Ao som dos álbuns Echolocation (ZED, CS 1987), A Delay is Better (CD ST, 2004), A Secret
Code (Neuma Records, 2021), a Suite from Carbon Song Cycle com
orquestra de cordas (Roulette Intermedium, 2022) e Attention
(with Del Sol String Quartet), no teatro Kanbar Forum do Museu
Exploratorium, em San Francisco, CA (2016), da compositora, performer e artista
de mídia estadunidense Pamela Z.
REVERBERAÇÃO
ONÍRICA (Ou o outro lado do espelho, molduras
dissolvidas - poemeto prosado) - Na primeira carta de agosto eu
lavava a alma na chuva sem ter onde cair morto, quase me arrependia por não
abrir mão da minha teimosia inglória: desistiram de mim muito antes e nem dava
conta. Salvava-me Miriam Leiva Garrido: Escrever é um processo de exorcizar,
manifestar, chorar e somarmos. A palavra está em
tudo... com tanta escuridão a palavra é a luz... E me danava no ritual da dor madrugada adentro: o ladrar dos cães, a promessa de tudo
um dia daria certo, a carência e nada, o de antes quase sempre no depois, perverso
sisifismo. Talvez exercício preparativos para a morte: os segredos que esqueci
entre túmulos, quando a lâmina aguda do tempo era a fuligem talhando o crepúsculo
para noite assombrosa. Ouvia Paulo Mendes Campos: Os mortos que fui
governam o homem que sou. Sim e na segunda carta de agosto já seguia
a paz do Sol vivo. E se eu tivesse de contar o que vi, muita hestória sem
graça, quando não equivocada por dissimulações e espalhafatos, ridículos marmorizados
na monotonia, pelo menos a salvo das arengas por cacarecos, quantas polegadas
de ódio e cinismo. O melhor surgia com Cecilia Vicuña: A vida é divina porque se divide e se
multiplica a si mesma... Ser vivo é ser parte da divindade... Bastava
um sorriso, tudo reflorava: não mais que isto desde longe e a vida podia ser
leve. Para quem não tivera tréguas quisera sair com meu coração patético pela
trepidação das horas, porque me dizia o ecopoeta chileno Andrés Espinosa
Zuckel: Mira a tu alrededor... Olhava em volta e um gesto caía
trazendo mãos distantes para que o coração inventasse descobertas a navegar à
deriva inesperada. Simplesmente acontecia. E uma bela mulher voava nua sobre a
praça dos meus sonhos. Não era tudo e nem ousava dizer o seu nome entreouvido sob
afetos e suspeições. E lá vinha ela entre as perseidas, um meteoroide e Ouadan
- o Olho do Saara. Trazia uma chuva de estrelas cadentes feito mulheres
interplanetárias seminuas com suas coxas convidativas de pernas sinuosas
entreabertas. Neste exato momento uma saudade não sei do que bulia no peito e o
contágio denunciava minha vulnerabilidade. Chegou-me como um verso de Ernesto Cardenal: Voltarei com um pouco de lama no sapato e uma palavra de alegria para te
dizer... E não era o Ano Novo, apenas os últimos dias
da primeira quinzena de agosto, quando arrancava o meu sonho emparedado no
amanhecer. Até mais ver.
COMO UM PÁSSARO
Imagem: Acervo ArtLAM.
Como um pássaro, conhecido apenas por mim
intrincada,
pequena ossatura conteúdo a ser levado pelo vento
e escrever
através do céu uma narrativa ininterrupta
de aqui para
lá e nada mais complicado
do que um arrepio de água sob uma asa
e nada que eu não possa deixar abaixo.
Poema da poeta
canadense Louise Warren.
MINHA IRMÃ, A
SERIAL KILLER - [...] Os pais e parentes mais amorosos
cometem assassinatos com sorrisos no rosto. Eles nos forçam a
destruir a pessoa que realmente somos: um tipo sutil de assassinato. [...] É porque ela
é bonita, sabe. Isso é tudo. Eles realmente não se
importam com o resto. Ela recebe um passe na vida. [...] Eu sei que
não devo seguir orientações de vida de alguém sem uma bússola moral [...] Leva
muito mais tempo para se livrar de um corpo do que de uma alma, especialmente
se você não quiser deixar nenhuma evidência de crime. [...] Existe algo mais bonito do que um
homem com a voz de um oceano? [...] “Ela não chora por mim,”
ele diz, sua voz endurecendo. “Ela chora por sua
juventude perdida, suas oportunidades perdidas e suas opções limitadas. Ela não chora por mim,
ela chora por si mesma. [...] O amor não é uma erva daninha, não pode
crescer onde quer... [...]. Trechos extraídos da obra My Sister, the Serial Killer (Doubleday, 2018), da escritora nigeriana Oyinkan Braithwaite.
VIDA HUMANA: FÉ
EM TERREIRO DURO - [...] Aqueles que tentam abrir espaço para
o sexo como mero prazer casual pagam o preço: tornam-se superficiais. De qualquer forma, a conversa
que reflete e elogia essa atitude é sempre superficial. Eles desonram seus
próprios corpos; segurando barato o que está
naturalmente conectado com a origem da vida humana. [...]. Trecho extraído da obra Faith in a
Hard Ground: Essays on Religion, Philosophy and Ethics (Imprint Academic, 2008), da filósofa inglesa Elizabeth Anscombe (1919-2001), influente na
filosofia da mente e pioneira na teoria da ação contemporânea, além de autora de obras como Human Life, Action and Ethics:
Essays (Imprint Academic, 2005).
RÁFAGAS ET
ESCÂNCARAS: DIATRIBE
Minha poesia é
qualquer coisa, menos edificante...
Trecho extraído
da obra Ráfagas et escâncaras: diatribe - poesia desconfigurativa (CriaArte,
2023), do poeta e crítico literário Vital Corrêa de Araújo. Veja mais
aqui, aqui e aqui.