segunda-feira, julho 23, 2018

CORTÁZAR, SCHOPENHAUER, CALVINO, COLERIDGE, MARISA MONTE, LENIR DE MIRANDA, SINHÁ TERTA & VITAL CORRÊA


AS ANJAS DA MORTE - Arte da artista visual Lenir de Miranda. - Teté e Loló, ou melhor Terezilda e Bromelinda no registro civil e batismo, nem são parentes, dão-se por irmãs, carne e unha. Para ter uma leve ideia, Teté é até hoje amansadora profissional, fera das mais brabas findam mansinha na mão dela. Pega cobra pelo gogó dela ficar molinha e virar bisquí. Ah, desata qualquer bronca, nó que se apresente, desmancha na hora com tudo preto no branco. Espevitada, bote brabeza pra ver e depois só o estrupício na parada. Já Loló é um pouco mais presepeira: campeã alagoiandubense de tiro ao alvo e de muitos Álvaros de Adoniran, coleciona apaixonados: uma ruma de ex-maridos e quase outros enrolamentos de se perder a conta. Afora isso e muito mais no rol do inenarrável, luta karatê e outras tantas artes marciais de deixar qualquer macobeba estirado no chão. É perita em quebra-de-braço, parrudo que apareça, ela só tiro e queda. As duas juntas, por mais simpáticas que se pareçam, já botaram muito macho para correr, avalie. Por aí, pronto, dá pra se ter um resumo dessas beldades. Compararam juntas um DKW – Wemag Belcar 67, Rabo de peixe, só pra desolarem os corações enamorados, arre égua! E até agora só engordam os boatos. Das muitas que contam, a pior é que são chamadas de Anjas da Morte. Por que? Bem, dizem que visitaram seu Joãozito de Trapiche, visita assim de cortesia. Três dias depois, o homem estava sepultado no cemitério da cidade. Tá, morreu de quê? De tanto rir. Como? O mesmo se deu com Joaquinildo Pezão que, talqualmente o anterior, gozava de suas plenas saúdes físicas e mentais. Três dias depois, foi pro saco. Seu Arquimenildo de Piruela, nunca se soube de homem mais sadio; tiro e queda: findou de pés juntos com dizeres numa lápide linda de morrer. Ah, Dona Carmelindonha fez até uma festa quando elas chegaram, de juntar gente no fuzuê da risadagem. Não deu outra, morreram todos os comparecentes, um atrás do outro, encarreados. Daí, não demorou muito, as duas passarem por famigeradas Anjas da Morte. Quem era doido de querer visita das duas? Pois bem, de tanto pintarem e bordarem de tudo juntos só no amiudado: Desaperrei, véio! Morriam de rir. Tem mais: depois de trocentos contatos de quinto grau com uma tuia de alienígenas doutras tantas galáxias, casarem e descasarem com seus respectivos maridos em divórcios ruidosos e cheios de perdas e danos, se apaixonarem por Josés e Manoéis que vieram e passaram batidos, tudo no descanso do além. E elas soltando as maiores pinoias da paróquia. Daí de anjas pras viúvas, elas se viram mortas passeando na cidade. Como é que pode? Não havia ninguém por onde passassem. Inicialmente achavam-se invisíveis, ninguém mais as viam. Será mesmo, mulher? Vamos ver. Encontraram um sujeito estranho e perguntaram se ele estava vivo: Eu? Já fui. Num disse, mulher, a gente está mortinha da silva, tais vendo? Zanzaram que só, não havia um pé de gente na rua. E, quem encontrassem, passava de nem vê-las. Deram, enfim, num bar que abria e encostaram à garçonete: Minha filha, traga logo uma cerveja que quero ver se é igualzinha a da gente. Era. Dali mais um pouco, encostaram à garçonete aos cochichos: Você está viva? A garçonete encarou e disse pra si: Duas bêbadas uma hora dessa da manhã, não pode. Entrou na jogada, sacou. Não, morri no ano passado. Teté e Loló entreolharam-se e caíram na gaitada. Beberam tanto e só acordaram dias depois num velório. Eita! De quem? Da garçonete. Morreu de quê? Ah, ela teve uma crise de riso e babau. Valha-me! Até ela. Vôte. Elas querem falar comigo, uma visitinha de nada. Eu, hem? © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música da cantora, compositora, instrumentista e produtora musical Marisa Monte: Memórias, crônicas e declarações de amor, Inteira, Diariamente & Bem que se quis & muito mais nos mais de 2 milhões & 500 mil acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui e aqui.

PENSAMENTO DO DIA – [...] Quando observamos a quantidade e a variedade de estabelecimentos de ensino e de aprendizado, assim como o grande número de alunos e professores, é possível acreditar que a espécie humana dá muita importância à instrução e à verdade. Entretanto, nesse caso, as aparências também enganam. Os professores ensinam para ganhar dinheiro e não se esforçam pela sabedoria, mas pelo crédito que ganham dando a impressão de possuí-la. E os alunos não aprendem para ganhar conhecimento e se instruir, mas para poder tagarelar e para ganhar ares de importantes. A cada trinta anos, desponta no mundo uma nova geração, pessoa que não sabem nada e agora devoram os resultados do saber humano acumulado durante milênios, de modo sumário e apressado, depois querem ser mais espertas do que todo o passado. É com esse objetivo que tal geração frequenta a universidade e se aferra aos livros, sempre aos mais recentes, os de sua época e próprios da sua idade. Só o que é breve e novo! Assim como é nova a geração, que logo passa a emitir seus juízos – Quantos aos estudos feitos simplesmente para ganhar o pão de cada dia, nem os levei em conta. Em geral, estudantes e estudiosos de todos os tipos e de qualquer idade têm em mira apenas a informação, não a instrução. Sua honra é baseada no fato de terem informações sobre tudo, sobre todas as pedras, ou plantas, ou batalhas, ou experiências, sobre o resumo e o conjunto de todos os livros. Não ocorre a eles que a informação é um mero meio para a instrução, tendo pouco ou nenhum valor por si mesma, no entanto, essa é a maneira de pensar que caracteriza uma cabeça filosófica. [...]. Trecho de Sobre a erudição e os eruditos, extraídos da obra A arte de escrever (L&PM, 2017), do filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860). Veja mais aqui e aqui.

