Ao som A Water
Cello de Jim McWilliam para Charlotte Moorman (9º Festival Anual de
Vanguarda de Nova York, em South Street Seaport, em Nova York, 1962), com as 6
performances di Carlotte Moorman nel 1989 alla ex Caserma Zucchi a Reggio
Emilia e as cenas do filme Topless Cellist (1995), todos destacando
a arte da violoncelista e artista performer da vanguarda
estadunidense Charlotte Moorman (1933 – 1991). Veja mais aqui.
AS CINZAS NO
PÉ-DE-VENTO, VERBI GRATIA – Daqui o céu é perto,
inverno sobre a cidade tal chuveiro no peito: maior a solidão da tarde. Queria atravessar
rios, outras margens e relevos na correnteza dos dias. Fosse mais cedo semearia
canções em Sol maior, a alma nas tintas e pincéis, versos de solitude. Se a
hora entardecida chora escuto Françoise Sagan: A capacidade de rir
juntos é o amor... A única coisa que eu lamento é que nunca vou ter tempo para
ler todos os livros que quero ler... A minha casa é uma selva e só não me
sinto tão só por conta das hestórias que tomam forma como frutos brotando pelos
galhos e, de um deles, emerge Zelda Mishkovsky: Cada
folha contém inúmeros conselhos e bondade para os seres humanos. Agora essa planta
tem uma existência dupla; sua própria existência, e a existência que perdura
dentro de minha alma... E da minha a vida ádvena no crepúsculo turvo à
espera da noite para trazer a estrela fugitiva tartéssia, da colorida Nebulosa
da Laguna. Se ela não vem é como o degelo de Thwaites. Não me desaponta o frio
porque Silveira Bueno assoma no corredor: O maior inimigo que
devemos combater é a mediocridade... A intelecção é parte capital: o que a
razão não compreende, o coração dificilmente experimenta em toda a sua verdadeira
força emocional... Da última vez restou dela a iridescência do aceno de
quem foi embora sem olhar sequer para trás. Drummond que acudiu
solidário: Só agora descubro como é triste ignorar certas coisas...
Quantos favores não fizeram o molho para me devorar, restaram cinzas no
pé-de-vento, verbi gratia.
DITOS &
DESDITOS
Imagem: Acervo ArtLAM.
[,,,] Todos
sabemos que a nossa época é profundamente bárbara, embora se trate de uma
barbárie ligada ao máximo de civilização. Penso que o movimento pelos direitos
humanos se entronca aí, pois somos a primeira era da história em que
teoricamente é possível entrever uma solução para as grandes desarmonias que
geram a injustiça contra a qual lutam os homens de boa vontade à busca, não
mais do estado ideal sonhado pelos utopistas racionais que nos antecederam, mas
do máximo viável de igualdade e justiça, em correlação a cada momento da história.
[...] Porque pensar em direitos humanos tem um pressuposto: reconhecer que
aquilo que consideramos indispensável para nós é também indispensável para o
próximo. Esta me parece a essência do problema, inclusive no plano estritamente
individual, pois é necessário um grande esforço de educação a fim de
reconhecermos sinceramente este postulado. Na verdade, a tendência mais funda é
achar que os nossos direitos são mais urgentes que os do próximo. [...] A
literatura corresponde a uma necessidade universal que deve ser satisfeita sob
pena de mutilar a personalidade, porque pelo fato de dar forma aos sentimentos
e à visão do mundo ela nos organiza, nos liberta do caos e portanto nos
humaniza. Negar a fruição da literatura é mutilar a nossa humanidade. [...]
Uma sociedade justa pressupõe o respeito dos direitos humanos, e a fruição
da arte e da literatura em todas as modalidades e em todos os níveis é um
direito inalienável. [...].
Trechos extraídos
do ensaio Direito à literatura (1988), do sociólogo e escritor Antônio
Cândido (1918-2017), extraído do volume O direito à literatura (EdUFPE,
2012, organizado por Aldo de Lima. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
A LEITURA DA POESIA – [...] A poesia é uma
captação da realidade, que se caracteriza por uma espécie de imediatez ou tato.
Uma forma de apalpar as coisas com o coração. Poesia é algo que nos obriga a ir
além daquilo que se vê, a transpor as palavras. Tentamos produzir em nós uma
sensação ou sentimento semelhante ao do poeta. Nesse sentido, toda poesia exige
um poeta, ou antes, dois: o poeta-autor e o poeta- leitor. Com isso não se
exclui o outro lado da poesia, que não é agradável, mas que nem por isso deixa
de ser emoção [...] Existe um lado violento nela; também se realiza pela
emoção, embora a maioria das emoções sejam emoções agradáveis. O ódio é uma
emoção; sob esse aspecto, pode ser expresso em poesia. Mas a verdade é que o
amor é uma emoção mais fundamental, portanto mais poética. [...] o ritmo
poético recupera o ritmo da circulação sangüínea e da respiração [...] é
a linguagem repetida com a finalidade de torná-la veículo apropriado da emoção [...]
na poesia lírica as palavras a rigor nunca valem apenas pelo seu significado
representativo; em todas, ou quase todas, emerge o elemento sensorial acústico,
e não raro a comunicação lingüística repousa praticamente nele. Nem sempre – é
verdade – há uma motivação sonora propriamente dita, mas sempre há, pelo menos,
um conteúdo estético determinado pelos sons constitutivos do vocábulo.
