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segunda-feira, março 11, 2019

IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO, DAREL VALENÇA LINS, CHELPA FERRO, POETA PICA PAU, VALE DO UNA & IGARAPEBA.


O NORDESTINO POETA PICA PAU – Lá pelo início dos anos 1970, conheci aquele que vinha zambeta de venta empinada pela Rua Nova, carregando baldes atrás de lavagem pra porcos. De casa em casa gritava: Tem lavagem? De dentro vinha resposta, postiva ou negativa e, dependendo disso ele se ria ou saia maldizendo tudo. Era, então, Zé Pilintra e não arriava na beca, prumode o quê?: Prumode que é que é, qui nós home mata a mata? / Se a mata nus encanta, lugar onde o pássaro canta / com a lenda do Pai da Mata. / Quanto mais se mata a mata, a mata se consome / o home matando a mata, a mata ao home faz falta / e o mundo sentindo fome. / A mata senta a falta do grande potencial / da madeira do angico, e também do tico-tico / do bico do Pica Pau. Isso prova que mesmo parecendo um chato arengueiro, era cabra, no fundo, gente boa, só que se amostrava com a peste: Sou cria da mesma praça / que criou-se Giramundo / da terra sou oriundo / de um trovador de raça / eu sou pão da mesma massa / de um cantador esperto / sou troncho, torto sou certo / sou leso e não sou banana / mas sou a Besta Fubana / do escritor Luiz Berto. Era os tempos de estudante do Ginário Municipal, das estripulias licenciosas e maloqueragens adolescentes. Pois bem, tempo vai, tempo vem, a gente se danou na buraqueira do mundo e, uma década depois, se reencontra: pinga, meiota, cajá, caju, siriguela, bunda de tanajura e lavando tudo com cerveja, pilhéria, versejada e uma viola de 12 cordas Del Vecchio no meio da camaradagem. Diz ele que eu afanei o instrumento desencordoado, não foi, na verdade. Queria mesmo dar umas cipoadas boas no instrumento pra ver se aprendia direito. Não deu, nunca passei de poetastro, mas graças a ela, um dia depois de uma tocada boa, lá ia eu desprevenido pela rua e um cão que parecia um leão me atacou e nela me protegi. Resultado: do medo e quase que cagado, o ataque torou o braço da viola no meio que até hoje está num canto da casa de um consertador amigo. Por conta disso, a gente manga um do outro até hoje: eu das minhas besteiras de bestão tapado sem competência no métie; ele, da sabedoria, não perde uma, desaforo que seja, na ponta da língua arrelia de cima sem arriar no badalo: Guará gago não gagueja, e gato gago não mia. Eu que sempre fui um poeta de água doce, nunca acompanhei os motejos poéticos dele: Um grande furacão eu enfrentei / me deparei sem querer com um vulcão / antes de entrar em erupção / nas entranhas da terra emburaquei / quando nas placas tectônicas passei / o segredo já estava desvendado / os minérios que foram encontrados / são riquezas do poder da natureza / observando assim toda beleza / quando dei fé já tava do outro lado. De tão metido, vez em quando, no meio das pinoias e trocas de ofensas, ele sapecava no pau da minha venta um acrótisco: Não há dinheiro que pague / o valor que a gente tem, / ricos de literatura / dádiva de Deus amém, / ensinamento divino / sapiência do além, / talento cabra da peste / inspiração com encanto / nunca sentimos tanto / orgulho deste Nordeste. Jogava mais na minha lata o quanto honrava a tradição instaurada pelo poeta Manuel Bentevi: Me criei com o Pai da Mata / e Cumade Fulosinha / levei a vida todinha / vendo o Saci Pererê / Bumba meu boi pra se ver / tem a Mula sem Cabeça / espero que não esqueça / do meu tempo de menino / vou seguindo meu destino / levando a lenda às alturas / o folclore é a cultura / de um povo nordestino. / Baião de Luis Gonzaga / xaxado de Lampião / são danças da região / que deixa a gente animado / pastoril coco de roda / maracatu e reisado / lá na festa do Divino / se ouve o bater do sino / convidando as criaturas / o folclore é a cultura / de um povo nordestino. Pra você ter uma ideia, o sujeito não cabe em si de tão folgado, não deixando qualquer loa sem os respectivos bregues: Encontrei uma aguardente / cana boa de Sergipe / curava tosse e gripe / até tristeza da gente / com uma dose somente / suavizava um rouco / pra quem bebesse pouco / era remédio e curava / mas pra quem exagerava / era pô bôrocotôco. Feito pinto no lixo em qualquer faustoso repasto, o enxerido solta uma lapa de língua e saçarica ineivado: Chapéu de otário é marreta / comer de esperto é mingau / quem é otimista sonha / o realista é quem faz / quem trabalha Deus ajuda / cochichou cachimbo cai [...] Tristeza traz depressão / e toda dúvida é incerta / a chuva fina não molha / depois da curva vem reta / com rimas de faz poesias / inspiração d’um poeta. E para mais me humilhar, arruma a gola no vinco e a fivela nos quartos, enche o pulmão com afinco e se amostra todo ancho cheio do Tataritaritatá: Joaninha a filha mais nova / de Gregório cabra danado / que quando ficava zangado / leva 1, 2,3 pra cova / eu quis tirar essa prova / lhe chamei pra namorar / ela disse vou aceitar / mas tenho quase certeza / que meu pai vai te matar / eu fiz uma festa daquelas / embriaguei o pai dela / me agarrei com a donzela / e tari, tari, tari, tatá. Não para por aí, afina o gogó e pisa forte no martelo: Uma casa de taipa chão batido / o terreiro arrudiado de fulô / na janela uma cortina de tricô / uma cerca de arame retorcido / uns cabritos no pasto distraídos / no alpendre alguém bate o pilão / no roçado a dibúia de feijão / no fogão a panela à cuziar / e sem ter como isso registrar / tirei foto com a imaginação. Pois bem, esse alagoano de Passo de Camaragibe chegou menino em Palmares, fincou os pés no chão proseando descarado: O tum, tum tum no pilão / de longe se escutava / na chaleira mão botava /  o pó e água no fogão / com fartura de montão / para mesa ela trazia / a gente se reunia / pro alimento primeiro / ainda hoje eu sinto o cheiro / do café que mão fazia. Montado numa lapa de bigode não para no amostramento: Alerto as autoridades, / e doutores competentes / para voltasse ao sistema / que já salbou muita gente / porém com estilo ótico / vi no diagnóstico / que o SUS está doente. Com o tempo, como um bom embeiçador da tirana, tornou-se técnico em produção de açúcar e álcool e, também, em logística e gestão de pessoas. Graduou-se em Teologia para ampliar seu arcabouço intelectual: afinal, pro cabra ser bom tem que entender de tudo, até das coisas do outro mundo que ele se diz doutor. Publicou uns livros. Destes, eu tenho um livro e um cd: Feitos d’versos (Outras Palavras, 1995) e Umas & outras. O restante deles, não sei se por pirangagem da sua mão de figa, nem eu tenho, nem na biblioteca ou na Academia onde ele ocupa uma das cadeiras de imortal, podem ser encontrados: Sussurros da mata (Bagaço, 1986), Num rio de poesias (Universitária, 1987), Despertar no rincão, Matutando na literatura e Prosa de terreiro. S’assente, meu véio, faça isso não. Agora ele reaparece com a obra Nordestino sim senhor (JC, 2018): Tinha um rio, uma pedra, e um peixe / o rio corria, a pedra crescia, o peixe nadava / a agua batia e a pedra molhava / e na correnteza a peixe subia / o rio foi poluído / a pedra explodida / e o peixe sumido / puta que pariu, quem diria! Só tenho agora uma coisa a dizer: esse é dos bons, afianço (quem sou eu? Ah, bicho besta metido às pregas), esse José Maria Sales, o poetamigo Pica Pau. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS: O QUE É SER BRASILEIRO
[...] e não me senti brasileiro. O que é ser brasileiro? Tomar deste sorvete? Falar português? Levar vantagem, guardar dólar para valorizar, aceitar passivamente a inflação, aplicar no open, invejar a corrupção impune, usar tanga minúscula exibindo os pentelhos, saber estourar pipoca, jogar na loto, saber com quem está falando, procurar mordomia, assistir ao Fantástico, ter caderneta de poupança, tomar rabo de galo, achar caipirinha de vodca o máximo, fritar linguiça de porco, não pagar prestação da casa própria, se pendurar num emprego público, ter sucesso, adorar voleibol, ter todos os cartões de crédito, comer abobrinha, mandioca frita, dar um jeitinho, ter um contrabandista amigo para as bebidas, curtir o carnaval, usar jeans com grife estrangeira, fingir que não se incomoda com o que Roberta Close tem no meio das pernas, ter fé em Nossa Senhora Aparecida, ser doutor, mentir como o governo, acreditar na macumba, sacanear, desmentir como o governo, devorar dobradinha às quartas-feiras e feijoada aos sábados, adorar bundonas, dizer que come todas as mulheres, acreditar que ninguém pode com o brasileiro? [...].
Trecho extradído da obra O beijo não vem da boca (Global, 1985), do escritor e jornalista Ignácio de Loyola Brandão, Veja mais aqui, aqui e aqui.

