NORAH JONES – Curtindo o
álbum Live at the
House of Blues - Chicago
(Blue Note Records, 2002), da pianista, cantora e compositora estadunidense,
Norah Jones.
A ESFERA ERÓTICA DE MAX WEBER - A ética fraternal da religião de salvação
está em tensão profunda com a maior força irracional da vida: o amor sexual.
Quanto mais sublimada é a sexualidade, e quanto mais baseada em principio, e
coerente, é a ética de salvação da fraternidade, tanto mais aguda a tensão
entre o sexo e a religião. Originalmente, a relação entre o sexo e a religião
foi muito íntima. As relações sexuais faziam, frequentemente, parte do
orgiasticismo mágico ou eram resultado não-intencional da excitação orgiástica.
A base da seita dos skoptsy (castradores) na Rússia, evoluiu de uma tentativa
de eliminar o resultado sexual da dança orgiástica (radjeny) do Chlyst,
considerada como pecaminosa. A prostituição sagrada nada tinha que ver com uma
suposta promiscuidade primitiva; foi, habitualmente, a sobrevivência do
orgiasticismo mágico no qual todo êxtase era considerado sagrado. E a
prostituição profana heterossexual, bem como homossexual, é muito antiga e, com
freqüência, bastante sofisticada. (O treinamento das tríabes ocorre entre os
chamados aborígenes). A transição dessa prostituição para o matrimonio
legalmente constituído está cheia de todos os tipos de formas intermediarias.
Concepções do matrimonio como uma disposição econômica para garantir a
segurança da esposa e a herança legal para o filho; como uma instituição
importante (devido aos sacrifícios mortais dos descendentes) na vida no além; e
tão importantes para a procriação – essas concepções do casamento são
pré-proféticas e universais. Nada tem, portanto, com o ascetismo em si. E a
vida sexual, per se, teve seus fantasmas e seus deuses como qualquer outra
função. Uma certa tensão entre a religião e o sexo só se destacou com o culto
temporário da castidade dos sacerdotes. Essa castidade bastante antiga nem pode
ter sido determinada pelo fato de que, do ponto de vista do ritual
vigorosamente padronizado do culto da comunidade, a sexualidade era facilmente
considerada como especificamente dominada pelos demônios. Além disso, não era
por acaso que subsequentemente as religiões proféticas, bem como as ordens de
vida controladas pelos sacerdotes, regulamentavam, quase sem exceção
importante, as relações sexuais em favor do matrimonio. O contraste de toda
regulamentação racional da vida com o orgiasticismo mágico e todos os tipos de
frenesis irracionais se expressa nesse fato. A tensão entre religião e sexo foi
aumentada pelos fatores evolucionários, de ambos os lados. No lado da
sexualidade, a tensão levou da sublimação ao erotismo, e com isso a uma esfera
cultivada conscientemente e, portanto, não rotinizada. O sexo foi
não-rotinizado não só, ou necessariamente, no sentido de ser estranho às
convenções, pois o erotismo contrasta com o naturalismo sóbrio do camponês. E
foi precisamente o erotismo que as convenções da Cavalaria habitualmente
tomavam como objeto de sua regulamentação. Essas convenções, porém,
regulamentaram caracteristicamente o erotismo, disfarçando as bases naturais e
orgânicas da sexualidade. A qualidade extraordinária do erotismo consistiu
precisamente num afastamento gradual do naturalismo ingênuo do sexo. A razão e
significação dessa evolução, porem, envolvem a racionalização universal e a
intelectualização da cultura. Desejamos, delinear, brevemente, as fases dessa
evolução. Partiremos de exemplos do Ocidente. O ser total do homem está, agora,
alienado do ciclo orgânico da vida camponesa; a vida se tem enriquecido cada
vez mais em seu conteúdo cultural, seja esse conteúdo avaliado
intelectualmente, ou de forma supra-individual. Tudo isso se operou, através do
estrangulamento do valor da vida, em relação ao que é simplesmente dado, no
sentido de um maior fortalecimento da posição especial do erotismo. Este foi
elevado à esfera do gozo consciente (no sentido mais sublime da expressão). Não
obstante, e na verdade devido a essa elevação, ele parecia uma abertura para a
essencia mais irracional, e portanto mais real, da vida, em comparação com os
mecanismos da racionalização. O grau e a forma pela qual uma ênfase de valor é
colocada no erotismo, como tal, variaram enormemente por toda história. Para os
sentimentos incontidos dos guerreiros, a posse das mulheres e a luta por elas
tiveram o mesmo valor que a luta pelos tesouros e conquista do poder. Na época
do helenismo pré-classico, no período do romance cavalheiresco, uma decepção
erótica podia ser considerada por Arquíloco como uma experiência significativa,
de relevância duradoura, e a captura de uma mulher podia ser considerada como
um incidente incomparável numa guerra heróica. Os tragediógrafos conheciam o amor
sexual como um poder autentico do destino, e seu repertório incluía ecos
duradouros dos mitos. Uma mulher, porem – Safo -, não foi igualada pelo homem
na capacidade de sentimento erótico. O período helênico clássico, o período do
exercito dos hoplitas, concebia as questões eróticas de uma forma relativa e
excepcionalmente sóbria. Como o provam todas as suas confissões, esses homens
foram ainda mais sóbrios do que a camada educada dos chineses. Não obstante,
não é exato que esse período não conhecesse a ansiedade mortal do amor sexual.
