
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio
Tataritaritatá especial
com a música do saudoso cantor estadunidense Al Jarreau (1940-2017): Live in
Italy, Newport Jazz Festival, Live at Montreux Jazz Festival & Leverkusener
Jazztage & muito mais nos mais
de 2 milhões & 700 mil acessos ao blog & nos 35 Anos
de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja
mais aqui e aqui.
DITOS & DESDITOS – [...] até
mesmo a defesa neoconservadora de valores tradicionais aparece sob nova luz:
como uma reação contrária ao desaparecimento de uma normatividade legal e
ética, gradualmente substituída por regulações pragmáticas que coordenam os
interesses particulares de grupos diferentes. Esta tese pode parecer paradoxal:
não vivemos nós na era dos direitos humanos universais. [...] não vivemos nós na era dos direitos humanos
universais, que se afirmam até mesmo contra a soberania estatal? O bombardeio
da Iugoslávia pela OTAN não foi o primeiro caso de intervenção militar
realizada em decorrência de pura preocupação normativa (ou, pelo menos,
apresentando-se como assim realizada), sem referência a qualquer interesse político-econômico
“patológico”. Essa nova normatividade emergente para os ‘direitos humanos’ é,
entretanto, a forma em que aparece seu exato oposto. [...]. Trechos
extraídos de Direitos humanos e ética
perversa (Folha de S. Paulo, 1º/jul./2001), do filósofo, professor, teórico
crítico e cientista social esloveno Slavoj Žižek. Veja mais aqui.
PERTENCENDO AO UNIVERSO - [...] No velho paradigma, acreditava-se que em
qualquer sistema complexo a dinâmica do todo poderia ser compreendida a partir
das propriedades das partes. No novo paradigma, a relação entre as partes e o todo
é invertida. As propriedades das partes só podem ser entendidas a partir da
dinâmica do todo. Em última análise, não há partes, em absoluto. Aquilo que
chamamos de parte é meramente um padrão numa teia inseparável de relações. [...] No velho paradigma, acreditava-se que a soma
total dos dogmas (todos, basicamente, de igual importância) acrescentava-se à
verdade revelada. No novo paradigma, a relação entre as partes e o todo é
invertida. O significado de cada dogma só pode ser entendido a partir da
dinâmica das revelações como um todo. Em última análise, a revelação como
processo constitui-se num bloco único. Os dogmas focalizam momentos
particulares da auto manifestação de Deus na natureza, na história e na experiência
humana. [...] No velho paradigma, pensava-se que havia
estruturas fundamentais, e também que havia forças, e mecanismos por cujo
intermédio estas interagiam, dando, dessa forma, nascimento ao processo. No
novo paradigma, cada estrutura é vista como a manifestação de um processo
subjacente. Toda a teia de relações é intrinsecamente dinâmica. No velho
paradigma, pensava-se que havia um conjunto estático de verdades sobrenaturais
que Deus pretendia nos revelar, mas o processo histórico pelo qual Deus as
revelou foi visto como contingente e, portanto, de pouca importância. No novo
paradigma, o processo dinâmico da história da salvação é, ele próprio, a grande
verdade da auto manifestação de Deus. A revelação, como tal, é intrinsecamente
dinâmica. No velho paradigma científico, acreditava-se que as descrições eram
objetivas, isto é, independentes do observador humano e do processo de conhecimento.
No novo paradigma, acredita-se que a epistemologia - a compreensão do processo
de conhecimento - deve ser incluída explicitamente na descrição dos fenômenos
naturais. A esta altura, não há consenso a respeito do que seria uma
epistemologia adequada, mas há um consenso emergente de que a epistemologia
terá de ser parte integrante de cada teoria científica. No velho paradigma
teológico, presumia-se que os enunciados eram objetivos, isto é, independentes
da pessoa que crê e do processo de conhecimento. No novo paradigma, sustenta-se
que a reflexão sobre modos não-conceituais de conhecimento - intuitivos,
afetivos, místicos - deve ser incluída explicitamente no discurso teológico. A
esta altura, não há consenso quanto à proporção em que os modos de conhecimento
conceituais e não-conceituais contribuem para o discurso teológico, mas há um
consenso emergente de que modos de conhecimento não-conceituais constituem
parte integrante essencial da teologia. A metáfora do conhecimento como
construção - leis fundamentais, princípios fundamentais, blocos de construção
fundamentais, etc. - tem sido usada na ciência e na filosofia ocidentais por
milênios. Durante as mudanças de paradigma, sentiu-se que os alicerces do
conhecimento estavam se desagregando. No novo paradigma, essa metáfora está
sendo substituída pela metáfora da rede. Na medida em que percebemos a
realidade como uma rede de relações, nossas descrições formam, igualmente, uma rede
interconexa representando os fenômenos observados. Nessa rede, não haverá
hierarquias nem alicerces. A mudança de construção para rede também implica o abandono
da idéia de que a física é o ideal por cujo intermédio todas as outras ciências
são modeladas e julgadas, e a principal fonte de metáforas para descrições
científicas. A metáfora do conhecimento como construção - leis fundamentais, princípios
fundamentais, blocos de construção fundamentais, etc. - tem sido usada em
teologia por muitos séculos. Durante as mudanças de paradigma, sentiu-se que os
alicerces da doutrina estavam si desagregando. No novo paradigma, essa metáfora
está sendo substituída pela metáfora da rede. Na medida em que percebemos a
realidade como uma rede de relações, nossos enunciados teológicos formam, igualmente,
uma rede interconexa de diferentes perspectivas sobre a realidade
transcendente. Nessa rede, cada perspectiva poderá produzir introspecções
válidas e únicas no âmbito da verdade. A mudança de construção para rede também
implica o abandono da idéia de um sistema monolítico de teologia como sendo
aquilo que constitui a ligação para todos os que crêem e como fonte única para
a doutrina autêntica. [...] No novo paradigma,
se reconhece que todos os conceitos, todas as teorias e todas as descobertas
são limitadas e aproximadas. A ciência nunca poderá fornecer uma compreensão completa
e definitiva da realidade. Os cientistas não lidam com a verdade (no sentido de
correspondência exata entre a descrição e os fenômenos descritos); eles lidam
com descrições limitadas e aproximadas da realidade. [...]. Trechos extraídos da obra Pertencendo ao
universo: explorações nas fronteiras da ciência e da espiritualidade (Cultrix, 1991), do físico e escritor Fritjof Capra. Veja mais aqui.
