quinta-feira, março 06, 2014

POE, WILLA CATHER, LYDDA FRANCO FARÍAS, MAYIM BIALIK, JULIETTE ADAM, HUMOR & ESCREVER

 


CONVERSA AO PÉ DO OUVIDO – Escrever tem sido meu exercício de existir. Foi-se o tempo em que era divertido conversar com outros. Além das dificuldades de conversar, de dialogar pelo menos, de crescer com papos coletivos e esclarecedores, empolgantes, agora não, estão todos sobrecarregados de manifestações de queixumes e negatividades, um arrazoado quase incomunicavel, pulando de assunto em tema para se tentar manter dialogicamente. Tudo muito nivelado por baixo, quando não equivocado. Hoje não, quase solilóquios de achismos a chover no molhado, quando não errôneas interpretações acerca disso ou daquilo e mesmo daquiloutro. Tento abrir diálogos mas não consigo ir além do monocordioso tudo bem, como vai, vez que não consigo encontrar quem disposto a aprender ou dividir o que sabe num nível digamos tolerável, superior, menos raso ou recheados de refutáveis e infundadas teorias de conspiração. Sinto que todos estão contaminados pela mediocridade. Procuro então pessoas com bom humor, com versatilidade e nível dialogal que não estejam aseentadas em opiniões sectárias, pessoas elevadas, instruidas e que possam querer ou buscar pelo aprimoramento. Contudo, percebo: não é no outro que há problema. Com a idade tenho ficado impaciente, escuto o outro quando há algo de relevante no que é dito, de revelador e, de preferência, libertador, bem humorado. Tenho disposição para escutar, desde que seja algo mais verdadeiro, não apenas desabafos ou exposição de indignações que não vão além da própria infelicidade, se pelo menos abrissem a possibilidade do altruísmo. Sei que preciso ouvir mais, entretanto é sempre tendenciosamente levado para a mesmice, superficial. Por falta de quem conversar e ouvir, recolho-me e tento, então, comigo mesmo travar qualquer que seja o diálogo possível com as paredes ou o que houver pelo ambiente. Sei que sou chato, talvez metido demais, doido ou mentiroso. Outros tantos aparecem do nada, não me acrescentam mais do que já sei. Assim converso com meus próprios pensamentos, meus próprios erros, minhas derrotas recorrentes e a necessidade urgente de um êxito que seja, um alívio qualquer, uma chance a mais que me liberte, de uma sorte completa – não aos pedaços insuficientes e insatisfatórias - e busco por mais acertos, afinal. Descubro assim que escrevo inicialmente por não ter muito com quem trocar ideias. Tenho existido no que escrevo, no que busco dizer falando comigo mesmo e me reinventando nesse diálogo. Escrevo para organizar o que sou e identificar quantos sou além de emissor e receptor de mim mesmo. E porque me encontro agora diane de uma situação de nenhuma interação que, quando ocorre, está repleta de dissonâncias, incompreensões, desconfortos e até antipatias. Escrevo para não apenas sufocar minhas insatisfações, para que possa melhorar, possa reaprender e me superar, me legitimar e me amplie como humano, mesmos sabendo da minha pequenez. Daí escrevo para ser menos incapaz a cada dia, para almejar a capacidade de ser e estar acima de sentimentos primitivos, com a satisfação de que há algo melhor e maior e possa ser e me tornar melhor e mais do que sou, mais interativo, intuitivoi, amigável, terno e mútuo na relação consigo mesmo e com tudo e todas as coisas. Escrevo para que eu seja melhor e maior a cada dia. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui e aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Eu vim como a maioria de nós - não sabendo nada e tentando aprender tudo... Quando você está preparada para rejeitar a sabedoria convencional, aí tudo se abre para saber mais... Não se importe muito com a conformidade.... Pensamento da atriz, escritora e neurocientista estadunidense Mayim Bialik.

 

ALGUÉM FALOU - A morte é a abertura de uma vida mais sutil. Na flor liberta o perfume; na crisálida, a borboleta; no homem, a alma... Pensamento da escritora francesa Juliette Adam (1836-1936).

 

