CONVERSA AO PÉ DO OUVIDO – Escrever tem sido meu
exercício de existir. Foi-se o tempo em que era divertido conversar com outros.
Além das dificuldades de conversar, de dialogar pelo menos, de crescer com papos
coletivos e esclarecedores, empolgantes, agora não, estão todos sobrecarregados
de manifestações de queixumes e negatividades, um arrazoado quase
incomunicavel, pulando de assunto em tema para se tentar manter dialogicamente.
Tudo muito nivelado por baixo, quando não equivocado. Hoje não, quase solilóquios
de achismos a chover no molhado, quando não errôneas interpretações acerca
disso ou daquilo e mesmo daquiloutro. Tento abrir diálogos mas não consigo ir
além do monocordioso tudo bem, como vai, vez que não consigo encontrar quem
disposto a aprender ou dividir o que sabe num nível digamos tolerável,
superior, menos raso ou recheados de refutáveis e infundadas teorias de conspiração.
Sinto que todos estão contaminados pela mediocridade. Procuro então pessoas com
bom humor, com versatilidade e nível dialogal que não estejam aseentadas em
opiniões sectárias, pessoas elevadas, instruidas e que possam querer ou buscar pelo
aprimoramento. Contudo, percebo: não é no outro que há problema. Com a idade
tenho ficado impaciente, escuto o outro quando há algo de relevante no que é
dito, de revelador e, de preferência, libertador, bem humorado. Tenho disposição
para escutar, desde que seja algo mais verdadeiro, não apenas desabafos ou
exposição de indignações que não vão além da própria infelicidade, se pelo
menos abrissem a possibilidade do altruísmo. Sei que preciso ouvir mais,
entretanto é sempre tendenciosamente levado para a mesmice, superficial. Por falta
de quem conversar e ouvir, recolho-me e tento, então, comigo mesmo travar
qualquer que seja o diálogo possível com as paredes ou o que houver pelo
ambiente. Sei que sou chato, talvez metido demais, doido ou mentiroso. Outros tantos
aparecem do nada, não me acrescentam mais do que já sei. Assim converso com
meus próprios pensamentos, meus próprios erros, minhas derrotas recorrentes e a
necessidade urgente de um êxito que seja, um alívio qualquer, uma chance a mais
que me liberte, de uma sorte completa – não aos pedaços insuficientes e
insatisfatórias - e busco por mais acertos, afinal. Descubro assim que escrevo
inicialmente por não ter muito com quem trocar ideias. Tenho existido no que escrevo,
no que busco dizer falando comigo mesmo e me reinventando nesse diálogo. Escrevo
para organizar o que sou e identificar quantos sou além de emissor e receptor
de mim mesmo. E porque me encontro agora diane de uma situação de nenhuma
interação que, quando ocorre, está repleta de dissonâncias, incompreensões, desconfortos
e até antipatias. Escrevo para não apenas sufocar minhas insatisfações, para
que possa melhorar, possa reaprender e me superar, me legitimar e me amplie
como humano, mesmos sabendo da minha pequenez. Daí escrevo para ser menos
incapaz a cada dia, para almejar a capacidade de ser e estar acima de sentimentos
primitivos, com a satisfação de que há algo melhor e maior e possa ser e me
tornar melhor e mais do que sou, mais interativo, intuitivoi, amigável, terno e
mútuo na relação consigo mesmo e com tudo e todas as coisas. Escrevo para que
eu seja melhor e maior a cada dia. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.
Veja mais aqui e aqui.
DITOS & DESDITOS - Eu vim como a
maioria de nós - não sabendo nada e tentando aprender tudo... Quando você está
preparada para rejeitar a sabedoria convencional, aí tudo se abre para saber
mais... Não se importe muito com a conformidade.... Pensamento da atriz,
escritora e neurocientista estadunidense Mayim Bialik.