A NOITE – [...] Ele
observava a mulher com um misto de admiração e inveja, enquanto ela, com um
copo na mão, andava dum lado para outro, de grupo em grupo, soltando risadas,
como se a dona da casa a tivesse encarregado de animar a festa. Com que
facilidade fazia amigos, com que envolvente encanto tratava a todos! Era
indiscutivelmente a pessoa mais popular do grupo. Ele, entretanto, não podia
deixar de sentir um mal-estar quando a via cercada de homens. Sim, porque a
consciência de suas falhas como marido o havia levado implacavelmente à
conclusão, à certeza de que mais tarde ou mais cedo ela acabaria tendo um
amante. Era evidente que os homens a admiravam e desejavam. Até mesmo os amigos
mais íntimos do casal a cortejavam. Era natural que a considerassem presa
fácil, pois decerto interpretabam mal sua fraqueza, sua alegria, sua
familiaridade... Não poderia ela ser menos expansiva? Não tinha idade suficiente
para saber que as pessoas são perversas, maliciam tudo? E que mania irritante,
aquela de tocar sempre o interlocutor! Lá estava ela a dar palmadinhas na mão
dum homem... [...] A música parou.
Ela correu para o garçom que passava com uma bandeja, apanhou um copo e bebeu
um gole largo. Três homens a cercaram. A orquestra rompeu uma rumba. Todos
pareciam querer dançar com ela. disputavam-na. Um segurou-lhe o braço, outro
enlaçou-lhe a cintura, o terceiro pôs-se a dançar na frente dela, rebolando
despudoradamente as ancas. (Do fundo do casarão três velhas secas viam tudo e
comentavam: “Bem como uma cadelinha cercada de cachorros”). [...]. Trechos
extraídos da obra A noite (Globo,
1995), do escritor Érico Veríssimo
(1905-1975). Veja mais aqui.
DOIS POEMAS – EU -
Eu sou a que no mundo anda perdida, / Eu sou a que na vida não tem norte, / Sou
a irmã do Sonho, e desta sorte / Sou a crucificada ... a dolorida ... / Sombra
de névoa ténue e esvaecida, / E que o destino amargo, triste e forte, / Impele
brutalmente para a morte! / Alma de luto sempre incompreendida! ... / Sou
aquela que passa e ninguém vê ... / Sou a que chamam triste sem o ser ... / Sou
a que chora sem saber porquê ... / Sou talvez a visão que Alguém sonhou, / Alguém
que veio ao mundo pra me ver / E que nunca na vida me encontrou! DESEJO - Quero-te
ao pé de mim na hora de morrer. / Quero, ao partir, levar-te, todo suavidade, /
Ó doce olhar de sonho, ó vida dum viver / Amortalhado sempre à luz duma
saudade! / Quero-te junto a mim quando o meu rosto branco / Se ungir da palidez
sinistra do não ser, / E quero ainda, amor, no meu supremo arranco / Sentir
junto ao meu seio teu coração bater! / Que seja a tua mão tão branda como a
neve / Que feche o meu olhar numa carícia leve / Em doce perpassar de pétala de
lis.../ Que seja a tua boca rubra como o sangue / Que feche a minha boca, a
minha boca exangue!... / Ah, venha a morte já que eu morrerei feliz!... Poemas
da poeta portuguesa Florbela Espanca (1894-1930). Veja mais aqui.
A ARTE DE KARIN LAMBRECHT
A arte da pintora, desenhista, gravadora e escultora Karin Lambrecht.
AGENDA
&
Quem anda de noite que vê muita coisa, também
cala a boca, Robert Louis
Stevenson, Celso Furtado, J. Borges, Oswaldo Goeldi, Bóris Trindade, Amaro
Matias Silva, Meio Ambiente & Educação, Beto Guedes, Miriam
Ramos, Álvaro Henrique & Cris Braun aqui.
&
Lingua falou, cu pagou!, Thiago de Mello, Hans Bellmer, Sérgio Augusto, Mario
Sette, Ronildo Maia Leite, Sidney Wanderley, Ivan Lins, Viviane Hagner, Nando Lauria & Julya Cristal aqui.
&
A segunda do Padre Cícero, Ralf Waldo Emerson, Monteiro Lobato, Sérgio Valle
Duarte, Paulo Caldas, Generino Batista, Paulo Santos & Genésio Cavalcanti, Elomar Figueira de Mello,
Tomoko Mukaiyama, Ricardo Silveira & Ná Ozzetti aqui.