TRÍPTICO DQP:
- Uma fábula do balaio oniricaleidoscópico... - Escapando aqui & ali & acolá, voo
pelos mata-burros e mato sem cachorro, pelas paredes surdas ao desabafo do que
odeio para me salvar. Tenho comigo os ecos hesitantes de Valery, relido O manual de falhas de Ignácio de Loyola Brandão, a perseguir d’O tempo de vidro de Samarone Lima n’O angu de sangue de Marcelino Freire. Um total de cenas descosidas
& disparatadas, plasmadas dos sonhos de quem deu partida para uma chegada
improvável, mais morto do que vivo e fazendo contas
ainda com o ovo no cu da galinha. Tenho comigo as rainhas
da alma de Puschkin e me assustei
com o truísmo dum tatu peba que me contou que o Boitatá se alimentava dos olhos dos mortos. No frigir dos ovos, roubaram
mesmo meu silêncio. E Wittgenstein
me dizia: Acerca daquilo que não se pode
falar deve-se silenciar. Ademais, na minha cabeça repetia Santiago Kovadloff: O que significa ouvir o silêncio se não
ouvir o que não pode ser dito? É por isso que se pode dizer que o ruído
triunfa, mais do que onde se ouve, onde não se deixa ouvir. Ora, ora. Tinha
mais: dentro de mim muito mais que Sylvia Plath: Sou habitada por um grito. /
Toda noite ele voa / à procura, com suas garras, de algo para amar. Com essa
barulhada toda sigo abalado, confesso e vivo cantando e contando hestórias...
Pedra do Rodeador –
Imagem do artista visual Mané Tatu.
- Pratrasmente o Fecamepa é um
despautério, maior esculhambação! Quem diria que havia gente assim escondida atrás
dos volantes ou birôs, e se achando os melhores e de bem. Ah, não. Fugi disso. Ontem
mesmo fui pro lugar do encanto e lá ouvi vozes e tons invisíveis. Cruzei sem-terras
com fitas azuis e verdes às mãos dos que eram braçais da escravidão e que formavam
o ajuntamento da sesmaria do sítio, feito prosélitos do Bom Jesus da Lapa, os
Procuradores de Jesuisis. No semblante aguardavam juntamente com sabidos e
ensinados o retorno do Sebastião de Alcácer Quibir para o reino da felicidade. E
toda parentela seguia atraída pela riqueza e negócios para comandar o mundo e
corrigir as coisas erradas do Ribeira, dos Bezerros, dos cariris velhos, dali mesmo
do futuro próspero arraial: Reino do Paraíso Terreal. E isso enquanto os
conversos no oratório com santos louvores para devoção do terço e da santa
pedra. Eu que tinha vindo do outro lado distante, fugindo de estranhas e
complicadas tramas doutros de face desfeita e voz de vento que estavam prontos
para aniquilar o arraial sebástico com as fogueiras do Bonito e nem sabia,
fiquei pasmo e à toa. Ah, não, eu já me escondia deles porque sabia que por
trás dos disfarces grotescas criaturas com um grande elenco de trapalhadas
inconvenientes com o raro talento de desmanchar reviravoltas e a enorme
capacidade de desancar toda sorte de coisas com suas eutanásias dolosas na cartada
final, os bem-aventurados de Joel Silveira: o mal de Deus é que ele
exagera muito quando quer agradar a alguém... Logo os que se achavam
cara-pálidas amargos e odiados, e do outro lado, santa ingenuidade. Quando se
trata de coisa dessa natureza, nunca se sabe. O tempo é esse de hoje, mas como
se fosse outro dantanho. Taí onde estou sempre: no meio de trapaceiros e
flagelados.
Garimpagem da fronteira... –
Imagem da cartunista colombiana Power
Paola. - Sigo adiante, o caótico e o fragmentário dos palimpsestos, como se
me comovesse demais depois do terceiro gole. É que o que urdi me levou ao
desesperador erro de cálculo e me senti como um cacho de pitomba condenado ao
ostracismo. Quantas versões para minha morte: desapareci tragado por outra
dimensão verbivocovisual e lá estava lindamente Power Paola: O que eu quero
da vida? Em todas as histórias há apenas histórias... Levantou-me como se
eu não tivesse deus porque estava estendido no chão, fraturas expostas, sutura
alguma, as minhas melancolias e as mercadorias felizes. Fez-se parelha e foi
muito bom tê-la caminhando ao meu lado. Caiu a ficha de tudo que vivi - aprendi
com o mundo e o dia-a-dia para achar o ponto de equilíbrio de Sivuca: Não ter nada e, ainda por cima,
nem dever a ninguém. E me senti com o teor prismático da experiência: sou eu
todo retorcido. Vambora, até mais ver.
A função
do professor não é ditar pensamento, mas ensinar a pensar...
Pensamento do jornalista e
pedagogo espanhol Jaume Carbonell. Veja mais Educação
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