A ZOADA DO PADROEIRO – Imagem: arte
da artista visual Lourdes Sanchez - Quando Zé-Corninho resolveu contrair núpcias pela
primeira vez na vida, a escolhida foi Maria Fulustreca. Depois de muito
escolher, tirar no ímpar ou par, jogar nas cartas, atirar na sorte, decidiu-se
pela contemplada: uma reboculosa barraqueira de marca maior. Ele nem aí. Foi
providenciar o casório, porém, a cidade estava sem pároco. Teve que esperar. O
padre Quiba deu então as caras e assumiu a paróquia com um grande problemão:
não tinha padroeiro. Um escândalo. Como é que pode? A chegada do eclesiástico causou
uma revolução, convocando todos os fieis depois de duzentas baladas nos sinos
da matriz, para eleger aquele que representaria a cidade dentro da hagiologia, tudo
como manda o figurino. Todas as outras atividades estavam suspensas, não
haveria missa nem batizado, muito menos casamento. Virou uma celeuma. É que o
anterior vigário, adepto das ideias do papa João XXIII, preferiu manter a
cidade em paz com pastores, espíritas, catimbozeiros e afins. Tanto que ele ia
pros cultos todas terças e quintas, botava mesa branca na quarta, batia bombo todas
as sextas, afora ser maçom de toda segunda ir pra loja e ligado às escolas de
mistério e ocultismo nos finais de semana, realizando, ao mesmo tempo, as
missas que contavam com a presença de todos os representantes das outras
religiões locais e da região. A cidade de Alagoinhanduba, até então, um exemplo
de concórdia, tanto que tinha o menor índice de violência do país, nem morria
gente, não havia doente, nem ninguém se queixava disso ou daquilo, todos
participavam tanto dos clubes de serviço, como de todas as entidades
religiosas. Com a morte do clérigo quando ele estava de férias na Itália, o
padre Quiba viera substituí-lo e embroncou com essa promiscuidade, exigindo não
só a adoção de um padroeiro, como acabar de vez com esse conluio religioso. Virou
um escarcéu. Fiéis convocados e, como não entravam em acordo por um ou outro
santo, decidiu-se na marra que seria São Benedito por ser dia 05 de outubro. O padre
Quiba recusou-se ser pároco de um representante preto e que já fora preso numa
cidade da vizinhança, pois, isso seria um vitupério. Logo Bidião que à época
era marido das freiras, ao ver o santo enjeitado, acoloiado com os da sua laia,
desenvolveu campanha ruidosa pró São Benedito, tendo o bode Frederiko como
cabo-eleitoral. A coisa pegou fogo, até segurarem o sacerdote pela beca,
encostaram-no a um canto da parede com ameaças ao calão e ficou tudo dito pelo
não dito. Era hora de organizar a festa, a mundiça tomou conta, aos rojões e
outros pipocos mais exagerados, coroando tudo com o casamento do Zé-Corninho e
Maria Fulustreca. O religioso botou o pé atrás e, sob a mira das iras mais
cabeludas, fez discurso destemperado com os mais veementes protestos e, no
maior das risadagens e magações, consagrou furiosamente os nubentes a serem
infelizes para todo o sempre com um eu te benzo, eu te curo e sai pra lá
comboio de pecadores, cruz-credo. Pronto, Alagoinhanduba tinha pela primeira
vez um padroeiro e um casamento de verdade que não durou nem três meses, porque
a esponsal fugiu com o primeiro que lhe deu a mão numa boleia de caminhão. O padre
revoltado sumiu, só retornando cagando-raio e invocando a inquisição para
moralizar aquela perdição toda. Mas isso é outra história que passa de ganso
pra pato, daí pra marreco e cobra pra cachorro, de gato pra jumento e todos os
bichos, inté mais ver. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja
mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música da cantora e compositora Fátima Guedes: Muito intensa, Grande Tempo, Pra bom entendedor &
show ao vivo & muito mais nos mais de 2 milhões &
500 mil acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja
mais aqui & aqui.
PENSAMENTO DO DIA – [...] É
a ideologia que fornece as evidências pelas quais “todo mundo sabe” o que é um
soldado, um operário, um patrão, uma fábrica, uma greve, etc., evidências que
fazem com que uma palavra ou um enunciado “queira dizer o que realmente dizem”
e que mascaram, assim, sob a “transparência da linguagem”, aquilo que
chamaremos o caráter material do sentido das palavras e dos enunciados[...].
Trecho extraído da obra Semântica e
discurso: uma crítica à afirmação do óbvio (EdUnicamp, 1995), do filósofo
francês Michel Pêcheux (1938-1983).