O amor helênico caracterizou-se exatamente pelo oposto. Devemos lembrar-nos –
apesar de Aspásia – do discurso de Péricles e finalmente da conhecida oração de
Demostenes. Para o caráter exclusivamente masculino dessa época de democracia,
o tratamento da experiência erótica com mulheres como destino da vida – para
usar nosso vocabulário – teria parecido quase que ingênuo e sentimental. O
camarada, o rapaz, era o objeto exigido com toda a cerimônia do amor, e este
fato ocupava precisamente o centro da cultura helênica. Assim, com toda a sua
magnificência, o Eros de Platão é, não obstante, um sentimento muito
controlado. A beleza da paixão baquica não era um componente oficial dessa
relação. A possibilidade de problemas e de tragédia tendo por base um principio
surgiu na esfera erótica, a principio, através de algumas exigências de
responsabilidade que, no Ocidente, nascem do cristianismo. A conotação de valor
da sensação erótica, como tal, evoluiu porem primordialmente e antes de tudo o
mais sob o condicionamento cultural das noções feudais de honra. Isto aconteceu
pela transferência dos símbolos da vassalagem cavalheiresca na relação sexual
eroticamente sublimada. O erotismo recebeu uma conotação de valor mais
frequentemente quando, durante a fusão da vassalagem e das relações eróticas,
ocorreu uma combinação com a religiosidade cripto-erótica, ou diretamente com o
ascetismo como durante a Idade Média. O Amro dos trovadores da Idade Media
cristã foi um serviço erótico dos vassalos. Não se dirigia às moças, mas
exclusivamente às mulheres dos outros homens; envolvia (teoricamente!) noites
de amor abstemias e um código de deveres casuísta. Com isso começou a provação
do homem, não perante seus pares, mas frente ao interesse erótico da dama. A
concepção de dama foi constituída exclusiva e precisamente em virtude da sua
função de julgar. A masculinidade do helenismo contrasta claramente com essa
relação entre o vassalo e a dama. O caráter especificamente sensacional do
erotismo desenvolveu-se ainda mais com a transição das convenções da Renascença
para o intelectualismo crescentemente nã0-militar da cultura dos salões. Apesar
das grandes diferenças entre as convenções da Antiguidade e da Renascença,
estas últimas eram essencialmente masculinas e de luta; sob esse aspecto,
aproximavam-se muito da Antiguidade. Isso se deve ao fato de que, à época de
Cartegiano e de Shakespeare, as convenções renascentistas haviam acabado com a
castidade dos cavaleiros cristãos. A cultura dos salões baseia-se na convicção
de que a conversação intersexual é importante como força criadora. A sensação
erótica, clara ou latente, e a comprovação do cavalheiro frente aos olhos da
dama, tornaram-se meio indispensável de estimular essa conversação. Desde as
Lettres Portugaises, os problemas amorosos das mulheres tornaram-se um valor de
mercado intelectual e especifico, e a correspondência amorosa feminina
tornou-se literatura. A ultima intensificação da esfera erótica ocorreu, em
termo das culturas intelectualistas, quando essa esfera colidiu com o traço
inevitavelmente ascetico do homem especialista vocacional. Sob esta tensão
entre a esfera erótica e a vida cotidiana racional, a vida sexual
especificamente extraconjugal, que havia sido afastada das coisas cotidianas,
pode surgir como o único laço que ainda ligava o homem à fonte natural de toda
vida. O homem emancipara-se totalmente do ciclo da velha existência simples e
orgânica do camponês. Uma tremenda ênfase de valor sobre a sensação especifica
de uma avaliação interior em relação à racionalização foi o resultado disso.
