VAMOS APRUMAR A CONVERSA?
EDUCAÇÃO POR ÁGUA ABAIXO (Imagem:
artigo publicado na sessão Opinião da
Gazeta de Alagoas, Página A-4, edição
de sábado, 23 de novembro de 1996) – Quando escrevi este pequeno artigo
opinativo que foi publicado na Gazeta de
Alagoas e em outros veículos de comunicação de massa e alternativos, era,
nada mais, nada menos, um cidadão exercitando a sua cidadania. Era o meu olhar
para o descaso com que eram tratadas as instituições escolares de todos os
níveis, os professores, os alunos e a sociedade brasileira no que diz respeito
ao quesito educação. Estava eu, confesso, embevecido com a previsão dada no
art. 205 da Constituição Federal vigente, que prescreve que “Art. 205. A educação, direito de todos e
dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da
sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. Mais surpreso
fiquei quando, poucos dias depois da publicação do meu texto, ocorreu a edição
da Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, estabelecendo as diretrizes e bases da
educação nacional. Nela deu-se a regulamentação das previsões constitucionais,
prevendo no art. 2º do Título II que: “Art.
2º. A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade
e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento
do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para
o trabalho”. Logo no art. 3º traz que: “Art.
3º. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade
de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender,
ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo
de ideias e de concepções pedagógicas; IV - respeito à liberdade e apreço à
tolerância; V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; VI -
gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; VII - valorização do
profissional da educação escolar; VIII - gestão democrática do ensino público,
na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino; IX - garantia de
padrão de qualidade; X - valorização da experiência extraescolar; XI - vinculação
entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais”. Seguem-se na
lei epigrafada títulos e artigos outros destinados às previsões do direito à educação
e do dever de educar, da organização da educação nacional, dos níveis e das modalidades
de educação e ensino, dos profissionais da educação, dos recursos financeiros e
das disposições gerais e transitórias, perfazendo um total de 92 artigos
regulando o universo da educação brasileira. A partir de então, levado por essa
novidade legal, passei a desenvolver práticas que me levassem a estudar como se
daria a educação dali por diante. E de forma ambiciosa, abri duas frentes de
estudos: a primeira, voltada exclusivamente à Educação Infantil e ao primeiro
ciclo do Ensino Fundamental, por meio de atividades de recreações com base nos
meus livros dedicados a este universo de pesquisa; a segunda, ministrando um
curso denominado Faça seu TCC sem Traumas, destinado aos estudantes de graduação
e pós-graduação, lato e stricto sensu,
no sentido de abarcar desde o segundo ciclo do Ensino Fundamental até a
Educação Superior, passando pela Educação Profissional, Educação Especial,
Educação de Jovens e Adultos (EJA), Educação a Distância (EAD) e até a Educação
Indígena. No primeiro trabalho mencionado, pude trabalhar em escolas das redes
pública e privada de Alagoas e de outros Estados, com contação de histórias e
atividades recreativas e artísticas para
a garotada ao longo desses quase 20 anos, possibilitando uma visão geral da
área. No segundo trabalho, pude contar com participantes do meu curso nas mais
diversas áreas, desde a Educação, Direito, Psicologia, Economia, Administração,
Serviço Social, Sociologia, Turismo, História, entre outras, em cursos de
graduação e pós-graduação, incluindo diversas dissertações mestrados e teses de
doutorados das mais diversas universidades brasileiras e do exterior, e que
