BOM
DIA, VELHO CHICO – Venho
do mar e meu corpo é veleiro de sonhos no amanhecer. E vou pelo rio que é
terra, terra que é água dos surubins e que me lava a alma e me faz renascer.
Venho com minha atlântica lavada na alegria de viver e atravessar o país
desterrado do chão – sou estrangeiro rouco no meio das algaravias das areias de
Piaçabuçu, Propriá, Penedo, Angicos e dou de cara em Petrolina com Geraldinho
entoando O Ciúme de Caetano, acenando pra Juazeiro. O meu coração é a
encruzilhada entre o cabrunco de Sergipe, os filés de Alagoas, os axés da Bahia
e as folias de Pernambuco. E meus conterrâneos me dão por Garabombo mesmo
insistindo que sou daqui e na nossa língua, e não sei se no Japão alguém pode
viver como eu. Sou o gesto anímico do continente americano que não é
considerado América, mas resto dela, as sobras e o lixo. E nas margens todo
aparato da tecnologia da barbárie no reinado da prótese: toda pressa no
marasmo, tudo glamour de museu por vitrine, tudo devastado pra exumação. Os óbices
foram muitos na travessia, quase intransponíveis e sucessivos. E se tornaram
vetores que me fizeram melhor no coração e na vida (Bom dia, Velho Chico, Luiz
Alberto Machado). Veja mais aqui e aqui.
Imagem: Female Nude (Life Study - Naturshchitsa, 1908-1909), da proeminente figurinista, artista gráfica e pintora do cubo-futurismo russo Natalia Goncharova (1881-1962)
Curtindo o álbum Violão Brasil (Kuarup, 1980), do violonista maranhense Turíbio Santos. Veja mais aqui.
SONETOS
DAS OBRAS POÉTICAS – O
livro Obras Poéticas de Glauceste Satúrnio (1768), do poeta e jurista
mineiro do Arcadismo brasileiro, Cláudio
Manuel da Costa (1729-1789), reúne sonetos, epicédios, romances, éclogas,
epístolas e liras, entre os quais destaco os sonetos: SONETO XI – Formosa é Daliana; o seu cabelo, / A testa,
a sobrancelha é peregrina; / Mas nada tem, que ver coa bela Eulina, / Que é
todo o meu amor, o meu desvê-lo: / Parece escura a nove em paralelo / Da sua
branca face; onde a bonina / As cores misturou na cor mais fina, / Que faz
sobressair seu rosto belo. / Tanto os seus lindos olhos enamoram, / Que
arrebatados, como em doce encanto, / Os que a chegam a ver, todos a adoram. / Se
alguém disser, que a engrandeço tanto / Veia, para desculpa dos que choram / Veja
a Eulina; e então suspenda o pranto. SONETO XIII - Nise? Nise? onde estás? Aonde espera / Achar te uma alma, que por ti
suspira, / Se quanto a vista se dilata, e gira, / Tanto mais de encontrar te
desespera! / Ah se ao menos teu nome ouvir pudera / Entre esta aura suave, que
respira! / Nise, cuido, que diz; mas é mentira. / Nise, cuidei que ouvia; e tal
não era. / Grutas, troncos, penhascos da espessura, / Se o meu bem, se a minha
alma em vós se esconde, / Mostrai, mostrai me a sua formosura. / Nem ao menos o
eco me responde! / Ah como é certa a minha desventura! / Nise? Nise? onde
estás? aonde? Aonde. SONETO XXVIII - Faz
a imaginação de um bem amado, / Que nele se transforme o peito amante; / Daqui
vem, que a minha alma delirante / Se não distingue já do meu cuidado. / Nesta
doce loucura arrebatado / Anarda cuido ver, bem que distante; / Mas ao passo,
que a busco neste instante / Me vejo no meu mal desenganado. / Pois se Anarda
em mim vive, e eu nela vivo, / E por força da idéia me converto / Na bela causa
de meu fogo ativo; / Como nas tristes lágrimas, que verto, / Ao querer
contrastar seu gênio esquivo, / Tão longe dela estou, e estou tão perto. E
o SONETO XXIX - Ai Nise amada! se este
meu tormento, / Se estes meus sentidíssimos gemidos / Lá no teu peito, lá nos
teus ouvidos / Achar pudessem brando acolhimento; / Como alegre em servir-te,
como atento / Meus votos tributara agradecidos! / Por séculos de males bem
sofridos / Trocara todo o meu contentamento. / Mas se na incontrastável, pedra
dura / De teu rigor não há correspondência, / Para os doces afetos de ternura;
/ Cesse de meus suspiros a veemência; / Que é fazer mais soberba a formosura /
Adorar o rigor da resistência. Veja mais aqui, aqui e aqui.
