Imagem: Acervo ArtLAM.
Ao som dos álbuns Source
(2014) e Upstream (2019), do grupo Dreisam – “Triângulo perfeito, nada geométrico, tudo
ritmado” -, formado pelo pianista francês Camille Thouvenot, pelo
baterista/percussionista brasileiro Zaza Desiderio e pela saxofonista alemã
Nora Kamm.
ANOTAÇÕES NADA
ESDRÚXULAS DO INÚTIL, UMA RAPSÓDIA TROPICAL...- Nunca fiz o que não podia contar depois. Aqui é sempre
quase e orbito escolhas com suas angústias muitas e compensações nenhumas, um
rito de passagem interrompido. Fui tocado pelo sinal WOW! E se o calor bate
recorde na Índia, aqui não está tão diferente: persigo entre o que é ato
vigoroso e o que é ludíbrio, o que é do espanto e encanto, como aquele de quem
se foge numa esquina. A poesia atravessa todas as crises e o horror de todas as
guerras devassando todas as alegorias para desarmar o que se deu por certo
e deve ser posto em questão. Afinal o mundo soçobra sob um céu falso para
expulsos jogados à rua, antes confiscados e coisa alguma penhorável restou do
que se exilou de mim. Apesar dos pesares, não é tristeza que sinto, a doçura
sem repouso de quem perdeu o riso das Rosas, os olhos das Marias e de todas que
se foram e nunca mais voltaram. Até Zelda Mishkovsky: Cada um de nós tem um nome... E dado a ele pela sua morte... Livro-me da
bombatômica iminente e de quem mata a sede no suor de outro, ou de quem vive
entre o obséquio e o suicídio. Outras explodiram em minhas mãos para anunciar
que não haverá manhã possível paratodos. Só falta pedir à máquina que ore por
nós. É que sei quem roubou o chá da China e não somos a causa: somos a
consequência e a lógica se houver é a de que não é só uma ou duas opções, mas
todas as alternativas para escolhas: cada qual descasque os abacaxis dos seus múltiplos
dilemas. Ouço Marceline Desbordes-Valmore:
Devemos fazer a nossa vida como costuramos, ponto por ponto... E as
minhas feridas como troços despejados à curiosidade pública: dores
enferrujadas, entranhas podres, ossos sujos, vísceras coaguladas, coração às
moscas e os restos mortais insepultos, para o opróbrio geral. Que o diga Mary McCarthy: Todos vivemos em suspense, dia após dia, hora após hora; em
outras palavras, somos os heróis da nossa própria história... Não há do que
se vangloriar, sou aquele que fez do dia o canto e fiquei sozinho de prontidão
na chuva, com todos os desígnios despencando com o que sequer entendo ao
inventar manhãs. E se não tenho saudades é porque tolo migrante sou pelas
minhas mil e uma noites a girar errático no eixo da Terra para a felicidade dos
nadas. Até mais ver.
MOBILIZAÇÃO PELA VIDA
Imagem: Acervo ArtLAM.
