AQUELA DO NÃO LIGO & TÔ NEM AÍ! - Imagem:
arte do pintor brasileiro Aldo Bonadei (1906-1974) - Pra todo lado me perguntam se estou pronto pra torcer na
copa. Oxe, digo de bate-pronto: quem vê essas coisas lá em casa é a madama, sou
um zero à esquerda. Hem? Ué, tento afazeres domésticos, mas sou logo demitido por
conta do desajeitado de tão mal feito, qual imprestável que mais atrapalha que
ajuda. Ah, Copa do Mundo, tá. Estou tão por fora que nem reboco esburacado, faz
tempo. Digo mais: afora alguns capítulos com as paisagens e trilha sonora de
Pantanal – nem lembro quando foi que assisti -, não sei qual a novela da vez,
nem a manchete do noticiário, nem programação da tevê, ou do rádio, nunca mais
vi jornal nem revista: tudo a mesma coisa todo dia, tanto faz hoje, ontem ou
amanhã, já sei. Pra piorar, livro é caro que só – mas leio o que sobra das
bibliotecas e sebos -, nunca mais fui aos bares, não sei que droga é nove, nem
quem pintou a zebra, se alguém souber me avise, por favor; só sei que o dia
amanhece, a noite escurece e a única certeza de que vou morrer um dia, mais
nada. Como não tenho onde cair morto, vai ser prejuízo pra morte e alívio pros
parentes distantes e desafetos. Serei menos um pra dá trabalho à humanidade. Ah,
quando falam de seleção brasileira lembro logo da corrupção e golpes, greves
que são locaute, aumento de combustíveis, meladas dos agentes públicos, a
desgraça dos assalariados e excluídos. Além do mais a CBF não me representa, é um
antro privado pra sacanagens e sujeiras, lucros e afanações. Ah, tá. Logo vem
aquela: E vai torcer por qual seleção, então? Ué, quais países africanos e
latinos da competição que eu não sei mesmo, ninguém sabe, menos um que chegou
com um álbum de figurinhas e começou a falar duma tuia: Arábia Saudita,
Portugal, Irã, Austrália, Islândia, Sérvia, Croácia, Coreia do Sul, não sei bem
que mapa-múndi ele estudou, mas deixa pra lá, isso é Brasil, e saí identificando
Senegal, Panamá, Egito, Marrocos, Peru, Nigéria, Costa Rica, México, Tunísia,
Colômbia, hummmmm... ah, Costa Rica, talvez, Tunísia, Egito, México, legal. Sou
pelos azarões, um dia dá. Será? Pra quem torceu pelo Íbis e Vovozinhas de Santo
Amaro, já viu. Pois é, aprendi assim depois de empurrões, cotoveladas,
petelecos, apertos e camas de gato, na tentativa pela pontaria vesga acertar no
ângulo e só triscando na trave, pra fora! Não deu, de novo e sempre. Um dia dá,
destá, só remo quando queria navegar, sebo nas canelas e não saio do lugar,
todo castigo pra beócio é pouco e me rio. Que me perdoem os ofendidos e os que
melindram, é que fui brincar meu carnaval e era São João, que coisa! Passou e
nem me dei conta da perda de tempo. Daí pra competição, nem entrei em campo, só
na regra três, sempre. Fazer o quê? Oportunidade não é milagre de todo dia e
momento. Que me perdoem os que se foram - já já chego por aí -, por mim, não
tenho um tostão furado no bolso, dignidade alguma, pendurado no cada um por si,
sacaneado pelos umbigocentristas, culpas eventuais, escorregões, piruetas e
maledicências mais, preferia mesmo sair levitando em paz, distribuindo beijos e
abraços, sorrindo flores de primavera no inverno. De fato, só me resta amar uma
mulher e o futuro colaborar pra fruir desse amor. De resto, mãos à obra
evitando a cagada, pés no mundo pernas pra que te quero sem deixar rastro e fé
em Deus que um dia isso tem jeito. Vamos aprumar a conversa e tataritaritatá! ©
Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do compositor, ator, cantor, pintor e
cineasta Sérgio Ricardo: Deus e o diabo na terra do sol, Ponto de Partida &
Quando menos se espera; da cantora e autora portuguesa Lena D’Água: Sempre que o amor me quiser, Tao & Ou insto ou
aquilo; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja
mais aqui.