[...]. Trechos extraídos da obra A poesia: uma iniciação à leitura poética
(Uniprom, 2000), do poeta e crítico de arte Armindo Trevisan, na qual o
autor pretende formular uma iniciação que proporcionará uma segura leitura mais
atenta aos detalhes sonoros e formais da magia poética. Já na obra Reflexões
sobre a poesia (InPress, 1993), ele expressa que [...] Viver é não
deixar-se desviver, é decidir a favor de si e do mundo. Para tanto, deve o
homem acionar suas reservas de emoção [...] Pensamento e intuição, razão
e imaginação procedem, em última análise, da bipolaridade mencionada, isto é,
do consciente que se movimenta nas ações que exigem controle; e do
inconsciente, nas ações que não exigem [...] palavra, ou antes, a frase,
que o poeta trabalha constitui uma realidade própria com leis físicas e
metafísicas [...]. Ele também expressa em suas conversas que: A arte é
uma pedagoga que conduz até o umbral da perfeição, mas não dá respostas.
Veja mais a respeito aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
POESIA NA SALA DE AULA – Aprofundando os
estudos acerca da poesia deparei-me com a obra Poesia na
sala de aula (Parábola, 2018), de Hélder
Pinheiro, que expressou a respeito: [...] o livro nasceu da vivência da
leitura do poema em sala de aula nos mais diversos níveis de ensino. E com o
tempo fomos incorporando novas reflexões, leituras, indicações. Mas a base é
pensar caminhos para leitura do poema, fugindo do modelo tradicional fornecido
pelo livro didático. [...] A poesia contribui e muito para formação dos
alunos se for trabalhada cotidianamente, visando formar sua sensibilidade, sua
percepção do mundo, das pessoas, dos fatos, naquele sentido de que falou
Antonio Candido no ensaio sobre “O direito à literatura”. [...] Uma
estratégia de que sempre lanço mão é a leitura em voz alta. Ler e reler os
poemas, buscar as inflexões adequadas, os ritmos, os andamentos. Experimentar
estas descobertas com os próprios alunos sempre traz bons resultados – entendo
por resultados o envolvimento dos leitores em formação. Debater poemas, trazer
textos que abordam os mesmos temas e compará-los. A comparação sempre rende
bons debates, boas descobertas. Encenações, a depender dos poemas e das turmas,
às vezes rende boas experiências. Há um capítulo no livro em que fazemos
inúmeras sugestões. Mas é bom sempre reforçar: uma boa estratégia usada à
exaustão, pode perder sua eficácia. Talvez a melhor das estratégias seja ler
cotidianamente poemas, sem atrelá-los a exercícios e outras atividades.
[...]. Nesta mesma direção encontrei o artigo A mágica arte da leitura poética: um chamariz para aprender, da professora Marina Amélia Honorato, extraído do
volume Os desafios da escola pública paranaense na perspectiva do professor
(Cadernos PDE, 2013), no qual ela destaca que: [...] A experiência em
relacionar a poesia com o cotidiano do aluno, com músicas, dramas, tramas,
filmes, versos e reversos, traduzidos em ensino capaz de gerar aprendizagem,
proporcionando experiências, acordando a esperança de ensinar que a leitura tem
que ser estudada, aprendida para poder ser lida em todos os suportes que
aportam os gêneros textuais. [...] Ler nas entrelinhas do texto escrito pelo
autor, buscando compreender esse impasse que se traduz entre autor\texto\leitor
– aluno, enquanto interlocutor audaz, com capacidade de ler e internalizar
aprendizagem de leitura extensiva à vida. [...]. Também nos estudos
desenvolvidos na dissertação de mestrado Poema na sala de aula: estratégias
para a formação do aluno leitor (PROFLETRAS- UFMTS, 2015), da professora Kelly
Brambilla Kolano Nicolau, ela expressa que: [...] O efeito do poema
reside nas tramas de sua composição, na maneira com que se organiza, como por
exemplo, na sonoridade, nas inversões sintáticas, nos jogos de palavras, nas
imagens que eles contêm, e cada leitor, poderá, com seu horizonte de
expectativas e seu repertório reagir de forma particular de acordo com sua
sensibilidade, a esses elementos. Compreender mostrou-se, portanto, uma etapa
de um processo maior que, de acordo com as reações dos alunos, passa pelas
impressões subjetivas do leitor. [...] com base em nossa pesquisa que obtivemos
um resultado bastante expressivo em relação ao envolvimento dos alunos com a
leitura, isso reflete na formação do leitor, o qual também poderá levar para a vida
além dos muros da escola. A realização da pesquisa –“Poema na sala de aula:
estratégias para a formação do aluno leitor” – possibilitou uma experiência
bastante desafiadora: levar o aluno a gostar de ler, por meio de poemas. O
resultado foi bastante revelador e atéinesperado, pois (re)afirma que os alunos
gostam de ler e o professor deve saber como trazer essa leitura para a sala de
aula de forma que melhore o desempenho do aluno em relação ao entendimento e o
gosto da leitura. Portanto, é necessário ter uma metodologia que agregue boas
estratégias de leitura bem planejadas, proporcionando o prazer e a própria
fruição da leitura. [...]. Com estas conclusões pode-se inferir com Ruth Rocha que: O processo de leitura possibilita essa operação maravilhosa
que é o encontro do que está dentro do livro com o que está guardado na nossa
cabeça. E também com Murilo Mendes ao expressar que: A
poesia não pode nem deve ser um luxo para alguns iniciados: é o pão cotidiano
de todos, uma aventura simples e grandiosa do espírito. Veja mais aqui,
aqui e aqui.