ALGUÉM FALOU - A morte é a abertura de uma vida
mais sutil. Na flor liberta o perfume; na crisálida, a borboleta; no homem, a alma... Pensamento
da escritora francesa Juliette Adam (1836-1936).
FILOSOFIA DA COMPOSIÇÃO – [...] Meu
pensamento seguinte referiu-se à escolha de uma impressão, ou efeito, a ser
obtido; e aqui bem posso observar que, através de toda a elaboração, tive
firmemente em vista o desejo de tornar a obra apreciável por todos. Seria
levado longe demais de meu assunto imediato, se fosse demonstrar um ponto sobre
o qual tenho repetidamente insistido e que, entre poetas, não tem a menor
necessidade de demonstração; refiro-me ao ponto de que a Beleza é a única província
legítima do poema. Poucas palavras, contudo, para elucidar meu verdadeiro pensamento,
que alguns de meus amigos tiveram inclinação para interpretar mal. O prazer que
seja ao mesmo tempo o mais intenso, o mais enlevante e o mais puro é, creio eu,
encontrado na contemplação do belo. Quando, de fato, os homens falam de Beleza,
querem exprimir, precisamente, não uma qualidade, como se supõe, mas um efeito;
referem-se, em suma, precisamente àquela intensa e pura elevação da alma - e
não da inteligência ou do coração - de que venho falando e que se experimenta
em conseqüência da contemplação do Belo. Ora, designo a Beleza como a província
do poema, simplesmente porque é evidente regra de arte que os efeitos deveriam
jorrar de causas diretas, que os objetivos deveriam ser alcançados pelos meios
melhor adaptados para atingi-los. E ninguém houve ainda bastante tolo, para
negar que a elevação especial a que aludi, é mais prontamente atingida num
poema. Quanto ao objetivo Verdade, ou a satisfação do intelecto, e ao objetivo
Paixão, ou a excitação do coração, são eles muito mais prontamente atingíveis
na prosa, embora também, até certa extensão, na poesia. A Verdade, de fato,
demanda uma precisão, e a Paixão uma familiaridade (o verdadeiramente
apaixonado me compreenderá), que são inteiramente antagônicas daquela Beleza
que, asseguro, é a excitação ou a elevação agradável da alma. De modo algum se
segue, de qualquer coisa aqui dita, que a paixão e mesmo a verdade não possam
ser introduzidas, proveitosamente introduzidas até, num poema, porque elas
podem servir para elucidar ou auxiliar o efeito geral, como as discordâncias em
música, pelo contraste; mas o verdadeiro artista sempre se esforçara, em
primeiro lugar, para harmonizá-las, na submissão conveniente ao alvo
predominante, e, em segundo lugar, para revesti-las, tanto quanto possível,
daquela Beleza que é a atmosfera e a essência do poema. Encarando, então, a
Beleza como a minha província, minha seguinte questão se referia ao tom de sua
mais alta manifestação, e todas as experiências têm demonstrado que esse tom é
o da tristeza. A beleza de qualquer espécie, em seu desenvolvimento supremo,
invariavelmente provoca na alma sensitiva as lágrimas. A melancolia é, assim, o
mais legítimo de todos os tons poéticos. Estando assim determinadas a extensão,
a província e o tom, entreguei-me à indução normal, a fim de obter algum efeito
artístico agudo que me pudesse servir de nota-chave na construção do poema,
algum eixo sobre o qual toda a estrutura devesse girar. Passando cuidadosamente
em revista todos os efeitos artísticos usuais, ou, mais propriamente, situações,
no sentido teatral não deixei de perceber de imediato que nenhum tinha sido tão
universalmente empregado como o do refrão. A universalidade desse emprego bastou
para me assegurar de seu valor intrínseco e evitou-me a necessidade de
submetê-lo à análise. Considerei-o, contudo, em relação a sua suscetibilidade
de aperfeiçoamento e vi logo que ainda se achava num estado primitivo. Como é
