VAMOS
APRUMAR A CONVERSA? IH, ESQUECI!
- Imagem: Anna Blossom, do pintor,
escultor e poeta alemão Kurt Schwitters
(1887-1948) - Quem ainda não passou pelo vexame de querer se lembrar de algo e,
mesmo na ponta da língua, a lembrança se escondia nos cafundós do esquecimento?
Nossa! Deu branco. Já paguei trocentos micos nessa saia-ajusta. Principalmente
agora, cinquentão, estudante de Psicologia. Por exemplo: lembrar dos nomes da
tuia de hormônios ou dos neurotransmissores na prova oral, nossa! A professora
perguntava e na hora agá eu respondia: Carolina, gasolina, Severina, estricnina
e por aí vai. Nada a ver. Mesmo fazendo associação das ideias, a coisa não
vingava, fugiu. Vexame costumeiro que vem desde que passei pelo curso de
Direito com as expressões latinas, tão comuns nos dizeres professorais. E olhe
que eu já havia estudado Latim no curso de Letras. Mas, nada. Quando ouvia Nemo condemnatus nisi auditus vel advocatus,
eu na hora ficava: - Hem? Saber, sabia; cadê eu soltar a resposta certa? Ah,
passei muito aperto por causa dessa minha até então fortuita amnésia. O pior
mesmo era na hora de lançamento dos meus livros: a pessoa na minha frente, anos
de conhecida e cadê o nome do distinto no quengo? Puxava conversa,
desconversava; contava risíveis situações vividas com ele ou familiares,
perguntando por um e por outro – e nada do nome para eu autografar -, enrolando
como podia e a fila lá esperando que eu despachasse. Nessa hora não aparecia
ninguém para saudá-lo. Fazia de tudo para trazer à tona pelo menos o sobrenome
e nada. E a bomba? Lá vai eu perguntar pela mãe dele e peitar tragédia de vê-lo
lacrimejar e com a voz embargada: - Você não soube? Cadê buraco no chão preu me
socar? Ela havia recentemente falecido e eu não sabia ou não me lembrava. Pode?
Pois é. Já pelejei muito na ideia para sapecar com categoria algo que insistia
em não ser pronunciado na hora que eu precisava mencioná-lo. Cheguei a ponto de
não saber se o defeito estava na minha memória de curto prazo ou se eu havia me
divorciado da de longo prazo – êta vida besta essa minha de nem sequer
conseguir guardar nada de seguro pra rememorar. Alguns já mangam: - É a idade,
mô fio! Realmente, agora, mais do que nunca, é que é difícil de decorar as
coisas. Poemas e músicas que componho hoje são sacrifícios para recitá-los de
cabeça ao pé da letra: ou falta um verso, ou esqueço tudo. Isso devia acontecer
também com as coisas ruins que vira e mexe rondam na recordação das voltas do
cérebro, não era não? Isso a gente não esquece nunca, pelo menos eu. Agora, na
hora da precisão, vixe! Sim, mas eu estava falando mesmo do quê? Ih, esqueci! Vôte!
Vamos aprumar a conversa & tataritaritatá. Veja mais aqui e aqui.
Imagem: Minerva Dressing (1613), Oil on canvas, Galleria Borghese, Rome, da
pintora italiana Lavinia Fontana
(1552-1614).
Curtindo The Art of Ida Presti (2012), da violonista clássica francesa Ida Presti (1924-1967), compilation
includes the Villa-Lobos , Visée, Bach, Albeniz, Malats, Fortea,
Moreno-Torroba, Sor, Pujol & Lagoya.
SOBRE
A NATUREZA – A obra Sobre a natureza, do matemático,
astrônomo, geógrafo e filósofo grego Anaximandro
de Mileto (610-547aC), é considerada a primeira obra filosófica, dela
restando apenas alguns fragmentos e noticias de filósofos posteriores.