Uma alegre vitoria sobre a racionalidade correspondeu, em seu radicalismo, à
rejeição inevitável, igualmente radical, de uma ética de qualquer tipo de
salvação no outro mundo, ou supramundana. Para essa ética, a vitoria do
espírito sobre o corpo deveria encontrar seu clímax precisamente aqui, e a vida
sexual poderia até mesmo adquirir o caráter de ligação única e necessária com a
animalidade. Mas essa tensão entre uma salvação da racionalidade que se voltava
para o mundo interior e a que se voltava para o mundo exterior será mais aguda
e mais inevitável precisamente onde a esfera sexual é sistematicamente
preparada para uma sensação erótica muito valorizada. Essa sensação
reinterpreta e glorifica toda a animalidade pura da relação, ao passo que a
religião salvadora adquire o caráter de uma religião do amor, fraternidade e
amor pelo próximo. Nessas condições, a relação erótica parece oferecer o auge
insuperável da realização do desejo de amor na fusão direta das almas entre si.
Nessa entrega sem limite é tão radical quanto possível em sua oposição a toda
funcionalidade, racionalidade e generalidade. É citada aqui como o significado
singular que uma criatura, sem sua irracionalidade, tem para outra, e somente
para essa outra especifica. Do ponto de vista do erotismo, porem, esse
significado, e com ele o conteúdo de valor da própria relação, baseia-se na
possibilidade de uma comunhão, experimentada como uma unificação completa, como
um desaparecimento do tu. É tão esmagadora que pode ser interpretada
simbolicamente: como um sacramento. O amante considera-se preso à essência da
verdadeira vida, que é eternamente inacessível a qualquer empresa racional.
Sabe-se livre das frias mãos ósseas das ordens racionais, tão completamente
quanto da banalidade da rotina cotidiana. Essa consciência do amante baseia-se
na indelebilidade e inexauribilidade de sua própria experiência, que não é
comunicável e, sob esse aspecto, equivale à posse do místico. Isso ocorre não
apenas devida à intensidade da experiência do amante, mas à dedicação da
realidade possuída. Sabendo que a própria vida está nele, o amante coloca-se em
posição ao que, para ele, é a experiência sem objetivo do místico, como se
enfrentasse a luz mortiça de uma esfera irreal. Assim como o amor consciente do
homem maduro está para o entusiasmo apaixonado do jovem, assim a ansiedade
mortal desse erotismo do intelectualismo está para o amor cavaleiresco. Em
contraste com esse ultimo amor maduro do intelectualismo reafirma a qualidade
natural da esfera sexual, mas o faz de modo consciente, como uma força criadora
materializada. A ética da fraternidade religiosa opõe-se, radical e
antagonicamente, a tudo isso, do ponto de vista de tal ética, essa sensação
interior e terrena da salvação pelo amor maduro compete, da forma mais aguda
possível, com a devoção a um deus supramundano, com a devoção a uma ordem de
deus eticamente racional, ou com a dedicação de um anseio místico de
individuação, que só parece genuíno à ética da fraternidade. Certas
inter-relações psicológicas das duas esferas aumenta a tensão entre religião e
sexo. O erotismo mais elevado coloca-se psicológica e fisiologicamente numa
relação mutuamente substitutiva com determinadas formas sublimadas da piedade heróica.
Em oposição, ao ascetismo racional, ativo, que rejeita o sexo como irracional,
e que é considerado pelo erotismo como um inimigo poderoso e mortal, essa
relação sucedânea é orientada especialmente para a união mística com Deus. Dela
segue-se a constante ameaça de uma revanche mortalmente requintada da
animalidade, ou de um deslizar inexorável do reino místico de Deus para o reino
do Demasiado-Humano. Essa afinidade psicológica aumenta naturalmente o
antagonismo dos significados interiores entre o erotismo e a religião. Do ponto
de vista de qualquer ética religiosa da fraternidade, a relação erótica deve
manter-se ligada, de forma mais ou menos requintada, à brutalidade. Quanto mais
sublimada for, tanto mais brutal. Inevitavelmente, esta relação é considera
como de conflito. Tal conflito não é exclusivamente, nem mesmo
predominantemente, o ciúme e a vontade de possessão, excluindo terceiros. É
muito mais do que a coação mais intima da alma do companheiro menos brutal.