comumente usado, o refrão poético, ou estribilho, não só se limita ao verso
lírico, mas depende, para impressionar, da força da monotonia, tanto no som,
como na idéia. O prazer somente se extrai pelo sentido de identidade, de
repetição. Resolvi fazer diversamente, e assim elevar o efeito, aderindo em geral
à monotonia do som, porém continuamente variando na da idéia: isto é, decidi
produzir continuamente novos efeitos, pela variação da aplicação do estribilho,
permanecendo este, na maior parte das vezes, invariável. Assentados tais
pontos, passei a pensar sobre a natureza de meu refrão. Desde que sua aplicação
deveria ser repetidamente variada, era claro que esse refrão deveria ser breve,
pois haveria insuperáveis dificuldades na aplicação de qualquer sentença
extensa. Em proporção à brevidade da sentença estaria, naturalmente, a
facilidade da variação. Isso imediatamente me levou a uma só palavra como o
melhor refrão. Suscitou-se, então, a questão do caráter da palavra. Tendo-me
inclinado por um refrão, a divisão do poema em estância surgia, naturalmente,
como corolário, formando o refrão o fecho de cada estância. Não cabia dúvida de
que tal fecho, para ter força, devia ser sonoro e suscetível de ênfase
prolongada; e tais considerações inevitavelmente me levaram ao o prolongado,
como a mais sonora vogal, em conexão com o r como a consoante mais aproveitável.
[...]. Trecho extraído da obra A Filosofia da Composição (7 Letras, 2011), do
escritor norte-americano Edgar Allan Poe
(1809-1840). Veja mais aqui, aqui e aqui.
CARTAS - [...] Suponho que o teste de decência de
alguém é o quanto de luta alguém pode travar depois de parar de se importar e
depois de descobrir que nunca poderá agradar às pessoas que deseja agradar. [...] Mas
escrever é um negócio estranho. Se alguém faz algo que é preciso e
cuidadoso o suficiente para ultrapassar os limites, para se dedicar ao trabalho
que é levado a sério, é preciso ter um conhecimento incomum ou uma simpatia
peculiar pelos personagens com os quais lida. Não se pode escrever sempre sobre o
que mais se admira - você deve, por algum acidente, ter visto seu caráter muito
profundamente, e é esse acidente de intensa realização dele que dá tom e
distinção à sua escrita sobre ele, que o eleva. acima do lugar-comum, ou seja
[...] Parece-me que o
prazer que se sente numa obra de arte é apenas uma coisa que não é preciso
explicar. [...] A grande chave do sucesso é
trabalhar quando você não é adequado, imagino. [...].
Trecho extraídos da obra The
Selected Letters (Vintage, 2014), da escritora estadunidense Willa Cather
(1873-1947). Veja mais aqui, aqui & aqui.
DOIS POEMAS - I - Meu poema
começa para ninguém porque ninguém é absolvição \ todo mundo usa manchas
escuras \ aqui as coisas não acontecem são ditas naturalmente \ essas pessoas
tem pele de vitórias passadas não assimilam \ essas pessoas felizes sonham com
heróis da independência \ nesta cidade não mata-se \ música suave atravessa a
distância \ salmo profundo flutua no mais alto \ é a vigília do poeta que sonha
\ gato agachado na escuridão \ aspiro à outra margem \ esta orgia de cordas é
um cerco contínuo \ na verdade não me arrependo \ de algum lugar a vida sai de
sua retirada \ evaporando os fantasmas da véspera \ em algum lugar não aqui
essas pessoas estão felizes. II – quando já não é mais um corpo \ e não é nada \
infiltração ou \ ausência de pesadelo por onde passa às vezes \ amante que era \
uma boneca quebrada \ morte mórbida essa que não me deixa \ uma flor
intermitente para a lapela da sua camisa \ para que você não pense em me deixar
no exílio \ na confusão \ da única palavra. Poemas da poeta venezuelana
Lydda Franco Farías (1943-2004).