank, e deixar o álcool,\ o ciúme e os socos no papel, \ não nas mulheres que você transformou em prostitutas.

Poemas da escritora costariquenha Rebeca Bolaños Cubillo. (1973), que é graduada en RRPP y Comunicación y en Bellas Artes, estudiante de Antropología.

 

AMMONITE - [...] Eu não pertenço a ninguém! Não sou uma coisa que possa ser mantida, ordenada ou levada a tal desespero que abra minhas próprias veias. Olhe para mim, Aoife. Olhe para mim! Eu sou uma mulher [...] Eles estavam conectados: o mundo, o corpo dela, o rosto dela. Talvez ela não devesse perguntar quem ela era, mas sim, do que ela fazia parte. [...] Ela observou seu amante em silêncio; as palavras teriam sido grandes demais, sólidas demais para o que haviam feito juntos. [...] Somos mais da metade da humanidade. Não somos imitações, nem camaleões assumindo uma coloração masculina protetora, ansiando pelo dia em que os homens irão embora e poderemos voltar a ser quem somos, como os verdadeiros insetos. Estamos aqui, agora. Nós somos como você. [...]. Trechos extraidos da obra Ammonite (Del Rey Books, 2002), da escritora, ensaísta e professora inglesa, Nicola Griffith. Veja mais aqui.

 

AS TECNOLOGIAS & OS CÉREBROS – [...] Quanto mais conexões você puder fazer em uma gama cada vez mais ampla e díspar de conhecimento, mais profundamente você compreenderá algo. Os motores de busca e os videojogos não oferecem essa facilidade; nada faz, além do seu próprio cérebro [...] que a leitura eletrônica resultou em pior compreensão, em decorrência das limitações físicas do texto que obrigavam os leitores a rolar para cima e para baixo, atrapalhando a leitura com instabilidade espacial [...] Os nativos digitais nascidos naquela época sabiam ler e escrever, o e-mail (que começou por volta de 1993) teria se tornado uma parte inevitável da vida. A distinção importante é que os Nativos Digitais não conhecem outro modo de vida além da cultura da Internet, do laptop e do celular. Podem libertar-se das restrições dos costumes locais e da autoridade hierárquica e, como cidadãos autónomos do mundo, personalizarão actividades e serviços baseados em ecrãs, ao mesmo tempo que colaboram e contribuem para redes sociais e fontes de informação globais. [...] Como espécie, parecemos ter um desejo tão grande de auto-revelação que isso poderia ser considerado uma parte muito básica da psique humana. Cientistas de Harvard demonstraram que a partilha de informações pessoais sobre si mesmo, como acontece em sites de redes sociais, ativa os sistemas de recompensa no cérebro da mesma forma que a comida e o sexo. [...] redução do risco de constrangimento e sentimentos de desconforto na interação social. Ninguém pode ver você corar, ouvir sua voz estridente ou sentir as palmas das mãos úmidas. Mas, novamente, você também não consegue captar essas dicas tão importantes para descobrir como a outra pessoa pode estar reagindo. Em 2012, o órgão fiscalizador das comunicações britânico, Ofcom, produziu o seu nono Relatório Anual do Mercado de Comunicações. O diretor de pesquisa da Ofcom, James Thickett, estava perfeitamente consciente da importância do declínio que o relatório daquele ano encontrou no número de chamadas móveis, que caiu 1 por cento, e no número de chamadas fixas, que diminuiu 10 por cento. Ele concluiu: Em apenas alguns anos, as novas tecnologias mudaram fundamentalmente a forma como nos comunicamos. Falar cara a cara ou ao telefone não é mais a forma mais comum de interagirmos uns com os outros. Em seu lugar, estão a surgir novas formas de comunicação que não exigem que falemos uns com os outros, especialmente entre os grupos etários mais jovens. Esta tendência deverá continuar à medida que a tecnologia avança e avançamos na era digital. [...] Uma consideração adicional na leitura em uma tela é o maior potencial de fadiga ocular. As diferenças entre a página impressa e a tela têm consequências significativas para a ergonomia visual. [...] Aprender uma segunda língua aumenta a densidade da massa cinzenta, sendo as alterações observadas correlacionadas com o nível de habilidade. [...] Cerca de quatrocentos anos antes do nascimento de Cristo, Sócrates estava preocupado com a possibilidade de a escrita destruir a capacidade mental, com argumentos assustadoramente semelhantes aos que exploramos aqui em relação à Internet. [...]. Trechos extraídos da obra Mind Change: How Digital Technologies Are Leaving Their Mark on Our Brains (Random, 2015), da neurocientista britânica Susan Adele Greenfield.

 

VIOLA DO NORDESTE

Sobre a criação do método é como se eu há cerca de trinta anos atrás tivesse engravidado, e tive que lutar durante dezenas de anos para ter a alegria de parir esta criança. Viva a viola do Nordeste!...

Trecho extraído da obra Viola do Nordeste: da cantoria à viola progressiva (Nova Presença, 2022), do compositor, instrumentista, arranjador e violeiro Adelmo Arcoverde, autor dos álbuns musicais solo O convertido (2013) e Mensageiro (2014), integrante da Orquestra de Cordas e Dedilhas de Pernambuco. Veja mais aqui, aqui e aqui.