SOU DA TERRA ALMA
CAETÉ - Sou da terra que é minha alma no universo e
me faz das matas, rios, estrelas e corações o rincão do mar de Iangaí até o
grande rio do sul. Sou deste chão desde o tempo em que o céu estava mais perto
e as nuvens e estrelas ao alcance da mão, quando não havia noite no dia sem
fim, todas as coisas falavam e éramos um só nas ocas e ocara. Nada além do
tacape e cocar, cunhã, cunhantãs e curumins. Foi então que Tupã trouxe a noite
no coco de tucumã com todos os seus bichos no canto do bacurau. E ensinou ao
cansar da escuridão, o voo do cajubi para anunciar o dia e o Sol descer à terra
e reinar por toda aldeia até o fim do mundo. Lá pras tantas depois do
entardecer é que vem a Lua com o séquito de estrelas e astros luminosos pra trazer
a chuva boa para regar as plantas esturricadas e adubar a terra pra gente
plantar e colher no pitéu toda mandioca, banana, jerimum, inhames e carás. E
fartavam nossos potes e enchiam nossas malocas. Até que um dia soou o boré com
notícias do alto da palmeira de estrangeiros ao mar vindos não se sabe de onde.
Só se sabe que chegaram e se aproximaram com sua soberba desalmada, em nome de
um deus estranho do açúcar a invadir nossas terras, se apossarem do que era
nosso, roubando nossa língua, crenças e coisas. E nos fizeram crer nas suas
coisas, e nos oprimiram e nos desconheceram. Empunhamos azagaia e flechas e
resistimos até nos condenarem pela morte do bispo dos perós que sequer foi
visto por nossa gente. E nos perseguiram até a quinta geração pelas matas,
litoral, agreste e sertão. E nos demonizaram por nossos costumes e nos fizeram
inimigos de todos. À custa de traições capturaram nossos guerreiros, sequestraram
Iangaí pros domínios do donatário e aprisionaram os nossos que foram ceifados
um a um, enquanto ela jurada preferida do mandatário, não tendo outra escolha, pulou
da torre para se entregar à fúria das ondas do mar, com suas lágrimas ao
crepúsculo gemendo até hoje nas cercanias em dó menor. Restou-me o estigma e a
ojeriza da maldição perseguindo os nossos descendentes, como se da vida
restasse apenas o castigo pra morte. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.
Curtindo o álbum com Ellora Symphiny, Trinita
Sinfonica & Rapsodia per Orchestra (Naxos, 2005), do compositor japonês Yasushi Akutagawa (1925- 1989), com a
New Zeland Sumphony Orchestra & Takuo Yuasa. Veja mais aqui.
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DESTAQUE: SOL & LUA, LENDA OFAIÉ
No tempo de dantes, o Sol e a Lua eram gente, como nós. Andavam
por aí como irmãos, mas estavam sempre brigando, pois a Lua era muito teimoso. Sol
saía para caçar, corria o mato atrás de um veado e quando voltava arcado ao
preso da caça, Lua ficava enciumado e queria sair só, para matar mais bichos do
que ele. O irmão o censurava: - Não faça isso, que há muito perigo por aí. Um dia
você se estrepa. Ora, você não caça? Acha então que eu sou algum bobo? Um dia
Sol saiu, dizendo que ia à lagoa arranhar umas flechas. Não deixou Lua acompanha-lo.
Homens e mulheres da aldeia lá estavam pescando. Cada um deles levava dois
maços de jaguatimbó. Na margem, macetavam o cipó e o atiravam dentro da água. Logo
o peixe virava de banda e a lagoa ficava coalhada. Era só cercar, pegar e
ajuntar o pescado. Os que apenas ficavam tontos com o veneno, era preciso matar
a flechaços. O que Sol queria era arranjar umas flechas. Transformou-se num
dourado bem grande e, antes de mergulhar, cobriu-se de cascas de angico, de
peroba, que são grossas e resistentes. Pôs-se a nadar diante dos índios,
botando apenas o rabo para fora da água. Choviam flechas sobre o seu lombo e
ele não tinha mais do que pegá-las e guarda-las. Os índios viram suas flechas
atingirem o dourado e saltaram atrás dele, nas canoas. E ninguém o alcançava. Quando
já não tinham mais flechas, começaram a atirar-lhe os arcos. Mas nada de
feri-lo. Então Sol foi-se embora, levando um sortimento de arcos e de flechas. Quando
Lua viu o irmão chegar, ficou com vontade de ir também arranjar arcos e flechas
na lagoa. – Não vá, meu irmão – disse Sol. – Fique em casa que um dia você se
estrepa! Lua bateu o pé e foi. Mas não era tão esperto como Sol. Lá chegando, transformou-se
num dourado, mas em lugar de pôr sobre o lombo cascas grossas e resistentes
como fizera o irmão, contentou-se em revestir as costas com cascas moles, como
as da jaracatiá. Atirou-se na água e choveram flechas sobre ele. Não voltou
para casa. Diante disso, Sol transformou-se numa abelha e foi procurar o irmão.
Chegou ao ajuntamento de índios e ficou rodeando, rodeando. Nada. Depois voou
por cima dos montes de espinhas de peixe: soprava a poeira e procurava saber se
eram do irmão. Visitou todas as casas e andou pelos cantos, examinando à
procura de Lua.
Lenda extraída de Notícia dos Ofaié-Xavante (Revista do Mueseu Paulista, 1951),
contada pelo antropólogo, escritor e político mineiro Darcy Ribeiro ( 1922-1997). Veja mais
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