A arte do pintor israelense de origem biolerrussa Leonid Afremov (1955-2019). Veja mais
aqui e aqui.
O TANGO NOTURNO MOLHANDO O DESEJO - Imagem: Joyful
Tango, by Leonid Afrenov – Ah, a
presença feminina sempre me fascinou, perseguindo as minhas mínimas horas.
Havia sempre uma presença desejada de mulher, o jeito menina, a artimanha de
moça, o mistério de grandeza anatômica e anímica. Eu me desconcertava com isso,
buscando jacea, aquele brilho eterno de equilíbrio interior e satisfação
carnal. Se não conseguia raciocinar, me desarrumava arrumando por dentro
qualquer forma para delinear a vida desencontrada. E era vez em quando que me
pegava sonhando a mencionar-lhe o velacho, sussurrando na minha loucura
frustrada em busca de malacias para demover os fragmentos que insistia se
despedaçar de mim. E mais me desarrumava o tino com imagens loucas e sedentas
de quem alcançava o paralogismo de ser feliz a qualquer custo, com uma bela e
linda e nua mulher que seria a minha Calipedia, a Valéria Monteiro da minha
estimação, o meu caminho do gol, a minha Juliete Binoche depravada, a minha
bela pinups que me encaminharia a um orgasmo de 244 milivolts de descarga na
erupção final do meu vulcão e o prazer de curtir naquele momento o meu devaneio
mais completo e de olhos abertos, enlouquecido e com o amor sendo a minha
camisa de força. Era uma quimera linda de morrer onde eu a seguia caminhando na
noite estrelada pelas luzes da cidade em polvorosa com seus semáforos de seguir
e ficar, os seus edifícios acasalando alegrias e dores e um bandoneón solando
ao meu ouvido, acompanhado de um violino em tons pungentes, os faróis
encandeando, os passos dela se movendo com uma firula nas pernas, dançando no
meu palco imaginário, serpenteada com várias polegadas de salto. Eu me
deleitava com aquela figura etérea e demoníaca que mirabolante vestia-se em um
daqueles tubinhos que menos cobrem o que mais enaltece na figura de uma mulher:
vermelho de alcinha combinando com o batom dos lábios rubros e o sapato salto
agulha, hipnotizando, fetichista. E passava uma das pernas à minha cintura,
arqueava-se sentando de costas no meu ventre, sobre as minhas coxas, no meu colo,
respirando rente o meu rosto e insuflando o seu perfume, o seu hálito, a sua
vitalidade, era muito real para ser mais uma mentira capturada. E rodopiava
real no tablado do meu coração, abrindo uma das pernas que vinha arrastando o
bico do sapato até encontrar a minha intimidade, a dar volteios e cobrando
envolver sua cintura. Ah, eu não sabia dançar, nunca soube, ela roçando o pé
entre as minhas coxas, meu desejo insone, o calcanhar enovelando-me entre o
ventre, uma sentada, um gancho duplo, a parada, o volteio e o arremate: um só
corpo de quatro pernas, um jogo sedutor me dando o prazer de curtir o seu ar
sensual. A sua mão esquerda sobre o meu ombro. A outra, segurando com graça a
minha mão num solo de Piazzola por testemunha e eu protagonizando a cena, o
corpo contorcido, o pé direito até o joelho abrindo-se o vestido vermelho-negro
a mostrar-lhe sutilmente as intimidades, corpo belo, solto, um cello, um piano,
um violão, um violino, um bandoneón, e eu afungentando a solidão, a ponte
enquanto a pele, ah, ela dançava frente o espelho, deitava-se sobre uma mesa e,
num ímpeto abracei suas pernas longe do barulho da humanidade até que num golpe
extremo uma de suas pernas passou-me o ombro, o ventre colado no meu, quase em
pé, mostrando a entrega mais inteira de uma alma e de uma vida a descortinar-me
o elo perdido. Deitei-me sobre o seu corpo, levantei-lhe a saia e a minha
língua como uma drosófila sobre seu púbis, a minha prenda, estimação preferida,
dando um ar de êxito à nossa química. O zíper do seu vestido escorrendo, minha
vista só flagrava o seu arabesque, os fouettés, pas-de-deux, o corpo de baile
exclusivo para mim, a coreografia única do desejo: a pele cobre oliváceo das
paquistanesas, a própria efígie do pecado, oh, minha Ana Botafogo! Aquela leveza,
o aprumo, o flair, aquele maleável jeito de catwalks driblando meu fuso horário
de forma espetacular, oh, sex simbol da minha fantasia. Era tudo real e eu nem
discernia de nada. Tivera a oportunidade e dela fazia questão de me jogar de
cabeça, afogando voluntário. E se me entorpeci dormi menino feliz nos sonhos
mais angelicais que pudera ser a mim concedido. Ah, mulher, eu jamais poderia
ser feliz sem essa presença onímoda, oh minha cajila desejável que redimiria o
meu abandono e traria luz ao obscuro destino tresloucado da minha estabanada
existência. Oh, minha panacéia escondida no mais remoto dos dédalos
incognoscíveis, se eu tivera algo de mim fora roubado por sua querência
inaudita. Somente ela com um estalido forte a roubar o devaneio, aquela
deliciosa mulher, aquela Perséfone que aprontara comigo e me fazia presa fácil
a quem sempre errara de amar. Era a minha insanidade mental queimando sedenta a
rever-lhe onírica vestida agora numa colorida indumentária como uma dançarina
tailandesa, uma coroa prateada na cabeça, uma vestimenta de renda bordada nos
ombros, uma saia curtinha de diversas cores, a saborear de um licor de
jenipapo. Meu membro endoidecia e ardia meu desejo a ter-lhe no casting das
beldades, transgredindo minha lucidez e à serviço da sedução. E causava em mim
um frisson aquela saia 40 centímetros acima do joelho e eu na maior azaração.
