quinta-feira, setembro 24, 2015

A ARTE NA SAÚDE, MOZART, FITZGERALD, ARENDT, ALMODÓVAR, GILBERTO TELLES, GILDA ABREU, VALADON.

VAMOS APRUMAR A CONVERSA? O PAPEL DA ARTE NO DIREITO À SAÚDE – A Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, foi uma resposta às tragédias promovidas pelas duas grandes guerras que ocorreram na primeira metade do século XX, - muito embora, ainda hoje, o ser humano utilize o expediente lamentável da guerra. Esses direitos foram contemplados na condição de garantia fundamental e direito natural definidos pela escala evolutiva e histórica da humanidade, e que se tornaram a principal proteção da dignidade humana e sua integridade física, moral e mental. Assim, o ser humano passou a ser robustecido por direitos civis, sociais, políticos e difusos nas dimensões sociais, jurídicas, econômicas, políticas, antropológicas e psicológicas, entre outras. Esses direitos tornaram-se indispensáveis e necessários para a existência humana, assegurando a dignidade, a igualdade e a liberdade humanas, objetivando o combate à violação de direitos e crueldade totalitária. Assim, passou-se a compreender a dignidade designa o conjunto de condições favoráveis de caráter moral, física e espiritual à vida do cidadão, sendo, pois, prerrogativa de todo ser humano. Entre esses direitos está o direito à vida e, por consequência, à saúde, o mais básico de todos os direitos por ser um pré-requisito da existência humana, assegurando-se um nível mínimo de vida, compatível com a dignidade, incluindo, assim, o direito à alimentação adequada, à moradia, ao vestuário, à educação, ao meio ambiente equilibrado, à informação, ao conhecimento, à cultura e ao lazer, entre outros indispensáveis à qualidade de vida do ser humano. Por essa razão, esse direito compreende o bem-estar e a saúde plena, bem como à prevenção de doenças e ao cuidado e tratamento daqueles que são vitimados por quaisquer enfermidades ou infortúnios. É no reconhecimento desse direito que o papel da arte pode e deve ser fundamental, tanto na prevenção e promoção da saúde por meio da utilização dos mais diversos recursos e técnicas de expressão disponíveis para interação, relações e difusão do conhecimento, como no cuidado e tratamento na utilização, por exemplo, do Psicodrama, Sociodrama e de outras atividades identificadas como terapêuticas, em conjunto com outras intervenções necessárias ao restabelecimento e ao bem-estar físico, moral, social, ecológico e espiritual do ser humano. Esta é a condução adotada pelos Doutores da Alegria e de outras manifestações artísticas que definiram a sua função artística em prol do outro e do melhor desenvolvimento das relações humanas. Este foi o pensamento básico que tive ao desenvolver as atividades acadêmicas de pesquisa no projeto A contribuição do teatro no desenvolvimento da linguagem da criança, sob a perspectiva sócio-histórica, procurando agora aprofundar as intervenções tanto na esfera preventiva e de promoção da saúde, como na educação, no cuidado e no tratamento de enfermidades. Afinal, levo sempre comigo o lema proposto por Milton Nascimento/Fernando Brant: Todo artista tem de ir aonde o povo está. E veja mais aqui, aqui e aqui

 Imagem: Female nude, da pintora francesa Suzanne Valadon (1867-1938).


Curtindo Laudate Dominum, do compositor austríaco Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), com a ex-regente e renomada soprano Claudia Riccitelli, conducts León Halegua, The Orquestra Sinfônica & Coral da Hebraica, São Paulo.