VIRGULINO FERREIRA LAMPIÃO – O livro De olho em Lampião:
violência e esperteza (Claro Enigma, 2011), da historiadora, ensaísta,
escritora e doutora em Ciência Política, Isabel
Lustosa, conta a vida de Virgulino Ferreira da Silva (1898-1938), o
Lampião, nas caatingas, massacres, riquezas, provações, poder, paixão,
exploração, miséria, crimes violentos e crueldade, tornando-se um mártir dos
oprimidos e ícone do imaginário popular nordestino. A obra é composta de treze
capítulos abordando o signo da violência, a realidade da caatinga e sertão
nordestino, Canudos, o tempo no Brasil, a família sertaneja, a estratégia de
guerrilha, os amigos dos cangaceiros, Padre Cícero, os ataques, o Rio São
Francisco, a emboscada, Maria Bonita, Capitão Chevalier e a seca de João
Miguel, entre outros assuntos. Da obra destaco o trecho: [...] Embora
Lampião tivesse pouca cultura e usasse um linguajar rude, falava bem, sem se
perturbar, ouvia atentamente e era cortês. Tinha plena consciência da própria
importância e ficava francamente lisonjeado com a admiração que despertava no
povo. Gostava de ler ou de ouvir alguém ler jornais e revistas do Rio de
Janeiro e de São Paulo, principalmente para saber da repercussão de suas
façanhas. Inteligente, articulado, organizado, astuto, hábil nos trabalhos
manuais, tendendo para a discrição e os hábitos elegantes, em outras
circunstâncias talvez Lampião tivesse usado suas grandes capacidades para fazer
algo de útil à sociedade. Mas no mundo do sertão as opções para um jovem de
família modesta como a dele não eram muito variadas, e as possibilidades de
ascensão social remotíssimas. Então, de alguma forma, pode-se dizer que ele foi
um produto de seu meio. E que meio era esse? Veja mais aqui, aqui e aqui.
AMOR
EM CAMPO MINADO –
Recife, 1984. Teatro Santa Isabel. Na cena: Ítala Nandi e Paulo César Pereio. A cena: uma mulher linda, esguia
e nua; um homem de casacão e uma marcha insistente de coturnos com seus calços
firmes e inexoráveis nos degraus. O apogeu: o sexo na cama em forma de quepe. Em
cartaz: Amor em campo minado (1969), do escritor e dramaturgo Dias Gomes (1922-1999), direção de
Aderbal Freire Filho, produção da Aquarius Produções Artísticas. Um texto
retratando as consequências das primeiras ações do golpe militar de 1964,
contando a história de um jornalista intelectual que precisa se evadir da
perseguição de sua prisão e se esconder numa cançoniere. Trata-se de uma
reflexão sobre os acertos e erros dos projetos intelectuais de esquerda,
traduzindo o contexto vivido no país e as experiências vividas entre autor e
texto, estrutura e agente. Destaque para a beleza e talento da sempre
maravilhosa da consagrada atriz, diretora, escritora, dramaturga e produtora
gaúcha Ítala Nandi que tem deixado com sua trajetória uma marca significativa
na história do teatro, cinema e televisão do Brasil. Veja mais aqui e aqui.