A ARTE DE DAREL VALENÇA LINS
É a cor que muda as sensações e o clima do acontecimento. Pode atribuir um clima dramático, ou poético, ou sombrio. Pensamento de Darel Valença Lins
As prostitutas [...] dizem coisas através da maneira como se vestem, o que traduz o interior de cada uma delas [...] Não é por necessidade erótica que fico atraído pelo tema, mas pela forma, pelo sensualismo das roupas, do penteado, da maquilagem. Esses aspectos me causam grande interesse visual e muito pouco sensual. Muita gente procura fazer sensacionalismo, como se eu fosse um cara que frequentasse habitualmente os bordéis, tomasse absinto e enchesse a cara [...] Trechos de uma entrevista de Darel Valença Lins ao Jornal Auxiliar, São Paulo, 01/07/1985.
[...] As cidades inexistentes que ele cria e que parecem despovoadas, os seres humanos esmagados pela máquina – e tudo isso na atmosfera penumbrosa do sonho, um realismo que nós reconhecemos como se fosse nosso: beleza e pesadelo marcam a obra de Darel. Como se podem unir estas duas palavras – só Darel sabe porque ele vive seus sonhos, não como homem irreal, mas como um homem. Quem habita as enormes cidades, senão o próprio Darel que as sonha e idealiza? Sonhar e idealizar são o ideal de um homem, de uma mulher. Em Darel, além da parte artística propriamente, há uma preocupação com a totalidade do ser humano em sua plenitude. O choque impotente do indivíduo diante da máquina. As cidades escuras onde uma ou outra janela de luz acesa atestam que elas são habitadas. Psicanalisando ou não, trata-se de um grande artista e tenho que falar no resplandecente mistério de sua obra. Dela emana, tanto da gravura, quanto do óleo e do desenho o grande mistério de viver [...] Palavras da escritora Clarice Lispector, em Diálogos Possíveis. Darel, revsita Manchete, São Paulo 07/1978.
A arte do premiado gravurista, pintor, desenhista, ilustrador e professor Darel Valença Lins (1924-2017), que foi professor da Enba, Faap e Masp, atuou como ilustrador em diversos periódicos, como a revista Manchete, Senhor e Playboy, e os jornais Última Hora e Diário de Notícias, entre outros. Foi encarregado das publicações da Sociedade dos Cem Bibliófilos do Brasil, ilustrou livros dos maiores escritores da literatura brasileira, como Graciliano Ramos, Dalton Trevisan, Antonio Maria e Clarice Lispector. Conviveu com Iberê Camargo, Cândido Portinari e Oswaldo Goeldi, entre outros. Fonte: GORINO, Vitor Hugo. Litografia artística brasileira: Lotus Lobo e Darel Valença Lins (Universidade Estadual Campinas, 2014). Veja mais aqui, aqui e aqui.