A ARTE PARA SALVAR O MUNDO – O livro O cuidado com o mundo: diálogo entre Hannah Arendt e alguns de seus contemporâneos (UFMG, 2004), da professora e pesquisadora Doutora em Filosofia, Sylvie Courtine-Denamy, trata sobre dizer o mundo e a língua como pátria, estrangeiro no mundo, um mundo fora dos eixos, responder pelo mundo, a pol´tica como vir-a-ser-mundo, uma política nova pra um mundo novo, por amor ao mundo e a arte para salvar o mundo. Da obra destaco a última parte, a arte para salvar, da qual destaco o trecho: Educar por amor ao mundo: a permanência do mundo repousa, então, na natalidade, na renovação incessante das gerações, no nascimento de homens novos que tenham cuidado com o mundo. Ou seja, que sejam capazes de renová-lo através de sua ação, suceptiveis assim a dar inicio a algo novo [...] Que é melhor citar os poetas do que escrever sobre eles, tarefa entre todas a mais complicada, é o que Arendt havia compreendido muito bem. Como já vimos, a arte, o fenômeno do Belo não se extraem da categoria da verdade e da faculdade do conhecimento, mas da significação – Bedeutung, a mais goethiana das palavras [que] retornam sem cessar nos escritos de Benjamim – e da faculdade de pensar. [...] Tal como os bardos da Grécia antiga, convencidos de que os deuses só enviavam infortúnios e males aos mortais para que, dos mesmos, fossem compostas histórias e cantos, convencidos, enfim, de que a poesia nasce do desespero, esses grandes poetas compreenderam, então, que cabia a eles salvar o mundo, fazendo-lhe o seu elogio. Nem tanto para justificar a criação divina, mas para se opor a tudo que fosse fonte de insatisfação da condição humana, como se o elogio tirasse sua força das feridas mesmas: O Happy Grief! [...] Para manifestar o cuidado com o mundo, ocupando-se dele e assim salvando-o da ruina, os homens disporiam, então, de duas faculdades bem distintas: a ação política e o trabalho com a palavra, tanto pela forma do testemunho quanto pela forma do poema. [...]. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

ESTRANHO CASO DE BENJAMIN BUTTON – O livro O estranho caso de Benjamin Button (Presença, 2009), do escritor e roteirista estadunidense Francis Scott Fitzgerald (1896-1940), conta a historia de um homem que nasce com aparência envelhecida e por isso, ao pensar que é um monstro, seu pai o abandona. Ele é criado num lar assistencial de idosos e que ninguém acredita na sua sobrevivência, ocorrendo um fato curioso, a cada ano que passa ele vai ficando mais jovem enquanto os outros envelhecem. Da obra destaco o trecho: [...] Uma imagem grotesca surgiu, com terrível clareza, diante dos olhos do homem torturado, uma imagem de si mesmo a caminhar pelas ruas cheias de gente da cidade com aquela pavorosa aparição a andar silenciosamente ao seu lado. “Não posso. Não posso”, gemeu. O que diria às pessoas que parassem para lhe falar? Teria de apresentar este... aquele septuagenário: “Este é o meu filho, nasceu esta manhã, cedo”. Depois o velho apertaria o cobertor em volta do corpo e seguiriam o seu caminho, passando pelas lojas movimentadas, pelo mercado de escravos — durante um sombrio momento, Mr. Button desejou veementemente que o filho fosse preto —, passando pelas casas luxuosas do bairro residencial, passando pelo lar dos velhos... — Então! Controle-se! — ordenou a enfermeira. — Ouça — avisou, de súbito, o velho —, se pensa que vou a pé para casa embrulhado neste cobertor, está redondamente enganada. — Os bebês sempre usam cobertores. Com uma risadinha maliciosa, o velho levantou um pequeno cueiro branco. — Olhem! — exclamou a voz de cana rachada. — Isto é o que tinham para mim. — Os bebês sempre usam isso — sentenciou a enfermeira, presumidamente. — Pois bem — respondeu o velho —, este bebê não vai usar nada dentro de cerca de dois minutos. O cobertor dácomichão. Podiam ter-me dado, ao menos, um lençol. — Não o tire! Não o tire! — apressou-se Mr. Button a dizer. Depois voltou-se para a enfermeira e perguntou: — O que é que eu faço? — Vá à baixada e compre algumas roupas para o seu filho. A voz do rebento de Mr. Button seguiu-o pelo corredor afora: — E uma bengala, pai. Preciso de uma bengala. Mr. Button bateu brutalmente com a porta de saída... [...]. A obra foi adaptada para o cinema, pela qual ganhou diversos prêmios com direção de David Fincher, lançado em 2008. Veja mais aqui.