DO SENTIMENTO DE NÃO ESTAR DE TODO – [...] Sempre serei como um menino para muitas coisas, mas um desses meninos que, desde o começo, carregam consigo o adulto, de maneira que, quando o monstrinho chega verdadeiramente a adulto ocorre que, por sua vez, carrega consigo o menino, e nel mezzo del cammin dá-se uma coexistência poucas vezes pacífica de pelo menos duas aberturas para o mundo. Pode-se entender isso metaforicamente porém indica, em todo caso, um temperamento que não renunciou à visão pueril como preço da visão adulta. E essa justaposição, que faz o poeta e talvez o criminoso, e também o cronópio e o humorista (questão de doses diferentes, de acentuação aguda ou esdrúxula, de escolhas: agora jogo, agora mato) manifesta-se no sentido de não estar de todo em qualquer das estruturas, das teias que a vida arma e em que somos simultaneamente aranha e mosca. [...]. Trecho extraído da obra Histórias de cronópios e de famas (Civilização Brasileira, 1972), do escritor argentino de origem belga Julio Cortázar (1914-1984). Veja mais aqui e aqui.

CONHECER A CIDADE - [...] Essa cidade que não se elimina da cabeça é como uma armadura ou um retículo em cujos espaços cada um pode colocar as coisas que deseja recordar: nomes de homens ilustres, virtudes, números, classificações vegetais e minerais, datas de batalhas, constelações, partes do discurso. Entre cada noção e cada ponto de itinerário pode-se estabelecer uma relação de afinidades ou de contrastes que sirva de evocação à memoria. De modo que os homens mais sábios do mundo são os que conhecem. [...]. Trecho extraído da obra As cidades invisíveis (Folha, 2003), do escritor italiano Ítalo Calvino (1923-1985). Veja mais aqui.

O TRABALHO SEM A ESPERANÇA - Inteira movimenta-se a Natureza. As lesmas suas tocas deixam. / Movimentam-se as abelhas – os pássaro voos alçam – / E o Inverno, dormitando ao ar livre, /Exibe, no sorriso do rosto, de Primavera um sonho! / Enquanto isso, eu apenas algo inútil represento. / Mel não faço, nem caso, nem crio, nem canto. / Sei, contudo, que as margens, nas quais amarantos desabrocham, / A fonte encontraram, da qual fluem os arroios. / Desabrochai vós, ó amarantos! Desabrochai pra quem puderdes. / Pra mim, não desabrochais! Ricos arroios, pelo vosso curso deslizai! / Com lábios ofuscados, caminho com desgrinaldada fronte./ Entenderíeis os encantos que minha alma entorpecem? / O trabalho sem a Esperança néctar extrai numa peneira. / Sem um objetivo a Esperança morre. Poema do poeta, crítico e ensaísta inglês Samuel Taylor Coleridge (1772-1834).

SINHÁ TERTA
Desde pequenos meus três filhos ouviram minhas “histórias de Trancoso”. Usava das mesmas artimanhas de Sinhá Terta. Sentados à minha volta, eu dramatizava as falas, os gestos e saía contando fábulas, histórias de reis, rainhas, fadas boas e más, palácios encantados e lindas princesas. Era uma tranquilidade: de olhos esbugalhados, concentrados, acompanhavam todo o desenrolar das narrativas. Perguntavam e riam muito. Já existia a televisão mas era importante para mim, como mãe, repassar para eles as fantasias, sonhos e aventuras por mim vivenciados na infância. agora, a mesma dedicação tenho com Fausto, meu querido netinho, que ouve atentamente historias criadas ao saber da minha imaginação com os personagens que ele mais gosta: Lulu, Lele e Lili. E Sinhá Terta, para você que não tiveram o privilégio de conhecê-la, foi a fada boa que me viu nascer e aos meus irmãos [...] e com bondade e meiguice, nos fez viver uma infância feliz, plena e cheia de amor. [...].
Trecho de Uma forte presença na minha vida: Sinhá Terta, extraído da obra O príncipe do reino das sete luas e outras histórias (CEPE, s/d), da jornalista, advogada, escritora e jardinista Tereza Figueiredo.

A poesia absoluta, o destino poético e o futuro da poesia & muito mais na Agenda aqui.
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A redenção do amor, o pensamento de Etienne Souriau, a arte de Leila Diniz & Luciah Lopez, a música de Edu Lobo, Chiquinha Gonzaga, Renato Borghetti & Zélia Duncan aqui.
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Você tem medo de quê?, O medo líquido de Zygmunt Bauman, O santuário do eu de Ralph M. Lewis, A arte de Sophia Narrett, a música de Quinteto Violado, Rachel .Podger, Duofel & Meredith Monk aqui.

APOIO CULTURAL: SEMAFIL
Semafil Livros nas faculdades Estácio de Carapicuíba e Anhanguera de São Paulo. Organização do Silvinha Historiador, em São Paulo. Fone: 11 98499-2985.