Atribui-se a ele a confecção de um mapa do mundo habitado, a introdução na
Grécia do uso do gnômon e a medição das distancias entre as estrelas e o
calculo de sua magnitude (é o iniciador da astronomia grega). Ampliando a visão
de Tales, foi o primeiro a formular o conceito de uma lei universal presidindo
o processo cósmico total. Acreditava o filósofo que o princípio de tudo - o arché
das coisas - era o apéiron, isto é, uma matéria infinita da qual todas as
outras se cindem., sendo algo insurgido e imortal, preocupando-se inclusive com
as coisas todas que saem do princípio. Ele diz que o mundo é constituído de
contrários, que se autoexcluem o tempo todo. Para ele o mundo surge de duas
grandes injustiças: primeiro, da cisão dos opostos que "fere" a
unidade do princípio; segundo, da luta entre os princípios onde sempre um deles
quer tomar o lugar do outro para poder existir. De sua obra destaca-se os
trechos traduzidos pelo filosofo alemão Friedrich Nietzsche: [...] De onde as coisas têm seu nascimento, ali
também devem ir ao fundo, segundo a necessidade; pois têm de pagar penitencia e
de ser julgadas por suas injustiças, conforme a ordem do tempo. [...] O verdadeiro critério para o julgamento de
cada homem é ser ele propriamente um ser que absolutamente não deveria existir,
mas se penitencia de sua existência pelo sofrimento multiforme e pela morte: o
que se pode esperar de um tal ser? Não somos todos pecadores condenados à
morte? Penitenciamo-nos de nosso nascimento, em primeiro lugar, pelo viver e,
em segundo lugar, pelo morrer. [...] O
que vale vosso existir? E, se nada vale, para que estais aí? Por vossa culpa,
observo eu, demorai-vos nessa existência. Com a morte teris de expiá-la. Vede
como murcha vossa Terra; os mares se retraem e secam; a concha sobre a montanha
vos mostra o quanto já secaram; o fogo, desde já destrói vosso mundo, que, no
fim, se esvairá em vapor e fumo. Mas sempre, de novo, voltará a edificar-se um
tal mundo de inconstância: quem seria capaz de livrar-vos da maldição do
vir-a-ser? [...] De onde as coisas
têm seu nascimento, para lá também deve afundar-se na perdição, segundo a
necessidade; pois elas devem expiar e ser julgadas pela sua injustiça, segundo
a ordem do tempo. Veja mais aqui e aqui.
JOÃO
PORÉM, O CRIADOR DE PERUS
– O livro Tutameia: terceiras estórias
(José Olympio, 1976), reúne quarenta contos dispostos em ordem alfabética do
escritor, médico e diplomata João
Guimarães Rosa (1908-1967), com histórias extremamente curtas que rompem
com o estilo até então cultivado pelo escritor. Entre os escolhidos destaco
João Porém, o criador de perus: Agora o
caso não cabendo em nossa cabeça. O pai teimava que ele não fosse João, nem
não. A mãe, sim. Daí o engano e o nome, no assento de batismo. Indistinguível
disso, ele viçara, sensato, vesgo, não feio, algo gago, saudoso, semi-surdo;
moço. Pai e mãe passaram, pondo-o sozinho. A aventura é obrigatória. Deixavam
ao Porém o terreno e, ainda mais, um peru pastor e três ou duas suas peruas. E
tanto; aquilo tudo e egiptos. Desprendado quanto ao resto, João Porém votou-se
às aves – vocação e meio de ganho. De dele rir-se? A de criar perus, os
peruzinhos mofinos, foi sempre matéria atribulativa, que malpaga, às poucas
estimas. Não para o João. Qual o homem e tal a tarefa: congruíam-se, como um
tom de vida, com riqueza de fundo e deveres muito recortados. Avante, até,
próspero. Tomara a gosto. O pão é que faz o cada dia. Já o invejavam os do
lugar – o céu aberto ao público – aldeiazinha indiscreta, mal saída da
paisagem. Ali qualquer certeza seria imprudência. Vexavam-no a vender o pequeno
terreiro, próprio aos perus vingados gordos. Porém tardava-os, com a indecisão
falsa do zarolho e o pigarro inconcusso da prudência. Tornaram; e Porém punha
convicção no tossir, prático de economias quiméricas, tomadas as coisas em seu
meio. Desistiram então de insistir, ou de esperar que, mais-menos dia, surgida
alguma peste, ele desse para trás. Mas lesavam-no, medianeiros, no negócio dos
perus, produzidos já aos bandos; abusavam de seu horror a qualquer espécie de
surpresas. Porém perseverava, considerando o tempo e a arte, tão clara e
constantemente o sol não cai do céu. No fundo, coqueirais. Mas inventaram, a
despautação, de espevitar o espírito. Incutiram-lhe, notícia oral: que, de
além-cercanias, em desfechada distância, uma ignorada moça gostava dele. A qual
sacudida e vistosa – olhos azuis, liso o cabelo – Lindalice, no fino chamar-se.
João Porém ouviu, de sus brusco, firmes vezes; miúdo meditou. Precisava
daquilo, para sua saudade sem saber de quê, causa para ternura intacta. Amara-a
por fé – diziam, lá eles. Ou o que mais, porque amar não é verbo; é luz
lembrada. Se assim com aquela como o tivessem cerrado noutro ar, espaço, ponto.
