A vida seria tão maravilhosa se nós soubéssemos o que fazer com ela.
A arte da
atriz sueca Greta Garbo (1905-1990).
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AS DUAS FESTAS NO CÉU – Na primeira festa que houve no céu, todos
os pássaros foram convidados. As aves se aproveitaram do privilégio e começaram
a mangar dos outros bichos. O sapo que não era besta nem nada, já botou a
astúcia em dia e saiu cantarolando que também iria para a festa. Como? A gente
se vê por lá. Oxente. Pois foi. Ardiloso, saiu por ali todo pabo, deu uma volta
e, às escondidas, entrou na camarinha do urubu e se entocou dentro da viola. O urubu
quando chegou às pressas, pegou o instrumento e bateu asas céu afora. Ao chegar
foi a maior confraternização: Chegou todo mundo? Todos. E o sapo? Aquilo é um
enrolão. Dali a pouco, pof pof pof, lá passava o sapo acenando: Vamos pra
festa, gente! Esse sapo é um danado mesmo! Lá pras tantas, a festa se
aproximando do final, o sapo tomou a dianteira e voltou-se a esconder. O urubu
pegou a viola e começou a voar de volta. No meio do caminho, bastou um tombo e
o sapo se mexeu. O urubu parou no ar e foi conferir: Ah, tás aí né? E emborcou a
viola e nas alturas despencou: Béu, béu! Se eu desta escapar, nunca mais festa
no céu! Ao se aproximar do chão, berrou: Arreda, terra, senão eu te arrebento! Caiu
e despedaçou-se todo, aos cacos. Não se sabe ao certo como, mas ele
ressuscitou! Daí mais uns dias estava lá ele coaxando na beira da lagoa. Assim
foi. A segunda, todos os bichos foram convidados, menos o macaco e o cachorro. Oxe!
Pois foi. No meio dos protestos, foram liberados: ficariam em lugares
separados! E os cachorros, ao chegarem, teriam de pendurar os fiofós para não
armarem trela de ficarem engatados na safadeza durante a festa. Assim foi. Cada
cachorro na chegada, passava no recinto e tirava o cu deixando-o pendurado. Com
isso a festa correu solta. Os macacos que estavam quietos até essa hora,
resolveram aprontar: entraram no recinto dos cachorros e trocaram os bozós
deles de lugar. Ao final lá se foram todos, cada um com seu furico no lugar. Deu
maior pandemônio. Acontece que os cachorros deram pela sacanagem e começaram um
a cheirar o boga do outro para ver se localizam o seu. Até hoje eles procuram,
coitados. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo
e aqui.
DITOS & DESDITOS – Há
muitas pessoas que me fazem falta e que de repente já não estão lá; por vezes,
mais novas que eu. Isso acontece a todos, mas ver esse mundo desfeito e muitos
não terem a capacidade, que eu penso que tenho, de se relacionarem com pessoas
de gerações mais novas… Tenho relações com pessoas de muitas faixas etárias, e
também tenho netos, quase a chegar à idade adulta. Mas sei o quanto me custa
perder pessoas da minha geração. Estou na rede social e penso que de fato isso
corresponde muito ao momento. Mas isso não é literatura, é um substituto das
conversas de café, por exemplo, e que hoje quase não existem porque as pessoas
não têm tempo de se encontrar. É um fórum virtual de encontro em que as pessoas
dizem aquilo que de momento lhes parece e que, obviamente, pode estar errado.
Muitas vezes está, e há coisas que as pessoas escrevem sem pensar, sem dúvida,
mas isso faz parte da essência momentânea das redes sociais. São pessoas muito
robotizadas. Mesmo aquelas respostas de escolha múltipla, de cruzinhas, é
absolutamente negativo. Porque depois elas não sabem escrever duas frases, é
uma cruzinha e pronto. Isso é muito fácil depois de corrigir e muito prático
para os professores. O difícil é ler o que eles escrevem. Sou uma otimista com
os pés no chão. Realista. Porque milagres não espero, nem acredito neles.
