A VIDA & O VIVER – Imagem: arte da artista alemã radicada na Austrália, Kathrin Longhurst. - A vida sabe-se lá o que é. Abriu os
olhos e os da mãe tão ternos, aconchegantes. Ouve o pai e depois outros familiares:
irmãos, tios, avós, parentalha – uns vão e voltam; outros, não mais. Tudo em
meio a choros e risos, doces e amargos, o calor e o frio, dores e temores,
festas e tristezas. Na rua, outros jeitos e gestos, bichos e cores, perto e
longe, dares e tomares, não para. Na escola, coisas estranhas que nem imaginava
existir: mundos e coisas, silêncios e cantares, falares e ouvires. A infância é
plena invenção, ao tato, pernas e sentires. E se brinca até do que não é, tudo
é possível enquanto o mundo cresce e a gente vai descobrindo o que há e o que
não há, e vai perdendo a graça. Os de casa vão se tornando outros tão estranhos
quanto desconhecidos, e a vida outros achegados entre risadas e desgraças,
desconfianças e traições. Até então era tudo fácil, difícil é saber que não é
dali pra diante, entre a sisudez da racionalidade e o passional do existir. O que
antes agradável torna-se patético, do inesperado é que acontece. É tudo tão
paradoxal: para quem olha só vê o que está na frente, ou se volta e tem também
atrás, senão os lados, acima, abaixo, de viés ou cis. Quando não é dia, é
noite; e depois, outros dias, outras noites, até não se saber. Onde há vida, há
morte; afora outras, como bem e mal, amor e ódio, o giro, o cubo e et cétera. Há
muita coisa incompreensível: tanta dessemelhança entre semelhantes, isso se não
se tratarem por irmãos que entre si mesmos desamam, ou digladiam, ou se ferem
ou se matam, o abismo entre o afeto e a consanguinidade, entre o animal e o
civilizado, os enigmas de viver: todos indefesos diante das aberrações
hediondas – se pelas calamidades solidárias que, de uma hora pra outra, na
convivência, inimigos figadais. Se se fala delicadeza, quanta ternura não vira
motejo para quem empunha bravura questionável, a usar da arrogância e do
ludíbrio para integrar e desintegrar, a gerar e degenerar, e manter a todos os
demais em cativeiro, uns aos outros no cabo de guerra: cada qual anseia os
tesouros guardados pelo dragão, a correr o risco da sina de Ixião e da Esfinge
do Édipo de Moreau – a harpia sedutora que é a tentação do ventre de Jocasta na
Roda da Fortuna de cada um. Da forma como passam, indo ou voltando, olhares
ariscos, rostos aborrecidos, passos apressados: a urgência de chegar primeiro
antes que todo mundo no vale tudo da competição. Para subir, qualquer goela ou
crânio ou cacunda servem pra batente, como espinhaço ou língua de fora servem
de degrau ascendente. Para quem chega ao topo, olha pra baixo, punhos nos
quartos, peito estufado, ufanismo: a conquista de urubu na carniça; quem
transita por inferiores mundos, só olha pra cima, submisso à pisada em si mesmo
que é o chão e nada mais. Aí se sabe da gangorra: ninguém está incólume dos
pratos da balança da Justiça na Roda da Fortuna. Lição de Trismegistus: assim
como em cima é embaixo. Pra quem não sabe, cada qual, o seu labirinto: as
gradações infinitesimais que findam na simultaneidade dos opostos, não há como
conciliar, como não? Ah, afinal, quem sabe, a vida não é só viver. © Luiz
Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
DITOS & DESDITOS:
[...] Pais, governo, povos do Brasil! Elevai os
olhos para esse esplêndido firmamento que se estende variando constantemente de
mil encantadoras cores por sobre as nossas cabeças. Volvei-os depois para essa
perene pomposa vegetação, incansável de expandir a vossos pés seus ricos tesouros,
esperando da vossa mão direção mais digna dela. Contemplai todos esses
prodigiosos dons da Providência, desdobrados a olhos indiferentes, e
recolhei-os depois em vossos pensamentos, e meditai... Não vos diz a
consciência qu e a mulher nascida nesta vigorosa terra superabundante de magnificências
naturais, respirando sob um céu radiante, no meio da poesia de tão admirável
natureza, não se pode limitar ao papel que tem até hoje representado? Não
sentis que a sua missão nesta parte da América civilizada, tão balda ainda de
instituições caridosas, não deve ser a de recolher factícios triunfos tributados
à matéria, quando o seu espírito pode e deve pretender a elevar-se a mais
dignas e nobres aspirações, promovendo na terra o bem do seu semelhante?
[...] faltou-vos a mola principal - a
educação - para a par deles marchardes, preparai-vos ao menos a satisfazer dignamente
a parte essencial da grande missão que vos fora destinada. Educai, para isto, a
mulher e com ela marchai avante, na imensa via do progresso, à glória que leva
o renome dos povos à mais remota posteridade! [...].
Trechos
recolhidos da obra Opúsculo humanitário
(Cortez, 1989), da educadora e escritora Nisia Floresta (1810-1885).
Veja mais aqui.
A ARTE DE KATHRIN LONGHURST
AGENDA
O premiado
filme Azougue Nazaré na 42ª Mostra Internacional de São Paulo – de 18
a 31 de outubro - & muito mais na Agenda aqui.
&
O sonho revelador, Helena Kolody, Fernando Sabino, Leon Eliachar, Nisia Floresta, Craig
Ruddy, Lenine, Sainkho Namtchylak, Diana Krall & Edson
Natale aqui.
&
Sexta feira, Naguib Mahfuz, João Martins de Athayde, Helen
Keller, Stephen Greenblatt, Richard Diebenkorn, Morton Subotnick, Karin Fernandes, Raimundo Fagner & Sônia Mello aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje curta na Rádio
Tataritaritatá a
música do guitarrista estadunidense Pat
Metheny:
Live in Japan, Speaking of now love, Secret Story Live & Imaginary Day Live
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de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja
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