Imagem: Acervo ArtLAM.
Ao som dos frevos
da Orquestra 100% Mulher, com a maestrina Carmen Pontes, e da Orquestra
Só Mulheres, com a maestrina Lourdinha Nóbrega. Veja mais aqui, aqui
e aqui.
IN MEDIA RES, ET
CÉTERA... - Pronde fui, meio caminho andado e o
centro losangular. O trâmite restringe-se a despovoado períneo: entre
precipícios e intransponíveis colinas. Farta predaria pela íngreme odisseia
solitária e aquela sensação de que não é bem assim que se faz, quantas
coincidências – o corpo todo dói com alarme de imprevisível temporal. O que fiz
até agora não rendeu nem durou, quem adivinharia. Foi tanto que em quinze dias
perdi duas semanas: por trás de toda cortesia há sempre tantos presságios. Uma voz
de mulher ecoa ao meu ouvido esquerdo dilatado. Na verdade, uma dupla voz que sussurra
Elizabeth Bishop: Durante toda a minha vida vivi e me comportei como um maçarico
correndo pelas bordas de diferentes países e continentes em busca de algo... Os carros blindados dos
sonhos foram planejados para nos permitir fazer tantas coisas perigosas...Ademais, ando
bastante envaidecido com o que dizem de mim os que
me querem ver pelas costas. Similitudes de quem nunca foi convidado nem teve um
lugar à mesa, qualquer canto aboletado depois de muito escorregar por cascas de
banana atiradas propositalmente no trajeto. Uma coisa posso dizer: sou daqueles
em que a queda sobe à cabeça, um expert – há anos fracasso da noite pro dia!
Muito tenho resistido até o dia em que deixe de bancar o idiota! Ouço Laura Ingalls Wilder: Não há grande perda
sem algum pequeno ganho... As
verdadeiras coisas não mudaram. O melhor ainda é ser honesto e verdadeiro;
aproveitar o máximo do que temos; ser feliz com os prazeres mais simples; e ter
coragem quando as coisas derem errado... Cá comigo
penso: quem se responsabilizaria pelas desgraças do passado se o futuro
pertence a Deus, ora! O desastre sempre é precedido pela impressão de que tudo
vai muito bem, tudo certo. Sei que qualquer um pode passar pro outro lado
quando quiser, não me dou ao luxo. Amy Lowell que o diga: A vida é um riacho no qual espalhamos,
pétala por pétala, a flor do nosso coração... E a sua simpatia afagou meu
coração. Era como se me premiasse com ilécebra inelutável – o seu afetuoso
olhar, sua fragrante presença, suas mãos dispostas carinhosamente sobre meu
ombro envolvido por seu eflúvio ventral. Eu me sentia jogado, como se
precisasse recolher minhas anotações espalhadas pelo chão: experiência de gostos que se perderam, coisas de antes e após, lacunas
irreparáveis, o troco caído do bolso, guardanapo esquecido a levitar pelo vento
que vinha do mictório, uma casca de romã e abotoaduras sobre o sentimento das
gravatas que nunca usei, panapanás afugentando sonhos, um epitáfio qualquer e a
necessidade de passar a limpo todo rascunho impreciso pelas luzes da cidade.
Era como indagação pelo que fiz para ser recompensado: “Amanhã os pássaros
cantarão”... O que fiz por merecer já não faz o menor sentido. Para cada
acontecimento há infinitas versões. E a verdade quase não resiste à mínima
insinuação, todos preferem o boato. Todo mundo quer o que não é da conta deles.
Então, um fato é certo: os do contra sempre ganham. E é por isso que alguém só
sobrevive por causa da completa ineficiência do outro. Do contrário já
estaríamos todos liquidados. E o último a sair que pense com as pernas. Voo na
noite alta. Até mais ver.
DOIS
POEMAS
Imagem: Acervo ArtLAM.
O AMOR - Um pássaro me canta\ e eu lhe canto\ me
gorjeia ao ouvido\ e lhe gorjeio\ me fere e eu o sangro\ me destroça\ o quebro\
me desfaz\ o rompo\ me ajuda o\ levanto\ pleno todo de paz\ todo de guerra\
todo de ódio de amor\ e solto\ geme sua voz e gemo\ ri e rio\ e me olha e o
olho\ me diz e eu lhe digo\ e me ama e o amo\ – não se trata de amor\ damos a
vida-\ e me pede e lhe peço\ e me vence e o venço\ e me acaba e o acabo.
