quinta-feira, junho 04, 2015

VELHO CHICO, TURÍBIO, DIAS GOMES, ÍTALA, CLAUDIO MANUEL DA COSTA, NEILA, LAMPIÃO, CARVANA, PAULETTE, GONCHAROVA & MÚSICA & SAÚDE.


BOM DIA, VELHO CHICO – Venho do mar e meu corpo é veleiro de sonhos no amanhecer. E vou pelo rio que é terra, terra que é água dos surubins e que me lava a alma e me faz renascer. Venho com minha atlântica lavada na alegria de viver e atravessar o país desterrado do chão – sou estrangeiro rouco no meio das algaravias das areias de Piaçabuçu, Propriá, Penedo, Angicos e dou de cara em Petrolina com Geraldinho entoando O Ciúme de Caetano, acenando pra Juazeiro. O meu coração é a encruzilhada entre o cabrunco de Sergipe, os filés de Alagoas, os axés da Bahia e as folias de Pernambuco. E meus conterrâneos me dão por Garabombo mesmo insistindo que sou daqui e na nossa língua, e não sei se no Japão alguém pode viver como eu. Sou o gesto anímico do continente americano que não é considerado América, mas resto dela, as sobras e o lixo. E nas margens todo aparato da tecnologia da barbárie no reinado da prótese: toda pressa no marasmo, tudo glamour de museu por vitrine, tudo devastado pra exumação. Os óbices foram muitos na travessia, quase intransponíveis e sucessivos. E se tornaram vetores que me fizeram melhor no coração e na vida (Bom dia, Velho Chico, Luiz Alberto Machado). Veja mais aqui e aqui.

Imagem: Female Nude (Life Study - Naturshchitsa, 1908-1909), da proeminente figurinista, artista gráfica e pintora do cubo-futurismo russo Natalia Goncharova (1881-1962)

Curtindo o álbum Violão Brasil (Kuarup, 1980), do violonista maranhense Turíbio Santos. Veja mais aqui.

MÚSICA & SAÚDE – O livro Música e Saúde (Summus, 1991), organizado por Even Ruud reúne estudiosos e especialistas sobre a temática da obra, abordando temas como do silencia à fala, o mundo de som e música, musicoterapia na educação social e na psiquiatria, o cérebro por trás do potencial terapêutico da música, comunicação corporal, categorias de resposta em improvisação clinica, o ouvido à escuta da música, os efeitos da musicoterapia em crianças portadoras de deficiência, a importância da música e de atividades estéticas no desenvolvimento geral da criança, música e saúde na sociedade pós-moderna e música como meio de comunicação, entre outros assuntos. Da obra destaco o trecho do texto Música e saúde na sociedade pós-moderna, do filósofo da ciência dinamarquês Hans Siggard Jensen: [...] A arte, no entanto, também é um fenômeno cognitivo. A arte não é apenas uma expressão emocional, mas tambem e principalmente, uma maneira de compreender a realidade. Através da atividade artística e da percepção da arte chegamos a ver e compreender coisas que, de outro modo, não compreenderíamos. Esse aspecto epistêmico ou cognitivo da arte tem sido enfatizado por outras teorias estéticas além da romântica, embora ele também faça parte de certas concepções românticas da arte [...] A música, de um modo geral, não é uma atividade discursiva. Isso significa que a música não pode ser analisada como uma atividade que utiliza uma linguagem no sentido restrito. O discurso é a utilização da linguagem em uma situação comunicativa, onde a aplicação de conceito é essencial. O discurso, portanto, pressupõe uma série comum de conceitos, e se revela na possibilidade de compreensão. É o que percebemos nas situações paradigmáticas tais como diálogos. A música, no entanto, é frequentemente descrita através de termos de um contexto linguístico. [...] A música estabelece seu próprio mundo de referência. Ela é um sistema de referencias internas, e como tal a semântica tem que ser compreendida. Trata-se, sem dúvida, de uma estrutura familiar na teoria estética – nós a encontramos nos conceitos de Roland Barthes acerca da estrutura da linguagem literária. A diferença é que não existe, naturalmente, nenhuma linguagem anterior que possa ser utilizada, apenas uma situação concreta e histórica ou cultural que também produz música. Desse modo, uma questão essencial é que a comunicação musical não conta com um sistema ou estrutura que proporcionem uma série de significados e expressões, que possam ser utilizados por uma comunidade de usuários da linguagem. No entanto, existe uma série de tipos ou estilos anteriores de música, de certa forma uma tradição, e em relação a isso uma estrutura pode ser construída com suas próprias referencias internas. Esse fato, ademais, coloca a música, em essência, como uma forma de arte que tem a ver com tempo oportuno também na sua forma de historicidade [...] Veja mais aqui.

