NÃO FOSSE A CHUVA, JAMAIS SABERIA O SOL – Imagem: arte da artista sérvia Lola Jovanovic - No meio quantas pedras na vida amotinada pelos devires e
eu desancorado escancarando escaninho corpalma às desbordas, refém sou da hora
iminente, um preito a atar uivos e versos até o ponto final, onde começa a
impiedosa sucessão de réstias urdindo pêsames, porque perdi a meada inventada,
quantas vezes tão inexata nas cartadas por esquadros simulados e eu sucumbindo
à primeira volta. Não mais encontro o nexo, o que fazer da vida ao saber a cada
dia três horas de morrer. Sei, a morte não é o fim, é como o complemento do
sono, em que a gente não se está cônscio desse plano, a integrar algo bem maior
que sequer possa compreender de tão aparentemente inacessível. Talvez a
satisfação da etérea ubiquidade. É daí que nasce o meu sentimento visceral desmedido
e quero dividir a emoção ao primeiro encontro aos que há tempos debandados da
amizade, e falamos a mesma língua, não raro, me flagro como se utilizasse
dialeto diverso, ninguém entende, sei lá! Como se a mesma frase, outros
sentidos, e um cabo-de-guerra, inexorável condição. Sou impelido ao silêncio
diante dos dentes à mostra, entre a paixão e o conflito, a punição e a
recompensa, o senso de orientação enquanto conjugo ideias feitas e medidas,
parece-me mais um colapso de significados. E de um para outro assunto, assim se
confunde e nem se sei mesmo qual dos galhos escapuliu o sentido, escoou pra
longe e é só mera conversa fiada sem nexo. Sei que ao lado do que quer que seja
tem sempre outro, quando não muitos, e ter a acuidade de saber quando se é ou
não na interação com essa descontínua, fragmentária e fugaz situação,
decomposta na memória. Pra falar a verdade, nem lembro mais o que era mesmo
dito, perdi-me no entusiasmo de não mais invisível estrangeiro do aceno, do
aperto de mão, do abraço. Esqueci até mesmo pra onde ia e o que era pra fazer
nessas ermas estradas emparedadas. Sei, não fosse o chão, jamais saberia água e
morreria de sede no areal. Não fosse a água, nunca saberia a terra nas direções
dos quatro cantos. Não fosse o ar, por certo, nem saberia o voo e a queda, em
quantos sonhos eu me deixei levar para não acordar morrendo de sono. Não fosse
o fogo, as cinzas não me ensinariam a luz das labaredas e a existência seria
fria como grão abandonado em qualquer superfície inóspita. Devo saudar a chance
de sobreviver no precipício das fronteiras e dos meus próprios abismos – os
escuros abismos da inexistência -, a me salvar quando muito incólume no bálsamo
do amor. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música da compositor e pianista de jazz
estadunidense Chick Corea: Eletric Band Live at North Sea Jazz, The Ultimate
Adventure & Live Kongsberg Jazz Festival; da compositora, cantora
instrumentista e professora, integrante da banda Monofoliar, Estela Ceregatti: Ar, Monofoliar & Ar Live; & muito mais nos mais
de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui.
PENSAMENTO DO DIA – Acredito que só faz sentido praticar filosofia hoje
reavivando a tradição sofista de poder participar de qualquer debate. Quer
dizer, precisaríamos de mais formação retórica, precisaríamos reunir nos seres
humanos muito mais conhecimento geral de vida, de política, de ciência, de
arte. Precisamos voltar a atrair filósofos que sejam decatletas da disciplina
teórica. Pensamento extraído de Fronteiras (2016), do filósofo
alemão Peter Sloterdijk. Veja mais aqui.
