CARTA AOS NAVEGANTES - Imagem: arte da
artista performática ucraniana Kseniya
Symonova. - Salve, salve! Venham
todos e todas, vamos aprumar a conversa com o radiante convite solar para esse
espetacular amanhecer: os dias por rotas marítimas ou noites por trilhas
florestais, eu cá comigo, sejam sempre bem-vindos, meus beijabrações por
recepção. Se não querem falar, podem passar, sou saudação sincera e não
seleciono afetos, o mundo é tão barulhento, precisamos mesmo de silêncio por
algumas horas ou minutos, pode ser, se chover ou estiar, estiver sol ou
nublado, quem sabe. Oh, não se sintam ofendidos, entendo a frieza da
indiferença e os tantos percalços, nada pro desespero, seja o que possa ser, a
vida é curta e boa demais pra saber da lição do doce e do fel, do quente ou
gelado, do claroscuro, das intenções e simulacros. Não me rendo ao
desapontamento, há muito por fazer. Não fossem as dolorosas, não saberia jamais
remover falhas, entulhos, detritos e lama, fizeram dos escombros o meu eterno
retorno. Se eu tive que deixar pra trás é porque descobri o quão valioso pode
não ser mais amanhã. Na horagá, vale o aprendido pra quebrar bitolas e
estreitamentos, redomas de formas e moldes, restrições que foram pro indefinido
ampliado, da supressão pro desconforme, dos apertados limites rompidos na
vivência do caos primevo indesejável, o desencaixe de velhos e todos os
conceitos por outros que vão e vêm na cristalização dissolvida do sólido que se
desfez aos farelos da rejeição pro aceite. Ah, nada demais, refiz das cinzas a
explorar outros modos, quaisquer maneiras e todos os lugares: tudo muda de onde
o inaceitável, a lapidação da pedra bruta pra perder o orgulho inflado e
oracular, fazer bem feito sem a neurose da perfeição, por saber-me tão frágil entre
dúvidas e escolhas: se não está certo é porque nada está totalmente errado, ou
vice-versa. Tenho comigo a fertilização do riso pelo que é tão maravilhoso na
Natureza, como ao abominável e aparentemente feio, sempre o exercício do perdão
- quem não perdoa, sei não. Aindagora esqueci o passado, quase fruto que brotou
pro maduro e me vi trezentos e sessenta graus do que não sei sobrevivente: a
mão nua e terna para o que vier do desconhecido e facas de dois gumes; a face
serena pras surpresas de agora e crástino, como pras tapas e cuspidas; olhos atentos
para tudo, sobretudo o visinvisível e o ignoto; as costas pra deixar pra trás o
que passou, como pras punhaladas e desaforos; os braços aos abraços e pros
indestrutíveis e delatores obstáculos; as pernas pros inalcançáveis e
transcendentes confins do mundo, com os pés firmes e descalços sobre lâminas
afiadas. Aceito a mim próprio e sou plena mudança a todo instante. Quem dera
pudesse o dia pra tarde aprender na noite a lição de cada manhã. © Luiz
Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do violonista e compositor Guinga: Canção da impermanência, Roendopinho & Porto da
madama; da instrumentista e compositora britânica Anoushka Shankar: Land of Gold live at Glastonbury, Traveller Live Festival
al Les Nuits de Fourviere France & Essemble Berlin; & muito mais nos
mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA – [...] Toda comunidade política é também uma
comunidade estética dada a ‘partilha do sensível’ previamente estabelecida, do
que é visível, do que pode ser dito e feito. Falamos, portanto, sobre política
da estética. [...]. Trecho extraído da obra A partilha do sensível: estética e política (34, 2005), do
filósofo e professor francês Jacques Rancière. Veja mais aqui e aqui.