Sonha-se é rabiscos. Segredou seu nome à memória, acima de mil perus
extremadamente. Embora de lá não quisesse sair, em busca, deixando o que de lei,
o remédio de vida. – Não ia ver o
amor? – instavam-no, de graça e com cobiça. Arrendar-lhe-iam o sítio,
arranjavam-lhe cavalo e viático… Se bem pensou, melhor adiou: aficado, com
recopiada paciência, de entre os perus, como um tutor de órfãos. Sustentava-se
nisso, sem mecanismos no conformar-se, feito uma porção de não-relógios. A
moça, o amor? A esperança, talvez, sempre cabedora. A vida é nunca e onde. E
vem que o tiveram de louvar – sob pressão de desenvolvimento histórico: um, dos
de caminhão, da cidade, fechara com o Porém dos perus tráfico ajuste perfeito;
e a bela vez é quando a fortuna ajuda os fracos. Nem se dava disso, inepto
exato, cuidando e ganhando, só em acrescentamentos, homem efetivo, já admirado,
tido na conta de outro. Pasmavam, os outros. Pudera crer na inventada moça,
tendo-a a peito? Ágil, atentivo, sempre queria antigas novidades dela. De dó ou
cansaço, ou por medo de absurdos, acharam já de retroceder, desdizendo-a. porém
prestou-lhe a metade surda de seus ouvidos. Sabia ter conta e juíxo, no
furtivar-se; e, o que não quer ver, é o melhor lince. Aceitara-a, indestruía-a.
Requieto, contudo, na quietude, na inquietude. O contrário da idéia-fixa não é
a idéia solta. – “Aconteceu que a moça
morreu…” – arrependidos tiveram então de propor-lhe, ajuntados para o
dissuadir, quase com provas. Porém gaguejou bem – o pensamento para ele mesmo
de difícil tradução: – Esta não é
minha vez de viver… – quem sabe. Maior entortou o olhar, sinceramente
evasivo, enquanto coléricos perus sacudiam grugulentos. Tanto acreditara?
Segurava-se à falecida – pré-anteperdida. E fechou-se-lhe a estrada em círculo.
Porém, sem se impedir com isso, fiel à forte estreiteza, não desandava.
Infelicidade é questão de prefixo. Manejava a tristeza animal, provisória,
perturbável. Se falava, era com seus perus, e que . Era só um homem debaixo de
um coqueiro. Vem que viam que ele não a esquecia, viúvo como o vento. Andava o
rumo da vida e suas aumentadas substituições. Ela não estava para trás de suas
costas. Porém, Lindalice, ele a persentia. Tratava centena de peruzinhos em
gaiolas, e outros tantos soltos, já com os pescoços vermelhos. Bem que bem – e
porque houvesse justo o coincidir fortuito – moveram de o fazer avistar-se com
uma mocinha, de lá, também olhos azuis, lisos cabelos, bonita e esperta, igual
à outra, a urdida e consumida. Talvez desse certo. Pois, por sombras! Porém
aqui suspendeu suma a cabeça, só zarolhaz, guapamente – vez tudo, vez nada – a
mais não ver. Deixaram-no, portanto, dado às aranhas dos dias, anos, mundo
passável, tempo sem assunto. E Porém morreu; nem estudou a quem largar o
terreno e a criação. Assustou-os. Tinham de o rever inteiro, do curso ordinário
da vida, em todas as partes da figura – do dobrado ao singelo. João Porém,
ramerrameiro, dia-a-diário – seu nariz sem ponta, o necessário siso, a força
dos olhos caolhos – imóvel apaixonado: como a água, incolormente obediente. Ele
fora ali a mente mestra. Mas, com ele não aprendiam, nada. Ainda repetiam só:
– “Porém! Porém…” Os
perus, também. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
HIPÓTESE
DE MAIO, AMOR TIRANO & REFLEXO
– No livro Poesia Reunida (1956-2006
/ Bem-te-vi, 2012), da premiada escritora, antropóloga e crítica de arte Lelia Coelho Frota (1938-2010), reúne
os poemas do período de 1956/2006, entre os quais destaco Reflexo: Neste balão de vidro discorria / em breve
imagem, o nosso eu-vermelho; / e inscrustava no fundo de si mesmo / a paragem
oclusa, sem relógios, / onde (não mais miragens) nos riremos / de fluido riso
igual todo setembro: / um riso fotográfico, fixado / A íntimos corredores do
cristal / que a ninguém iludirá – cristal, / cristal será – estilhaçado em mil
/ cristais, il risos mudos teceriam / o escarlate de nosso ser-espelhos: /
aprisionado em cor. E mesmo ausentes / e outros, não nos desvencilhamos, vasta
/ é a planicia sanguínea deste escrínio / dócil, sem violência. Entre poentes /
permanentes se multiplica em prisma / esta contemplação despreocupada. / Vidro,
