BOM
DIA, VELHO CHICO – Venho
do mar e meu corpo é veleiro de sonhos no amanhecer. E vou pelo rio que é
terra, terra que é água dos surubins e que me lava a alma e me faz renascer.
Venho com minha atlântica lavada na alegria de viver e atravessar o país
desterrado do chão – sou estrangeiro rouco no meio das algaravias das areias de
Piaçabuçu, Propriá, Penedo, Angicos e dou de cara em Petrolina com Geraldinho
entoando O Ciúme de Caetano, acenando pra Juazeiro. O meu coração é a
encruzilhada entre o cabrunco de Sergipe, os filés de Alagoas, os axés da Bahia
e as folias de Pernambuco. E meus conterrâneos me dão por Garabombo mesmo
insistindo que sou daqui e na nossa língua, e não sei se no Japão alguém pode
viver como eu. Sou o gesto anímico do continente americano que não é
considerado América, mas resto dela, as sobras e o lixo. E nas margens todo
aparato da tecnologia da barbárie no reinado da prótese: toda pressa no
marasmo, tudo glamour de museu por vitrine, tudo devastado pra exumação. Os óbices
foram muitos na travessia, quase intransponíveis e sucessivos. E se tornaram
vetores que me fizeram melhor no coração e na vida (Bom dia, Velho Chico, Luiz
Alberto Machado). Veja mais aqui e aqui.
Imagem: Female Nude (Life Study - Naturshchitsa, 1908-1909), da proeminente figurinista, artista gráfica e pintora do cubo-futurismo russo Natalia Goncharova (1881-1962)
Curtindo o álbum Violão Brasil (Kuarup, 1980), do violonista maranhense Turíbio Santos. Veja mais aqui.
MÚSICA
& SAÚDE – O livro Música e Saúde (Summus, 1991),
organizado por Even Ruud reúne
estudiosos e especialistas sobre a temática da obra, abordando temas como do
silencia à fala, o mundo de som e música, musicoterapia na educação social e na
psiquiatria, o cérebro por trás do potencial terapêutico da música, comunicação
corporal, categorias de resposta em improvisação clinica, o ouvido à escuta da
música, os efeitos da musicoterapia em crianças portadoras de deficiência, a
importância da música e de atividades estéticas no desenvolvimento geral da
criança, música e saúde na sociedade pós-moderna e música como meio de comunicação,
entre outros assuntos. Da obra destaco o trecho do texto Música e saúde na
sociedade pós-moderna, do filósofo da ciência dinamarquês Hans Siggard Jensen: [...] A arte, no entanto, também é um
fenômeno cognitivo. A arte não é apenas uma expressão emocional, mas tambem e
principalmente, uma maneira de compreender a realidade. Através da atividade
artística e da percepção da arte chegamos a ver e compreender coisas que, de
outro modo, não compreenderíamos. Esse aspecto epistêmico ou cognitivo da arte
tem sido enfatizado por outras teorias estéticas além da romântica, embora ele
também faça parte de certas concepções românticas da arte [...] A música, de um modo geral, não é uma
atividade discursiva. Isso significa que a música não pode ser analisada como
uma atividade que utiliza uma linguagem no sentido restrito. O discurso é a
utilização da linguagem em uma situação comunicativa, onde a aplicação de
conceito é essencial. O discurso, portanto, pressupõe uma série comum de
conceitos, e se revela na possibilidade de compreensão. É o que percebemos nas
situações paradigmáticas tais como diálogos. A música, no entanto, é
frequentemente descrita através de termos de um contexto linguístico. [...]