contaram todos com a orientação de renomados doutores e aprovação das respectivas
bancas examinadoras. Foram, portanto, realizadas enorme revisão da literatura
para pesquisa de natureza bibliográfica e realizados diversos estudos de casos com
pesquisa de campo de natureza qualiquantitativa, que envolveram todos os níveis
e modalidades da educação brasileira, da infantil até a superior, EJA e EAD. Esses
estudos foram desenvolvidos com temáticas as mais diversas, desde instituição e
gestão escolar, direito à educação, formação e prática pedagógica,
ensino-aprendizagem, relações interpessoais entre profissionais docentes e
não-docentes, temas transversais, inclusão, hábitos alimentares, meio ambiente e
educação ambiental, cidadania e escola cidadã, saúde, sexualidade e educação
sexual, religião e educação religiosa, inclusão, até o papel das artes e de
outros campos científicos na educação, entre tantos outros inseridos sobre a
ótica jurídica, psicológica e educacional. O resultado disso está não só nos
trabalhos acadêmicos gerados pelos participantes do meu curso ao longo desses
quase 20 anos, como nas postagens deste e dos meus outros blogs, além da participação
em congressos e encontros nacionais e internacionais, artigos e estudos, projetos
de extensão e de iniciação científica, entre outros eventos, levando a realidade
encontrada na educação brasileira, sobretudo alagoana. Hoje levo estes estudos
pro curso de Psicologia e para palestras, debates e discussões acerca do tema
que participo, no sentido de contribuir para amplitude e aprofundamento que tal
temática carece. Se o avanço ocorrido durante esses quase 20 anos de estudos
foram poucos ou irrisórios e que a tragédia ainda nos deixa num quadro
lamentável de desolamento, não posso esconder a minha esperança, afinal é dela
que me faço cultor da revolução copernicana ao contrário e, consequentemente, da
busca pelo alcance utópico do autogoverno humano na melhoria das condições de
vida planetária, de que a educação poderá ter a atenção que merece nas futuras
gerações. Se a educação vai por água abaixo a responsabilidade é nossa! E para
mudar esse quadro canto Ivan Lins/Vitor Martins: Depende de nós... E vamos aprumar a conversa aqui, aqui, aqui e
aqui.
Imagem: Female nude, do pintor do Barroco italiano Michelangelo Merisi da Caravaggio (1571-1610). Veja mais aqui, aqui e aqui.
Curtindo Magic Moment (CBS, 1982), do instrumentista e compositor Márcio Montarroyos (1948-2007).
VERDADE E VIDA – No ensaio Verdade e vida (Covilhã, 2008), do filósofo, escritor e dramaturgo
espanhol Miguel de Unamuno
(1864-1936), destaco os trechos a seguir? [...] Primeiro: a
verdade na vida. Desde sempre foi a minha convicção, mais arraigada e mais corroborada
em mim à medida que o tempo vai passando: que a suprema virtude de um homem
deve ser a sinceridade. O vício mais feio é a mentira, os seus derivados e
disfarces, a hipocrisia e o exagero. Prefiro o cínico ao hipócrita, não fora
aquele já parte deste. Abrigo a profunda crença de que, se todos disséssemos
sempre e em cada caso a verdade, a verdade nua e crua, ao princípio ameaçaria
tornar-se inabitável a terra, mas depressa acabaríamos por nos entender como
hoje não nos entendemos. Se todos, podendo assomar ao bocal das consciências
alheias, víssemos despidas as almas, as nossas rixas e suspeitas fundir-se-iam
todas numa imensa piedade mútua. Veríamos as negruras do que temos por santo,
mas também a alvura daquele que consideramos um malvado.
[...] Há que observar agora outra coisa – e com isto
respondo, ao mesmo tempo, a maliciosas insinuações de um ou outro espontâneo e,
para mim, desconhecido correspondente dessas aldeolas; como há muitas,
muitíssimas, mais verdades por dizer do que tempo e ocasiões para dizê-las, não
podemos dedicar-nos a dizer aquelas que este ou aquele indivíduo quereria que
disséssemos, mas aqueloutras que julgamos mais momentosas ou mais a propósito.