SONETOS DAS OBRAS POÉTICAS – O livro Obras Poéticas de Glauceste Satúrnio (1768), do poeta e jurista mineiro do Arcadismo brasileiro, Cláudio Manuel da Costa (1729-1789), reúne sonetos, epicédios, romances, éclogas, epístolas e liras, entre os quais destaco os sonetos: SONETO XI – Formosa é Daliana; o seu cabelo, / A testa, a sobrancelha é peregrina; / Mas nada tem, que ver coa bela Eulina, / Que é todo o meu amor, o meu desvê-lo: / Parece escura a nove em paralelo / Da sua branca face; onde a bonina / As cores misturou na cor mais fina, / Que faz sobressair seu rosto belo. / Tanto os seus lindos olhos enamoram, / Que arrebatados, como em doce encanto, / Os que a chegam a ver, todos a adoram. / Se alguém disser, que a engrandeço tanto / Veia, para desculpa dos que choram / Veja a Eulina; e então suspenda o pranto. SONETO XIII - Nise? Nise? onde estás? Aonde espera / Achar te uma alma, que por ti suspira, / Se quanto a vista se dilata, e gira, / Tanto mais de encontrar te desespera! / Ah se ao menos teu nome ouvir pudera / Entre esta aura suave, que respira! / Nise, cuido, que diz; mas é mentira. / Nise, cuidei que ouvia; e tal não era. / Grutas, troncos, penhascos da espessura, / Se o meu bem, se a minha alma em vós se esconde, / Mostrai, mostrai me a sua formosura. / Nem ao menos o eco me responde! / Ah como é certa a minha desventura! / Nise? Nise? onde estás? aonde? Aonde. SONETO XXVIII - Faz a imaginação de um bem amado, / Que nele se transforme o peito amante; / Daqui vem, que a minha alma delirante / Se não distingue já do meu cuidado. / Nesta doce loucura arrebatado / Anarda cuido ver, bem que distante; / Mas ao passo, que a busco neste instante / Me vejo no meu mal desenganado. / Pois se Anarda em mim vive, e eu nela vivo, / E por força da idéia me converto / Na bela causa de meu fogo ativo; / Como nas tristes lágrimas, que verto, / Ao querer contrastar seu gênio esquivo, / Tão longe dela estou, e estou tão perto. E o SONETO XXIX - Ai Nise amada! se este meu tormento, / Se estes meus sentidíssimos gemidos / Lá no teu peito, lá nos teus ouvidos / Achar pudessem brando acolhimento; / Como alegre em servir-te, como atento / Meus votos tributara agradecidos! / Por séculos de males bem sofridos / Trocara todo o meu contentamento. / Mas se na incontrastável, pedra dura / De teu rigor não há correspondência, / Para os doces afetos de ternura; / Cesse de meus suspiros a veemência; / Que é fazer mais soberba a formosura / Adorar o rigor da resistência. Veja mais aqui, aqui e aqui.

VIRGULINO FERREIRA LAMPIÃO – O livro De olho em Lampião: violência e esperteza (Claro Enigma, 2011), da historiadora, ensaísta, escritora e doutora em Ciência Política, Isabel Lustosa, conta a vida de Virgulino Ferreira da Silva (1898-1938), o Lampião, nas caatingas, massacres, riquezas, provações, poder, paixão, exploração, miséria, crimes violentos e crueldade, tornando-se um mártir dos oprimidos e ícone do imaginário popular nordestino. A obra é composta de treze capítulos abordando o signo da violência, a realidade da caatinga e sertão nordestino, Canudos, o tempo no Brasil, a família sertaneja, a estratégia de guerrilha, os amigos dos cangaceiros, Padre Cícero, os ataques, o Rio São Francisco, a emboscada, Maria Bonita, Capitão Chevalier e a seca de João Miguel, entre outros assuntos. Da obra destaco o trecho: [...] Embora Lampião tivesse pouca cultura e usasse um linguajar rude, falava bem, sem se perturbar, ouvia atentamente e era cortês. Tinha plena consciência da própria importância e ficava francamente lisonjeado com a admiração que despertava no povo. Gostava de ler ou de ouvir alguém ler jornais e revistas do Rio de Janeiro e de São Paulo, principalmente para saber da repercussão de suas façanhas. Inteligente, articulado, organizado, astuto, hábil nos trabalhos manuais, tendendo para a discrição e os hábitos elegantes, em outras circunstâncias talvez Lampião tivesse usado suas grandes capacidades para fazer algo de útil à sociedade. Mas no mundo do sertão as opções para um jovem de família modesta como a dele não eram muito variadas, e as possibilidades de ascensão social remotíssimas. Então, de alguma forma, pode-se dizer que ele foi um produto de seu meio. E que meio era esse? Veja mais aqui, aqui e aqui.