A música estabelece seu próprio mundo de
referência. Ela é um sistema de referencias internas, e como tal a semântica
tem que ser compreendida. Trata-se, sem dúvida, de uma estrutura familiar na
teoria estética – nós a encontramos nos conceitos de Roland Barthes acerca da
estrutura da linguagem literária. A diferença é que não existe, naturalmente,
nenhuma linguagem anterior que possa ser utilizada, apenas uma situação
concreta e histórica ou cultural que também produz música. Desse modo, uma
questão essencial é que a comunicação musical não conta com um sistema ou estrutura
que proporcionem uma série de significados e expressões, que possam ser
utilizados por uma comunidade de usuários da linguagem. No entanto, existe uma
série de tipos ou estilos anteriores de música, de certa forma uma tradição, e
em relação a isso uma estrutura pode ser construída com suas próprias
referencias internas. Esse fato, ademais, coloca a música, em essência, como
uma forma de arte que tem a ver com tempo oportuno também na sua forma de
historicidade [...] Veja mais aqui.
SONETOS
DAS OBRAS POÉTICAS – O
livro Obras Poéticas de Glauceste Satúrnio (1768), do poeta e jurista
mineiro do Arcadismo brasileiro, Cláudio
Manuel da Costa (1729-1789), reúne sonetos, epicédios, romances, éclogas,
epístolas e liras, entre os quais destaco os sonetos: SONETO XI – Formosa é Daliana; o seu cabelo, / A testa,
a sobrancelha é peregrina; / Mas nada tem, que ver coa bela Eulina, / Que é
todo o meu amor, o meu desvê-lo: / Parece escura a nove em paralelo / Da sua
branca face; onde a bonina / As cores misturou na cor mais fina, / Que faz
sobressair seu rosto belo. / Tanto os seus lindos olhos enamoram, / Que
arrebatados, como em doce encanto, / Os que a chegam a ver, todos a adoram. / Se
alguém disser, que a engrandeço tanto / Veia, para desculpa dos que choram / Veja
a Eulina; e então suspenda o pranto. SONETO XIII - Nise? Nise? onde estás? Aonde espera / Achar te uma alma, que por ti
suspira, / Se quanto a vista se dilata, e gira, / Tanto mais de encontrar te
desespera! / Ah se ao menos teu nome ouvir pudera / Entre esta aura suave, que
respira! / Nise, cuido, que diz; mas é mentira. / Nise, cuidei que ouvia; e tal
não era. / Grutas, troncos, penhascos da espessura, / Se o meu bem, se a minha
alma em vós se esconde, / Mostrai, mostrai me a sua formosura. / Nem ao menos o
eco me responde! / Ah como é certa a minha desventura! / Nise? Nise? onde
estás? aonde? Aonde. SONETO XXVIII - Faz
a imaginação de um bem amado, / Que nele se transforme o peito amante; / Daqui
vem, que a minha alma delirante / Se não distingue já do meu cuidado. / Nesta
doce loucura arrebatado / Anarda cuido ver, bem que distante; / Mas ao passo,
que a busco neste instante / Me vejo no meu mal desenganado. / Pois se Anarda
em mim vive, e eu nela vivo, / E por força da idéia me converto / Na bela causa
de meu fogo ativo; / Como nas tristes lágrimas, que verto, / Ao querer
contrastar seu gênio esquivo, / Tão longe dela estou, e estou tão perto. E
o SONETO XXIX - Ai Nise amada! se este
meu tormento, / Se estes meus sentidíssimos gemidos / Lá no teu peito, lá nos
teus ouvidos / Achar pudessem brando acolhimento; / Como alegre em servir-te,
como atento / Meus votos tributara agradecidos! / Por séculos de males bem
sofridos / Trocara todo o meu contentamento. / Mas se na incontrastável, pedra
dura / De teu rigor não há correspondência, / Para os doces afetos de ternura;
/ Cesse de meus suspiros a veemência; / Que é fazer mais soberba a formosura /
Adorar o rigor da resistência. Veja mais aqui, aqui e aqui.
