JÁ DIZIA FREUD: TODO ENCONTRO É UM REENCONTRO – Imagem: Milkweed - aka: Hand with Dandelion, da
fotógrafa alemã Ruth Bernhard (1905-2006).
- Confesso, perdi o senso, também sangro toda
noite à janela, cabeça ao vento, frio na carne, e uma estrela luzente, lá longe
de nem saber, infere minhas inquietações e só ela me entende ao sussurrar,
suave e docemente, não é nada fácil, e eu nem sei que céu é esse, um Brasil escurecido
no azul das trevas, se ela fala da fresta na porta do meu pálido claustro, e não
faço a menor ideia porque a saída é logo ali e minha cabeça rola na praça para
que eu morra nos olhos do filho sepultado. Sabia de tempos que todo encontro é
um reencontro, e ela reitera o que quero, nada mais que isso, pouso amigo pra
quem não tem mais nada além de uma sombra no chão, pra respirar a música
devagar enquanto o tempo arde na terra inocente e já nem sei que horas são
corridas no calendário. Se me esquivo é porque sempre só a noite é longa, e ela
fala pra que eu não durma páginas viradas em que fui longe demais, até perder a
noção de lugar algum, com a perseverança feita um epitáfio no dilema à queima
roupa, e tudo por um fio nos campos minados pro meu entusiasmo espremido dentro
de uma redoma menor que um segundo expirado. Insisto na resilência e ela lembra
os trêmulos acenos bem-vindos por ínvios percursos entre a fome e a saciedade, enquanto
eu errava a tontura dos labirintos e o poço sem fundo com seu silêncio hostil de
afiados dentes na minha ventura, e não era ninguém, só miragem no deserto do
exílio. Bem sei que perdi as digitais, pudera, embaraçado no quebra-cabeça dos
percursos, nos quais as entregas queimaram o ser ao risco do desejo amontoado
na lembrança isolada das horas não fruídas, como se o luto pesasse na tragédia
sem nome, como se encarasse a ameaça e não tivesse nada a dizer, de mãos vazias
cúmplices dos lábios mudos nesse lugar circunscrito ao nó apertado, sem dar a
entender que não é e os estilhaços denunciavam não haver comando, porque havia
hoje quem vivesse na Idade da Pedra, ou no século XVI ou sei lá quando de tão passado,
chega nem saber se no mundo da lua ou dos sonhos do umbigo, se não perdeu a
placenta ou se foi pro mundo sem sair de casa. E ela riu da minha toleima mania
de acreditar no amanhã e ter pra dar apenas o que de mim resta, nada mais tendo
que a reserva dos afetos, desamparado por muito pouco não ter descambado com saldo
zero, numa imensidão oceânica, pra nunca mais achar o caminho de volta e a
razão pelos ares de tão ensandecido. Ela mais riu e quase emudeci diante do
escárnio, não era nada disso, disse ela, era a minha ingênua teimosia pelo
desconhecido, eu sabia. Um dia direi o homem envelhecido no poema: vivo porque
o outro existe e a servi-lo, as minhas intenções, não sabe, nunca saberá
contaminada por dores, juízos, valores, e terei sempre de partir sem nada
dizer, sem pátria e coisa nenhuma, jamais esperar de nunca voltar, somente a
lei da chama inextinguível do amor acesa no peito alumiando o negrume da
solidão erradia. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais
aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música da saudosa cantora, compositora e
sambista Nara Leão (1942-1989): Os meus amigos são um barato, 10 anos depois,
Opinião, Nara, Garota de Ipanema & Mambembe & muito mais nos mais de 2
milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui.
PENSAMENTO DO DIA – [...] acho,
sim, que o homem é estranho na terra. Deve manter, por uma questão de saúde
mental, essa sensação de ser um estrangeiro aqui, no meio de árvores, pedras e
seja lá o que for. Os alienígenas somos nós! É isso mesmo, é isso mesmo: manter
a sensação de ser um estrangeiro tem um lado muito saudável. Não há motivo
nenhum para você ficar muito à vontade no mundo! Não há motivo para que se diga
‘’estou à vontade’’. Não, não. Fique com uma certa timidez. Isso é bom: manter
uma certa distância’.[...]. Pensamento do jornalista e escritor Ivan Lessa (1935-2012), extraído de uma
entrevista concedida em 1999, ao jornalista e escritor Geneton Moraes Neto (1956-2016) e que, certa vez, mencionou: Não
quero entrar com meu plangente violão do saudosismo, mas o nosso jornalismo
piorou. Muito mesmo. Veja mais aqui e aqui.
DESEJO & MOTIVAÇÃO – [...] O
típico impulso, ou necessidade ou desejo, não está e provavelmente nunca estará
associado a uma base somática específica, isolada. [...] Considerando todas as evidências que temos
em mãos, é muito pouco provável que compreendamos totalmente o desejo de amar,
não importa o quanto saibamos sobre o impulso da fome. [...] O homem é um animal desejante e raramente
atinge um estado de completa satisfação exceto por um curto período de tempo.
Assim que um desejo é satisfeito, outro explode e assume o seu lugar [...].
