sexta-feira, outubro 12, 2018

NISIA FLORESTA, PAT METHENY, KATHRIN LONGHURST & AZOUGUE NAZARÉ


A VIDA & O VIVER – Imagem: arte da artista alemã radicada na Austrália, Kathrin Longhurst. - A vida sabe-se lá o que é. Abriu os olhos e os da mãe tão ternos, aconchegantes. Ouve o pai e depois outros familiares: irmãos, tios, avós, parentalha – uns vão e voltam; outros, não mais. Tudo em meio a choros e risos, doces e amargos, o calor e o frio, dores e temores, festas e tristezas. Na rua, outros jeitos e gestos, bichos e cores, perto e longe, dares e tomares, não para. Na escola, coisas estranhas que nem imaginava existir: mundos e coisas, silêncios e cantares, falares e ouvires. A infância é plena invenção, ao tato, pernas e sentires. E se brinca até do que não é, tudo é possível enquanto o mundo cresce e a gente vai descobrindo o que há e o que não há, e vai perdendo a graça. Os de casa vão se tornando outros tão estranhos quanto desconhecidos, e a vida outros achegados entre risadas e desgraças, desconfianças e traições. Até então era tudo fácil, difícil é saber que não é dali pra diante, entre a sisudez da racionalidade e o passional do existir. O que antes agradável torna-se patético, do inesperado é que acontece. É tudo tão paradoxal: para quem olha só vê o que está na frente, ou se volta e tem também atrás, senão os lados, acima, abaixo, de viés ou cis. Quando não é dia, é noite; e depois, outros dias, outras noites, até não se saber. Onde há vida, há morte; afora outras, como bem e mal, amor e ódio, o giro, o cubo e et cétera. Há muita coisa incompreensível: tanta dessemelhança entre semelhantes, isso se não se tratarem por irmãos que entre si mesmos desamam, ou digladiam, ou se ferem ou se matam, o abismo entre o afeto e a consanguinidade, entre o animal e o civilizado, os enigmas de viver: todos indefesos diante das aberrações hediondas – se pelas calamidades solidárias que, de uma hora pra outra, na convivência, inimigos figadais. Se se fala delicadeza, quanta ternura não vira motejo para quem empunha bravura questionável, a usar da arrogância e do ludíbrio para integrar e desintegrar, a gerar e degenerar, e manter a todos os demais em cativeiro, uns aos outros no cabo de guerra: cada qual anseia os tesouros guardados pelo dragão, a correr o risco da sina de Ixião e da Esfinge do Édipo de Moreau – a harpia sedutora que é a tentação do ventre de Jocasta na Roda da Fortuna de cada um. Da forma como passam, indo ou voltando, olhares ariscos, rostos aborrecidos, passos apressados: a urgência de chegar primeiro antes que todo mundo no vale tudo da competição. Para subir, qualquer goela ou crânio ou cacunda servem pra batente, como espinhaço ou língua de fora servem de degrau ascendente. Para quem chega ao topo, olha pra baixo, punhos nos quartos, peito estufado, ufanismo: a conquista de urubu na carniça; quem transita por inferiores mundos, só olha pra cima, submisso à pisada em si mesmo que é o chão e nada mais. Aí se sabe da gangorra: ninguém está incólume dos pratos da balança da Justiça na Roda da Fortuna. Lição de Trismegistus: assim como em cima é embaixo. Pra quem não sabe, cada qual, o seu labirinto: as gradações infinitesimais que findam na simultaneidade dos opostos, não há como conciliar, como não? Ah, afinal, quem sabe, a vida não é só viver. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS:
[...] Pais, governo, povos do Brasil! Elevai os olhos para esse esplêndido firmamento que se estende variando constantemente de mil encantadoras cores por sobre as nossas cabeças. Volvei-os depois para essa perene pomposa vegetação, incansável de expandir a vossos pés seus ricos tesouros, esperando da vossa mão direção mais digna dela. Contemplai todos esses prodigiosos dons da Providência, desdobrados a olhos indiferentes, e recolhei-os depois em vossos pensamentos, e meditai... Não vos diz a consciência qu e a mulher nascida nesta vigorosa terra superabundante de magnificências naturais, respirando sob um céu radiante, no meio da poesia de tão admirável natureza, não se pode limitar ao papel que tem até hoje representado? Não sentis que a sua missão nesta parte da América civilizada, tão balda ainda de instituições caridosas, não deve ser a de recolher factícios triunfos tributados à matéria, quando o seu espírito pode e deve pretender a elevar-se a mais dignas e nobres aspirações, promovendo na terra o bem do seu semelhante? [...] faltou-vos a mola principal - a educação - para a par deles marchardes, preparai-vos ao menos a satisfazer dignamente a parte essencial da grande missão que vos fora destinada. Educai, para isto, a mulher e com ela marchai avante, na imensa via do progresso, à glória que leva o renome dos povos à mais remota posteridade! [...].
Trechos recolhidos da obra Opúsculo humanitário (Cortez, 1989), da educadora e escritora Nisia Floresta (1810-1885). Veja mais aqui.

A ARTE DE KATHRIN LONGHURST
A arte da artista alemã radicada na Austrália, Kathrin Longhurst. Veja mais aqui.

AGENDA
O premiado filme Azougue Nazaré na 42ª Mostra Internacional de São Paulo – de 18 a 31 de outubro - & muito mais na Agenda aqui.
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O sonho revelador, Helena Kolody, Fernando Sabino, Leon Eliachar, Nisia Floresta, Craig Ruddy, Lenine, Sainkho Namtchylak, Diana Krall & Edson Natale aqui.
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Sexta feira, Naguib Mahfuz, João Martins de Athayde, Helen Keller, Stephen Greenblatt, Richard Diebenkorn, Morton Subotnick, Karin Fernandes, Raimundo Fagner & Sônia Mello aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje curta na Rádio Tataritaritatá a música do guitarrista estadunidense Pat Metheny: Live in Japan, Speaking of now love, Secret Story Live & Imaginary Day Live & muito mais nos mais de 2 milhões & 700 mil acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.