FILOSOFIA DA COMPOSIÇÃO – [...] Meu pensamento seguinte referiu-se à escolha de uma impressão, ou efeito, a ser obtido; e aqui bem posso observar que, através de toda a elaboração, tive firmemente em vista o desejo de tornar a obra apreciável por todos. Seria levado longe demais de meu assunto imediato, se fosse demonstrar um ponto sobre o qual tenho repetidamente insistido e que, entre poetas, não tem a menor necessidade de demonstração; refiro-me ao ponto de que a Beleza é a única província legítima do poema. Poucas palavras, contudo, para elucidar meu verdadeiro pensamento, que alguns de meus amigos tiveram inclinação para interpretar mal. O prazer que seja ao mesmo tempo o mais intenso, o mais enlevante e o mais puro é, creio eu, encontrado na contemplação do belo. Quando, de fato, os homens falam de Beleza, querem exprimir, precisamente, não uma qualidade, como se supõe, mas um efeito; referem-se, em suma, precisamente àquela intensa e pura elevação da alma - e não da inteligência ou do coração - de que venho falando e que se experimenta em conseqüência da contemplação do Belo. Ora, designo a Beleza como a província do poema, simplesmente porque é evidente regra de arte que os efeitos deveriam jorrar de causas diretas, que os objetivos deveriam ser alcançados pelos meios melhor adaptados para atingi-los. E ninguém houve ainda bastante tolo, para negar que a elevação especial a que aludi, é mais prontamente atingida num poema. Quanto ao objetivo Verdade, ou a satisfação do intelecto, e ao objetivo Paixão, ou a excitação do coração, são eles muito mais prontamente atingíveis na prosa, embora também, até certa extensão, na poesia. A Verdade, de fato, demanda uma precisão, e a Paixão uma familiaridade (o verdadeiramente apaixonado me compreenderá), que são inteiramente antagônicas daquela Beleza que, asseguro, é a excitação ou a elevação agradável da alma. De modo algum se segue, de qualquer coisa aqui dita, que a paixão e mesmo a verdade não possam ser introduzidas, proveitosamente introduzidas até, num poema, porque elas podem servir para elucidar ou auxiliar o efeito geral, como as discordâncias em música, pelo contraste; mas o verdadeiro artista sempre se esforçara, em primeiro lugar, para harmonizá-las, na submissão conveniente ao alvo predominante, e, em segundo lugar, para revesti-las, tanto quanto possível, daquela Beleza que é a atmosfera e a essência do poema. Encarando, então, a Beleza como a minha província, minha seguinte questão se referia ao tom de sua mais alta manifestação, e todas as experiências têm demonstrado que esse tom é o da tristeza. A beleza de qualquer espécie, em seu desenvolvimento supremo, invariavelmente provoca na alma sensitiva as lágrimas. A melancolia é, assim, o mais legítimo de todos os tons poéticos. Estando assim determinadas a extensão, a província e o tom, entreguei-me à indução normal, a fim de obter algum efeito artístico agudo que me pudesse servir de nota-chave na construção do poema, algum eixo sobre o qual toda a estrutura devesse girar. Passando cuidadosamente em revista todos os efeitos artísticos usuais, ou, mais propriamente, situações, no sentido teatral não deixei de perceber de imediato que nenhum tinha sido tão universalmente empregado como o do refrão. A universalidade desse emprego bastou para me assegurar de seu valor intrínseco e evitou-me a necessidade de submetê-lo à análise. Considerei-o, contudo, em relação a sua suscetibilidade de aperfeiçoamento e vi logo que ainda se achava num estado primitivo. Como é comumente usado, o refrão poético, ou estribilho, não só se limita ao verso lírico, mas depende, para impressionar, da força da monotonia, tanto no som, como na idéia. O prazer somente se extrai pelo sentido de identidade, de repetição. Resolvi fazer diversamente, e assim elevar o efeito, aderindo em geral à monotonia do som, porém continuamente variando na da idéia: isto é, decidi produzir continuamente novos efeitos, pela variação da aplicação do estribilho, permanecendo este, na maior parte das vezes, invariável. Assentados tais pontos, passei a pensar sobre a natureza de meu refrão. Desde que sua aplicação deveria ser repetidamente variada, era claro que esse refrão deveria ser breve, pois haveria insuperáveis dificuldades na aplicação de qualquer sentença extensa. Em proporção à brevidade da sentença estaria, naturalmente, a facilidade da variação. Isso imediatamente me levou a uma só palavra como o melhor refrão. Suscitou-se, então, a questão do caráter da palavra. Tendo-me inclinado por um refrão, a divisão do poema em estância surgia, naturalmente, como corolário, formando o refrão o fecho de cada estância. Não cabia dúvida de que tal fecho, para ter força, devia ser sonoro e suscetível de ênfase prolongada; e tais considerações inevitavelmente me levaram ao o prolongado, como a mais sonora vogal, em conexão com o r como a consoante mais aproveitável. [...]. Trecho extraído da obra A Filosofia da Composição (7 Letras, 2011), do escritor norte-americano Edgar Allan Poe (1809-1840). Veja mais aqui, aqui e aqui.

 

CARTAS - [...] Suponho que o teste de decência de alguém é o quanto de luta alguém pode travar depois de parar de se importar e depois de descobrir que nunca poderá agradar às pessoas que deseja agradar. [...] Mas escrever é um negócio estranho. Se alguém faz algo que é preciso e cuidadoso o suficiente para ultrapassar os limites, para se dedicar ao trabalho que é levado a sério, é preciso ter um conhecimento incomum ou uma simpatia peculiar pelos personagens com os quais lida. Não se pode escrever sempre sobre o que mais se admira - você deve, por algum acidente, ter visto seu caráter muito profundamente, e é esse acidente de intensa realização dele que dá tom e distinção à sua escrita sobre ele, que o eleva. acima do lugar-comum, ou seja [...] Parece-me que o prazer que se sente numa obra de arte é apenas uma coisa que não é preciso explicar. [...] A grande chave do sucesso é trabalhar quando você não é adequado, imagino. [...]. Trecho extraídos da obra The Selected Letters (Vintage, 2014), da escritora estadunidense Willa Cather (1873-1947). Veja mais aqui, aqui & aqui.