A MÚSICA DE CHELPA FERRO
O coletivo Chelpa Ferro foi criado em 1995 e reúne a trajetória de renomados profissionais, como o pintor Luiz Zerbini, o escultor Barrão e o editor de cinema Sérgio Mekler, aliando experiências pessoais que exploram possibilidades na produção de arte contemporânea brasileira, utilizando elementos sonoros justapostos aos visuais em suas obras. A abordagem interdisciplinar é revelada pela aparente desorganização meticulosamente orquestrada, criando espaço de fronteira entre os objetos articulados, o público e o som em suas performances, instalações e shows. Na obra Maracanã (2003), realizada no Museu de Arte Moderna (MAM), do Rio de Janeiro, replica por meio de música eletrônica experimental a emoção de um jogo de futebol e apropria-se do espaço com a grandeza da arena construída. Assim, na obra de Chelpa Ferro, a percepção convencional de música é desconstruída, criando uma nova linguagem sonora que, ao ser equalizada em função escultórica, assinala correspondências ativadas pela disposição e curiosidade do espectador. Já Acqua Falsa (2005), apresentada na 51a Bienal de Veneza, a obra incorpora a apresentação ao vivo com o improviso e interação com o público. A performance Autobang, na 27a Bienal de São Paulo (2002), o batuque gerado pelos porretes em ação é amplificado pelas caixas de som, produzindo distorções que se revelam na construção de fronteiras entre ruído e música, processo e resultados, espaço e escultura orienta a poética deste coletivo, a reflexão sobre o improviso, o reprocessamento e a criatividade da cultura brasileira. Já se apresentou em Havana (2003), em Porto Alegre, e possui 4 álbuns lançados nos anos de 1997, 2011, 2012 e 2013. A discografia do coletivo registra experimentações sonoras em shows ao vivo e publicado um livro com um panorama das criações do grupo. Veja mais aqui.
&
VALE DO UNA - CAPOEIRAS, ONDE NASCE O RIO UNA
Veja mais aqui & aqui.
&
IBA.VALE: ARTE EM IGARAPEBA
Veja aqui e aqui.
&
A poesia do poeta Pica Pau aqui & aqui.


segunda-feira, março 05, 2018

RACHEL DE QUEIROZ, RIMBAUD, VILLA-LOBOS, IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO, FELICJA BLUMENTAL, CORNÉ AKKERS, VITAL CORRÊA DE ARAÚJO, LOUCAS DA MATA SUL & MEIO AMBIENTE

OS VENTOS & AS AMIZADES NEM SEMPRE SOPRAM A FAVOR – Imagens: arte do artista plástico e visual holandês Corné Akkers. - Um menino caçula se sentia sozinho e pedia por um irmãozinho. Como os pais haviam fechado a fatura da filharada, reduziram a família apenas ao casal de filhos. A menina era mais velha, não queria se misturar com o mindinho, por se achar já uma mocinha, embora tivesse não mais que seis anos. Destá. Depois de tanto pedir e nada dos pais atenderem, o infeliz solitário encontra, enfim, um amigo. Ah, que amizade! Fizeram pacto de sangue, brincaram de espada, fizeram de tudo, até cheirar os dedos indicadores com o odor da dedada no frosquete um do outro. Cheira aqui! Um acudia o outro, no bom sentido, é claro, viadagem de pirralhos. Ou então ao se estranharem, cara dum, cara doutro, murros, apertos, tapas e caneladas, até caírem bambos numa intriga da hora. Pois é. Dia menos dia lá estavam: um cheirando o cu do outro. Nisso, ia tudo bem, até o dia em que a irmã que nunca se interessara por nada pras bandas do irmão fedelho, achou de chamar o amigo para um particular. No outro dia, de novo; e no seguinte, mais uma vez. Que confidências são essas? O irmão de mutuca. Foi então que o solitário levantando as orelhas, achou de por bem deixar os pais a par das coisas: botaram o amigo pra fora! Como? Mexer com a irmãzinha do coração, tá doido, tá? Arriba! E ele ficou de novo solitário. A irmã, só lhe olhava de soslaio: Viu o que você fez, palerma? Você não tem com quem brincar, nem eu tenho em quem mandar! Mas ele estava se enxerindo pra você! Pra mim? Ah, bicho toleima és tu, bestão! Ele só estava fazendo o que eu mandava, mais nada. Eu estava com ciúme dele com você. Tu és um porqueira mesmo, hem? Ele estava fazendo os meus deveres da escola e o que mais eu quisesse, só isso. Ah, se é assim, vou pedir pro papai deixá-lo voltar. Já devia ter feito isso, seu molenga! E lá vai o menino desfazer o mal-entendido. Para isso teve que contar com o aval da irmã, o que foi um santo remédio pros pais, já que ela era do contra sempre, botando caroço no angu dele. Como se tratava de um bem que atendia aos dois, não havia razão pra impedir. E lá foi buscar do amigo que nem sabia mais por onde andaria, caçando pelos cantos, perguntando a um e a outro, quem viu-lo? Ninguém dava conta do paradeiro. Teve que esperar pela tarde para ver na escola. Foi justo lá que se encontraram, refizeram amizade e lá ia ele de novo reatando a amizade, dessa vez durando até a adolescência – eita, quase que num acaba mais de tão duradoura -, ao se desafiarem pelo amor de Genicilinda, a moça mais linda da época, ferro, sangue e ódio entre os amigos. E como ela tinha umas quedas pelo amigo, provocou ciúmes, por tabela, nos dois irmãos. A irmã agora estava privada de usar e abusar dele, enquanto o amigo entrava em conflito: era ela que ele queria, mas ele era seu amigo. Pra desatar esse nó que quase finda em morte matada, o amigo surpreendeu: apresentou a Genicilinda ao amigo para namorarem. Como? Surpresa dupla. Isso mesmo! Pronto, resolvido! Os irmãos voltavam às pazes, cada qual com sua paquera. Mas como nem tudo caminha sempre lá pelas rodas das mil maravilhas o tempo todo, ânimos e conflitos sempre enredam corações aos tédios e angústias, o amigo, de novo, se viu em palpos de aranha, por conta de ardis tramados pelas duas, sem que uma soubesse da armação da outra: a namorada queixou-se que ele estava dando em cima dela. Como? E a irmã delatou que ele andava forçando a barra com intimidades ameaçando estuprá-la, já quase em vias de fato de tanto abusá-la. Ele tá doido, é? O pai partiu com mais de mil e duas de quinhentos para agarrá-lo pelo cangote, não fosse a providente intervenção da filha em despachá-lo antes da fúria paterna. Quando o irmão soube das duas coisas: Como é que é? Que safado! Ah, vai me pagar! Não cumpriu a ameaça porque os pais providentes transferiram os filhos do colégio, o que acarretou que antes menino agora adolescente solitário ficasse sem amigo e sem namorada, por certo emendariam lá os dois os seus destinos pra azar dele. E a irmã, ah, a irmã, pra ela tanto faz como tanto fez, ela vivia trancada mesmo solitária com sua vidinha voltada só pro umbigo. E nunca mais eles se deram as caras, mudaram de cidade, de roupa, de jeito e pantins, foram cada qual pra faculdade – ele começou engenharia civil e terminou informática; ela foi fazer fisioterapia e findou secretária de um amigo besta que a queria por perto -, e cada um suas dores e vexames, umbigos pra que te quero. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá é dia de especial com a música do compositor Heitor Villa-Lobos (1887-1959): Suite Popular Brasileira, Bachianinha nº 5 com a Filarmonica de Berlim & Prelúdios, estudos & Modinha; ; da pianista e compositora polonesa Felicja Blumental (1908-1991): Piano Português/Espanhol, Concerto nº 5 de Villa-Lobos & Valsas completas de Chopin; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA – [...] A luta espiritual é tão brutal quanto a batalha dos homens; mas a justiça é prazer só de Deus. [...] eu vi o inferno das mulheres lá – e me será permitido possuir a verdade numa alma e num corpo. Trecho extrado da obra Uma temporada no inferno & iluminações (Francisco Alves, 1982), do poeta Arthur Rimbaud (1854-1891). Veja mais aqui, aqui e aqui.