PENSAMENTO DO DIA – [...] A mulher, na sua fundamental função materna tem em
si própria, o verdadeiro sentido da palavra nacionalismo, que veio alargando progressivamente através da
família, de civilização em civilização, desde o limite estreito da sua
primitiva caverna, em que ela foi a primeira base duma sociedade que mal se
reconhecia, até ao alargamento máximo das pátrias, que se desdobram em ambições
de imposição civilizadora. [...] Não se pode haver uma grande nação se não houver nas mulheres este sentimento
que as faz as guardas e fiadoras das qualidades e tradições da raça [...] A mulher tem a função fundamental de guarda
das qualidades e tradição da raça. Como a terra, ela é fixadora e o
reservatório de todas as energias raciais, mormente dum povo como o nosso que
aprendeu cedo o caminho aventuroso da navegação, da conquista e da colonização
emigradora [...]. Trechos extraídos da obra A grande aliança (Instituto Piaget, 1997), da escritora,
jornalista, pedagoga, ativista republicana e feminista portuguesa Ana de
Castro Osório (1872-1935). Veja mais aqui e aqui.
SOCIEDADE ATUAL – [...] da perspectiva de um observador não
envolvido, a sociedade só pode ser concebida como um sistema de ações tal que cada
ação tem um significado funcional de acordo com sua contribuição para a
manutenção do sistema [...] Nós vemos a sociedade como uma entidade que,
no correr da evolução, diferenciou-se tanto como um sistema quanto como um
mundo da vida. A evolução sistêmica é medida pelo aumento na capacidade de
direção da sociedade, enquanto o estado de desenvolvimento de um mundo da vida
estruturado simbolicamente é indicado pela separação da cultura, sociedade e
personalidade [...] A racionalização
do mundo da vida torna possível a emergência e o crescimento de subsistemas
cujos imperativos se voltam definitivamente contra o próprio mundo da vida [...]
com a institucionalização legal do meio
monetário que marca a emergência do capitalismo, a ação orientada para o
sucesso, guiada por cálculos egocêntricos de utilidade, perde sua conexão com a
ação orientada para o entendimento mútuo. Esta ação estratégica que
desatrela-se dos mecanismos de alcançar o entendimento e demanda por uma atitude
objetivante inclusive no campo das relações interpessoais é promovida a modelo
para lidar metologicamente com uma natureza objetivada cientificamente. Na
esfera instrumental, a atividade dirigida a fins, ao retirar sua legitimidade
do sistema científico, fica livre das restrições normativas [...] Através dos meios dinheiro e poder, os
subsistemas da economia e do estado são diferenciados fora de um complexo
institucional estabelecido dentro do mundo da vida; surgem domínios de ação formalmente
organizados que, em última análise, não são mais integrados através dos
mecanismos de entendimento mútuo mas que se desviam dos contextos do mundo da
vida e congelam-se num tipo de sociabilidade livre de normas. Com essas novas
organizações surgem perspectivas sistêmicas, das quais o mundo da vida é
distanciado e percebido como um elemento do meio ambiente do sistema. As
organizações ganham autonomia através de uma demarcação que as neutraliza frente
às estruturas simbólicas do mundo da vida. Tornam-se peculiarmente indiferentes
à cultura, à sociedade, e à personalidade [...] À medida que o sistema econômico sujeita a seus imperativos as formas
de vida do lar privado e a conduta de vida dos consumidores e empregados, está
aberto o caminho para o consumismo e para o individualismo exacerbado. A
prática comunicativa cotidiana é racionalizada de forma unilateral num estilo
de vida utilitário, esta mudança induzida pelos meios diretores para uma
orientação de natureza teleológica gera, como reação, um hedonismo liberto das pressões
da racionalidade. Assim como a esfera privada é solopada e erodida pelo sistema
econômico, também a esfera pública o é pelo sistema administrativo. O
esvaziamento burocrático dos processos de opinião espontâneos e de formação da
vontade abrem caminho para a manipulação da lealdade das massas e torna fácil o
desatrelamento entre as tomadas de decisão políticas e os contextos de vida
concretos e formadores de identidade [...] No lugar da falsa consciência, nós lemos hoje uma consciência fragmentada
que bloqueia o iluminismo pelo mecanismo da reificação. É somente assim que as
condições para a colonização do mundo da vida são dadas [...] Trechos extraídos de The theory of communicative action - Lifeworld
and sistem: A critique of functionalist reason (Beacon Press, 1987), do
filósofo e sociólogo alemão Jürgen Habermas. Veja mais aqui e aqui.