 

DOIS POEMAS - I - Meu poema começa para ninguém porque ninguém é absolvição \ todo mundo usa manchas escuras \ aqui as coisas não acontecem são ditas naturalmente \ essas pessoas tem pele de vitórias passadas não assimilam \ essas pessoas felizes sonham com heróis da independência \ nesta cidade não mata-se \ música suave atravessa a distância \ salmo profundo flutua no mais alto \ é a vigília do poeta que sonha \ gato agachado na escuridão \ aspiro à outra margem \ esta orgia de cordas é um cerco contínuo \ na verdade não me arrependo \ de algum lugar a vida sai de sua retirada \ evaporando os fantasmas da véspera \ em algum lugar não aqui essas pessoas estão felizes. II – quando já não é mais um corpo \ e não é nada \ infiltração ou \ ausência de pesadelo por onde passa às vezes \ amante que era \ uma boneca quebrada \ morte mórbida essa que não me deixa \ uma flor intermitente para a lapela da sua camisa \ para que você não pense em me deixar no exílio \ na confusão \ da única palavra. Poemas da poeta venezuelana Lydda Franco Farías (1943-2004).

 


TODO DIA É DIA DA MULHERComo já dizia a antropóloga, pensadora e psicóloga norte-americana Margaret Mead:  Sempre que liberamos uma mulher, libertamos um homem”. Veja mais aqui.


DOROA Dona Marcialita, distintíssima senhora Doro, tem sempre uma afirmação quando perguntam pelas qualidades do seu marido: - Faz muita coisa, nada que preste!

O PEIDO E A EDUCAÇÃO, SEGUNDO ERASMO DE ROTERDAM - Não é polido saudar um homem quando urina ou defeca. Faz mal à saúde reter a urina, convém despejá-la em segredo. Alguns recomendam ao jovem reter um peido contraindo as nádegas. Mas não! É errado contrair uma doença por querer ser educado. Se se pode sair convém fazer a distância. Caso contrário, deve-se seguir o velho preceito: encobrir o barulho com uma tosse” (Erasmo de Roterdam, De cibilitate morun Puerilium). Veja mais Momentos de Reflexão.

PORQUE CANTAR JÁ NÃO MUDA EM MANHÃQuando musiquei o poema do poetamigo Fernando Fiorese não poderia jamais prever que seria carregado posteriormente de muita alegria. Eis que fomos agraciados com um presente maravilhoso da Meimei Corrêa ao realizar o clipe que nos premiou. Obrigado, Fernando; obrigado, Meimei. Veja detalhes aqui

PESQUISA ALAGOASNos últimos dias foi encetada uma pesquisa para saber qual a ciência que o povo alagoano tem acerca de Graciliano Ramos. Uma numerosa equipe de pesquisadoras treinadas foi pros bairros, bares, avenidas, beira da praia, enfim, quase 3 mil moças foram de pranchetas na mão para fazer tal pesquisa. Com a apuração feita, 90% responderam que o  bairro é bom, mas anda abandonado de segurança, saúde, educação e etc e tal; 5% disseram que longe pra dedéu!; 3% disseram que é mais longe que o Infinito Bentes; 2% mandaram se lascar (entre outras coisas não mencionáveis para o decoro público, segundo a pudica pesquisadora). Como o Tataritaritatá não tem censura, para se ter ideia dessas outras coisas: 12.475 mandaram os pesquisadores treinadíssimos tomar no cu; 11.275 perguntaram: - Quem é esse? É o novo candidato ao governo do Estado nas próximas eleições?; 856 disseram estar apressados e que não tinham tempo pra porra nenhuma; 754 quando viram as perguntas logo perguntaram: - Que cancro da porra era isso?; pronto, esse foi o resultado, tirante as respostas que foram canceladas porque eram dos que sabiam de quem se tratava. O cancelamento se deu porque, entre os que sabiam, 12 eram baianos, 11 pernambucanos, 10 mineiros, 9 paraibanos, 8 cearenses, 7 potiguares, 6 capixabas, 5 maranhenses, 4 paraenses, 3 argentinos, 2 cariocas e 1 acreano que estava de férias. Moral da história: alagoano mesmo só gosta da vida dos outros.

A PRIMAVERA DE GINSBERG: VALENDO MAIS QUE NUNCA! A terra é redonda e, ainda assim, cagam pelos quatro cantos do mundo. PS: esse é um papo pro Tocha Humana.


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