ELA E O DESEJO INDA OUTRA VEZ – No livro Hora aberta – poemas reunidos (Vozes, 2003), do poeta, advogado e professor universitário de Teoria da Literatura e Literatura Brasileira, Gilberto Mendonça Telles, destaco, inicialmente, o soneto Inda outra vez: Inda outra vez, beijar-te, como outrora, / ao sol dos dias flóridos de outono, ; quando a tua alma, tímida e sonora, / sorria alegre, sem vaidade e entono. / Inda outra vez, possuir-te no abandono / dos campos, sob o céu em plena flora, / e nos teus olhos pálidos de sono, / pousar minhalma sonolenta agora. / Inda outra vez, falar-te, com desejo, / sentindo a tua alma sôfrega e faminta, / entrar-me pela boca por um beijo. / E, sonhando, outra vez, ter-te nos braços, / tentando reavivar a chama extinta / do antigo e ardente amor feito em pedaços. Também o soneto Desejo: Alma de Messalina, alma sedenta sois. / Em vossa artéria, ardente, a lascívia circula / deixando em fogo a carne e indo lançar, depois, / a sensação na vossa intrínseca medula. / O amor vos encendeia os olhos (esses dois / reflexos de volúpia) e em vossa alma acumula / a sede do prazer insaciável, pois / vai despertando em vós libidinosa gula. / Alma de sensitiva, o vosso corpo explode / em sísmico tremor; uma explosão sacode / o vosso seio, quando a minha mão o toma. / Quando eu o tomo, assim em minhas mãos, sacode-o, / em lúbrico delírio, um misto de amor e ódio / e um fluxo de luxúria ao vosso olhar assoma. Por fim, o soneto Ela: Ela surgiu, qual Vênus, de alva espuma, / da espuma de meu sonho alcandorado, / do sorriso suavíssimo de alguma / onda inquieta de um mar esverdeado. / Ela vibrou em mim. Foi como um brado / que se eleva pelo ar, depois se esfuma, / deixando um som sereno, envolto numa / deliciosa impressão de ser amado. / E ela é bravia como um mar sem calma, / serena como um pensamento langue, / alegre e triste como uma saudade; / ela canta e suspira na minhalma, / ela geme, sorrindo, no meu sangue / num paradoxo de felicidade. Veja mais aqui e aqui.

BONEQUINHA DE SEDA DO ÉBRIO - A atriz, cineasta, cantora, escritora e radialista brasileira nascida na França, Gilda de Abreu (1904-1979), começou sua trajetória como atriz de teatro na comédia romântica Bonequinha de Seda, em 1933. Neste mesmo ano, casou-se com o cantor e compositor Vicente Celestino, com quem, em 1946, tornou-se uma das primeiras mulheres no Brasil a dirigir filmes, obtendo sucesso retumbante com o melodrama O Ébrio, contando a ascensão e decadência de um cantor de sucesso decepcionado sentimental e tragado pelo alcoolismo. Em 1934, ela atuou no musical A canção brasileira. A partir de 1936, integra a Companhia dos Irmãos Celestinos. Em 1937, atua na peça teatral Alegria, de Oduvaldo Vianna. Em 1947, ela dirigiu os dramas Pinguinho de Gente e Coração Materno, este último atuando como roteirista. Em 1951, realiza o documentário Chico Viola não morreu, sobre a vida e canções de Francisco Alves. Além disso, era autora das peças teatrais Aleluia, A mestiça, Arcad de Noé e Alma de Palhaço, entre outras, afora ser autora de diversos livros e radionovelas, bem como cantora lírica e de operetas. Veja mais aqui.

DE SALTO ALTO – O filme Tacones lejanos (De salto alto, 1991), do cineasta, ator e roteirista espanhol Pedro Almodóvar, conta a história de uma famosa cantora pop que há quinze anos abandonou a filha para investir na carreira. De volta à sua terra natal, surpreende-se ao descobrir que a filha é agora uma estrela de TV e que está casada com seu antigo amante. A mistura de gêneros pós-moderna com a extravagância das cores e a excentricidade dos objetos de cena, fazem as marcas profundas das características do cineasta com ampliação por territórios até então inexplorados, como um drama psicológico com uma narratiza eletrizada, comicidade melodramática com intriga policial e sobrepondo histórias pela difícil convivência entre mãe e filha, o destino, as paixões fulminantes, as irrupções cômicas, tramas e subtramas na maior irreverência. O destaque do filme vai para a atriz e cantora espanhola Victoria Abril. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

IMAGEM DO DIA
A arte do escultor português Arlindo Rocha (1921-1999)


Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do programa SuperNova, a partir das 21hs, no blog do Projeto MCLAM, com a apresentação sempre especial e apaixonante de Meimei Corrêa. Na programação: Em seguida, o programa Mix MCLAM, com Verney Filho e na madrugada Hot Night, uma programação toda especial para os ouvintes amantes. Para conferir online acesse aqui.

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MARIA RAKHMANINOVA, ELENA DE ROO, TATIANA LEVY, ABELARDO DA HORA & ABYA YALA

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Triphase (2008), Empreintes (2010), Yôkaï (2012), Circles (2016), Fables of Shwedagon (2018)...