DIGO QUE NÃO
MORREU - Digo que não morreu\ eu não o creio\ – não o deixaram ser visto pelo
irmão\ e tantas outras coisas –\ e além disso\ como ia morrer o Che\ quando
restava\ tanta tarefa por fazer\ quando tinha \ que percorrer a América Latina\
formoso como um raio\ incendiando-a\ como um raio de amor\ destruindo e
criando\ destruindo e criando, como em Cuba. Como ia\ morrer, o Che? \ Como ia
morrer? Mas essa foto atroz\ aquela bota\ como partia a alma aquela bota\ a
suja e norte-americana bota\ mostrando a ferida com desprezo. Não tenho que
acreditar.\ Houve\ tantas contradições\ – não o deixaram ser visto pelo irmão
–\ e o deram por morto tantas vezes.\ -Como ia morrer, o Che.\ Ele muito menos\
se ia deixar cercar nesse vale\ ia sair em um descampado\ ia se deixar\ estar
ali\ a deixar\ que lhe estraçalhe as pernas a metralhadora. Eu não vou\
acreditar\ ainda que chore Cuba\ ainda que haja luto\ em toda a América Latina.
Não tenho que acreditar. Um dia\ um belo dia se dirá… está no Brasil\ ou se levantará
na Colômbia ou Venezuela\ a ajudar \ a ajudar-nos\ e nesse dia\ uma onda de
amor americano\ moverá o continente\ levantará o Che da América. Não creio que
morreu\ não posso crê-lo\ e não vou crê-lo\ ainda que o afirme o próprio Fidel
Castro. Mas amigos\ irmãos\ não esquecer\ não esquecer nunca o rosto
desprezado\ o coração mais sujo que essa bota\ nem a mão vendida\ lembrar-se do
rosto e da mão\ lembrar-se do nome\ até que chegue o dia\ e quando chegue\
quando soe a hora\ lembrar-se do nome e do rosto\ desse tenente Prado.
Poemas escritora
e crítica literária uruguaia Idea Vilariño (1920-2009). Veja mais aqui.
MEMÓRIA,
IDENTIDADE, RESISTÊNCIA... – Vivia em um internato esportivo de que não
gostava, e só no fim de semana voltava para casa com minha mãe. Eu precisava de
um mundo para me refugiar, e os livros para adolescentes não tinham nada a ver
comigo. Eu não estava neles. Os personagens que me contavam suas histórias
tinham olhos azuis, cabelos loiros que flutuavam ao vento, choravam e
desmaiavam, coravam. Lembro-me de que não entendia o que significava corar. Foi
difícil me identificar com esses livros. Eles limitavam minha imaginação, então
fugi para outros livros. Nenhum guia ou recomendações. Eu lia qualquer exemplar
que caísse em minhas mãos. Minha mãe me comprava muitos magazines de humor e
revistas. Também gostava muito de poesias e livros intensos, com imagens
grandiosas e longos diálogos. No entanto, um dia percebi que nem nos livros
para jovens leitores nem nos para adultos havia alguém como eu. Procurei e
procurei e não encontrei, então senti que algo não estava certo. Muitos anos
depois, quando comecei a escrever, esse era meu objetivo, meu desafio: escrever
sobre aqueles que não aparecem em livros infantis e juvenis, os personagens
negros. E junto com eles, abordar questões que também não foram abordadas, como
o racismo, a violência contra a mulher, o abandono de idosos, a reivindicação
de figuras históricas africanas, a emigração, o abuso sexual de meninas, a
menstruação, a religião afro-cubana, o tráfico de escravos… São questões que
sempre me preocuparam, algumas delas eu vivi na infância. E eu tive que
aprender a lidar com tudo sozinha. Escrevo, entre muitas coisas, para ajudar,
para acompanhar as negras de hoje. Para que muitos se sintam representados e
acompanhados... Trechos extraídos da entrevista Memória,
identidade e resistência na literatura latino-americana (Mafuá, n. 38,
2022), concedida pela escritora cubana Teresa Cárdenas para a jornalista
Rayanne Soares da Paz, que no texto Afrocubana: identidade e
memória através da escrita (Tag, 2021), expressa que: [...]
A boa literatura sempre transforma mentes, espírito, a maneira de ver a vida.
