AS ANJAS DA MORTE - Arte da artista
visual Lenir de Miranda. - Teté e
Loló, ou melhor Terezilda e Bromelinda no registro civil e batismo, nem são
parentes, dão-se por irmãs, carne e unha. Para ter uma leve ideia, Teté é até
hoje amansadora profissional, fera das mais brabas findam mansinha na mão dela.
Pega cobra pelo gogó dela ficar molinha e virar bisquí. Ah, desata qualquer
bronca, nó que se apresente, desmancha na hora com tudo preto no branco. Espevitada,
bote brabeza pra ver e depois só o estrupício na parada. Já Loló é um pouco
mais presepeira: campeã alagoiandubense de tiro ao alvo e de muitos Álvaros de
Adoniran, coleciona apaixonados: uma ruma de ex-maridos e quase outros
enrolamentos de se perder a conta. Afora isso e muito mais no rol do
inenarrável, luta karatê e outras tantas artes marciais de deixar qualquer
macobeba estirado no chão. É perita em quebra-de-braço, parrudo que apareça,
ela só tiro e queda. As duas juntas, por mais simpáticas que se pareçam, já
botaram muito macho para correr, avalie. Por aí, pronto, dá pra se ter um
resumo dessas beldades. Compararam juntas um DKW – Wemag Belcar 67, Rabo de
peixe, só pra desolarem os corações enamorados, arre égua! E até agora só
engordam os boatos. Das muitas que contam, a pior é que são chamadas de Anjas
da Morte. Por que? Bem, dizem que visitaram seu Joãozito de Trapiche, visita
assim de cortesia. Três dias depois, o homem estava sepultado no cemitério da
cidade. Tá, morreu de quê? De tanto rir. Como? O mesmo se deu com Joaquinildo
Pezão que, talqualmente o anterior, gozava de suas plenas saúdes físicas e
mentais. Três dias depois, foi pro saco. Seu Arquimenildo de Piruela, nunca se
soube de homem mais sadio; tiro e queda: findou de pés juntos com dizeres numa
lápide linda de morrer. Ah, Dona Carmelindonha fez até uma festa quando elas
chegaram, de juntar gente no fuzuê da risadagem. Não deu outra, morreram todos
os comparecentes, um atrás do outro, encarreados. Daí, não demorou muito, as
duas passarem por famigeradas Anjas da Morte. Quem era doido de querer visita
das duas? Pois bem, de tanto pintarem e bordarem de tudo juntos só no amiudado:
Desaperrei, véio! Morriam de rir. Tem mais: depois de trocentos contatos de
quinto grau com uma tuia de alienígenas doutras tantas galáxias, casarem e
descasarem com seus respectivos maridos em divórcios ruidosos e cheios de
perdas e danos, se apaixonarem por Josés e Manoéis que vieram e passaram
batidos, tudo no descanso do além. E elas soltando as maiores pinoias da
paróquia. Daí de anjas pras viúvas, elas se viram mortas passeando na cidade. Como
é que pode? Não havia ninguém por onde passassem. Inicialmente achavam-se invisíveis,
ninguém mais as viam. Será mesmo, mulher? Vamos ver. Encontraram um sujeito
estranho e perguntaram se ele estava vivo: Eu? Já fui. Num disse, mulher, a
gente está mortinha da silva, tais vendo? Zanzaram que só, não havia um pé de
gente na rua. E, quem encontrassem, passava de nem vê-las. Deram, enfim, num
bar que abria e encostaram à garçonete: Minha filha, traga logo uma cerveja que
quero ver se é igualzinha a da gente. Era. Dali mais um pouco, encostaram à
garçonete aos cochichos: Você está viva? A garçonete encarou e disse pra si:
Duas bêbadas uma hora dessa da manhã, não pode. Entrou na jogada, sacou. Não,
morri no ano passado. Teté e Loló entreolharam-se e caíram na gaitada. Beberam tanto
e só acordaram dias depois num velório. Eita! De quem? Da garçonete. Morreu de
quê? Ah, ela teve uma crise de riso e babau. Valha-me! Até ela. Vôte. Elas
querem falar comigo, uma visitinha de nada. Eu, hem? © Luiz Alberto Machado.
Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música da cantora, compositora, instrumentista
e produtora musical Marisa Monte: Memórias, crônicas e declarações de amor, Inteira,
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500 mil acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja
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PENSAMENTO DO DIA – [...] Quando
observamos a quantidade e a variedade de estabelecimentos de ensino e de
aprendizado, assim como o grande número de alunos e professores, é possível acreditar
que a espécie humana dá muita importância à instrução e à verdade. Entretanto,
nesse caso, as aparências também enganam. Os professores ensinam para ganhar dinheiro
e não se esforçam pela sabedoria, mas pelo crédito que ganham dando a impressão
de possuí-la. E os alunos não aprendem para ganhar conhecimento e se instruir,
mas para poder tagarelar e para ganhar ares de importantes. A cada trinta anos,
desponta no mundo uma nova geração, pessoa que não sabem nada e agora devoram
os resultados do saber humano acumulado durante milênios, de modo sumário e
apressado, depois querem ser mais espertas do que todo o passado. É com esse objetivo
que tal geração frequenta a universidade e se aferra aos livros, sempre aos
mais recentes, os de sua época e próprios da sua idade. Só o que é breve e
novo! Assim como é nova a geração, que logo passa a emitir seus juízos – Quantos
aos estudos feitos simplesmente para ganhar o pão de cada dia, nem os levei em
conta. Em geral, estudantes e estudiosos de todos os tipos e de qualquer idade
têm em mira apenas a informação, não a instrução. Sua honra é baseada no fato
de terem informações sobre tudo, sobre todas as pedras, ou plantas, ou
batalhas, ou experiências, sobre o resumo e o conjunto de todos os livros. Não ocorre
a eles que a informação é um mero meio para a instrução, tendo pouco ou nenhum
valor por si mesma, no entanto, essa é a maneira de pensar que caracteriza uma
cabeça filosófica. [...]. Trecho de Sobre
a erudição e os eruditos, extraídos da obra A arte de escrever (L&PM, 2017), do filósofo alemão Arthur
Schopenhauer (1788-1860). Veja mais aqui e aqui.