Sempre que alguém nos repreende porque não proclamamos estas ou aquelas
verdades, podemos responder-lhe que, se fizéssemos como ele quer, não
poderíamos proclamar outras verdades que proclamamos. E, não raro, acontece
também que aquilo que eles consideram como verdade, partindo do suposto que
também como tal a consideramos, não é assim. [...] E esta é a
principal razão por que se deve buscar a vida de todas as verdades: para que
aquelas que parecem sê-lo, e não o são, se nos mostrem como realmente são, como
não verdades ou apenas verdades aparentes. E o que há de mais oposto a buscar a
vida na verdade é proscrever o exame e declarar que há princípios intangíveis.
Não há nada que não deva examinar-se. Desgraçada a pátria onde não se permite
analisar o patriotismo! E eis aqui como se entrelaçam a verdade na vida e a
vida na verdade: aqueles que não se atrevem a buscar a vida das verdades que
professam como tais nunca vivem com verdade na vida. O crente que se opõe a
examinar os fundamentos da sua crença é um homem que vive na insinceridade e na
mentira. O homem que não quer pensar em certos problemas eternos é um
embusteiro, e nada mais do que um embusteiro. E é assim que costumam andar
unidas, nos indivíduos e nos povos, a superficialidade e a insinceridade. Povo
irreligioso, isto é, povo em que os problemas religiosos não interessam a quase
ninguém – seja qual for a solução que se lhes dê –, é povo de embusteiros e
exibicionistas, onde o que importa não é ser, mas parecer ser. Aqui está como
entendo a expressão: verdade na vida e vida na verdade. Veja mais aqui
e aqui.
DOM QUIXOTE – A obra Dom Quixote de La Mancha (El ingenioso Hidalgo Fon Quixote de La
Mancha, 1605), do escritor espanhol Miguel
de Cervantes y Saavedra (1547-1616), é composta de 126 capítulos divididos
em duas partes, parodiando os romances de cavalaria e contando a história de um
protagonista de certa idade, entregue às leituras desses romances, perde o
juízo e acredita ter sido historicamente verdadeiro tudo que acontecera nas
suas leituras, decidindo-se tornar um cavaleiro andante que parte pelo mundo e
vive seu próprio romance de cavalaria. Dá-se, então, as aventuras de Dom
Quixote em companhia de Sancho Pança, seu fiel amigo e companheiro. Dessa obra
destaco os trechos do primeiro capítulo: [...] A razão da sem razão que à minha razão se faz, de tal maneira a minha
razão enfraquece, que com razão me queixo da vossa formosura [...] Em suma, tanto naquelas leituras se
enfrascou, que passava as noites de claro em claro e os dias de escuro em
escuro, e assim, do pouco dormir e do muito ler, se lhe secou o cérebro, de
maneira que chegou a perder o juízo. Encheu-se-lhe a fantasia de tudo que
achava nos livros, assim de encantamentos, como pendencias, batalhas, desafios,
feridas, requebros, amores, tormentas, e disparates impossíveis; e
assentou-se-lhe de tal modo na imaginação ser verdade toda aquela máquina de
sonhadas invenções que lia, que para ele não havia história mais certa no
mundo. [...] Afinal, rematado já de
todo o juízo, deu no mais estranho pensamento em que nunca jamais coiu louco
algum do mundo, e foi: parece-lhe convinhável e necessário, assim para aumento
de sua honra própria, como para proveito da república, fazer-se cavaleiro
andante, e ir-se por todo o mundo, com as suas armas e cavalo, à cata de
aventuras, e exercitar-se em tudo em que tinha lido se exercitavam os da
andante cavalaria, desfazendo todo o gênero de agravos, e pondo-se em ocasiões
e perigos, donde, levando-os a cabo, cobrasse perpetuo nome e fama. Já o