COMPLEXIDADE AMBIENTAL - [...] Aprender a complexidade ambiental é uma pedagogia política de aprendizagens dialógicas, multiculturais e significativas para a construçãoplural de sujeitos e atores sociais capazes de abrir as possibilidades para a criação de mundos alternatitivos, guiados pelos valores da democracia e os princípios da sustentabilidade. [...]. trecho extraído da obra A complexidade ambiental (Cortez, 2003), coordenado pelo sociólogo ambiental mexicano Enrique Leff. Veja mais aqui.

COMO SUPORTAR O OLHAR DE QUEM SERÁ MORTO? – [...] parei de ler o texto e fiquei embargado, estava dificil. É o momento em que o pelotão de fuzilamento ergue as armas para matá-la e Hannah Senesh, com apenas vinte e três anos, recusa venda, para olhar nos olhos daqueles que iam tirar sua vida. Que força a mantinha! A crebça em seus país, a resistência ao nazismo que estava dizimando seu povo... [...] Alguns deles, por segundos, tornou-se humano e desviou os olhos, depois levou para a casa e para a vida aquele brilho que Jannah manteve com coragem e dignidade? Algum sobreviveu e carregou essa lembrança para sempre ou eram apenas assassinos frios e profissionais, agindo em nome da ideologia mais perversa que já houve sobre a terra? Algum suportou aquele olhar ou desmoronou? Algum entendeu que aquela jovem estava dizendo que os judeus não eram acomodados, nem o elhas, mas dotados de imensa força interior? [...] Os verdadeiros heróis não possuem poderes extraordinários, nem são imortais, imbativeis, indestrutíveis. [...] Há na multidão de rostos comuns pessoas dispostas a se imolar por nós, sem misticismos fraudulentos, sem vozes interiores inexplicáveis e sobrenaturais. [...] Posfácio de Ignácio de Loyola Brandão para a obra Hannah Senesh: diários, poesias, cartas (Tordesilhas, 2011), organizado e traduzido por Frida Milgrom. Veja mais aqui.

NHEENGARÊÇAUAHomem do Sul, você conhece a geada e o frio, / você que jpa viu primavera, / inverno, outono como na Europa, / você não sabe o que é o sol! / Você não imagina / o que é céu sem nuvens por meses seguidos; / o que é o sol bater de chapa na terra fulva / trezentos dias encarrilhados!... / Ao meio-dia / nos tempos de fogo em que o sol é rei, / o ar é tão fino e tão frágil, / que treme.... / o sol fura-o de luz, igualzinho á rendeira / pinicando de espinhos a trama dos bilros... / Você nunca veio até cá... / “-Ceará!... / Retirante, sol quente, miséria...” / O sol do Nordeste foi feito somente / pra os olhos com medo dos filhos da terra.... / o filho da terra, pequeno e feioso, / que é como o mandacaru: / quando a tragédia seca escorraça a vida e absorve as seivas, / só ele, isolado / no meio da caatinga que se apinha / e estende para o céu a lamúria em cinza dos galhos secos / luta, verdeja, encontra seiva e vive / macambúzio e eriçado... / E, entanto, essa gente que mora tão longe / é a mesma que mora nas terras do Norte... / Se o sangue do Sul caldeou-se com o branco imigrante / numa fecunda mistura, / ainda existe em suas veias mestiças / esta seiva que o Norte tem pura... / E, se somos irmãos, / por que um laço mais forte de amor não nos prende? / Irmão longínquo, senhor das fábricas, / dos cafeeiros, das minas, do ouro, / eu quero que o meu poema / faça as vezes de um vidro esfumado / através do qual seu olhar deslumbrado / possa ver esta terra candente do Norte... / Irmão longínquo, detentor da riqueza da Pátria, / que uero que as folhas abertas de meu poema / sejam mãos estendidas / para um abraço de fraternidade! Poema extraído da obra Mandacaru (Instituto Moreira Salles, 2010), da escritora, jornalista, dramaturga e tradutora Rachel de Queiroz (1910-2003). Veja mais aqui.

AS LOUCAS DA MATA SUL
[...] É muito gratificante pra mim, mostrar e ver no rosto das pessoas, que estávamos passando essas mensagens contra a violência, o racismo, etc., a elas que temos nossos direitos. Alguns se identificavam com alguma cena, porque já tinham passado por essa situação. E agora viu que tem as leis e seus direitos. As pessoas parabenizando todo o grupo, pelo trabalho feito. Eu me sinto muito feliz em lutar pelo fim da violência principalmente, de uma forma diferente: teatro! Kelly. [...]
Depoimento de Loucuras contra a violência na Mata Sul, de Janikelle Maria da Silva e Theóphila Lucena, extraído da obra Cirandas feministas na Zona da Mata: uma luta em movimento (SOS Corpo, 2018), tratando sobre o grupo teatral As Loucas da Mata Sul, antes Loucas de Pedra Lilás, formada pelas mulheres Janikelle, Érica, Ítala e Anarcélia de Joaquim Nabuco; de Palmares, Mauriceia e Cilene; de Água Preta, Nayara, Nikka, Vanessa, Theóphila e Alda. Veja mais aqui.