EDUCAÇÃO & DESENVOLVIMENTO – [...] as tentativas que levou a cabo para separar
cuidadosamente os produtos do desenvolvimento dos da instrução, pressupondo que
assim poderia isolá-los na sua forma pura. Nenhum investigador o conseguiu até
hoje. Geralmente atribuem-se as culpas destes fracassos à inadequação dos
métodos, compensando-se os mesmos fracassos com um redobrar das análises
especulativas. Estes esforços para dividir o equipamento intelectual das
crianças em duas categorias podem ir a par com a noção de que o desenvolvimento
pode seguir o seu curso normal e atingir um nível elevado sem o concurso da
instrução — e que até as crianças que nunca foram à escola podem desenvolver as
formas de pensamento mais elevadas e acessíveis aos seres humanos. [...]. Trecho extraído da obra O desenvolvimento dos conceitos científicos na infância (Pensamento
e linguagem, 2011), do cientista e psicólogo russo Lev
Vygotsky (1896-1934), que noutra obra Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem (Ícone, 2010), expressa que: [...] A aprendizagem não é em si mesma, desenvolvimento, mas uma correta
organização da aprendizagem da criança conduz ao desenvolvimento mental, ativa
todo um grupo de processos de desenvolvimento, e esta ativação não poderia
produzir-se em aprendizagem. Por isso, a aprendizagem é um momento
intrinsecamente necessário e universal para que se desenvolvam na criança essas
características humanas não-naturais, mas formadas historicamente. [...].
Veja mais aqui.
DUAS CIDADES – [...] Como as
emoções mais profundas se expressam no rosto, não importa atrás de que máscara
se esconda, assim a palidez gerada por sua situação vencia o bronzeado da face,
revelando ser a alma mais forte do que o sol. De resto, ele se mostrava
inteiramente senhor de si. Curvou-se perante o juiz e permaneceu ereto e
silencioso. O interesse com o qual esse homem era contemplado e bafejado não
era da espécie que eleva a humanidade. Estivesse ele sob a ameaça de uma
sentença menos tenebrosa, houvesse a possibilidade de algum daqueles detalhes
selvagens ser dispensado, apenas por isso teria perdido muito de seu fascínio.
A figura que estava destinada a ser mutilada de maneira tão infamante era A
Visão; a criatura imortal que seria abatida e esquartejada fornecia a sensação.
Qualquer que fosse o verniz com que os vários espectadores procuravam encobrir
o seu interesse, de acordo com a capacidade que tinham de enganar a si
próprios, esse interesse era, em sua raiz, digna dos ogros. [...]. Trecho
extraído de Um conto
de duas cidades (Nova Cultural, 2002), do escritor inglês Charles Dickens (1812-1870). Veja mais
aqui.
TRÊS POEMAS - AUTORRETRATO - Um poeta nunca sabe / onde sua voz termina, / se é dele
de fato a voz / que no seu nome se assina. / Nem sabe se a vida alheia / é seu
pasto de rapina, / ou se o outro é que lhe invade, / numa voragem assassina. / Nenhum
poeta conhece / esse motor que maquina / a explosão da coisa escrita / contra a
crosta da rotina./ Entender inteiro o poeta / é bem malsinada sina: / quando o
supomos em cena, / já vai sumindo na esquina, / entrando na contramão / do que
o bom senso lhe ensina. / Por sob a zona da sombra, / navega em meio à neblina.
/ Sabe que nasce do escuro / a poesia que o ilumina. CONFESSIONÁRIO - Não posso dar-me em espetáculo. / A plateia toda
fugiria / antes mesmo do segundo ato. / Um ator perplexo misturaria / versos,
versões e fatos. / E um crítico, maldizendo a sua sina, / rosnaria feroz / contra
minha verve / sibilina. RECEITA DE POEMA - Um poema que desaparecesse / à
medida que fosse nascendo, / e que dele nada então restasse / senão o silêncio
de estar não sendo. / Que nele apenas ecoasse / o som do vazio mais pleno. / E
depois que tudo matasse / morresse do próprio veneno. Poemas do poeta, ensaísta, critico literário, professor, editor da revista
Poesia Sempre da Fundação Biblioteca Nacional e membro da Academia Brasileira
de Letas, Antonio Carlos Secchin. Veja mais aqui e aqui.
O ESPELHO LENTO
O filme O espelho lento (The Slow Mirror, 2009), da cineasta suíça naturalizada portuguesa, Solveig Nordlund, conta a
história de uma mulher e sua filha gravemente doente, com a descoberta de um
espelho invulgar que guarda por anos o reflexo, adquirindo-o como prenda para
sua filha: o espelho vai modificar suas vidas, uma porta aberta para o passado.
No elenco, destaque para atuação das atrizes Gracinda Nave & Marta Peneda.
Veja mais aqui.
&
A arte da
artista performática ucraniana Kseniya
Symonova.
&
A vida, seres & coisas, o pensamento de Erich Fromm & Edith Wharton, a
poesia de Goethe & Dylan Thomas, a arte de Alexandra
Gorczynski, a música de Wanderléa, Paulo Diniz & Juareiz Correya
aqui.