coitado se imaginava coroado pelo valor do seu braço, pelo menos com o império
de Trapisonda; e assim, com estes pensamentos de tanto gosto, levado do enlevo
que neles trazia, se deu pressa a pôr por obra o que desejava. [...] Quatro dias levou a cismar que nome lhe
poria; porque (segundo ele a si próprio se dizia) não era razão que um cavalo
de tão famoso cavaleiro, e ele mesmo de si tão bom, ficasse sem nome aparatoso;
[...] E assim, depois de escrever,
riscar, e trocar muitos nomes, ajuntou, desfez, e refez na própria lembrança
outros, até que acertou em o apelidar Rocinante, nome, em seu conceito, alto,
sonoro, e significativo do que havia sido quando não passava de rocim, antes do
que ao presente era, como quem dissera que era o primeiro de todos os rocins do
mundo. [...] assim quis também ele,
como bom cavaleiro, acrescentar ao seu nome o da sua terra, e chamar-se Dom
Quixoete de la Mancha, com o que, a seu parecer, declarava muito ao vivo sua
linhagem e pátria, a quem dava honra com tomar dela o sobrenome [...] julgou-se inteirado de que nada mais lhe
faltava, senão buscar uma dama de quem se enamorar; que andante cavaleiro sem
amores era árvore sem folhas nem frutos, e corpo sem alma [...] Chamava-se Aldonça Lourenço; a esta é que a
ele pareceu bem dar o título de senhora dos seus pensamentos; e, buscando-lhe
nome que não desdissesse muito do que ela tinha, e ao mesmo tempo desse seus
ares de princesa e grã senhora, veio a chamá-la Dulcineia del Toboso, por ser
El Toboso a aldeia de sua naturalidade; nome este, em seu entender, musical,
peregrino, e significativo, como todos os mais que a si e às suas coisas já
havia posto. [...]. Veja mais aqui e aqui.
O LAMENTO DE ARETUSA (Imagem: Alfeu tenta capturar
Aretusa, gravura de Bernard Picart) –
No livro Poesia moderna da Grécia
(Guanabara, 1986), organizado por José Paulo Paes, encontro o poema O lamento de Aretusa, do poeta grego Vitsentzos Kornaros (1553 – 1613), o
qual transcrevo a seguir: Erotócrito, por
que me apegar à vida ainda? / Que esperança me resta que eu da vida não
prescinda? / Como hei de viver num mundo do qual está ausente? / Mantem-me
neste calabouço um destino inclemente. / Da tua vida eu vivia, enxergo com tua
luz; / lembrar-me de ti faz menos pesada a minha crua. / Deixei de ser eu mesma
para o que tu eras ser; / encontro minha vida e minha morte em teu querer. /
Acordada ou sonhando, na mente tenho-te vivo; somente em tua lembnrança é que
encontro lenitivo. / Abdiquei das riquezas, renunciei de mãe e pai; / a mágoa
desta renuncia não se acalma jamais. / Recordo-te, Erotórcito, meu único
senhor, / e eus que meu pai e minha mãe te tornas por amor. / Com a palha me
cubro, na palha meu corpo dorme, / a penúria não me importa, o pesar não me
consome. / Deixei nobreza por ti, por ti odiei a riqueza, / e só por tua causa
num calabouço estou presa. / Tormentos por ti passei, por ti suspirei em vão, /
por ti – faz hoje cinco anos – eu penso nesta prisão. / Amarguras não busquei,
os pesares não compreendo; / com as lembranças de ti ao destino vouvencendo. /
Que te falta, fado meu, inda fazer contra mim? / Não noutros dias, hoje só tu
me venceste enfim. / Rudo o que eu tinha levaste: o que te resta levar / de
quem nada mais possui senão seu próprio penar? A guerra venceste em que há
tanto tempo te demoras, / e pouco se te dá o que a mim fizeste até agora. / Eu
lutei sempre com força, esperei sempre a vitória, / mas hoje caio vencida nesta
masmorra inglória. / Queres-me viva ainda, não para que eu tenha vida, / mas