Trechos extraídos da obra Motivation and personality (Harper & Brothers, 1954), do
médico e psicólogo estadunidense Abraham Maslow (1908-1970), que noutra
obra, Eupsychian management: a journal (Richard
Irwin, 1974), expressou que [...] Como
podemos evitar as situações industriais que denigrem a dignidade humana e a
tornam menos possível? Em situações inevitáveis na indústria, como as linhas de
montagem, como se pode descontaminá-las de forma a manter a dignidade do
trabalhador e sua autoestima, tanto quanto possível, dadas as circunstâncias? [...] e
autor de frases como: Um músico deve
compor, um artista deve pintar, um poeta deve escrever, caso pretendam deixar
seu coração em paz. O que um homem pode ser, ele deve ser. A essa necessidade
podemos dar o nome de autorrealização & Experimente a vida como fazem as crianças, com total entrega e
concentração. Experimente algo novo ao invés de prender-se ao que ó seguro e
certo. Ouça seus próprios sentimentos para avaliar as experiências ao invés da
voz da tradição, ou da autoridade, ou da maioria. Seja honesto; evite
fingimentos ou "jogos". Esteja preparado para ser impopular se suas
opiniões não coincidirem com as da maioria. Assuma a responsabilidade. Trabalhe
muito por tudo que decidir fazer. Procure identificar suas defesas e tenha
coragem de abrir mão delas. Veja mais aqui e aqui.
A OBRA EM NEGRO – [...] Mas tu, a que nenhum confim delimita, por teu
próprio arbítrio, entre as mãos daquele que te colocou, tu te defines a ti mesmo.
Te pus no mundo, a fim de que possas melhor contemplar o que contém o mundo. Não
te fiz celeste nem terrestre, mortal ou imortal, a fim de que tu mesmo,
livremente, à maneira de um bom pintor ou de um hábil escultor, descubras tua
própria forma... [...] Naquela manhã, os ceifeiros haviam encontrado uma feiticeira a urinar maliciosamente
no campo afim de conjurar a chuva sobre o trigo já parcialmente apodrecido por
aguaceiros intempestivos; lançaram-na ao fogo sem outra forma de processo [...].
O cônego explicava que o homem, ao
infligir aos perversos o suplício das chamas, que dura apenas um momento, não
faz senão conformar-se à lei de Deus, que os condena ao mesmo castigo, só que
para sempre [...] Foi de coração
confiante que, uma noite, ele (Simão) observou seus miseráveis comensais a
enterrar os gorros até os olhos e a envolver o pescoço com trapos aproveitados
de uma echarpe de lã, caminhando lado a lado sobre lama e neve, prontos a se
arrastar juntos até Münster de seus sonhos
[...] Quando afinal Joana falou, o que
lhe saiu dos lábios foi uma torrente de torpezas e obscenidades que sabiam ao
mesmo tempo a esgoto e a Bíblia. O Rei (de Münster – Cidade de Deus) não fora
jamais para a velha hussita senão um indigente a quem se concedia comer na
cozinha e que ousou dormir com a mulher do patrão [...] sonhava com fogueiras, tais como as que vira
por ocasião de um auto-de-fé numa pequena cidade de León, durante o qual
pereceram quatro judeus acusados de haver hipocritamente abraçado a religião cristã
sem antes renunciarem à prática dos ritos herdados de seus pais, além de um
herético que negava a eficácia dos sacramentos. Ele imaginava aquela dor
damasiado aguda para a linguagem humana [...] A rigor, quase a contragosto, esse peregrino ao fim de um percurso de mais
de meio século obrigava-se pela primeira vez n a vida a recompor em pensamentos
os caminhos palmilhados [...] empenhando-se
em fazer a escolha entre o pouco que parecia advir de si e o que pertencia ao
acervo comum da sua condição humana [...]. Trechos extraídos da obra A Obra
em Negro (Nova Fronteira, 1981), da escritora belga de língua francesa Marguerite
de Yourcenar (1903-1987). Veja mais aqui.
DOIS POEMAS - LIÇÃO DE ESCRITA - Não
meça / a temperatura: pouco / importa se o corpo / dá-se, agora, / em forma / de
colapso. / Esqueça / a máscara tesa / que sequestra o sorriso / por sob / a
pele. / Releve / a agulha inclusa / que te paralisa / beijo e protesto. / Reserve
/ uma hora diária / para afagar tua miséria. / Ou resista: / não vale a
escrita. UTRUM DEUS SIT SUBIECTUM HUIUS
SCIENTIAE - Uma voz não sei de Quê / de Quando escondido e Onde pouco
nítido / pede-me que esqueça / que é forma não formada / Mas não Não caio / na
lábia do poema / seu não ter / De Quê nem Porquê / Aqui se faz Aqui / se prega
(O que se arrasta sobre as águas e às vezes se afoga?) / É antes uma íngua na
fala / uma pedra debaixo da língua. Poemas extraídos da obra Aleijão
(7Letras, 2009), do poeta, jornalista e crítico literário Eduardo Sterzi.
A ARTE DE AURELIO GRIMALDI
Na obra cinematográfica
do cineasta e roteirista italiano Aurelio
Grimaldi, destaco os drama Le Buttane (1994) e La Ribelle (1993), como também o drama erótico Il Macellaio
(1998) e a comédia La divina Dolzedia (2017), entre outros.
&
&
A arte da
fotógrafa alemã Ruth Bernhard (1905-2006).
&
Assim ou vai ou racha, a literatura
de Antonio Callado, a poesia de Adalgisa
Nery, a arte de Paul Gauguin & Programa Tataritaritatá aqui.
&
Dança do amor, o pensamento de Paramahansa Yogananda, a fotografia de Joyce Tenneson, a arte de
Luciah Lopez & Programa Tataritaritatá aqui.