EMMA, A ESTRELA BRILHANTE DO VOLTAIRE
- Vinha de dois divórcios malsucedidos por estadias alternadas entre Berlim e
Munique e era ela a profissional artista de cabaret, a mesma que começou tudo
como empregada doméstica e que trabalhou na prostituição explorada por um
ex-marido, até ser presa sob suspeita de roubo. Dizia-me sussurrante: Minha
única profissão é aprender o que sou... E me contou que foi no cabaret
Neopatético que seu espírito criativo, impulsivo e enigmático tomou vez, depois
de atuar pelo teatro itinerante. Independente e desenraizada era a poeta que era
o Dada em pessoa pelas ruas de Zurique fugindo da guerra. Ao mesmo tempo a vigarista,
vagabunda, mãe e esposa era a atriz que brilhou no cabaré Simplicissimus
conquistando corações, com seus braços arredondados sobre os quadris e
emprestando o corpo às canções. A ingenuidade, simplicidade e natureza infantil
fez dela a bailarina que elevou seu gesto além do palco e a cantar com sua
comovente voz que saltava sobre cadáveres e zombava deles, a marionete
autobiográfica em desacordo com a cultura materialista nas suas performances e
exibições desenfreadas e violadoras de regras. A lembrança doída da filha criada
pelos avós em Flesburg nos poemas de solidão e cativeiro, êxtases e aflições,
doenças e mortes, drogas e sexo. Era uma ativista político-radical e antiguerra,
enfrentando problemas de saúde mental, mergulhada na pobreza extrema e falta de
moradia, suspiros de amor e rajadas de soluços em meio às canções obscenas. E era
Dagny de tão inquieta quanto complexa ousando sensual e bombástica para as
plateias, com seu jeito anárquico e estranhamente niilista, polinizando a cruzada
de artistas refugiados internacionais. Era um pandemônio geral com suas nuances
infinitas, hipnotizada pela morfina, a chama de sangue absinta, a avalanche que
não passava de uma menina que era a própria histeria e com um apelo: A vida
poderia ser arte, em vez de guerra... Era a estrela brilhante do Voltaire! Veja
mais abaixo e aqui, aqui e aqui.
DITOS & DESDITOS - Ó livros! livros! Eu devo muito a
você. Vocês são o óleo do
meu espírito, sem o qual a própria fricção contra si mesmo o desgastaria...
Que conforto é este diário. Digo a mim mesmo e
jogo o fardo sobre meu livro e me sinto aliviado. Estou
sempre bem. Tomei meu destino em minhas próprias mãos, não
acredite em nada até que eu mesmo conte a você. Sei muito bem o que
o mundo inteiro irá pensar, mas o mundo inteiro pode estar errado.
Se eu estivesse apta para outro mundo, com que prazer iria para lá.
Pensamento da diarista, alpinista e viajante britânica Anne
Lister (1791-1840), que manteve um imenso diário onde narrou os detalhes de
sua vida cotidiana, incluindo seus relacionamentos lésbicos, suas preocupações
financeiras, suas atividades industriais e seu trabalho dedicado ao Salão
Shibden, razão pela qual é considerada a a primeira lésbica moderna.
ALGUÉM FALOU: Se meu
sorriso não estivesse submerso em meu semblante, eu o suspenderia sobre seu
túmulo. Por
favor, levante seus céus nevados da minha alma... Seus sonhos de diamante cortar minhas veias... Frases da
poeta alemã Else Lasker-Schuler (1869-1945). Veja mais aqui e aqui.
PERSONAS SEXUAIS - [...] A sociedade
é um sistema de formas herdadas que reduzem a nossa humilhante passividade em
relação à natureza. [...] O reencontro com a mãe é um canto de sereia que assombra o nosso imaginário. Antes havia felicidade
e agora há luta. Memórias obscuras
da vida antes da separação traumática do nascimento podem ser a fonte das
fantasias arcadianas de uma era de ouro perdida. [...]
A natureza está sempre jogando paciência consigo mesma.
[...] Em algum nível, todo amor é combate, uma luta contra fantasmas. Só somos a favor de
algo quando somos contra outra coisa. As pessoas que
acreditam estar tendo encontros sexuais agradáveis, casuais e descomplicados,
seja com amigos, cônjuges ou estranhos, estão bloqueando da consciência o
emaranhado da psicodinâmica no trabalho, assim como bloqueiam os confrontos
hostis de sua vida onírica. [...] O artista não faz
a sua arte para salvar a humanidade, mas para salvar a si mesmo. Qualquer comentário
benevolente de um artista a esse respeito nada mais será do que lançar uma
cortina de fumaça, escondendo o rastro sangrento de seu ataque à realidade e
aos outros. [...] A Bíblia foi criticada por fazer da mulher
o sujeito caído no drama cósmico do homem. Mas ao considerar um
conspirador masculino, a serpente, como inimigo de Deus, Gênesis se esquiva e
não leva sua misoginia suficientemente longe. A Bíblia se desvia
defensivamente do verdadeiro oponente de Deus, a natureza ctônica. A serpente não está
fora de Eva, mas dentro dela. Ela é o jardim e a
serpente. [...]. Trechos extraídos da obra Sexual
Personae: Art and Decadence from Nefertiti to Emily Dickinson (Vintage, 1991), da professora e acadêmica Ph.D,
ensaísta crítica social e de arte estadunidense, Camille Paglia. Veja
mais aqui, aqui, aqui e aqui.
ARMADILHA DO PARAÍSO - [...]
Ninguém mais. Eu não me importo
com mais ninguém. Ninguém chega
perto, de agora em diante. Eu não me importo
com o quão bonita ela é, quão inteligente ou quão doce ela é. Nenhum amigo,
nenhum amante… ninguém vale esse tipo de dor. De agora em diante,
sou só eu... Sozinho. [...] Ter uma boa
memória é ser abençoado e amaldiçoado… [...].
Trecho extraído da obra The Paradise Snare (Random House Worlds (May 5, 1997), da escritora Ann
Crispin (1950-2013), que na obra Time for Yesterday (Simon e Schuster,
1999), expressou que: [...] Lembre-se de que em qualquer mundo o vento
eventualmente desgasta a pedra, porque a pedra só pode desmoronar; o vento pode mudar. [...]
Durante suas visitas, o Vulcano descobriu que D'berahan era na verdade uma
portadora, não uma mulher. Mas você se refere
a si mesmo como “ela”, ele disse a ela. Por favor, me
ensine o termo correto em seu idioma. [O pensamento/conceito/palavra que você entendeu está correto]
foi a resposta divertida. [Entre o meu povo,
temos apenas uma maneira de expressar todos os gêneros... como "doadores
de vida". Seus tradutores
universais traduziram isso como “ela”, e por isso somos todos conhecidos...
homens, mulheres e portadores. Não somos todos
doadores de vida?] [...].
A ÚLTIMA ALEGRIA (Segundo
poema) - A chuva bate nas janelas.\ Uma flor brilha em vermelho.\ Ar frio
sopra contra mim.\ Estou acordado ou morto?\ Um mundo está longe, longe\ Um
relógio bate quatro vezes lentamente.\ E eu não sei por quanto tempo\ em seus
braços eu caio. Poema da escritora e performer alemã Emmy Hennings (1885-1948),
a estrela brilhante do Cabaré Voltaire e associada ao Dadaismo. Veja mais aqui
e aqui.
OUTRAS DIC’ARTES