para que possa sentir esta dor tão doída. / A mim não assustas mais, nem minha
mente assedias: / onde a esperança estiver, faz-lhe o medo companhia. / Como
esprança deixou-me, ao meu coração ensino / não temer os sofrimentos que possa
impor-lhe o destino. / O desespero me poupa de temores infundados: / a mim que
importa o porvir? Não sou joguete do fado. / Fado, não te receio, faz de mim o
que te agrade; / aqui estou se me procuram tuas adversidades. / Quero que morte
me dês e que, depois da morte, ao meu / corpo aconteça o pior que a corpo
humano aconteceu: / que me atires de um penhasco, ou que me entregue às feras,
; para saciar a crueldade em que te retemperas. / Viva, tu não consentes que
meu amado me conforte, / mas eu espero e confio que hei de vencer-te na morte;
/ minha alma ira encontra-lo de ti se libertando, / pois sobre nossas almas não
tens poderes nem mando. / Não há destino no Hades, sorte propicia ou nefasta; /
no Hades nada se ganha: o que tomaste já basta. / Erotócrito, morreste em longe
terra estrangeira, / e, ao te perder, pergi contigo a minha vida inteira. /
Quanto eu não quisera estar a teu lado, em meio à luta, / só para ouvir-te
gritar: Vem, Aretusa, me ajuda. / Como um raio, eu correria à toda para
ajudar-te; meus próprios braços, não outros, seriam teu baluarte. / Se, de
fauces abertas, uma fera acometesse, / minha mão eu lhe dava para evitar te
mordesse. / Grande injustiça seria, Erotócrito, no entanto, / perder-se em
selva inóspita e perecer teu encanto. / Quisera ser a pobreza que junto a ti
dormisse / para seguir-te mais depressa na hora em que partisses, / e ser tua
companhia por toda a eternidade: / o que os corpos não fizeram, faças as almas
no Hades. Veja mais aqui.
DOIS PERDIDOS NUMA NOITE
SUJA – A peça teatral em
dois atos Dois perdidos numa noite suja
(Global, 1986), do dramaturgo, escritor, jornalista e ator Plinio Marcos (1935-1999), é inpirada no conto O terror de Roma, do
escritor italiano Alberto Moravia, e na qual dois personagens dividem um quarto
numa hospedaria barata e durante o dia trabalham de carregadores no mercado,
discutindo sobre suas vidas, trabalho e perspectivas, mantendo uma relação
conflituosa. Da obra destaco o trecho inicial: Um quarto de hospedaria de última categoria, onde se vêem duas camas bem
velhas, caixotes improvisando cadeiras, roupas espalhadas etc. Nas paredes
estão colados recortes, fotografias de time de futebol e de mulheres nuas. I
ATO Primeiro Quadro (Paco está deitado em uma das camas. Toca muito mal uma
gaita. De vez em quando, pára de tocar, olha para seus pés, que estão calçados
com um lindo par de sapatos, completamente em desacordo com sua roupa. Com a
manga dó paletó, limpa dos sapatos. Paco está tocando, entra Tonho, que não dá
bola para Paco. Vai direto para sua cama, senta-se nela e, com as mãos, a
examina.) TONHO Ei! Pára de tocar essa droga. (Paco finge que não houve.) TONHO
(Gritando.) Não escutou o que eu disse? Pára com essa zoeira! (Paco continua a
tocar.) TONHO É surdo, desgraçado? (Tonho vai até Paco e o sacode pelos
ombros.) TONHO Você não escuta a gente falar? PACO (Calmo.) Oi, você está aí? TONHO
Estou aqui para dormir. PACO E daí? Quer que eu toque uma canção de ninar?
TONHO Quero que você não faça barulho. PACO Puxa! Por que? TONHO Porque eu
quero dormir. PACO Ainda é cedo. TONHO Mas eu já quero dormir. PACO Mas não vai
conseguir. TONHO Quem disse que não? PACO As pulgas. Essa estrebaria está assim
de pulgas. TONHO Disso eu sei. Agora quero que você não me perturbe. PACO Poxa!