Um bom livro pode ensinar, orientar, moldar leitores. Todos nós podemos ser educados,
instruídos pelos livros. E minha literatura tem essa missão. Embora eu escreva
para todas as pessoas, em primeiro lugar quero que as crianças e a juventude
negra se sintam representadas por meio de minhas histórias. [...]. Já na
sua obra Cartas para a Minha Mãe (Pallas, 2010), ela expressa que: [...]
diz que é bom apurar a raça. Que o melhor que pode acontecer com a gente é
casar com um branco. Ela quer trabalhar como empregada na casa de uma família
branca. E embora titia proteste, dizendo que isso é coisa do passado, ela
insiste que não sabe fazer outra coisa. [...] todos me chamam de beiçuda
nessa casa onde eu não queria morar. [...] Ela trabalha para a família
branca de que falei. Cozinha, lava, passa e tudo mais que aparece para fazer na
casa deles. Se mata de tanto trabalhar, mas não reclama. Pelo contrário, fala
maravilhas deles, embora lhe paguem um tiquinho de nada. [...] É uma
forma de ganhar a comida que elas me dão. É o que titia diz. Mas acho que é a
mesma coisa que se trabalhasse para ‘os senhores’. [...] o Deus dos
negros se chamava Olofi, mas é o mesmo Deus dos brancos, só que cada um coloca
nele a cor e o nome que tiver vontade. E disse que Deus fez os homens de todas
as cores porque ele é como as crianças, que não gostam de coisas iguais, que as
deixam entediadas. [...] um céu em que as avós sejam boas e distribuam
doces entre seus netos. Onde ninguém maltrate as crianças, nem as obrigue a
fazer coisas que não gostam. Um céu onde ninguém me chame de beiçuda nem de
feia e onde eu não me sinta sozinha. [...] a coluna me dói toda. Vovó me
espancou como se fazia com os escravos. [...] Eu acho que um escritor
pode escrever sobre qualquer assunto para crianças e jovens, se ele os trata de
jeito certo. É necessário abordar diferentes temas, também os espinhosos, na
literatura escrita para essas idades. Não parece um pouco hipócrita que se
espantem quando aparecem situações difíceis em um livro, enquanto na vida real as
crianças experimentam atrocidades diariamente, diante dos olhos do mundo e
ninguém se escandaliza, e o que é pior, não fazem nada? [...].
OUTRA
CIÊNCIA É POSSÍVEL - [...] Os cidadãos esperam da ciência soluções para todos os
tipos de problemas sociais: desemprego, reservas de petróleo esgotadas,
poluição, cancro… o caminho que leva às respostas a estas questões não é tão
direto como uma visão programática da investigação nos faria acreditar […] Trecho
extraído do Another Science is Possible: A Manifesto for Slow Science (Polity, 2018), da filósofa e historiadora belga Isabelle
Stengers, que na obra Order Out of Chaos:
Man's New Dialogue with Nature (Verso, 2018),
assinala que: [...] A ciência faz parte da luta darwiniana pela vida.
Isso nos ajuda a organizar nossa experiência. Isso nos leva à economia de
pensamento. As leis matemáticas nada mais são do que convenções úteis para
resumir os resultados de possíveis experimentos. [...]. Já no artigo Experimenting with refrains: subjectivity and the
challenge of esc aping modern dualism (Palgrave, 2008) ela expressa que:
[…] Recuperar é uma aventura, tanto empírica como pragmática, porque não
significa principalmente recuperar o que foi confiscado, mas sim aprender o que
é preciso para habitar novamente o que foi devastado. [...] Não
podemos pensar sem abstrações: elas nos fazem pensar, atraem nossos sentimentos
e afetos. Mas o nosso dever é cuidar das nossas abstrações, nunca nos curvarmos
diante do que nos fazem – especialmente quando exigem que aceitemos
heroicamente os sacrifícios que implicam, os dilemas e contradições
insuperáveis em que nos prendem. [...] Veja mais aqui.
FREVO: A CHOREOLOGICAL PERFORMANCE
[...] acredito que, no contexto
da improvisação da dança frevo, as práticas criativas operam quase
exclusivamente no nível das estratégias e não envolvem mudanças nas regras da
dança. A distinção entre regras e estratégias também é útil para esclarecer que
a discussão sobre a improvisação da dança frevo, aqui apresentada, tem se
concentrado exclusivamente na identificação das regras gerais da dança.
[...].
Trecho extraído da obra Frevo: a
choreological performance (Richard Veiga, 2017), da jornalista, historiadora, pesquisadora
e professora Maria Goretti Rocha de Oliveira. Veja mais aqui e aqui.
UM OFERECIMENTO: SANTOS
MELO LICITAÇÕES
Fone/Zap: +55
(81)98023263. Veja mais aqui e aqui.
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Tem mais:
Curso: Arte
supera timidez aqui.
Poemagens &
outras versagens aqui.
Diário TTTTT aqui.
Cantarau
Tataritaritatá aqui.
Teatro Infantil:
O lobisomem Zonzo aqui.
&
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