Essa coação existe porque jamais é percebida pelos próprios participantes.
Pretendendo ser uma dedicação extremamente humana, ela constitui o gozo
sofisticado de si mesmo no outro. Nenhuma comunhão erótica consumida sabe-se
baseada em qualquer outra coisa que não uma destinação misteriosa de um para o
outro: o destino, neste sentido mais elevado da palavra. Com isso, ela se sabe
legitimada (num sentido inteiramente amoral). Mas para a religião da salvação,
esse destino é apenas o incendio puramente fortuito da paixão. A obsessão
patológica, assim criada, a indiossincrasia e as variações de perspectivas e de
toda justiça objetiva podem parecer, à religião, como a mais completa negativa
de todo amor fraternal e toda servidão de Deus. A euforia do amante feliz é
considerada como boa; tem a necessidade cordial de poetizar todo o mundo com
características felizes, ou encantar todo o mundo num entusiasmo ingênuo para a
difusão da felicidade. E encontra sempre a zombaria fria da ética radical, e de
base verdadeiramente religiosa, da fraternidade. Os trechos psicologicamente
mais completos das obras de Tolstoi podem ser citados, quando a isso. Aos olhos
dessa ética, o mais sublime erotismo é pólo oposto de toda fraternidade,
orientada religiosamente nestes aspectos: deve, necessariamente, ser exclusiva
em sua essência interior; deve ser subjetiva no mais alto sentido imaginável;
deve ser absolutamente incomunicável. Tudo isso está, decerto, longe do fato de
que o caráter apaixonado do erotismo, como tal, parece à religião da
fraternidade como uma perda indigna do auto-controle e da orientação no sentido
da racionalidade e sabedoria das normas desejadas por Deus ou da posse mística
da santidade. Para o erotismo, porém, a paixão autentica, per se, constitui o
tipo de beleza, e sua rejeição é blasfêmia. Por motivos psicológicos e de
acordo com seu sentido, o delírio erótico só está em uníssono com a forma
orgiastica e carismática de religiosidade, que, porém, num sentido especial, é
interiorizada. A aceitação do ato do matrimonio, da copula carnalis, como sacramento
da Igreja Catolica, é uma concessão a esse sentimento. O erotismo entra
facilmente numa relação inconsciente e instável de substituição ou fusão com o
misticismo exterior e extraordinário. Isso ocorre com a tensa interior muito
forte entre erotismo e misticismo. Ocorre porque são psicologicamente
substitutivos. Fora dessa fusão, o colapso no orgiasticismo ocorre muito
rapidamente. O ascetismo voltado para o mundo interior e racional (ascetismo
vocacional) só pode aceitar o matrimonio racionalmente regulamentado. Esse tipo
de matrimonio é aceito como uma das ordenações divinas dadas ao homem, como uma
criatura inevitavelmente amaldiçoada em virtude de sua concupiscência. Dentro
dessa ordem divina, é dado ao homem viver de acordo com as finalidades racionais
que ela impõe e somente de acordo com elas: procriar e educar os filhos, e
estimular-se mutuamente ao estado de graça. Esse ascetismo racional interior
deve rejeitar a sofisticação do sexo transformado em erotismo, como uma
idolatria do pior gênero. Por sua vez, esse ascetismo reúne a sexualidade
primaria, naturalista e não-sublimada do camponês, transformando-a numa ordem
racional do homem como criatura. Todos os elementos da paixão, porém, são então
considerados como resíduos da queda. Segundo Lutero, Deus, para impedir o pior,
é tolerante para com esses elementos da paixão. O ascetismo racional voltado
para o mundo exterior (ascetismo ativo do monge) também rejeita os elementos
apaixonados, e com eles toda a sexualidade, como um poder diabólico que põe em
risco a salvação. A ética dos quacres (tal como se evidencia nas cartas de
Willaim Penn à sua mulher) bem pode ter conseguido uma interpretação
autenticamente humana dos valores interiores e religiosos do casamento. Sob tal
aspecto, a ética quacre foi alem da interpretação luterana, um tanto grosseira,
do significado do matrimonio. De um ponto de vista exclusivamente interior,
somente a ligação no matrimonio com o pensamento da responsabilidade ética de
um pelo outro – daí uma categoria heterogênea à esfera exclusivamente erótica –
pode encerrar o sentimento de que alguma coisa única e suprema poderia estar
encerrada no matrimonio; que ele poderia ser a transformação do sentimento de
um amor consciente da responsabilidade, através de todas as nuanças do processo
vital orgânico, até o pianíssimo da velhice, e uma garantia mutua e uma duvida
mutua (no sentido de Goethe). Raramente a vida oferece um valor em forma pura.
