quinta-feira, março 13, 2014

ANNE LAMOTT, IRENE GRUSS, NATALIE GOLDBERG, JÚLIA LOPES & BALSA DA MEDUSA



A BALSA DA MEDUSA - Um acontecimento trágico na história da humanidade foi registrado no ano de 1816, mais precisamente na manhã do dia 2 julho, quando a fragata Medusa, a mais moderna e mais rápida embarcação de então, comandada por Hugues Chaumareys, um protegido do rei francês Luis XVIII, naufragou na costa oeste da África, nas proximidades do Marrocos. O naufrágio tornou-se um escândalo político, principalmente porque o navio pertencia à chancela governamental com o objetivo de transportar colonos franceses para o Senegal. Atribuem as causas de tal naufrágio à superlotação e à imperícia do comandante. É que a navegação contava com aproximadamente 400 passageiros a bordo, quando cabiam, na verdade, bem menos que isso. E como não havia botes salva-vidas suficiente para todos, os destroços serviram de embarcação, transportando cerca dos 149 sobreviventes que singraram precariamente à mercê da sorte. Com o naufrágio, vários sobreviventes começaram a se digladiar motivados pela fome e pela sede. Na primeira noite, 20 deles caíram e se afogaram nas águas do oceano. No segundo dia, 65 deles foram abatidos a tiros por oficiais por se encontrarem ensandecidos. Era preciso ordem naquele momento crucial. A liderança entre os náufragos foi assumida pelo médico francês Jean-Baptiste Henry Savigny que passou a administrar os sobreviventes, ministrando água do mar com urina para combater a desidratação. Os que não resistiram, tiveram seus corpos dissecados e suas carnes dependuradas para secagem ao sol e, posteriormente, serem consumidos para suprir a carência alimentar. Mais 13 dias depois, restaram apenas os 15 sobreviventes que, à deriva, foram salvos por um pequeno navio mercante, o Argus.
O evento trágico inspirou o pintor e litógrafo do Romantismo francês Théodore Gericault (1791-1824) a criar a obra à óleo sobre tela, a sua obra-prima: “A balsa da Medusa” (em francês, La Radeau de La Méduse), hoje exposta no Museu do Louvre, em Paris. Esta obra nasceu depois da pesquisa e investigação realizada pelo próprio artista plástico, entrevistando sobreviventes que foram submetidos às mais lastimáveis situações, como a fome, a sede, o canibalismo e a loucura. Também incluiu nos seus estudos corpos e destroços que foram pesquisados minuciosamente pelo artista. Nessa tela romântica, o desespero e a esperança estão expostas, atitude característica dos que se rebelavam contra o predomínio do período racionalista neoclássico, instaurando o Romantismo como movimento proeminente e estético que surgiria na Europa e alcançaria todo Ocidente. A obra marca o inicio da Era da Sensibilidade onde a classe artística recheava sua obra carregada de intuição e emoção, perseguindo paixões e uma vida intensa de ideais.
Na luta pela sobrevivência, várias adversidades são enfrentadas. Nos momentos mais deprimentes, as atitudes humanas surpreendem pela possibilidade da barbárie, onde a selvageria se sobrepõe à racionalidade humana. São nos momentos cruciais da vida que as atitudes e comportamentos mais imprevisíveis vêm à tona. Uma dramática experiência na vida leva a condução humana ao extremo de desespero, desilusão e pânico. Por resultado, surgem os desânimos, traumas, desesperança e sofrimento, quando não se deixam abater pela desmotivação. Diante das dificuldades da vida, muitos se dão por vencido e se deixam levar à mercê da negatividade dos caminhos tortuosos da tristeza, angústia e sofreguidão. Não vêem saídas e por isso sucumbem ou praticam os mais absurdos atos. No entanto, a lição que fica desses acontecimentos é que os momentos difíceis da vida são ensinamentos inestimáveis. E estes servem para a resiliência, a motivação da superação. Por isso a resiliência está tão em voga, porque é preciso que cada um enfrente garbosamente seus desafios, independente da vitória ou da derrota dos objetivos, superando todas as adversidades com altiva determinação. Afinal, a vida prossegue para os que insistem, resistem e perseveram.

 


DITOS & DESDITOS - Esta é sua vida. Você é responsável por isso. Você não viverá para sempre. Não espere. Confie naquilo que você ama, continue a fazer isso e isso o levará aonde você precisa ir. A vida não é ordenada. Não importa o quanto tentamos fazer isso, bem no meio disso morremos, perdemos uma perna, nos apaixonamos ou deixamos cair um pote de compota de maçã. O estresse é basicamente uma desconexão da terra, um esquecimento da respiração. O estresse é um estado de ignorância. Ele acredita que tudo é uma emergência. Nada é tão importante. Apenas deite-se. Os escritores acabam escrevendo sobre suas obsessões. Coisas que os assombram; coisas que eles não conseguem esquecer; histórias que eles carregam em seus corpos esperando para serem liberadas. Meu objetivo é escrever todos os dias. Eu digo que é o meu ideal. Tenho cuidado para não julgar ou criar ansiedade se não o fizer. Ninguém vive de acordo com seu ideal. Pensamento da escritora e pintora estadunidense Natalie Goldberg. Veja mais aqui.

 

ALGUÉM FALOU - O sentimento e a imaginação nas mulheres só servem para a dor... A mocidade passa e o dinheiro foi inventado para se gastar... Pensamento da escritora, teatróloga e abolicionista Júlia Lopes de Almeida (1862-1934). Veja mais aqui e aqui.

 

INSTRUÇÕES DE OPERAÇÃO - [...] E senti como se meu coração estivesse tão completa e irreparavelmente partido que não poderia haver alegria verdadeira novamente, que na melhor das hipóteses poderia eventualmente haver um pouco de contentamento. Todo mundo queria que eu buscasse ajuda e voltasse à vida, juntasse os cacos e seguisse em frente, e eu tentei, eu queria, mas só tive que ficar deitado na lama com os braços em volta de mim, os olhos fechados, de luto, até que eu não precisava mais. [...] Não me lembro quem disse isso, mas realmente existem lugares no coração que você nem sabe que existem até amar um filho. [...]. Trechos extraídos da obra Operating Instructions: A Journal of My Son's First Year (Anchor, 2005), da escritora e ativista progressista estadunidense Anne Lamott. Veja mais aqui.

 

DOIS POEMASQUEM TIRA O QUE EU DANCEI? - Peço peras do olmo. Eu os provo: \ são deliciosos. \ Pedi um gato por uma lebre; \ Eles deram para mim. \ Contaram-me \ histórias libidinosas à meia-noite; \ Ele gostou de cada palavra, \ cada gesto. \ Amei a noite em que amanheceu, \ amei a morte e sonhei com a realidade.EU CONTEI… - Contei nos dedos \ as vezes que tive, não as vezes que amei. \ As pontas dos dedos \ me encaravam, as linhas \ da mão riam (será que amei \ o que tinha? Será que quis dizer \ que quero um pouco \ disso ou daquilo, \ ganhei, perdi tanta \ generosidade?). \ Agora que me agarro \ ao que tenho - como um pouco \ de nada -, \ vejo linhas que uma zombaria descarta, \ e lentamente, com ternura, abro o \ punho, deixo \ a areia cair, pego-a novamente. Poemas da poeta argentina Irene Gruss (1950-2018).

 


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