Veja mais:
História da Mulher, O amor no salto das sete quedas, a música de Taiguara & a arte de Luciah Lopez aqui.
O sonho do sequestro malogrado, a música de Juca Chaves, História do Cinema, História da Mulher, a fotografia de Étienne-Jules Marey & a arte de Leonid Afremov aqui.
História da mulher: da antiguidade ao século XXI aqui.
Do que foi pro que é quase nada, Friedrich Nietzsche, Vaughan Williams & Suzanne Valadon aqui.
Coisas do sentir que não pra entender, A República de Cícero, Emil Nolde & Nivian Veloso aqui.
A carta do barbeiro & Leda Catunda aqui.
Fandango do vai quase num torna & Cícero Dias aqui.
Piotr Ouspensky, Marcio Souza, Antonio Vivaldi, Ronald Searle, Adryan Lyne, Ademilde Fonseca & Inezita Barroso, Kim Basinger, A mulher que reina & O Lobisomem Zonzo aqui.
Patativa do Assaré, Heitor Villa-Lobos, Pier Paolo Pasolini, Turíbio Santos, Rosa Luxemburg, Cicero Dias, Rubem Braga & José Geraldo Batista, Bárbara Sukowa & Primeira Reunião aqui.
A cidade das torres & Antônio Cândido aqui.
Cordel na escola aqui.
Democracia aqui.
A cidade de Deus de Agostinho e a Psicologia do Turismo e Hotelaria aqui.
Incêndio das paixões & Programa Tataritaritatá aqui.
Thomas Kuhn, Alagoando, Sistema Nervoso & Neuroplasticidade aqui.
Jacinta Passos, Poeta Bárbara Inconfidente, Egornov, Ten & Programa Tataritaritatá aqui.
Quando a gente vai à luta não adianta trastejar: ou vai ou racha aqui.
Gregory Bateson, Leontiev, Pinel, Doro, Óleo de peroba & o horário puto eleitoral da silva aqui.
Eros & civilização de Herbet Marcuse & O condor voa de Cornejo Polar aqui.
Ela desprevenida & Programa Tataritaritatá aqui.
O lamentável expediente da guerra aqui.
Jorge Amado, Gonçalves Dias, Claudionor Germano, Al-Chaer, Dany Reis & Nina Kozoriz aqui.
Ismael Nery, Tomás Antônio Gonzaga, Juliana Impaléa & Keyler Simões aqui.
Miguel Torga, Alfred Gilbert, Pat Metheny, Luciene Lemos, Antonio Cabral Filho & Programa Tataritaritatá aqui.
Michel Foucault, John Coltrane, T. S. Eliot, Edina Sikora, Wender Nascimento & Programa Tataritaritatá aqui.
Nelson Rodrigues, Gauvreau, Antonio Menezes, Luiza Silva Oliveira, Luiz Fernando Prôa & Bárbara Lia aqui.
Jorge Luis Borges, Paulo Leminski, Jean-Michel Jarre, Jeanne Mas, Donizete Galvão, Fabio Weintraub & Regiane Litzkow aqui.
A refém do amor & Programa Tataritaritatá aqui.
Fritjof Capra, Instinto & Ismael Condição Humana aqui.
Loucura repulsiva aqui.
Jards Macalé, Renata Pallottini, Silvia Lane, Hanfstaengl, Louise Von Franz, Miranda Richardson & Programa Tataritaritatá aqui.
Marilena Chauí, Marilda Villela Imamoto, Nise da Silveira, Guimar Namo de Mello & Arriete Vilela aqui.
O presente na festa do amor aqui.
Tanatologia aqui.
Ricardo Alfaya, Direito de Família & Alimentos aqui.
A mulher na História aqui.
Todo dia é dia da mulher aqui.

BANDO DE MÔNADAS, DE VITAL CORRÊA DE ARAÚJO
NÓMINA DESSAS NOTAS: Ao conjunto, nomino-as nuamente Inexplicação ao Leitor, e dedico à Hipócrita Leitora de minha parca ou pobre obra. Porque são notas inexplícitas de um fazedor de poemas, que visam atordoar, ou melhor, clarear a treva textual, abrir caminhos sem rumo à selva significante, em que possíveis (mas improváveis) leitores se arrisquem tentar imiscuir-se ou inutilmente explorar.
RAZÃO DO POEMA: Escrevi esses poemas extremos porque vi o extremo numa viagem a bordo do abismo para o confim de mim mesmo. Fui além da alma, depois do corpo, quando os comecei. Não evitei os tiques estilísticos próprios de minha lavra poética nem a mania de montar sintagmas oximóricos, insensatos (para os sentidos comuns), esdrúxulos, não recomendáveis, para quem escreve em beneficio do leitor, o que não é meu caso, absolutamente. Escrevo poema para total desconforto do leitor (que se dane se quiser entender). Se o poeta entrega de mão beijada, numa bandeja dourada, o tal sentido do poema (tão ou mais procurado do que um malfeitor do velho oeste ianque), tão esperado que desespera o leitor, quando este não lhe é dado, de imediato, na primeira linha ou golpe de leitura; caso seja assim, assado não é, e poesia não o é também. O poema não deve ser uma resposta, uma lição, mas um questionamento, uma interrogação. Nada de resultados prosaicos, mas investimento literário. Escrevo poemas, portanto, para o desconforto extremo de quem casualmente me leia. Se fosse uma reforma de um prédio, a placa séria seria: desculpe o transtorno da leitura, estamos trabalhando ara desconforto total do seu entendimento.
Poemas extraídos da obra Bando de mônadas (Bagaço, 2011), do escritor, jornalista, advogado, professor, conferencista e tradutor Vital Corrêa de Araújo. Veja mais aqui.

A ARTE DE CORNÉ AKKERS
A arte do artista plástico e visual holandês Corné Akkers.

 

sexta-feira, julho 31, 2015

SEARLE, ANTONIO MACHADO, IGNÁCIO LOYOLA, ARRABAL, BOB DYLAN, KUSTURICA, MARELEMBAUM & A FESTA DOS MAIS DE 500 MIL ACESSOS!!!!