ALTERIDADE & CONTEMPORANEIDADE – [...] É
ali na alteridade que abriga infinitamente grande tempo num entretempo
intransponível. O um é para o outro um ser que se desprende, sem se fazer
contemporâneo do outro, sem poder colocar-se a seu lado numa síntese,
expondo-se como tema, um-para-o-outro como um guardião-de-seu-irmão, como um
responsável-pelo-outro. [...]
a partir do seu rosto – que não está
encerrado na forma do aparecer-nu, despojado de sua forma, desnudado de sua
presença que o marcaria ainda como seu próprio retrato; pele enrugada, vestígio
de si mesmo. [...] Descarga do ser que se
desprende [...] Desfalecimento do ser que tomba em
humanidade, fato este que não foi julgado digno de consideração pelos Filósofos
[...]. Trecho extraído da obra Humanismo
do outro homem (Vozes, 1993), do filósofo francês Emmanuel Lévinas
(1906-1995). Veja mais aqui.
DEIXE-ME
SER EU MESMA – [...] Deixe-me ser eu mesma e então estarei
satisfeita [...] Eles sobem todos os dias e falam com os homens sobre
negócios e política, com as mulheres sobre comida e dificuldades dos tempos de
guerra, e com os jovens sobre livros e jornais. Estampam no rosto as expressões
mais alegres, trazem flores e presentes nos aniversários e nos feriados, e
estão sempre prontos para fazer tudo o que podem. Não devemos nos esquecer
disso nunca; enquanto outros demonstram heroísmo nas batalhas ou contra os
alemães, nossos benfeitores provam o seu com a alegria e o afeto. [...] É como que eu vejo
as coisas. Temos que seguir em frente. Não importa o quão difícil seja. Não
podemos ficar parados; uma vez que você para, está fora do jogo.’ Mas, no final
de tudo, somos apenas humanos. E os seres humanos precisam ter algo em que possam
se agarrar. Então eu continuei: ‘Naqueles dias sombrios da guerra, nós não
ficamos parados, mas sim fizemos o possível para ajudar as pessoas. Arriscando
nossas próprias vidas. Nós não podíamos ter feito mais’. [...]. Trechos extraídos da obra Deixe-me ser eu mesmo (Casa Anne Frank, 2015), contando a história
de vida da escritora alemã Anne Frank (1929-1945). Veja
mais aqui.
O ENTERRADO VIVO – É sempre no passado aquele orgasmo, / é sempre no presente aquele duplo,
/ é sempre no futuro aquele pânico. / É sempre no meu peito aquela garra. / É
sempre no meu tédio aquele aceno. / É sempre no meu sono aquela guerra. / É
sempre no meu trato o amplo distrato. / Sempre na minha firma a antiga fúria. /
Sempre no mesmo engano outro retrato. / É sempre nos meus pulos o limite. / É
sempre nos meus lábios a estampilha. / É sempre no meu não aquele trauma. / Sempre
no meu amor a noite rompe. / Sempre dentro de mim meu inimigo. / E sempre no
meu sempre a mesma ausência. Poema do poeta, contista e cronista Carlos Drummond de
Andrade (1902-1987). Veja mais aqui e aqui.
AS TRAMAÇÕES: LINHA, DE JACI BORBA
Tramações: linha é a
exposição da artista visual Jaci Borba,
promovida pelo Centro de Artes e
Comunicação - Graduação em Artes Visuais – Licenciatura & Programa Associado de Pós-Graduação em Artes Visuais
UFPE/UFPB, como parte do projeto de pesquisa e extensão “Tramas na formação de professoras/es para questões de gênero e
sexualidades”, fomentado pelo Edital de Apoio à pesquisa em Criação
Artística/Proexc/UFPE e pelo Funcultura/2018.
VI
Festival de Dança de Itacaré - realizado de 10 e 11 de setembro, no Teatro Municipal de Ilhéus, e de 12
a 16 de setembro, no Centro Cultural Porto de Trás, em Itacaré &
muito mais na Agenda aqui.
&
A arte da artista sérvia Lola Jovanovic.
&
A
história é outra história, Um mundo só de Peter Singer, o cinema de Abbas
Kiarostami, Juliette Binoche & Rin Takanashi, a música de Milton Nascimento & Shanghai Spring Art Salon
aqui.
APOIO CULTURAL: SEMAFIL
Semafil Comércio de
Livros Ltda divulgando os poetas de Palmares PE, nas faculdades Estácio de
Carapicuíba e Anhanguera de São Paulo. Organização do Silvinha Historiador, em São
Paulo.