Gostaria de ser otimista, mas tenho muitas, muitas interrogações. Não sei para
onde vamos, para onde o mundo caminha. Obviamente que isso me preocupa. Tenho
esperança que prevaleça o bom senso, o senso comum, que não estou a ver. Mas é
uma esperança, não é uma certeza. Somos frágeis e como de um momento para o
outro podemos desaparecer e isso fez-me valorizar muito mais o momento presente
e viver ao máximo cada dia que passa. Pensamento da escritora portuguesa Teolinda Gersão. Veja mais aqui &
aqui.
ALGUÉM FALOU: Toda
a capacidade de compreender está enraizada na capacidade de dizer não. Faça
coisas. Seja curiosa, persistente. Não espere por um empurrão da inspiração ou
por um beijo da sociedade na sua testa. Preste atenção. É tudo sobre prestar
atenção. É tudo sobre captar o máximo que você puder do que está por aí e não
deixar que desculpas e que a monotonia de algumas obrigações diminuam sua vida.
Atenção é vitalidade. Conecta você com os outros. As únicas respostas
interessantes são aquelas que destroem as perguntas. A inteligência é uma
espécie de paladar que nos dá a capacidade de saborear ideias. Literatura é
liberdade. Minha biblioteca é um arquivo de anseios. Para escrever, você deve
se autorizar a ser a pessoa que você não quer ser (de todas as pessoas que você
é). Ainda não fui a todo o lado, mas está na minha lista. Pensamento da
escritora, ensaísta, crítica social e ativista estadunidense Susan Sontag (1993-2004). Veja mais
aqui.
A VIDA – A vida é como um
fermento, uma levedura que se move por um minuto, uma hora, um ano, um século,
um milênio, mas que por fim terá paralisado os movimentos. Para manter-se em
movimento, o grande come o pequeno. Para manter-se forte, o forte come o fraco.
O que tem sorte prolonga o seu movimento por mais tempo - eis tudo. Eu
preferiria ser cinzas do que pó! Eu preferiria que a minha faísca queimasse em
uma chama brilhante do que ser reprimido pela podridão-seca. Eu preferiria ser
um meteoro soberbo, cada átomo meu em um brilho magnífico, do que um planeta
sonolento e permanente. A função própria do homem é viver, não existir. Não vou
desperdiçar meu tempo em tentar prolongá-lo. Usarei o meu tempo. A idade nunca
é tão antiga quanto a juventude a mede. Você pode se livrar das pessoas, porém
elas marcam você até nas menores coisas. Eu não vivo para o que o mundo pensa
de mim, mas para o que eu penso de mim mesmo. Pensamento do escritor, jornalista
e ativista estadunidense Jack London (1876-1916). Veja mais aqui.
LITERATURA DO EXÍLIO – [...] Quando
a partida para o estrangeiro não é voluntária, mas imposta como banimento, e a
estada além-fronteiras, degredo definitivo, a reação diagnosticada na carta
persa inclui-se num longo rol de sintomas que transcendem a metáfora satírica.
E alinham-se, todos, de forma evidente ou mal dissimulada, como indícios de um
mal maior – o mal do exílio. [...]. Trecho extraído da obra Os males da
ausência ou a literatura do exílio (Topbooks, 1998), da escritora e
professora Maria José de Queiroz, englobando
a história humana e o seu percurso pelos círculos do inferno que são o desterro
da pátria, a estada em terras estrangeiras e os males todos da ausência, refazendo
um longo itinerário - das várias diásporas dos judeus, do êxodo ao holocausto
de 39-45, dos trágicos gregos de Odisseu (de Homero), de Ovídio e Séneca a
Dante, de Madame de Staël, sob Napoleão, o Grande, a Victor Hugo, sob Napoleão,
o Pequeno, de Camões a Du Bellay, de Voltaire e Rosseau a Nabokov e a Brodski,
passando pela República de Weimar, pela Alemanha exilada pelo nazismo.