DO SENTIMENTO DE NÃO ESTAR DE TODO – [...] Sempre serei como um menino para muitas
coisas, mas um desses meninos que, desde o começo, carregam consigo o adulto,
de maneira que, quando o monstrinho chega verdadeiramente a adulto ocorre que,
por sua vez, carrega consigo o menino, e nel mezzo del cammin dá-se uma coexistência
poucas vezes pacífica de pelo menos duas aberturas para o mundo. Pode-se
entender isso metaforicamente porém indica, em todo caso, um temperamento que
não renunciou à visão pueril como preço da visão adulta. E essa justaposição,
que faz o poeta e talvez o criminoso, e também o cronópio e o humorista
(questão de doses diferentes, de acentuação aguda ou esdrúxula, de escolhas:
agora jogo, agora mato) manifesta-se no sentido de não estar de todo em
qualquer das estruturas, das teias que a vida arma e em que somos
simultaneamente aranha e mosca. [...]. Trecho extraído da obra Histórias
de cronópios e de famas (Civilização Brasileira, 1972), do escritor
argentino de origem belga Julio Cortázar (1914-1984). Veja mais aqui e
aqui.
CONHECER A CIDADE - [...] Essa
cidade que não se elimina da cabeça é como uma armadura ou um retículo em cujos
espaços cada um pode colocar as coisas que deseja recordar: nomes de homens
ilustres, virtudes, números, classificações vegetais e minerais, datas de
batalhas, constelações, partes do discurso. Entre cada noção e cada ponto de
itinerário pode-se estabelecer uma relação de afinidades ou de contrastes que sirva
de evocação à memoria. De modo que os homens mais sábios do mundo são os que
conhecem. [...]. Trecho extraído da obra As cidades invisíveis (Folha,
2003), do escritor italiano Ítalo Calvino (1923-1985). Veja mais aqui.
O TRABALHO SEM A ESPERANÇA - Inteira movimenta-se a Natureza. As lesmas suas tocas deixam. / Movimentam-se
as abelhas – os pássaro voos alçam – / E o Inverno, dormitando ao ar livre, /Exibe,
no sorriso do rosto, de Primavera um sonho! / Enquanto isso, eu apenas algo
inútil represento. / Mel não faço, nem caso, nem crio, nem canto. / Sei,
contudo, que as margens, nas quais amarantos desabrocham, / A fonte
encontraram, da qual fluem os arroios. / Desabrochai vós, ó amarantos!
Desabrochai pra quem puderdes. / Pra mim, não desabrochais! Ricos arroios, pelo
vosso curso deslizai! / Com lábios ofuscados, caminho com desgrinaldada fronte./
Entenderíeis os encantos que minha alma entorpecem? / O trabalho sem a
Esperança néctar extrai numa peneira. / Sem um objetivo a Esperança morre. Poema
do poeta, crítico e ensaísta inglês Samuel
Taylor Coleridge (1772-1834).
SINHÁ TERTA
Desde pequenos meus três filhos
ouviram minhas “histórias de Trancoso”. Usava das mesmas artimanhas de Sinhá
Terta. Sentados à minha volta, eu dramatizava as falas, os gestos e saía
contando fábulas, histórias de reis, rainhas, fadas boas e más, palácios encantados
e lindas princesas. Era uma tranquilidade: de olhos esbugalhados, concentrados,
acompanhavam todo o desenrolar das narrativas. Perguntavam e riam muito. Já existia
a televisão mas era importante para mim, como mãe, repassar para eles as
fantasias, sonhos e aventuras por mim vivenciados na infância. agora, a mesma
dedicação tenho com Fausto, meu querido netinho, que ouve atentamente historias
criadas ao saber da minha imaginação com os personagens que ele mais gosta:
Lulu, Lele e Lili. E Sinhá Terta, para você que não tiveram o privilégio de conhecê-la,
foi a fada boa que me viu nascer e aos meus irmãos [...] e com bondade
e meiguice, nos fez viver uma infância feliz, plena e cheia de amor. [...].
Trecho de Uma forte
presença na minha vida: Sinhá Terta, extraído da obra O príncipe do reino das sete luas e outras histórias (CEPE, s/d),
da jornalista, advogada, escritora e jardinista Tereza Figueiredo.
&
A redenção do amor, o pensamento de Etienne Souriau, a arte de Leila
Diniz & Luciah Lopez, a música de Edu Lobo, Chiquinha
Gonzaga, Renato Borghetti & Zélia
Duncan aqui.
&
Você tem medo de quê?, O medo
líquido de Zygmunt Bauman, O santuário
do eu de Ralph M. Lewis, A arte de Sophia Narrett,
a música de Quinteto Violado, Rachel .Podger, Duofel & Meredith Monk aqui.
APOIO CULTURAL: SEMAFIL
Semafil Livros nas faculdades Estácio de Carapicuíba e Anhanguera de São
Paulo. Organização do Silvinha Historiador, em São Paulo. Fone: 11 98499-2985.