VAI
TRABALHAR, VAGABUNDO – A
premiada comédia Vai trabalhar, vagabundo
(1973), do ator, diretor de cinema e televisão Hugo Carvana (1937-2014), conta a história de um malandro que saí
da prisão e, a partir da liberdade, passa viver de trambiques para conseguir
dinheiro com o objetivo de revanche com os rivais do passado. O filme ganhou
diversos prêmios: o Kikito de melhor filme no Festival de Gramado (1974), o Air
France (1973), o prêmio Coruja de Ouro do Instituto Nacional de Cinema (1973),
Prêmio Curumim do Cineclube de Marília (1975), melhor roteiro e trilha sonora
no Festival de Messina na Itália (1975) e o Cariddi d’Óro, de opera prima no
Festival de Taormina na Itália (1975). O destaque do filme vai pra escritora,
jornalista, compositora e atriz de teatro, cinema e televisão Neila Tavares. Veja mais aqui, aqui,
aqui e aqui.
IMAGEM DO DIA
Todo dia é dia de homenagear
a atriz estadunidense Paulette Goddard
(1910-1990)
Veja mais sobre:
Eu, Etiqueta de Carlos Drummond de
Andrade, Formação da literatura brasileira de Antonio Cândido, a música de
Adolphe-Charles Adam & Benedito Pontes, a pintura de Antonio Bedotti
Organofone & Mulheres de Ana Mello aqui.
E mais:
Mamão, novamente o estranho amor, A desobediência civil de Henry Thoreau,
As mil e uma noites, a pintura de Newton Mesquita & Thiago Hellinger,
Fecamepa & Big Shit Bôbras, a arte de Raimundo Rodriguez, a música de Dery
Nascimento & Planeta MPB aqui.
Poucas palavras & uma dor, Tônio Kroeger de Thomas Mann, A dominação
masculina de Pierre Bourdieu, El Cid de Pierre Corneille, o cinema de Paulo
Thiago Ferreira Paes de Oliveira & Ítala Nandi, a pintura de Diego
Velázquez, a música de Eugénia Melo e Castro & Maysa aqui.
O vermelho da amora, a arte de Larissa Morais & LAM na Radio Difusora de
Alagoas com Sténio Reis aqui.
As receitas & despesas públicas &
LAM na Rádio Jovem Pan AM-Maceió com Miguel Torres aqui.
Formação docente & ensino médio
aqui.
Erotismo & Literatura Erótica, A carta de Pero Vaz Caminha, Dicionário
da Cachaça de Mário Souto Maior, Entre a seca e a garoa de Ricardo Ramos, a
música de Johnny Alf, o teatro de Max Frisch, o cinema de Marcelo Piñeyro &
Letícia Bretice, a pintura de Ricardo Paula, a arte de Frank Frazetta & a
poesia de Gilmar Leite aqui.
Direito & antecipação da tutela
aqui.
A lágrima de Neruda & Prelúdio, A divisão do mundo de Jiddu
Krishnamurti, Destino do homem de Goethe, Elogio ao amor de Alain Badiou, a
música de Chopin & Debra Hurd, Tchaikovsky & Elena Bashkirova, a
escultura de Salvatore Rizzuti, o teatro de Clarice Niskier,
o cinema de Neville de Almeida & Christiane Torloni, a entrevista de Marcio
Borges, Palavra Mínima, a fotografia de Harrison Marks, a pintura de Pierre Alechinsky, a poesia de Alvaro Posselt, a arte de Roy Lichtenstein & Jerzy
Drużycki aqui.
A solidão de Toulouse, Desejo de Elfriede Jelinek, A mulher celta, a música de
Jonatha Broke, a arquitetura de Paulo Mendes da Rocha, a
pintura de Henri Toulouse-Lautrec, entrevista de Gilberto Mendonça
Teles, Psicologia Ambiental, a fotografia de Marcos Vilas Boas & o grafite de Michael Aaron Williams aqui.
Lavratura, O erotismo da natureza nos megálitos de
Orens, O imaginário em Lacan de Antonio Quinet, A maternidade de Francisca Praguer Fróes, a pintura de Joan Miró, a música
de Bach & Hilary Hahn, a arte de Peggy Bjerkan &
Luciah Lopez, Por um novo dia & Rolandry Silvério, O que sei de mim
é só de você & A vida começa no final de semana aqui.
Fecamepa –
quando o Brasil dá uma demonstração de que deve mesmo ser levado a sério aqui.
Cordel
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século XXI aqui.
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Educação aqui.
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