Fazia dela presença e imaginação: um corpo escultural de Rodin. Um heliponto
onde eu queria aterrissar nesse corpo com a sede de séculos. Eu seu lobo mau,
minha granada matreira germinando como se estivéssemos num chalé distante e
abandonado, curtindo um fundue regado a vinho do Porto. Seduzia-me mesmo e com
aquele lance quando se descruzava as pernas eu incendiava buscando a sua mina
de ouro que eu queria demais explorar, e como queria, se não houvesse uma
distância cislunar entre nós. Não, eu não me desvencilhava da perspectiva e
afinava a luz com o meu desvario de Carlos Saura a flagrar-lhe as mais
indecentes poses. Eu abusava dos closes, explorava sua gesticulação e
armazenava na tv imaginária do meu cérebro: o meu sexo atravessando a sua carne
e os sussurros aos beijos chupados de todos os desejos catados no gozo de nossa
agonia amorante. Se enlouquecia? Delirava. É sempre muito aprazível a presença
delicada de um corpo nu de mulher. © Luiz
Alberto Machado. Direitos Reservados. Veja mais aqui & aqui.
DITOS & DESDITOS - Que segredo tão
árduo e tão profundo: nascer para viver, e para a vida faltar-me quanto o mundo
tem para ela! e não poder perde-la, estando tantas vezes já perdido. Não se
aprende, senhor, na fantasia, sonhando, imaginando ou estudando, senão vendo,
tratando e pelejando. Pensamento do poeta
lusitano, poeta Luís de
Camões (1524-1580). Veja mais aqui & aqui.
ALGUÉM FALOU: A complacência é
uma atitude bem mais perigosa que o ultraje. Pensamento da escritora e música Naomi Littlebear Morena, autora
do hino feminista de resistência Você não
pode matar o espírito, que foi cantado por mais de 30.000 mulheres no Campo
de Paz das Mulheres de Greenham - Berkshire, Inglaterra, na
década de 1980.
ANTÍGONA
– [...] A dor de Antígona nos alcança não
só como um símbolo de liberdade de consciência, mas de devoção filial, de
desafio feminino às amarras sociais, de amor fraterno e até mesmo de autossacrifício
[...] Pela metade da noite, quando
sozinha cobria a sepultura com ritos que deviam ser celebrados em honra do
falecido, os guardas a detêm por haver violado as leis da cidade. Creonte a
condena a morrer enterrada viva em uma caverna, apesar dos rogos de seu próprio
filho Hémon, prometido em casamento a Antígona. [...]. Trechos extraídos da
obra Mulheres, mitos e deusas: o feminino
através dos tempos (Aleph, 2006), da socióloga, escritora e professora mexicana Martha
Robles. Veja mais aqui, aqui e aqui.
MEMÓRIA PARA USO DIÁRIO – O premiado filme Memória Para Uso Diário (2007),
dirigido pela cineasta Beth Formaggini, documenta a luta do grupo Tortura
nunca mais a partir de pessoas comuns que, apesar das memórias
traumáticas, fazem questão de lembrar e de fazer com que suas histórias não
sejam esquecidas, em que uma mulher, cuja história é acompanhada ao longo de
todo o filme, busca evidências para a prisão de seu marido pelo governo
brasileiro e está desaparecido desde 1975. Para os personagens, conferir outros
sentidos ao passado não é só buscar reparação aos atingidos pela violência do
Estado; não é apenas denunciar e levar ao julgamento os responsáveis pela
violação dos direitos humanos. É, sobretudo, passar a ser protagonistas na
narrativa da história, apostando em outros mundos possíveis. Uma memória que
aponta para o futuro, suas idas e vindas se misturam às ações de militantes e
parentes das vítimas da ditadura, que reconstroem suas histórias pelas ruas e
cemitérios clandestinos do Rio de Janeiro, em um esforço grupal situado entre
esquecimento e memória. A obra se constrói como uma trança e, assim, vários
fios da vida se encontram. Veja mais aqui e aqui.
DOIS POEMAS - Não tenho
imaginação você diz / Não. Não tenho língua. / A língua para clarear / minha
resistência ao literato. / Palavras são uma guerra para mim. / Ameaçam minha
família. / Para conquistar a palavra / para descrever a perda / arrisco perder
tudo. / Posso criar um monstro / as palavras se alongam e tomam / corpo / inchando
e vibrando em cores / pairando sobre minha mãe, / caracterizada. / Sua voz na
distância / ininteligível iletrada. /
Estas são as palavras do monstro. II
- Entenda. / Minha família é pobre. / Pobre.
Eu não posso comprar / uma fita nova. As marcas / desta são suficientes / para
me manter movendo / dentro dela, responsável. / A repetição como as histórias
de / minha mãe / recontadas, cada vez / revela mais
particulares / ganha mais familiaridade. / Você não pode me levar em seu / carro
tão velozmente. Poemas
da escritora, feminista, ativista e dramaturga mexicano-estadunidense Cherríe Moraga, que faz parte do corpo
docente na Universidade de Stanford, no Departamento de Teatro e Estudos
Comparativos em Raça e Etnia.
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mais sobre:
Salgadinho
& Psicologia Ambiental, Eça de Queiroz, Franz
Schubert, Harvey Spencer Lewis, Alberto da Cunha Melo, Lope de Vega, Wilhelm Kempff, Guel Arraes, Paul Murry, Antonius
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CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Leitora Tatatritaritatá em festa depois do tango.
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