VAMOS APRUMAR A CONVERSA: ZINE NASCENTE – Com o resultado das edições anteriores do Zine Nascente, mais se ampliaram os horizontes de relacionamentos. Tanto é que na edição nº 5 – Abril-Maio/1997 -, dedicada à cidade de Penedo, cidade histórica alagoana e monumento nacional e com o editorial Missiva para o menino – em resposta as indagações feitas sobre os meus livros Falange, Falanginha, Falangeta (Nascente, 1995), Para viver o personagem do homem (Nordestal, 1992) e Primeira reunião (antologia – Bagaço, 1992), feitas pelo então jovem autor integrante das edições da antologia Bricarte, hoje advogado Diogo Palmeira -, traz o intercambio realizado com as mais diversas publicações, a exemplo da recepção do Sagrações do meio de Leontino Filho (RN), O Nordeste em Poesia de João Lourenço (AL), publicação da UBE seccional de Sergipe enviada por Edmo Raimundo (SE), poemas de Alba Granja (AL), Clipe de Suely Correia Gomes (RS), Literarte de Arlindo Nóbrega (SP) e Curupira de Antônio Cabral, bem como a publicação de poemas de Ana Cristina Quixabeira (AL), Maria Fátima Dias (MS), Leila Míccolis (RJ), Leontino Filho (RN), Cileide Alexandre (PE), Elita Afonso Ferreira (PE), Edmo Raimundo de Albuquerque (SE), Jorge L. Escudeiro (Argentina), Rolando Revagliati (Argentina), Leonilda Silva (PE), João Lins (PE), João Lourenço (AL) e Glenda Maier (RJ). Na edição nº 6 – Junho/Julho-1997, dedicada ao amigo alagoano Marcos Palmeira e com o editorial Devaneio Factível, registro a recepção de publicações, tais como KoisaLinda de Oefe Souza (SP), Poemas de Wilmar J. Matter (RS), Alternativo Cultural Reviravolta Poesia de Cecília Fideles (SO), Dicionário de Poetas Contemporâneos de Sérgio Jeronimo (RJ), Associação Profissional dos Poetas do Estado do Rio de Janeiro de Glenda Maier (RJ), O Literário de Osael Carvalho (RJ), Espaço Menor de Edmo Menor (SE), 1000 Páginas do Sebo Badaró (SP), Viramundo de Carlos Costa (SP), Poster e Pefil de Glenda Maier (RJ), Prelidio de Jorge Luiz (AL), Fábula de Eno Teodoro Wanke (RJ), Anuário da Poesia Brasileira de Laís Costa Velho (MG) e Correio da Poesia de Luiz Fernandes da Silva (PB), destacando poemas de Ernande Bezerra de Moura (AL), Cecilia Fideli (SP), Felisbelo Silva (CE), Ziney Santos Moura (SP), Tadeu Wanderley (AL), Gladstone Silva (RJ), Emanoel Fay (AL), Jorge Luiz (AL), Osael de Carvalho (RS), Jaime Vieira (PR), Luiz Balthazar, Arlindo Nóbrega (SP), Leone Cvalcante (AL), Lais Costa Velho (MG), Ziney Santos Moura (SP), Maria Ligia Silva (SP), Wilmar Matter (RS), Alba Granja (AL) e Beatriz E. Chacon (RJ). O que era sonho foi virando realidade & vamos aprumar a conversa aqui.
 Imagem: Cassandra - Green, cantor, compositor, escritor e artista plástico estadunidense Bob Dylan. Veja mais aqui.

Curtindo o álbum Berimbaum (Universal, 2004), da cantora Paula Marelembaum.

A ESTRUTURA DA CONSCIÊNCIA – No livro A redescoberta da mente (Martins Fontes, 2006), do filósofo estadunidense John R. Searle aborda temas como o que há de errado com a Filosofia da Mente, a historia recente do materialismo e a repetição do mesmo erro, a psicologia popular, rompendo o domínio: cérebros de silícios e robôs conscientes & outras mentes, consciência e seu lugar na natureza, reduicionismo e irredutibilidade da consciência, o inconsciente e sua relação com a consciência, intencionalidade e o background, a critica da razão cognitiva, entre outros assuntos. No capítulo 6 da obra, encontrei A estrutura da consciência: uma introdução, da qual destaco os trechos a seguir: [...] Dois tópicos são cruciais para a consciência, mas terei pouco a dizer sobre eles porque ainda não os compreendo suficientemente bem. O primeiro é a temporalidade. Desde Kant, estamos cientes de uma assimetria no modo como a consciência se relaciona com o espaço e com o tempo. Embora experimentemos objetos e eventos tanto espacialmente extensivos como de duração temporal, nossa consciência em si não é experimentada como espacial, embora seja experimentada como temporalmente extensiva. Na verdade, as metáforas espaciais para a descrição do tempo parecem, da mesma forma, praticamente inevitáveis para a consciência, como quando falamos, por exemplo, do fluxo de consciência. Sabidamente, o tempo fenomenológico não corresponde exatamente ao tempo real, mas não sei como explicar o caráter sistemático das disparidades. O segundo tópico negligenciado é a sociedade. Estou convencido de que a categoria de outras pessoas desempenha um papel especial na estrutura de nossas experiências conscientes, um papel diferente daquele de objetos e estados de coisas; e acredito que essa capacidade é atribuir um status especial a outros loci de consciência é tanto biologicamente fundamentada como uma pressuposição de background para todas as formas de intencionalidade coletiva. Mas ainda não sei como demonstrar essas asserções, nem como analisar a estrutura do elemento social na consciência individual. [...] Acredito que ao menos dois, e talvez todos os três equívocos tenham uma origem comum no cartesianismo. Os filósofos na tradição cartesiana em epistemologia queriam que a consciência fornecesse uma base para todo conhecimento. Mas, para que a consciência nos dê uma certa base para o conhecimento, temos que ter primeiro um certo conhecimento dos estados conscientes; daí a doutrina da incorrigibilidade. Para conhecer a consciência com segurança, temos que conhece-la por meio de alguma faculdade especial que nos dê acesso direto a ela; daí a doutrina da introspecção. E – embora eu esteja menos seguro sobre isto enquanto um diagnóstico histórico -, se o ego deve ser a fonte de todo conhecimento e significado, e estes devem estar fundamentados em sua própria consciência, então é natural crer que existe uma conexão necessária entre consciência e autocoensciência; daí a doutrina da autoconsciência. [...] Veja mais aqui.

