O QUE ERA MATA
ATLÂNTICA QUANDO ASFALTO QUE MATA - Ainda ontem
vi Jesuíno esmurrando um juazeiro responsável pela morte de Júnior, à flor da
idade em mortuário, ele desolado e aos prantos. Não seria ele só o primeiro nem
o único, antes uma Rural cheia pelo tampo na festa dos curaus e uma mangueira
passeava sorrateira para cruzes ornarem seu entorno amanhã de manhã. Depois um
cata-corno cheínho de transeuntes fez brotar um obituário enorme como um
flagelo ao redor de um abacateiro, hoje doente com um prego infincado no casco.
Aí veio uma jeringonça topada de calungas que iam pras usinas cortar cana e nem
chegaram, o carrão do filho do usineiro quase atravessado, até o mandú de
Zeferino enganchou-se num mulungu e a cada dia mais gente estrepada entre
cajueiros, umburanas, carnaubas, juremas, oticicas, catingueiras, ipês
amarelos, aroeiras, umbuzeiros, amendoeiras, cajueiros, cajazeiras, craibeiras,
coqueiros, pitombeiras, a culpa é delas! O que era antes mata parte do Arrozal de Inhanhuns,
fez-se estrada de barro batido, até uma passarela como um arco,
alameda deslumbrante de noite no meio dia, maravilha aos olhos que se tornou asfalto
e pista de corrida com curvas fechadas, só silvo de coruja e outros bichos,
lêmures e lendas de morte entre troncos. Até então eu não sabia que ali as
árvores zanzavam impunes anunciando mortes pras carpideiras recônditas e
chorosas virem com suas motosserras implacáveis: a culpa é delas! A imperícia e
imprudência das munhecas não contavam nem nunca contarão, a culpa é delas que
não deviam estar ali enraizadas ou saindo do lugar, justo na hora para suplício
de amigos e desconhecidos. Não fossem elas, todos estariam vivos fazendo a
alegria dos seus parentes, pintando o sete arteiro, fazendo este país melhor
com seu trabalho, mantendos os seus e comemorando suas datas. Não fossem elas
as viuvas não choravam nem se prostituíam, filhos não seriam bandidos, nem
haveriam tantos deserdados da vida pranteando nas lápides improvisadas, enquanto
livros ilustrados de humor nas enfermarias e emergências endeusavam as atrozes,
como se ensinassem um outro sentido de vida. Na boca da mata, pra eles melhor
seria nem existissem – pra quê oxigenio mesmo, hem? –, são assassinas dos
nossos consaguíneos, camaradas ou compadrios, enlutando famílias cristãs e de
bem, aguçando a fúria dos inocentes. Melhor assim, acham todos dali, condenadas
à pena de morte. Melhor desmatar tudo e entregar pra especulação imobiliária,
pelo menos haveria mais emprego e riqueza, não haveria mais ninguém chorando em
missa de sétimo dia. E dendroclastas de plantão enxugando suas lágrimas e em
nome do luto e do progresso pelos volantes que são bons e prazerosos, armados
de revolta e de facões decepam todas elas que são más com pés de raízes para
aplacar a alegria de quem vem ou vai no trampo ou viagens pros cemitérios de
almas. Hoje quase deserto pelo desmatamento, a morte só quer desculpa! Eu nem
sabia, mas pra morrer, basta estar vivo! © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.
Curtindo os álbuns Kizumba (Visom, 1996), Percussão
contemporânea brasileira (Visom, 1993) e O samba no balanço do jazz (Sesc, 2011), do percussionista,
arranjador e compositor João Parahyba.
Veja mais sobre:
O viúvo do padre aqui.
E mais:
Max Weber & Norah Jones aqui.
John Keats & Bárbara Lia aqui.
Mario Quintana, Wang
Tu, Tácita, Eduardo Souto Neto, Carlito Lima, Mike Leight & Vera Drake, Suzan Kaminga & Ansel Adams aqui.
Humanismo e a Educação Humanista aqui.
Yoram Kaniuk, Thelonious Monk, Robert E. Daniels, Eugene de Blaas, Meir Zarchi,, Luciana Vendramini, Camille
Keaton, Tono Stano, Eliane Auer, Prefeituras do Brasil, Juizados
Especiais & Responsabilidade
civil das instituições bancárias aqui.
Dicionário Tataritaritatá aqui.
O mal-estar na civilização de Freud & Coisas de
antonte e dantanho aqui.
Nomes-do-pai de Lacan & BBB & Outras tacadas no
toitiço do momento aqui.
A ilusão da alma de Eduardo Giannetti & A poesia veio
dos deuses aqui.
Troço bulindo nas catracas do quengo, Fernando Fiorese
& Abel Fraga aqui.
O mistério da consciência de Antonio Damásio &Nó na
Garganta de Eduardo Proffa & Jan Claudio aqui.
&
DESTAQUE: AFLORAMENTOS DE ANTONIO SALVADO
Gozaram o prazer da união:
os corpos encontrados totalmente,
o esforço do suor os ligou tanto
que perdiam contornos juntos
sempre.
Não tinha dimensão aquela posse
arfada de contínuo harta sem trégua
que para ser intemporal completa
apenas He faltava o az da morte.
Mas sucumbiram ao queimor do cárcere
sem porta que se abrisse devagar
e tolhidos na rede do cansaço
separados os corpos deslembraram-se.
Queimor, poema extraído da obra Afloramentos (2007), do poeta português António Salvado.
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
A arte do fotógrafo Don Dixon.
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra: As Dali's Venus in Bacchanale,
ballerina Nini Theiladetheilade.
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.