VIRGULINO FERREIRA LAMPIÃO – O livro De olho em Lampião:
violência e esperteza (Claro Enigma, 2011), da historiadora, ensaísta,
escritora e doutora em Ciência Política, Isabel
Lustosa, conta a vida de Virgulino Ferreira da Silva (1898-1938), o
Lampião, nas caatingas, massacres, riquezas, provações, poder, paixão,
exploração, miséria, crimes violentos e crueldade, tornando-se um mártir dos
oprimidos e ícone do imaginário popular nordestino. A obra é composta de treze
capítulos abordando o signo da violência, a realidade da caatinga e sertão
nordestino, Canudos, o tempo no Brasil, a família sertaneja, a estratégia de
guerrilha, os amigos dos cangaceiros, Padre Cícero, os ataques, o Rio São
Francisco, a emboscada, Maria Bonita, Capitão Chevalier e a seca de João
Miguel, entre outros assuntos. Da obra destaco o trecho: [...] Embora
Lampião tivesse pouca cultura e usasse um linguajar rude, falava bem, sem se
perturbar, ouvia atentamente e era cortês. Tinha plena consciência da própria
importância e ficava francamente lisonjeado com a admiração que despertava no
povo. Gostava de ler ou de ouvir alguém ler jornais e revistas do Rio de
Janeiro e de São Paulo, principalmente para saber da repercussão de suas
façanhas. Inteligente, articulado, organizado, astuto, hábil nos trabalhos
manuais, tendendo para a discrição e os hábitos elegantes, em outras
circunstâncias talvez Lampião tivesse usado suas grandes capacidades para fazer
algo de útil à sociedade. Mas no mundo do sertão as opções para um jovem de
família modesta como a dele não eram muito variadas, e as possibilidades de
ascensão social remotíssimas. Então, de alguma forma, pode-se dizer que ele foi
um produto de seu meio. E que meio era esse? Veja mais aqui, aqui e aqui.
AMOR
EM CAMPO MINADO –
Recife, 1984. Teatro Santa Isabel. Na cena: Ítala Nandi e Paulo César Pereio. A cena: uma mulher linda, esguia
e nua; um homem de casacão e uma marcha insistente de coturnos com seus calços
firmes e inexoráveis nos degraus. O apogeu: o sexo na cama em forma de quepe. Em
cartaz: Amor em campo minado (1969), do escritor e dramaturgo Dias Gomes (1922-1999), direção de
Aderbal Freire Filho, produção da Aquarius Produções Artísticas. Um texto
retratando as consequências das primeiras ações do golpe militar de 1964,
contando a história de um jornalista intelectual que precisa se evadir da
perseguição de sua prisão e se esconder numa cançoniere. Trata-se de uma
reflexão sobre os acertos e erros dos projetos intelectuais de esquerda,
traduzindo o contexto vivido no país e as experiências vividas entre autor e
texto, estrutura e agente. Destaque para a beleza e talento da sempre
maravilhosa da consagrada atriz, diretora, escritora, dramaturga e produtora
gaúcha Ítala Nandi que tem deixado com sua trajetória uma marca significativa
na história do teatro, cinema e televisão do Brasil. Veja mais aqui e aqui.
VAI
TRABALHAR, VAGABUNDO – A
premiada comédia Vai trabalhar, vagabundo
(1973), do ator, diretor de cinema e televisão Hugo Carvana (1937-2014), conta a história de um malandro que saí
da prisão e, a partir da liberdade, passa viver de trambiques para conseguir
dinheiro com o objetivo de revanche com os rivais do passado. O filme ganhou
diversos prêmios: o Kikito de melhor filme no Festival de Gramado (1974), o Air
France (1973), o prêmio Coruja de Ouro do Instituto Nacional de Cinema (1973),
Prêmio Curumim do Cineclube de Marília (1975), melhor roteiro e trilha sonora
no Festival de Messina na Itália (1975) e o Cariddi d’Óro, de opera prima no
Festival de Taormina na Itália (1975). O destaque do filme vai pra escritora,
jornalista, compositora e atriz de teatro, cinema e televisão Neila Tavares. Veja mais aqui, aqui,
aqui e aqui.