AMOR EM CAMPO MINADO – Recife, 1984. Teatro Santa Isabel. Na cena: Ítala Nandi e Paulo César Pereio. A cena: uma mulher linda, esguia e nua; um homem de casacão e uma marcha insistente de coturnos com seus calços firmes e inexoráveis nos degraus. O apogeu: o sexo na cama em forma de quepe. Em cartaz: Amor em campo minado (1969), do escritor e dramaturgo Dias Gomes (1922-1999), direção de Aderbal Freire Filho, produção da Aquarius Produções Artísticas. Um texto retratando as consequências das primeiras ações do golpe militar de 1964, contando a história de um jornalista intelectual que precisa se evadir da perseguição de sua prisão e se esconder numa cançoniere. Trata-se de uma reflexão sobre os acertos e erros dos projetos intelectuais de esquerda, traduzindo o contexto vivido no país e as experiências vividas entre autor e texto, estrutura e agente. Destaque para a beleza e talento da sempre maravilhosa da consagrada atriz, diretora, escritora, dramaturga e produtora gaúcha Ítala Nandi que tem deixado com sua trajetória uma marca significativa na história do teatro, cinema e televisão do Brasil. Veja mais aqui e aqui.


VAI TRABALHAR, VAGABUNDO – A premiada comédia Vai trabalhar, vagabundo (1973), do ator, diretor de cinema e televisão Hugo Carvana (1937-2014), conta a história de um malandro que saí da prisão e, a partir da liberdade, passa viver de trambiques para conseguir dinheiro com o objetivo de revanche com os rivais do passado. O filme ganhou diversos prêmios: o Kikito de melhor filme no Festival de Gramado (1974), o Air France (1973), o prêmio Coruja de Ouro do Instituto Nacional de Cinema (1973), Prêmio Curumim do Cineclube de Marília (1975), melhor roteiro e trilha sonora no Festival de Messina na Itália (1975) e o Cariddi d’Óro, de opera prima no Festival de Taormina na Itália (1975). O destaque do filme vai pra escritora, jornalista, compositora e atriz de teatro, cinema e televisão Neila Tavares. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.


IMAGEM DO DIA
Todo dia é dia de homenagear a atriz estadunidense Paulette Goddard (1910-1990)


Veja mais sobre:
Eu, Etiqueta de Carlos Drummond de Andrade, Formação da literatura brasileira de Antonio Cândido, a música de Adolphe-Charles Adam & Benedito Pontes, a pintura de Antonio Bedotti Organofone & Mulheres de Ana Mello aqui.

E mais:
Mamão, novamente o estranho amor, A desobediência civil de Henry Thoreau, As mil e uma noites, a pintura de Newton Mesquita & Thiago Hellinger, Fecamepa & Big Shit Bôbras, a arte de Raimundo Rodriguez, a música de Dery Nascimento & Planeta MPB aqui.
Poucas palavras & uma dor, Tônio Kroeger de Thomas Mann, A dominação masculina de Pierre Bourdieu, El Cid de Pierre Corneille, o cinema de Paulo Thiago Ferreira Paes de Oliveira & Ítala Nandi, a pintura de Diego Velázquez, a música de Eugénia Melo e Castro & Maysa aqui.
O vermelho da amora, a arte de Larissa Morais & LAM na Radio Difusora de Alagoas com Sténio Reis aqui.
As receitas & despesas públicas & LAM na Rádio Jovem Pan AM-Maceió com Miguel Torres aqui.
Formação docente & ensino médio aqui.
Erotismo & Literatura Erótica, A carta de Pero Vaz Caminha, Dicionário da Cachaça de Mário Souto Maior, Entre a seca e a garoa de Ricardo Ramos, a música de Johnny Alf, o teatro de Max Frisch, o cinema de Marcelo Piñeyro & Letícia Bretice, a pintura de Ricardo Paula, a arte de Frank Frazetta & a poesia de Gilmar Leite aqui.
Direito & antecipação da tutela aqui.
A lágrima de Neruda & Prelúdio, A divisão do mundo de Jiddu Krishnamurti, Destino do homem de Goethe, Elogio ao amor de Alain Badiou, a música de Chopin & Debra Hurd, Tchaikovsky & Elena Bashkirova, a escultura de Salvatore Rizzuti, o teatro de Clarice Niskier, o cinema de Neville de Almeida & Christiane Torloni, a entrevista de Marcio Borges, Palavra Mínima, a fotografia de Harrison Marks, a pintura de Pierre Alechinsky, a poesia de Alvaro Posselt, a arte de Roy Lichtenstein & Jerzy Drużycki aqui.
A solidão de Toulouse, Desejo de Elfriede Jelinek, A mulher celta, a música de Jonatha Broke, a arquitetura de Paulo Mendes da Rocha, a pintura de Henri Toulouse-Lautrec, entrevista de Gilberto Mendonça Teles, Psicologia Ambiental, a fotografia de Marcos Vilas Boas & o grafite de Michael Aaron Williams aqui.
Lavratura, O erotismo da natureza nos megálitos de Orens, O imaginário em Lacan de Antonio Quinet, A maternidade de Francisca Praguer Fróes, a pintura de Joan Miró, a música de Bach & Hilary Hahn, a arte de Peggy Bjerkan & Luciah Lopez, Por um novo dia & Rolandry Silvério, O que sei de mim é só de você & A vida começa no final de semana aqui.
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