Aquele a quem é dado, pode falar da graça e fortuna do destino – e não do seu
próprio mérito. MAX WEBER (1864-1920). O jurista, economista e sociologo alemão
Maximillian Carl Emil Weber foi um intelectual alemão, jurista e considerado um
dos fundadores da Sociologia. Ele também foi filósofo, professor universitário,
jornalista influente e historiador. A obra de Weber, complexa e profunda, “A
ética protestante e o espírito do capitalismo”, constitui um momento da
compreensão dos fenômenos históricos e sociais e, ao mesmo tempo, da reflexão
sobre o método das ciências histórico-sociais. Weber trata dos problemas
metodológicos com a consciência das dificuldades que emergem do trabalho
efetivo do historiador e do sociólogo, sobretudo com a competência do
historiador, do sociólogo, e do economista. Crítico da "escola
historicista" da economia, Weber reivindica contra ela, a autonomia lógica
e teórica da ciência, que não pode se submeter a entidades metafísicas como o
"espírito do povo" que Savigny, nas pegadas de Hegel, concebia como
criador do direito, dos sistemas econômicos, da linguagem e assim por diante.
Para Weber, o "espírito do povo" é produto de inumeráveis variáveis
culturais e não o fundamento real de todos os fenômenos culturais de um povo.
Por outro lado, o pensamento de Weber caracteriza-se pela crítica ao
materialismo histórico, que dogmatiza e petrifica as relações entre as formas
de produção e de trabalho (a chamada "estrutura") e as outras
manifestações culturais da sociedade (a chamada "superestrutura"),
quando na verdade se trata de uma relação que, a cada vez, deve ser esclarecida
segundo a sua efetiva configuração. E, para Weber, isso significa que o
cientista social deve estar pronto para o reconhecimento da influência que as
formas culturais, como a religião, por exemplo, podem ter sobre a própria
estrutura econômica. Para Weber, a Sociologia é uma ciência que procura
compreender a ação social. Por isso, considerava o indivíduo e suas ações como
ponto chave da investigação evidenciando o que para ele era o ponto de partida
para a Sociologia, a compreensão e a percepção do sentido que a pessoa atribui
à sua conduta. O principal objetivo de Weber é compreender o sentido que cada
pessoa dá a sua conduta e perceber assim a sua estrutura inteligível e não a
análise das instituições sociais. Com este pensamento, não possuía a idéia de
negar a existência ou a importância dos fenômenos sociais, dando importância à
necessidade de entender as intenções e motivações dos indivíduos que vivenciam
essas situações sociais. Ou seja, a sua idéia é que no domínio dos fenômenos
naturais só se podem aprender as regularidades observadas por meio de
proposições de forma e natureza matemática. É preciso explicar os fenômenos por
meio de proposições confirmadas pela experiência, para poder ter o sentimento e
compreendê-las. Weber também se preocupou muito com a criação de certos
instrumentos metodológicos que possibilitassem ao cientista uma investigação
dos fenômenos particulares sem que ele se perca na infinidade disforme dos seus
aspectos concretos, sendo que o principal instrumento é o tipo ideal, o qual
cumpriria duas funções principais: primeiro a de selecionar explicitamente a
dimensão do objeto que virá a ser analisado e, posteriormente, apresentar essa
dimensão de uma maneira pura, sem suas sutilezas concretas. Para Weber, a
ciência positiva e racional pertence ao processo histórico de racionalização,
sendo composta por duas características que comandam o significado e a
veracidade científica. Em que estas duas características são o não-acabamento
essencial e a objetividade, em que esta, é definida pela validade da ciência
para os que procuram este tipo de verdade, e pela não aceitação dos juízos de
valor. Para Weber também há uma separação entre política e ciência, pois a
esfera da política é irracional, influenciada pela paixão e a esfera da ciência
é racional, imparcial e neutra. O homem político apaixona-se, luta, tem um
princípio de responsabilidade, de pensar as conseqüências dos atos. O político
entende por direção do Estado, correlação de força, capacidade de impor sua
vontade a demais pessoas e grupos políticos. É luta pelo poder dentro do
Estado. Já o cientista deve ser neutro, amante da verdade e do conhecimento
científicos, não deve emitir opiniões e sim pensar segundo os padrões
científicos, deve fazer ciência por vocação. Se o cientista apaixonar-se pelo
objeto de sua investigação não será nem imparcial nem objetivo. Para Durkheim
política é a relação entre governantes e governados. A sociologia de Max Weber
se inspira em uma filosofia existencialista que propõe uma dupla negação. Nega
Durkheim quando afirma que nenhuma ciência poderá dizer ao homem como deve
viver, ou ensinar às sociedades como se devem organizar. Mas também nega Marx
quando diz que nenhuma ciência poderá indicar à humanidade qual é o seu futuro.