IMAGEM DO DIA
Todo dia é dia de homenagear
a atriz estadunidense Paulette Goddard
(1910-1990)
Veja mais sobre:
Eu, Etiqueta de Carlos Drummond de
Andrade, Formação da literatura brasileira de Antonio Cândido, a música de
Adolphe-Charles Adam & Benedito Pontes, a pintura de Antonio Bedotti
Organofone & Mulheres de Ana Mello aqui.
E mais:
Mamão, novamente o estranho amor, A desobediência civil de Henry Thoreau,
As mil e uma noites, a pintura de Newton Mesquita & Thiago Hellinger,
Fecamepa & Big Shit Bôbras, a arte de Raimundo Rodriguez, a música de Dery
Nascimento & Planeta MPB aqui.
Poucas palavras & uma dor, Tônio Kroeger de Thomas Mann, A dominação
masculina de Pierre Bourdieu, El Cid de Pierre Corneille, o cinema de Paulo
Thiago Ferreira Paes de Oliveira & Ítala Nandi, a pintura de Diego
Velázquez, a música de Eugénia Melo e Castro & Maysa aqui.
O vermelho da amora, a arte de Larissa Morais & LAM na Radio Difusora de
Alagoas com Sténio Reis aqui.
As receitas & despesas públicas &
LAM na Rádio Jovem Pan AM-Maceió com Miguel Torres aqui.
Formação docente & ensino médio
aqui.
Erotismo & Literatura Erótica, A carta de Pero Vaz Caminha, Dicionário
da Cachaça de Mário Souto Maior, Entre a seca e a garoa de Ricardo Ramos, a
música de Johnny Alf, o teatro de Max Frisch, o cinema de Marcelo Piñeyro &
Letícia Bretice, a pintura de Ricardo Paula, a arte de Frank Frazetta & a
poesia de Gilmar Leite aqui.
Direito & antecipação da tutela
aqui.
A lágrima de Neruda & Prelúdio, A divisão do mundo de Jiddu
Krishnamurti, Destino do homem de Goethe, Elogio ao amor de Alain Badiou, a
música de Chopin & Debra Hurd, Tchaikovsky & Elena Bashkirova, a
escultura de Salvatore Rizzuti, o teatro de Clarice Niskier,
o cinema de Neville de Almeida & Christiane Torloni, a entrevista de Marcio
Borges, Palavra Mínima, a fotografia de Harrison Marks, a pintura de Pierre Alechinsky, a poesia de Alvaro Posselt, a arte de Roy Lichtenstein & Jerzy
Drużycki aqui.
A solidão de Toulouse, Desejo de Elfriede Jelinek, A mulher celta, a música de
Jonatha Broke, a arquitetura de Paulo Mendes da Rocha, a
pintura de Henri Toulouse-Lautrec, entrevista de Gilberto Mendonça
Teles, Psicologia Ambiental, a fotografia de Marcos Vilas Boas & o grafite de Michael Aaron Williams aqui.
Lavratura, O erotismo da natureza nos megálitos de
Orens, O imaginário em Lacan de Antonio Quinet, A maternidade de Francisca Praguer Fróes, a pintura de Joan Miró, a música
de Bach & Hilary Hahn, a arte de Peggy Bjerkan &
Luciah Lopez, Por um novo dia & Rolandry Silvério, O que sei de mim
é só de você & A vida começa no final de semana aqui.
Fecamepa –
quando o Brasil dá uma demonstração de que deve mesmo ser levado a sério aqui.
Cordel
Tataritaritatá &
livros infantis aqui.
História da mulher: da antiguidade ao
século XXI aqui.
Palestras: Psicologia, Direito &
Educação aqui.
A croniqueta de antemão aqui.
Livros Infantis do Nitolino aqui.
&
Agenda de Eventos aqui.
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Art by Ísis
Nefelibata
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra:
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.