NÃO VERÁS PAÍS NENHUM – O romance Não verás país nenhum: memorial descritivo (Codecri, 1981), do escritor e jornalista Ignácio de Loyola Brandão, conta a história pessimista e apocalíptica de um Brasil no futuro dominado por um governo de mediocridade e totalitário. Da obra destaco o trecho inicial: [...] Mefítico. O fedor vem dos cadáveres, do lixo e excrementos que se amontoam além dos Círculos Oficiais Permitidos, para lá dos Acampamentos Paupérrimos. Que não me ouçam designar tais regiões pelos apelidos populares. Mal sei o que me pode acontecer. Isolamento, acho. Tentaram tudo para eliminar esse cheiro de morte e decomposição que nos agonia continuamente. Será que tentaram? Nada conseguiram. Os caminhões, alegremente pintados em amarelo e verde, despejam mortos, noite e dia. Sabemos, porque tais coisas sempre se sabem. É assim. Não há tempo para cremar todos os corpos. Empilham e esperam. Os esgotos se abrem ao ar livre, descarregam em vagonetes, na vala seca do rio. O lixo forma setenta e sete colinas que ondulam, habitadas, todas. E o sol, violento demais, corrói e apodrece a carne, em poucas horas. O cheiro infeto dos mortos se mistura ao dos inseticidas impotentes e aos formóis. Acre, faz o nariz sangrar, em tardes de inversão atmosférica. Atravessa as máscaras obrigatórias, resseca a boca, os olhos lacrimejam, racha a pele. Ao nível do chão, os animais morrem. Forma-se uma atmosfera pestilencial que uma bateria de ventiladores possantes procura inutilmente expulsar. Para longe dos limites do oikoumenê, palavra que os sociólogos, ociosos, recuperaram da antiguidade, a fim de designar o espaço exíguo em que vivemos. Vivemos? Virei-me assustado. Adelaide nunca tinha dado um grito em trinta e dois anos de casados. Treze para as oito. Em quatro minutos devia estar no ponto, ou perderia o S-7.58, minha condução autorizada. Estranho, ela sabia. E por que então resolvia me atrasar ainda mais? — O que foi? — O paletó. Esqueceu? — Não aguento esse paletó. Passo o dia suando. — Mas sem ele não te deixam trabalhar. — Tomara. Adelaide me olhou, arisca. Inquieto, encarei o rosto dela e me perguntei. Pergunta que não tenho coragem de enfrentar. Se eu admitir, ela se desvenda. Toma forma, cristaliza, revela. Será que depois de tantos anos compensa ver? Reagir agora? Penso: e se valesse a pena? Tomávamos o café da manhã juntos, todos os dias. Depois ela me acompanhava até a porta. Eu colocava o chapéu (voltou o seu uso), acariciava seu ombro esquerdo (nem sei mais se há prazer nisto) e consultava o relógio. Ficava angustiado se não estivesse dentro do horário. [...] Veja mais aqui.

SONHO, CANTARES, UMA NOITE DE VERÃO – No livro - presente do meu amigo José Duran y Duran – Antologia Poetica (Salvat, 1969), do poeta e dramaturgo espanhol Antonio Machado (1875-1939), destaco inicialmente o poema Sonho: Lá do umbral de um sonho me chamaram… / Era a suave voz, a voz querida. / — Diz-me: virás comigo a ver a alma?… / Veio a meu coração uma carícia. / — Contigo sempre… E segui em meu sonho / por uma larga, precisa galeria, / sentindo o roçar da veste pura / e o palpitar suave da mão amiga. Também o poema Uma noite de verão...: Uma noite de verão / – estava aberta a varanda / e a porta de minha casa – / a morte na casa entrou. / Foi-se acercando a seu leito / – nem sequer me percebeu –, / com uns dedos muito finos, / algo mui tênue rompeu. / Silenciosa e sem me olhar, / a morte outra vez passou / ante a mim. “O que fizeste?” / A morte não respondeu. / A filha ficou tranquila / sofrido meu coração, / Ai, o que a morte quebrou / era um fio entre nós dois! Por fim, o belíssimo poema Cantares: Tudo passa e tudo fica / porém o nosso é passar, / passar fazendo caminhos / caminhos sobre o mar / Nunca persegui a glória / nem deixar na memória / dos homens minha canção / eu amo os mundos sutis / leves e gentis, / como bolhas de sabão / Gosto de vê-los pintar-se / de sol e grená, voar / abaixo o céu azul, tremer subitamente e quebrar-se… / Nunca persegui a glória / Caminhante, são tuas pegadas / o caminho e nada mais; / caminhante, não há caminho, / se faz caminho ao andar / Ao andar se faz caminho / e ao voltar a vista atrás / se vê a senda que nunca / se há de voltar a pisar / Caminhante não há caminho / senão há marcas no mar… / Faz algum tempo neste lugar / onde hoje os bosques se vestem de espinhos / se ouviu a voz de um poeta gritar / “Caminhante não há caminho, / se faz caminho ao andar”… / Golpe a golpe, verso a verso… / Morreu o poeta longe do lar / cobre-lhe o pó de um país vizinho. / Ao afastar-se lhe viram chorar / “Caminhante não há caminho, / se faz caminho ao andar…” / Golpe a golpe, verso a verso… / Quando o pintassilgo não pode cantar. / Quando o poeta é um peregrino. / Quando de nada nos serve rezar. / “Caminhante não há caminho, / se faz caminho ao andar…” / Golpe a golpe, verso a verso. Veja mais aqui.