Um
excêntrico, desertor e ateu, \ buscando refúgio na agronomia, \ em Goethe e na
disciplina das crianças. Cuja vida \ o joga de um lado para outro em um campo
minado \ como um cavaleiro de xadrez sem sela. Quem retrata \ a letra L:
Lehrling , mas não faz uso \ das marchas básicas e nunca freia. \ Quem lê Pigs
Fodder , com os pés num banho frio – para \ melhorar a concentração – \ e que
espera descobrir abrigo nos livros de botânica, \ o chão sob os pés, \ mas não
consegue encontrar uma folha de coltsfoot \ grande o suficiente para cobrir a
sua própria sombra. \ Que trouxe para minha mãe no primeiro encontro um buquê \
de duas conchas e depois se afastou \ 800 km. Uma vez em campo, ele \ mudou
novamente o rumo do bispo, \ direcionando-o de volta para a peça de xadrez
real; \ aquela que pode mover-se sem dor \ em todas as direções, às vezes
simplesmente com um olhar \ sem se mover, em direção a ela \ escondendo dentro
de si \ os movimentos de todos os movimentos, vigiando-os. \ E eu: o resultado
de uma votação familiar \ em fevereiro de 1970; ninguém impôs veto e o embrião \
cresceu livremente em mim, \ para que hoje eu possa olhar com calma para o meu
caminho, \ uma trilha, já mais longa que a vida, para poder \ ver a sua vida \ pela
frente, muito mais longa que o caminho. \ E assim meu pai investiu \ em mim seu
herbário inacabado, \ e meus pensamentos amontoados entre \ as pilhas de livros
como flores achatadas \ até que, em minha primeira coleção, \ toda essa
erudição vegetativa explodiu \ e todas as lâminas, ordenadas com precisão, \ puderam
voltar a ocupar \ seu antigo volume. \ E agora estou diante de um \ deserto sem
fim de flores, palavras, dispostas e frescas, \ contraindo-se e expandindo-se à
minha ordem \ como o universo. O que devo \ fazer com isso, aqui, \ neste lugar
distorcido, \ a sangue frio? \ E agora diante dos meus olhos: um \ pampa
interminável e incaracterístico \ dedanglers comuns, Vulpia myuros, \ cobertos
com uma semente invejosa de \ anfíbios. \ Sua corrente difásica, alternada \ e
as 1.200 páginas de notas frenéticas, \ jorrando com a magnitude \ de um
furacão. Um fardo sifônico \ que você colocou sobre \ os ombros de seus filhos,
a forma como \ uma guerra egoisticamente coloca seus corpos \ e sua memória
ensangüentada em \ um anel mítico impenetrável e \o enterra para as gerações
futuras \ entre as páginas de um livro terreno, um grande \ livro de capa dura
inédito \ e sem correções e \ sem editor. \ Estaria Deus escondido entre grãos
de bico, \ sementes de girassol e cenouras, \ na boca de prisioneiros
distróficos \ a caminho de casa? \ Estaria Deus escondido nos tímpanos surdos
dos rifles \ que a Gestapo lhes cutucou em Viena, \ quando vocês, rapazes,
estavam jogando \ areia dentro dos eixos da composição ferroviária? \ Estaria
Deus escondido em Jaroslav, um campo de internamento \ da Primeira Guerra
Mundial, entre os dentes de ratos \ que, saltando sobre os prisioneiros,
surpreendentemente não morderam? \ Deus da mãe ou seu não-Deus? \ Ambos
anunciados \ em letras maiúsculas, \ ambos, numa hora de necessidade, soprados
na escuridão \ sem resposta, \ ambos entorpecidos e frágeis \ como se
estivessem agachados num barril fechado \ de bolota Mohojeva. \ Não foi a
frente russa, nem a fome, nem o vinho, \ nem foram os teus estudos, não – \ nada
importa senão a qualidade \ do carinho – \ no final – que gravou o traço na
mente \ pomba sta memoria –\ foi a minha mãe quem mobilizou \ meu pai para o
resto da vida, \ o amor gentil e inabalável \ chamado Zorka.
Poema da
antropóloga, poeta, ensaísta, editora, tradutora e professora eslovena Taja Kramberger.
MISERICÓRDIA - [...]
Eu sei que
a felicidade é um bem raro. Devemos mantê-lo em nossos corações quando nos toca
de perto, encher com ele todos os bolsos de nossa alma, para servir de escudo
quando ocorrer o seu oposto... [...] A hora é o melhor estratagema inventado para
desafiar a ausência de fim. Invenção humana para encurtar o tempo e dar-lhe o
sentido que sem dúvida não tem. [...] Todas as espécies humanas estão
acomodadas aqui e, como na vida lá fora, as más superam as outras. [...]
Não quero
pensar na tristeza e na dor, apenas na alegria que, por ser a mais frágil das
três, é a que me mantém vivo. Assim, deixo de lado o que pesa e perturba, e
penso na primavera que trouxe alegria e cobriu de paz as paredes do Hotel
Paradis. [...]
Às vezes penso que o mundo se organiza através de coincidências
extravagantes, como se as palavras e as coisas se atraíssem pela simpatia e
pela mímica, como se os animais e as vozes que os nomeiam se agrupassem em
grupos inexplicáveis, uma espécie de igualdade invisível que aos nossos olhos é
nada além de um mistério [...] É impossível ter um objeto secreto onde
tudo é visto e revisto, examinado e inventariado pelos olhos dos outros, porque
aqui onde estou não tenho nenhum canto próprio, nenhum objeto me pertence, até
o meu corpo já não é mais um objeto. canto íntimo da minha alma como era antes.