Rodolfo Coelho Cavalcanti
Vou contar mais um exemplo
Dentro da realidade,
Pois toda alma descrente
Vive na obscuridade,
Tem um vácuo coração
Condena a religião
Com toda incredulidade.
Helena Matias era
Filha de uma religiosa,
Dona Matilde – mãe dela
Alma santa e virtuosa
Porem ela ao contrário
Era um falso relicário
Tipo mesmo vaidosa.
Em Canindé, Ceará
Deu-se esta narração
Helena Matias Borges
Foi transformada num cão
Por sua língua ferina
Transformou sua sina
Num mais horrível dragão.
Helena de vez em quando
Dava uma surra na mãe dela
Quando a velha reclamava
Um qualquer malfeito, ela
Com isso se aborrecia
Na pobre velha batia
Até que virou cadela.
Era uma sexta-feira santa,
Conhecida da paixão,
Helena disse à mãe dela:
- Quero me virar num cão
Se esta tal sexta-feira
Da paixão não é besteira
Da nossa religião.;
- Não diga isso, minha filha,
Que é arte do anticristo
Sexta-feira da paixão
Relembra o sangue de Cristo
Que por nós foi derramado!...
Disse Helena: - Isto é gozado....
Tudo é bobagem, está visto.
- Helena por Deus te peço
Não zombes do salvador
- Minha mãe, barriga cheia,
É algo superior...
Tudo isso são bobagens,
Cristo, padre, Deus, imagem,
Para mim não tem valor.
Na hora que gente nasce
Chora logo pra comer...
Eu quero comer jabá
Só se eu ouvisse Deus dizer:
“Helena não coma isto!”
Eu que não conheço Cristo
Nunca ouvi nem posso crer.
Quando Matilde, a mãe dela
Foi aconselhar Helena,
Esta deu-lhe uma bofetada
Sem piedade, nem pena
Que a velha caiu chorando
E a deus foi suplicando
Numa praga pequena.
- Tenho fé, filha maldita
Na santa virgem Maria,
Em todos santos do céu,
Que hás de virar um dia
Numa cachorra indolente
Para saberes, serpente
Que uma mãe tem valia.
Uma rajada de vento
Passou feito um furacão
Um raio caiu bem perto
Com o ribombar do trovão
A terra toda tremeu
Logo o sol apareceu
Dois segundos na amplidão.
Helena sempre a zombar
Se pôs a carne a comer
Vendo a mãe dela chorando
Queria mais lhe bater
Mas a justiça divina
Mostrou á filha assassina
O seu supremo poder.
Dona Matilde se pôs
Naquele instante a rezar
Uma tempestade horrorosa
Caiu ali sem esperar,
Chuvas, faíscas e ventos
Com elevado pensamento,
Foi à filha aconselhar.
Helena continuava
Fazendo profanação
Comia mais por despeito
A tal carne do sertão
E disse para a mãe dela:
- Deus me vire uma cadela
Se é que ele existe ou não?
Quando Helena disse isso
O rosto todo mudou
E cauda como cadela
A moça se transformou...
Uma cachorra horrorosa
Espumando e furiosa
Naquela hora ficou.
Tinha cabeça de gente
Com a mesma feição dela
Mas o corpo até a cauda
Era uma terrível cadela...
Foi Helena castigada
Uma filha amaldiçoada
O castigo pegou nela.
Ali dentro do Canindé
A noticia se espalhou
A cachorra nesta hora
Muita gente estraçalhou
Ninguém pode matar
Cercaram para pegar
Porem ninguém a pegou.
O animal furioso
Horrível, endemoninhado,
Passou pra Pernambuco
Feito um lobo esfomeado...
Foi visto em Juazeiro
Quase matando um romeiro
De padre Cicero sagrado!