A MULHER &
SEDUÇÃO - [...] Maria
Noémia, noiva, é sexualmente repelida não em nome do sexo, muito menos por
razões intelectuais e espirituais (“delicada, inocente, bondosa...”), mas
apenas em nome do dinheiro. Isto quando teria uns 16 ou 17 anos (porque tem uns
34 no momento em que “é escrita” a novela, quando já começou a guerra civil de
Espanha). Natural é que, afetivamente frustrada, se revolte não só contra a
causa imediata dessa frustração, um homem, mas também contra o gênero a que ele
pertence (“abaixo os homens” – gritou ela e com ela
gritaram as seduzidas, muito antes dos movimentos de emancipação da mulher)
[...]. Trecho extraído da obra Sedução
(Caminho, 1937), do escritor português José
Marmelo e Silva (1911-1991), que no prefácio e no livro O personagem na obra de José Marmelo e Silva (Campo das Letras, 2008), o poeta, ensaísta e tradutor
português Arnaldo Saraiva, procura caracterizar a galeria de personagens preferentemente
jovens e masculinos, geralmente em relação difícil ou traumatizante com
personagens femininos 'típicos', fixados em espaços limitados e limitantes da
família, do campo, do internato ou da caserna confrontados com valores,
hipocrisias e preconceitos patriarcais, autoritários, religiosos ou sexuais,
contra os quais podem inglória ou dramaticamente rebelar-se. Também o escritor José Saramago (Boletim Editorial
Estúdios Cor, 1960), expressa a respeito da obra que: [...] Ainda hoje, não
obstante todos os anos decorridos, Sedução continua a ser um livro de combate,
um livro indisciplinador. Não pela escabrosidade do tema - aliás tratado com a
delicadeza e uma finura inexcedíveis, quando tão fácil (e tão comercial…) era
ceder à tentação do obsceno -, mas pelo carácter insólito da análise, que progride
por pequenas deslocações laterais; por iluminação de planos sucessivos, e não,
como é corrente, por um mergulho vertical, pela sobrecarga de minúcias
psicológicas que, habitualmente, fazem da personagem literária um monstro,
inviável fora das páginas do livro. E o estilo? O maior bem que dele se pode
dizer é que outro não serviria melhor o autor. Ao mesmo tempo usual e
castigada, a sua linguagem parece ter sido decantada de maneira algo bizarra:
aceitando muito do que se exclui, excluindo muito do que aceita, o resultado
final é um estilo que não tem similar em Portugal. [...].
MINHA POESIA – Dá-me a tua luz / A verdade do olhar / Não é mal nenhum escrever meu
nome / Não é mal nenhum escrever poesia / Não é mal nenhum escrever teu nome / Não
é mal nenhum escrever teu gozo / Não é mal nenhum escrever liberdade / A paz / O
amor / A bondade / A mansidão / A temperança / Dá-me a tua luz / A verdade do
teu olhar / Onde vai a poesia? / Onde para a poesia? / Se a sinceridade e a poesia
dói, isto é / Escrever um poema. Poema extraído da obra A Mulemba da Saudade
(UEA, 2004), da poeta congolesa com nacionalidade angolana, Alice Palmira – Dudu.
ARTE DE SÉRGIO RICARDO
Pinturas
da série Transparência (2001), do compositor, cantor, cineasta, escritor e
pintor Sérgio Ricardo.
&
Neuroeducação &
Práticas Pedagógicas no Ensino-Aprendizagem aqui.
&
A arte
do pintor Aldo Bonadei (1906-1974)
aqui.
&
Dicas
da hora para felicidade agora (amanhã pode ser tarde demais, se avie!), a crônica
de Sérgio Augusto, a escultura de Desiré Maurice
Ferrary, a pintura de Milton Dacosta, o cinema de Lucrecia
Martel & Maria Alché, Seca & Desertificação aqui.
APOIO CULTURAL: SEMAFIL
Semafil Comércio de
Livros nas faculdades Estácio de Carapicuíba e Anhanguera de São Paulo.
Organização do Silvinha Historiador, em São Paulo.