A ROSA NO JARDIM
DA PRAÇA – Naufrage em rose, da pintora,
escultora e escritora estadunidense Dorothea Tanning (1910-2012). - O jardineiro tinha muitos nomes, muitos amores.
Havia encontrado a verdade e não sabia o que fazer com ela. Amava as flores e
folhas dos jardins, das praças, seu perfume e seu encanto. Cogitou por curiosidade
o curso das coisas e seres, amava e deu de cara com as incompreensões. Examinava
o trabalho das formigas, a luta dos homens e mulheres, o que cada um entendia
de si e de como tudo surgia assim do inopinado. Autoexaminou-se e não sabia
direito nada do que conseguia entender, experimentou a autoelucidação, compreendia
até ver-se na praça, a rosa linda, as árvores, os encontros entre as pessoas, o
cuidado com as ervas daninhas e os insetos, o movimento da vida, ia além das
aparências. Dava-se conta da praça e a lua cheia poética era o reflexo do Sol
com as estrelas que nem eram estrelas e brilhavam no firmamento com milhões de
outros sistemas solares e seus sóis-estrelas nas profundezas cósmicas. Ele tudo
via e era ali que sentia a rotação terrena e aprendia coisas que não se
ensinavam, nem saberia dizer. Era ali que vivia a translação e tinha
consciência do que jamais seria capaz de pronunciar na satisfação do
entendimento. Pensava por si, o sorriso de gente, a fúria dos insatisfeitos, o
caminho pra seguir, e julgava ser verdadeiro e, diante do espelho, muitas faces
e mortes. Não possuía talentos, entrevado em todos os sentidos: um teimoso a
esperar que algum dia algo desse certo e nunca deu, nada não, é a vida. Não
temia e passava por baixo de escadas, juntava os cacos dos espelhos quebrados,
e chamava o gato preto que cruzava o caminho, não se deixando levar pelas sugestões
e inferências, é tudo tão normal e não presumia nem se abrigava na
incompreensão. Não se dava por vencido, nunca; dormia esbagaçado de tristeza
por não conseguir dar um passo adiante, as suas derrocadas, tudo que fizesse
dava no vazio, sabia educação e conhecimento para todos, não era bem assim,
nada era tão assim. Acordava refeito e a vida era só a esperança de sempre. Sempre
assim: ao final do dia, enredado com todas as ciladas, xeque mate; acordava e o
outro dia renascendo das cinzas e dores: os fracassos levam ao caminho de Deus,
sabia. Por isso era rigoroso na autocritica, tolerante com as ideias alheias e
retirava-se sem alarde. Ao presumir conhecer alguma coisa, soube da contínua
transformação heraclitiana. Então, dormia e sonhava todos os sonhos, saindo da
caverna com a dialética platônica: não havia só aqui, a morte é apenas uma sequência
natural e isso às risadas milenares de Demócrito com os segredos da natureza, o
profeta do Quark. Soube mais: todo começo é uma mudança e recomeço, um mínimo
grão na poeira universal, cada ser único e irrepetível. E disse pra si: O outro sou eu; e se alguém perde, todos somos
derrotados. Assim escolhia as palavras e o domínio da voz, e se sonhasse a Nova
Atlântida, calava a voz, falava sem abrir a boca: a instrução pelo silêncio. Era
assim que na praça, sozinho, mergulhava no patrimônio espiritual da humanidade,
na fonte original da essência das coisas e tudo era um nele e dele construía para
que o outro também fosse. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.
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DITOS & DESDITOS:
Ao nascer, o Sol impulsionou com sua luz as
ações e pensamentos de todos: homens que dia a dia pensam coisas novas, com
impulso mútuo estimulam-se uns aos outros para as ações, como os que estão
sobrecarregados com pesada carga. Por convenção há cor, por convenção há o
doce, por convenção há o amargo, mas na realidade os átomos e o vazio.
Coçando-se os homens têm prazer e sentem o mesmo que ao fazer amor. A todos
quantos consideram prazeres os que vêm do estômago, ultrapassando a medida
certa na comida, na bebida ou nos amores, os prazeres são curtos e momentâneos em
que comem e bebem, mas as dores são numerosas. O desejo por essas mesmas coisas
continua presente e, quando têm aquilo que desejam, rapidamente o prazer se
vai, nada de útil resta, senão o curto gozo e, outra vez, precisam das mesmas
coisas. É vergonhoso ocupar-se muito das coisas alheias e ignorar as próprias.
Quem inveja, traz sofrimentos para si mesmo, como se fosse um inimigo. Conseguir
bens não é sem utilidade, mas, através da injustiça, é o pior de tudo. O ódio
dos parentes é muito mais penoso que o dos estranhos. É preciso reconhecer que
a vida humana é frágil, pouco duradoura e misturada com muitos cuidados e
dificuldades, para que haja preocupação por uma posse moderada e a labuta se
meça pelas necessidades de cada um. Aqueles a quem dão prazer os sofrimentos do
próximo não compreendem que as vicissitudes da sorte são comuns a todos e lhes
falta uma alegria que seja sua.
A ARTE DE DOROTHEA TANNING
A arte
da pintora, escultora e escritora estadunidense Dorothea Tanning
(1910-2012). Veja mais aqui.
AGENDA
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Dicionário Poético Militante
(NEP/MMM, 2018), do poeta e jornalista Marcelo
Mário de Melo
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Rainer Maria Rilke, Andreas
Huyssen, Maria Ignez Mariz, Antônio Pereira, Pintando na Praça &
Paulo Profeta, Chico Buarque, Maria João Pires, Marcus Viana
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