DOIS POEMAS
Imagem: Acervo ArtLAM.
ACIMA DE
TUDO AME – acima de tudo ame \ como se fosse a única coisa que você sabe fazer \
no fim do dia isso tudo \ não significa nada \ esta página \ onde você está \ seu
diploma \ seu emprego \ o dinheiro \ nada importa \ exceto o amor e a conexão
entre as pessoas \ quem você amou \ e com que profundidade você amou \ como
você tocou as pessoas à sua volta \ e quanto você se doou a elas.
MEU PULSO
ACELERA – meu pulso acelera diante \ da ideia de parir poemas \ e é por isso
que nunca vou parar \ de me abrir para concebê-los \ o amor \ pelas palavras \ é
tão erótico \ que ou estou apaixonada \ ou excitada pela \ escrita \ ou ambos.
Poemas da escritora ndiana Rupi Kaur, autora de obras como Milk and Honey (2014), The Sun and Her Flowers (2017)
e Home Body (2021).
SANGUE DE ELFOS – [...] Erros, ele disse com esforço,
„também são importantes para mim. Não os apago da minha vida, nem da minha
memória. E eu nunca culpo os outros por eles. [...]. Trecho extraído da
obra Blood of Elves (The Orion, 2009), do
escritor polonês Andrzej Sapkowski, que noutra de suas obras, a Sword
of Destiny (Orbit, 1992), expressou que: [...] Nunca
há uma segunda oportunidade para causar uma primeira impressão [...]. Dele
também o pensamento: Aos homens agrada inventar monstros e monstruosidades. Com isso, sentem-se
menos monstruosos. Quando se embriagam, são capazes de trapacear, roubar, bater
na esposa, deixar morrer de fome a velha vovozinha, matar a machadadas uma raposa
pega numa armadilha ou ferir com flechas o último unicórnio do mundo.
JORNADA DA
HUMANIDADE – […] A mão humana é outra. Em conjunto com nossos cérebros, nossas mãos também
evoluíram em parte em resposta à tecnologia, especificamente os benefícios de
criar e utilizar ferramentas de caça, agulhas e utensílios de cozinha. [...] A educação, tolerância e maior igualdade
de gênero são as chaves que levarão nossa espécie à prosperidade nas próximas
décadas e séculos. [...] Assim, a abundante evidência histórica indica
que os avanços tecnológicos durante a Revolução Industrial levaram a um maior
retorno dos investimentos em capital humano, redução da diferença salarial
entre homens e mulheres, rejeição do trabalho infantil, aumento da expectativa
de vida e aumento da migração de áreas rurais para regiões urbanas, e que esses
fatores contribuíram para o declínio nas taxas de natalidade durante a
transição demográfica. […]. Trechos
extraídos da obra The Journey of Humanity: The Origins of
Wealth and Inequality (Dutton, 2022),
do economista israelense Oded Galor, autor pioneiro na
exploração do impacto da evolução humana, diversidade populacional e
desigualdade no processo de desenvolvimento durante a maior parte da existência
humana.
POESIA
PERNAMBUCANA
[...] A
poesia praticada nas academias, nos bares, nas ruas, nas praças, nos mercados,
nas pontes do Recife, em mais de quatro séculos de produção contínua,
dificilmente chega às nossas escolas. Repousa em velhos jornais e nas seções de
obras raras das poucas bibliotecas públicas. [...].
Trecho da
apresentação de Alexandre Kruse ao volume da Antologia didática de
poetas pernambucanos – Do pós-guerra à década de 80 (SED/DSE/SE, 1986),
organizada por Cremilda Aquino de Matos, Ésio Rafael e Izabel Maria Martins da
Silva. Veja mais aqui e aqui.