A HOMOGENEIZAÇÃO DA ATUALIDADE - [...] a
homogeneização dos homens e dos objetos vai se tornar o grande objetivo da era
de Gutenberg, como fonte de uma riqueza e de um poder que não conheceram
nenhuma outra época e nenhuma outra tecnologia. [...]. Trecho extraído da
obra A galáxia de Gutenberg: a gênese do
homem tipográfico (Galimard, 1967), do educador, filósofo e teórico da
comunicação canadense Marshal McLuhan
(1911-1980), que em outra de suas obras, Laws
of media (The New Science, 1988), expressou que: [...] Não faz qualquer diferença se consideramos como artefatos ou como
objetos midiáticos coisas de natureza tangível “hardware” como tigelas e tacos
ou garfos e colheres, ou ferramentas e aparelhos e máquinas, ferrovias, naves
espaciais, rádios, computadores, e assim por diante; ou coisas de natureza
“software” como teorias ou leis da ciência, sistemas filosóficos, remédios ou
mesmo doenças na medicina, formas ou estilos na pintura, ou na poesia, ou na
dramaturgia, ou na música, e assim por diante. Todos são igualmente artefatos,
todos igualmente humanos, todos igualmente suscetíveis à análise, todos
igualmente verbais nas estruturas [...] Então,
as costumeiras distinções entre artes e ciências, coisas e idéias, entre físico
e metafísico são dissolvidas. [...]. Veja mais aqui.
O VINGADOR – Logo
depois de haver surpreendido sua mulher no lugar do delito, encontrava-se
Feodor Fedorovich Sgaev na loja de armas de Schmuks & Cia., a escolher o
revolver que melhor lhe pudesse servir. Seu rosto expressava ira, dor e decisão
irrevogável. [...] Não havia ainda
escolhido o revolver e nem sequer assassinara alguém, mas na imaginação já se
lhe apresentavam três cadáveres ensanguentados, de crânios triturados, os
miolos a flutuarem... [...]. Isto é o
que farei – pensou. – Matarei a ele e a mim em seguida, porém ela... deixarei
viver. Que morra de arrependimento e do desprezo dos que a cercam! [...] Devo imaginar algo mais prudente e
sentimental. Castigá-los-ei com meu desprezo e encetarei escandaloso processo
de divórcio. [...] uma vez tomada
aquela decisão, Sigaev não mais necessitava de revolver. Em compensação, o
empregado cada vez mais inspirado, não cessava de mostrar-lhe os artigos, que
tanto elogiava. O marido ofendido envergonhou-se de que, por sua causa, o
sujeito estivesse trabalhando em vão, a entusiasmar-se e a perder tempo. – Bem
– balbuciou. – Será melhor que eu volte mais tarde ou mande alguém... Conquanto
não visse a expressão do rosto do empregado, compreendeu que, para suavizar a
violência da situação, não havia outra saída que comprar algo. Porém, o quê?
Seus olhos percorreram as paredes da loja, em busca de uma coisa barata, e se
detiveram numa rede de cor verde, pendurada junto à porta. - É isso? Que é isso? – perguntou. – É uma rede
para caçar codornas. – Qual é o preço? – Oito rublos, “Monsieur”. Por pode
embrulhar. O marido ofendido pagou os oito rublos, passou a mão na rede, para
levá-la e cada vez mais ofendido, saiu da loja. Conto do dramaturgo e
escritor russo Anton Tchékov (1860-1904), extraído da coleção Maravilhas
do conto humorístico (Cultrix, 1969), organizada por Mariano Torres. Veja mais
aqui e aqui.
ROSA VÃ - Ontem nasceste,
e morres amanhã. / A teu ser tão fugaz quem lhe deu vida? / Para viver tão
pouco estás luzida, / e para não ser nada, tão louçã? / Se te enganou a
formosura vã, / bem depressa a verás desiludida, / porque em tua beleza está
escondida / a ocasião de morte temporã. / Quando te corte uma robusta mão, /
que é lei da agricultura permitida, / grosseiro alento acabará tua sorte. / Não
saias, rosa, aguarda-te um vilão. / Adia teu nascer para esta vida, / que teu
ser antecipas para a morte. Poema do poeta
e dramaturgo do Barroco espanhol, Luis
de Góngora y Argote (1561-1627). Veja mais aqui.
HISTÓRIA DA HUMANIDADE
Como
hoje é o Dia Mundial da População, lembrei-me dum filme que assisti trocentos
anos atrás: o drama fantasia A história
da humanidade (The Story of Mankind, 1957),
dirigido pelo produtor estadunidense de cinema e televisão, Irwin Allen
(1916-1991), contando a história de um conselho de anciões que estão
deliberando se a humanidade deverá sobreviver ou não, com enfrentamento entre
um anjo e um demônio debatem sobre a raça humana, com apresentação de uma série
de episódios da história da humanidade. No elenco constam os irmãos Marx,
Virginia Mayo, Marie Windsor, Hedy Lamarr, entre outros.
O Centro
Cultural Vital Corrêa de Araujo informa:
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A arte
da artista visual Lourdes Sanchez.
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O
rato, a cotia e o cachorro, Elogio ao
ócio de Bertrand Russel, a coreografia de Doris Uhlich, a arte
de Laura Knight, a música de Leila Pinheiro, Luiz Melodia, Marisa Monte & Jards Macalé
aqui.
APOIO CULTURAL: SEMAFIL
Semafil Livros nas faculdades Estácio de Carapicuíba e Anhanguera de São
Paulo. Organização do Silvinha Historiador, em São Paulo.