Há uns três anos passados
A tal cachorra assassina
Quase mata uma criança
Na cidade de Petrolina,
Voltou de novo a Cocal
E na estrada de Sobral
Mordeu uma pobre menina.
Em janeiro deste ano
Ela esteve na Bahia
Passou perto de Tucano
Desceu a Santa Luzia,
Passou pelo Jacuipe,
Depois chegou a Sergipe
Fazendo a mesma agonia.
Dizem que ela sempre ataca
Quando a noitinha aparece
Tem a cabeça de moça
Assim no mundo padece
Tendo o corpo de cachorra
Vive ela numa masmorra
Da mãe dela não esquece.
Duas vezes que ela foi
A zona do seu sertão
Para pedir à mãe dela
Seu sacrossanto perdão,
Com o padre se avista
E diz que ela resista
Se quer ter a salvação.
A penitencia da moça
É vinte anos sofrendo
Por isso que ela padece,
Uivando, se maldizendo
Pegando de noite gente
É uma cachorra valente
Que a anos vem aparecendo.
Afirmam que ela já foi
Há pouco desencantada
Mas é boato, pois, já
Neste mês foi avistada
No sertão de Água-Bela
E é a mesma cadela
Do Ceará encantada.
A toda moça aconselho:
- Tenha juízo bastante,
Uma mãe é pra cem filhos,
Diz o adágio importante,
Zombar de mãe é espeto
Quem escreveu o folheto
Foi Rodolfo Cavalcante.
RODOLFO COELHO CAVALCANTE – o jornalista, poeta e trovador alagoano Rodolfo Coelho Cavalcante (1917-1986) foi palhaço e camelô fazendo propagandas nas portas das lojas, membro de várias associações literárias e fundou alguns periódicos como “A voz do trovador”, “O trovador” e “Brasil poético”. Criou as agremiações, contam-se a Associação Nacional de Trovadores e Violeiros (ANTV) e o Grêmio Brasileiro de Trovadores (GBT). Também participou e organizou congressos de poetas populares. Fixou-se em Salvador, Bahia, onde publicou e vendeu os seus folhetos. Viveu de biscates e trambiques quando foi capturado por Lampião, sendo liberado pela sua insignificância. É autor, entre outros, dos seguintes: “O barulho de Lampião no inferno”; “A chegada de Lampião no céu”; “A chegada de Lucas da Feira no inferno”; “O encontro de Guabiraba com Lampião”; “O encontro de Rodolfo Cavalcante com Lampião Virgulino”; “Lampião e seus cangaceiros”. Sua produção literária alcança número superior a 270 folhetos. Ele foi objeto de tese universitária na Universidade de Sorbonne, escrita por Martine Kunz, denominada Rodolfo Cavalcante poète populaire du Nord-Est Brésilien.
FONTES:
ABREU, Márcia. História de cordéis e folhetos. Campinas: Mercado de Letras, 1999.
ALMEIDA, Mauro William Barbosa de. Folhetos - A literatura de cordel no NE brasileiro.. São Paulo: Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, USP, vol. 1, 1979.
BATISTA, Sebastião Nunes. Antologia da literatura de cordel. Natal: Fundação José Augusto, 1977.
CAVALCANTE, Rodolfo Coelho. Cordel. São Paulo: Hedra, 2003.
CARDOSO, Tania Maria de Sousa; Elementos para uma biografia de José Pacheco e Rodolfo Coelho. Natal: UERN, s/d.
CASCUDO, Luís da Câmara. Geografia dos mitos brasileiros. São Paulo: Global Editora, 2002.
CURRAN, Mark. J. A presença de Rodolfo Coelho Cavalcante – cordel. Porto Alegre: Nova Fronteira, 1987.
LOPES, Ribamar (org.). Literatura de cordel — Antologia. Fortaleza, Ministério do Interior/Banco do Brasil, 1983.
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