A ciência weberiana se define como um esforço destinado a compreender e a
explicar os valores aos quais os homens aderiram, e as obras que construíram.
Ele considera a Sociologia como uma ciência da conduta humana, na medida em que
essa conduta é social. Weber fundamenta sua definição de valores na filosofia
neokantiana, que propõe a distinção radical entre fatos e valores. Os valores
não são do plano sensível nem do transcendente, são criados pelas desilusões
humanas e se diferem dos atos pelos quais o indivíduo percebe o real e a
verdade. Para Weber, há uma diferença fundamental entre ciência e valor: valor
é o produto das intenções, diferentemente de Durkheim que acreditava encontrar
na sociedade o objeto e o sujeito criador de valores. Weber o contesta dizendo
que as sociedades são meios onde os valores são criados, mas ela não é
concreta. Se a sociedade nos impõe valores, isso não prova que ela seja melhor
que as outras. Sobre o Estado, o conceito científico atribuído por Weber
constitui sempre uma síntese realizada para determinados fins do conhecimento.
Mas por outro lado obtemo-lo por abstração das sínteses e encontramos na mente
dos homens históricos. Apesar de tudo, o conteúdo concreto que a noção
histórica de Estado adota poderá ser apreendido com clareza mediante uma orientação
segundo os conceitos do tipo ideal. O Estado é um instrumento de dominação do
homem pelo homem, para ele só o Estado pode fazer uso da força da violência, e
essa violência é legítima, pois se apóia num conjunto de normas (constituição).
A religião também foi um tema que esteve presente nos trabalhos de Weber.
"A ética protestante e o espírito do capitalismo" foi a sua grande
obra sobre esse assunto. Nesse seu trabalho ele tinha a intenção de examinar as
implicações das orientações religiosas na conduta econômica dos homens,
procurando avaliar a contribuição da ética protestante, em especial o
calvinismo, na promoção do moderno sistema econômico. Weber concebia que o
desenvolvimento do capitalismo devia-se em grande parte à acumulação de capital
a partir da Idade Média. Mas os pioneiros desse capitalismo pertenciam a seitas
puritanas e em função disso levavam a vida pessoal e familiar com bastante
rigidez. As convicções religiosas desses puritanos os levavam a crer que o
êxito econômico era como uma benção de Deus. Aquele definia o capitalismo pela
existência de empresas cujo objetivo é produzir o maior lucro possível, e cujo
meio é a organização racional do trabalho e da produção. É a união do desejo do
lucro e da disciplina racional que constitui historicamente o capitalismo. Veja
mais aqui e aqui.
REFERÊNCIAS
WEBER, Max. Rejeições religiosas do mundo. São Paulo:
Abril, 1980
_____. Sociologia. São Paulo: Atlas, 1979.
_____. Ciência e política: duas vocações. São Paulo:
Martin Claret, 2003.
_____. A ética protestante e o espírito capitalista. São
Paulo: Martin Claret, 2003.
Veja
mais sobre:
Da semente ao caos, Lasciva na Ginofagia & a arte de
Vanice Zimerman aqui.
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Mario
Quintana, Vera Drake, Tácita,
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aqui.
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