Mas o que você quer? TONHO Só quero dormir. PACO Então pára de berrar e dorme. TONHO
Está bem. Mas não se meta a fazer barulho. (Tonho volta para sua cama, Paco
recomeça a tocar.) TONHO Pára com essa música estúpida! Não entendeu que eu
quero silêncio? PACO E daí? Você não manda. TONHO Quer encrenca? Vai ter! Se
soprar mais uma vez essa droga, vou quebrar essa porcaria. PACO Estou morrendo
de medo. TONHO Se duvida, toca esse troço. (Paco sopra a gaita, Tonho pula
sobre Paco. Os dois lutam com violência. Tonho leva vantagem e tira a gaita de
Paco.) PACO Filho-da-puta! TONHO Avisei, não escutou, se deu mal. PACO Dá essa
gaita pra cá. TONHO Vem pegar. PACO Poxa! Deixa de onda e dá essa merda. TONHO
Se tem coragem, vem pegar. PACO Pra que fazer força? Você vai ter que dormir
mesmo. TONHO Antes de dormir, jogo essa merda na privada e puxo a bomba. PACO Se
você fizer isso, eu te apago. TONHO Experimenta. PACO Se duvida, joga. TONHO
Jogo. E daí? PACO Então joga. TONHO Você só tem boca-dura. PACO É melhor você
me dar essa merda. TONHO Não enche o saco. PACO Anda logo. Me dá isso. TONHO
Não vou dar. (Paco pula sobre Tonho. Esse mais uma vez leva vantagem. Joga Paco
longe com um empurrão.) TONHO Tá vendo, palhaço? Comigo você só entra bem. PACO
Eu quero minha gaita. TONHO Não tem acordo (Pausa) (Tonho deita-se e Paco fica
onde está, olhando Tonho.) [...]
Veja mais aqui, aqui e aqui.
ECLIPSE – O filme Eclipse (1962), dirigido pelo
cineasta italiano Michelangelo Antonioni
(1912-2007), conta a história de uma jovem mulher nos subúrbios de Roma, rompe
seu namoro com o escritor depois de uma noite conturbada, que atendendo sua mãe
que é viciada no mercado de ações, encontra um jovem corretor que tem uma
acentuada natureza materialista. Os dois começam um relacionamento
monossilábico que vai se desenrolando por trata. O destaque do filme é a atriz
italiana de teatro e cinema Monica Vitti,
presença sempre marcante nos filmes do cineasta. Este é um dos grandiosos
filmes que confirma a marca e o gênio do seu diretor. Veja mais aqui e aqui.
IMAGEM DO DIA
Todo dia é dia de homenagear a atriz,
miss, modelo e sex symbol sueca Anita
Ekberg (1931-2015)
Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do
programa Tataritaritatá, a partir das
21hs, no blog do Projeto MCLAM, com apresentação sempre especial e apaixonante
de Meimei Corrêa. Na programação: Aarre
Merikanto, Jerry Lee Lewis, Edson Natale, Emerson & Lake & Palmer, Oswaldo
Montenegro, Paul McCartney, Djavan, Sonia Mello, Hugo Branquinho & Milton
Nascimento, Lilian Pimentel, Magno Átimo, Monsyerrá Batista, Mu Chebabi, Ricardo
Machado, Cikó Macedo, Mazinho, Zé Linaldo, Chiko Queiroga & Ana Vitória, Daniel
Pissetti Machado, Denise Dalmacchio, Dido Oliveira, Eliane Bastos, Elisete
Retter and Ron, Jan Cláudio, Beto Saroldi, Meimei Corrêa, Fernando Fiorese, Kurt
Nilsen, Roberta Miranda, Tim Maia, Alexandre Machado, Jorge Medeiros, Wagner &
Wander Ponzo & muito mais. Em
seguida, o programa Mix MCLAM, com
Verney Filho e na madrugada Hot Night,
uma programação toda especial para os ouvintes amantes. Para conferir online
acesse aqui.
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