Só os meus pensamentos me pertencem, só eles não são monitorados, e ainda assim
há quem tente adivinhar porque falo ou fico calado. [...]. Trechos
extraídos da obra Misericórdia (D. Quixote, 2022), da premiada escritora
portuguesa Lídia Jorge, que ainda expressa: Escrever é praticar a
grande medicina da alma. Veja mais aqui, aqui e aqui.
RAZÃO, VERDADE &
HISTÓRIA – A filosofia precisa de visão e de argumento… há algo de decepcionante
num trabalho filosófico que contém argumentos, por melhores que sejam, que não
são inspirados por alguma visão genuína, e algo de decepcionante num trabalho
filosófico que contém uma visão, por mais inspiradora que seja, que não é
apoiada por argumentos …A especulação sobre como as coisas se articulam requer…
a capacidade de estabelecer distinções e conexões conceituais, e a capacidade
de argumentar… Mas visões especulativas, por mais interessantes ou bem apoiadas
por argumentos ou perspicazes, não são tudo o que precisamos. Também precisamos
daquilo que Burnyeat chamou de “visão” – e considero que isso significa visão
sobre como viver as nossas vidas e como ordenar as nossas sociedades. Pensamento do filósofo estadunidense Hilary
Putnam, que na sua obra Reason, Truth and History (Cambridge
University Press, 1981), expressa que: […] Nenhuma pessoa sã deveria acreditar que algo é subjetivo
simplesmente porque não pode ser resolvido sem controvérsia. [...] A ciência é maravilhosa em destruir respostas metafísicas, mas é incapaz de
fornecer respostas substitutas. A ciência elimina os
alicerces sem fornecer um substituto. Quer queiramos estar
lá ou não, a ciência colocou-nos na posição de ter que viver sem fundamentos. Foi
chocante quando Nietzsche disse isto, mas hoje é um lugar comum; nossa
posição histórica - e não há fim à vista - é a de ter que filosofar sem
'fundamentos' [...]
Tudo isso é realmente impossível, da mesma forma que é realmente impossível
que macacos digitem por acaso uma cópia de Hamlet. [...]. Também autor do livro Jewish Philosophy as a Guide to Life:
Rosenzweig, Buber, Levinas, Wittgenstein - The Helen and Martin Schwartz
Lectures in Jewish Studies (Indiana University Press, 2008), expressa o pensamento de que: […] Eu
posso somente satisfazer uma pessoa por dia. Hoje não é o seu dia, amanhã
também não parece bom. [...] Corte a torta do jeito que quiser, os
"significados" simplesmente não estão na cabeça! [...] as
causas (dores) não são construções lógicas a partir dos seus efeitos
(comportamento). [...].
NORDESTE DESCOBERTO OU
INVADIDO...
[...] A partir de
1505 muitas expedições exploradoras foram enviadas à nossa Terra – percorrendo
a costa, medindo-a e denominando os acidentes geográficos encontrados [...].
Por isso, é o Nordeste um todo a estudar, e um todo a deslumbrar o resto do
Brasil. [...].
Trechos extraídos da
obra Nordeste, berço do Brasil, descoberto ou invadido em 1500? Dos estudos
nordestinos Raízes brasileiras (Autor, 1999), do poeta, professor e
pesquisador Amaro Matias Silva (1922-2002). Veja mais aqui, aqui e aqui.
UM OFERECIMENTO:
NNILUP CROCHETERIA
Veja mais aqui.
&
SANTOS MELO LICITAÇÕES
Veja detalhes aqui.
&
Tem mais:
Livros Infantis Brincarte
do Nitolino aqui.
Poemagens & outras versagens aqui.
Diário TTTTT aqui.
Cantarau
Tataritaritatá aqui.
Teatro Infantil: O
lobisomem Zonzo aqui.
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traumas – consultas e curso aqui.
VALUNA – Vale
do Rio Una aqui.
&
Crônica de
amor por ela aqui.