A BICICLETA DO CONDENADO – A peça teatral em um único ato A bicicleta do condenado (1959), do escritor, dramaturgo e cineasta espanhol Fernando Arrabal, conta a história de tocador de piano que manifesta o amor por uma mulher carregando sua bicicleta no corredor da morte. Da obra destaco o trecho inicial: (Tasla ao centro do palco imita a estátua da justiça, sem a venda nos olhos; à direita, por trás do muro, dos Homens com características de policiais, e à esquerda, sentado no banco do piano, Viloro encara a platéia. Depois de algum tempo vê-se surgir das costas de Viloro, como se fosse parte dele, Paso que ostenta uma coroa na cabeça. Black-out. Palco pouco iluminado. À direita, muito ao fundo, um pequeno muro de 1,30 m por 3 m. À esquerda, um piano. Viloro toca piano apenas com um dedo, muito desajeitadamente. Ensaia a escala musical — Dó, ré, mi, fá, lá. Gesto de contrariedade. Silêncio. Tenta recomeçar a escala. Toca muito lentamente para não se enganar. — Dó, ré, mi, fá, sol, lá, si, dó. Grande alegria. Viloro esfrega as mãos de contentamento, mas apesar de tudo, um pouco timidamente. Silêncio. Recomeça a tocar cheio de confiança.. — Dó, ré, mi, fá, sol. Trejeito de contrariedade. Ouvem-se risos ao fundo. Viloro volta-se receosamente. Ao fundo distinguem-se dois homens por detrás do muro. Viloro olha para eles. Os homens tornam-se bruscamente sérios. Olham também para Viloro. Silêncio. Viloro recomeça a tocar: — Dó, ré, mi, fá, sol, ré. Trejeito tímido de contrariedade. Risos dos dois homens por detrás do muro. Viloro volta-se e timidamente olha para o fundo. Os homens deixam de rir. Viloro olha para eles. Os homens olham para Viloro seriamente. Silêncio. Viloro tenta ainda fazer a escala: — Dó, ré, mi, fá, si, ré. Trejeito tímido de contrariedade. Os homens riem. Viloro olha para eles. Os homens param de rir e olham-se muito seriamente. Silêncio. Viloro prepara-se para recomeçara tocar. Ao fundo, próximo aos dois homens e igualmente por detrás do muro, aparece um terceiro homem. É Paso – um homem de cabelos ruivos. Paso indica Viloro descaradamente com o dedo e ri ruidosamente. Os três homens riem Viloro volta-se receosamente e contempla os homens. Os três deixam de rir. Encaram muito seriamente Viloro, que tenta de novo fazer a escala: — Dó, ré, mi, fá, sol, lá, si. Os três homens riem por detrás do muro e apontam descaradamente com o dedo. Paso, principalmente, ri muito alto. Viloro volta-se receosamente e contempla os três homens. Cessam de rir. Encaram-no seriamente. Silêncio. Viloro toca mais uma vez: — Dó, ré, mi, fá, si, sol. Os dois homens riem por detrás do muro. Viloro volta-se para eles com ar zangado mas com timidez. Os dois homens param de rir. Encaram-no muito seriamente. Silêncio. Pela esquerda entra uma mulher – TASLA – montada numa bicicleta que transporta à maneira de reboque uma gaiola de madeira. A gaiola tem três pequenas rodas e transporta um homem ruivo. É PASO, com as mãos atadas. Traz uma mordaça. Tasla desce da bicicleta. Dirige-se para Viloro. Os dois homens olham descaradamente para Tasla) TASLA – Bom dia, Viloro. (Viloro com gesto de fadiga aponta o muro) VILORO – Não fale. Eles estão ali. TASLA – (Olha receosamente para os homens) – Ainda! (Silêncio. Risos dos homens. Tasla e Viloro voltam receosamente o olhar para o muro. Os dois homens calam-se. Silêncio. Viloro e Tasla olham um para o outro. Os homens desaparecem. Silêncio) VILORO – Vê se eles ainda estão lá. TASLA – Olha você. Tenho medo. VILORO – Eu também. (Silêncio. Viloro olha receosamente para o fundo) VILORO – (muito contente) – Eles já foram embora. (Tasla olha. O seu rosto ilumina-se) TASLA – Finalmente estamos tranqüilos. VILORO – Temos que esperar. Não vão eles voltar daqui a pouco como fazem algumas vezes? TASLA – (Após um silêncio) – Progrediste? VILORO – (Muito contente) – Oh! Sim. Fiz enormes progressos. TASLA – Toca para eu ouvir. VILORO – Tenho um pouco de vergonha. TASLA – Coragem! Não há motivo para ficar vermelho de vergonha. VILORO – (Entusiasmado) – É sem querer. TASLA – De repente? VILORO – Não é bem de repente. . . mas quase. TASLA – Toca um bocadinho. (Viloro toca piano: Dó, ré, mi, fá, lá. – Gesto contrariado de Viloro) TASLA – Muito bem, Viloro. Você fez um progresso espantoso! VILORO – Enganei-me no fim. Não percebeste? — Dó, ré, mi, fá, si, sol. Os dois homens riem por detrás do muro. Viloro volta-se para eles com ar zangado mas com timidez. Os dois homens param de rir. Encaram-no muito seriamente. Silêncio. Pela esquerda entra uma mulher – TASLA – montada numa bicicleta que transporta à maneira de reboque uma gaiola de madeira. A gaiola tem três pequenas rodas e transporta um homem ruivo. É PASO, com as mãos atadas. Traz uma mordaça. Tasla desce da bicicleta. Dirige-se para Viloro. Os dois homens olham descaradamente para Tasla) TASLA – Bom dia, Viloro. (Viloro com gesto de fadiga aponta o muro) VILORO – Não fale. Eles estão ali. TASLA – (Olha receosamente para os homens) – Ainda! (Silêncio. Risos dos homens. Tasla e Viloro voltam receosamente o olhar para o muro. Os dois homens calam-se. Silêncio. Viloro e Tasla olham um para o outro. Os homens desaparecem. Silêncio) VILORO – Vê se eles ainda estão lá. TASLA – Olha você. Tenho medo. VILORO – Eu também. (Silêncio. Viloro olha receosamente para o fundo) VILORO – (muito contente) – Eles já foram embora. (Tasla olha. O seu rosto ilumina-se) TASLA – Finalmente estamos tranqüilos. VILORO – Temos que esperar. Não vão eles voltar daqui a pouco como fazem algumas vezes? TASLA – (Após um silêncio) – Progrediste? VILORO – (Muito contente) – Oh! Sim. Fiz enormes progressos. TASLA – Toca para eu ouvir. VILORO – Tenho um pouco de vergonha. TASLA – Coragem! Não há motivo para ficar vermelho de vergonha. VILORO – (Entusiasmado) – É sem querer. TASLA – De repente? VILORO – Não é bem de repente. . . mas quase. TASLA – Toca um bocadinho. (Viloro toca piano: Dó, ré, mi, fá, lá. – Gesto contrariado de Viloro) TASLA – Muito bem, Viloro. Você fez um progresso espantoso! VILORO – Enganei-me no fim. Não percebeste? [...] Veja mais aqui.


A VIDA É UM MILAGRE – O filme A vida é um milagre (Život je čudo, 2004), do cineasta e músico sérvio cirílico Emir Kusturica – que também compôs a música do filme com Dejo Sparavalo -, conta uma história que se passa na Bósnia de 1992, quando um engenheiro se instala num vilarejo com sua família - sua esposa é uma cantora lírica e seu filho um adolescente -, sem dar ouvidos a uma ameaça de guerra que quando eclode,  leva sua vida a sofrer mudanças drásticas: sua esposa foge com um músico e seu filho é convocado para a guerra. O filme é belíssimo e conta reviravolta que se dá na vida de um pai de família, numa região ameaçada pela guerra e que, almejando alcançar seus objetivos se põe obstinadamente na luta pela conquista dos seus objetivos, quando em pleno andamento de seu planejamento se vê sem a mulher e sem o filho, tendo, por isso, a sua família destroçada. Imperdível. O destaque do filme vai para a belíssima atriz sérvia Nataša Tapušković. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
 Homenagem à atriz alemã do teatro, cinema e televisão Lil Dagover - Marie Antonia Siegelinde Martha Seubert (1887-1980).


Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do programa Some Moments com a festa comemorativa dos mais de 500 mil acessos daqui, a partir das 21hs, no blog do Projeto MCLAM, com a apresentação sempre especial de Meimei Corrêa & Verney Filho. Para conferir online acesse aqui.

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NOÉMIA DE SOUSA, PAMELA DES BARRES, URSULA KARVEN, SETÍGONO & MARCONDES BATISTA

  Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Sempre Libera (Deutsche Grammophon , 2004), Violetta - Arias and Duets from Verdi's La Tra...