som vazado em vermelho, vidro / contra as garras mais finas de teu gelo / se
arremessa a nossa forma disforme, / inconformada. E vidro em ser vibrante /
clausura musical que recaptura / para a retina pobre o antigo encanto / e o
reflete em presente, sob meu canto. Também o seu Amor tirano: Invejável clausura / Tem o fauno
da fonte / da Avenida da Liberdade. / Não sabe o que é saudade: / ele dura. Por fim, o seu magistral poema Hipótese de maio: Sobre a mesa o relógio /anuncia meu tempo / que se desfaz em crivo / de
aflito pensamento. / De que jardins me evado / de que amores provenho / de que
enredo impreciso / se armara o que estou sendo / entre meus dicionários /
fragmentos de retratos / os rútilos canários / enfunadas cortinas. / Os amigos
inquietos / o silêncio a aumentar / concêntrico, severo / em torno das conversas
/ além da ausência, / além dos constantes afetos. / Resíduos de passeios / em
paisagens alheias / empinham-se em gavetas —/ cartas de amor nos seus / macios
envelopes / risadas e conchinhas / a voz que fala sempre / no fundo da sonata /
diletantes poemas / todos concordemente / citando o Coração / ladeado de flores
/ zéfiros sorridentes / (e os sabia chorosos). / As gavetas estufam / o que
nelas se havia / adquire vida própria / um sitiado encanto / e expulsa da
memória / de que participava / com escassa competência / eu, que leve o
lembrava. / O conteúdo humano / desse ditoso espólio palpita, e entretanto /—
semicerrados olhos / agitar de cambraia — / invencível o sono / se engolfa na
dolência. / Sono maior que o escuro / a corromper a luz / diuturna nostalgia /
de um sonho, não sei mais / ao certo o que seria. / Coágulo sombrio /
adensando-se em zona / fechada, onde me perco / neste mês-de-maria / pensando o
que seria / de mim, no dissolvido / rumor que me povoa / sem conduzir à fala /
da sempre poesia / sem revelar o muito / de amar que pretendia / antes de
antes, não sei / ao certo o que seria. / Mas bem que perfazia / um circuito
profundo / onde a primeira imagem / (início e ata finda) / que ainda se reflete
/ é a da jovem correndo / pela campina, soltos / cabelos, e as glicínias / a
descer pelos ombros / prendendo-se na boca / primavera garrida / pelo azul
florentino. / Na mão direita tinha / uma roseira viva / juritis entoavam /
campestres ladainhas / pela transparência / de sua carnação / via-se-lhe o
coração / com um só nome gravado / a rubro, fulcro infenso. / Corria na campina
/ fantástica, e ainda / posso lembrar que em fuga / amava sempre, e ria.
Veja mais aqui.
GERAÇÃO
TRIANON – A premiada
peça teatral Geração Trianon - Texto elaborado a partir de frases, expressões,
citações e situações da nossa História Teatral nas décadas de 10, 20 e 30, da dramaturga,
diretora de teatro, autora de telenovelas e roteirista Anamaria Nunes, foi contemplada com o Prêmio Shell de melhor autora
(1988), entre outras premiações, contando a história do teatro Trianon do Rio
de Janeiro, no qual ocorreram espetáculos com os grandes nomes da época, quando
a companhia discute a ausência do público. Da obra destaco a Cena VIII: [...] Cena VIII – MARCONDES — Que é isso? O senhor aqui outra
vez? EULAMBIA — Fui eu. MARCONDES — Foste tu? EULAMBIA
— (à parte) Terá desconfiado? MARCONDES — O senhor está cá em cima quando
devia estar lá embaixo. Ponho-o no olho da rua, seu vadio. ROSINHA
— (para Eulambia) Defenda-o. EULAMBIA — Fui quem o chamou, meu amor. MARCONDES
— (à parte) Meu amor? EULAMBIA — Para me trazer sabão... MARCONDES
— Sabão? Pois se pegaste ontem... EULAMBIA
— Já se acabou. MARCONDES
— Aqui há cousa! ANTONICO
— (saindo) Já trago o sabão, dona Eulambia. ROSINHA
— Quer que ensaboe a roupa agora? EULAMBIA
— Eu mesma ensaboo. Arruma a sala, é
mais leve. ROSINHA — Sim, senhora. EULAMBIA
— Precisas de alguma cousa, meu amor?
Estou às tuas ordens. MARCONDES — Meu amor? Eu? Sei. (Eulambia sai) Então é ela que ensaboa a roupa? E eu já sou meu
amor! E tu, Rosinha, sem mais pra que, passas a ser tratada como uma filha... ROSINHA
— É pra ver. Depois de apanhar até! MARCONDES
— Que transformação súbita é esta? ROSINHA
— Parece milagre. MARCONDES
— Milagre? É, é um milagre. Não, aqui
há manobra, oh se há... ROSINHA — Deve ser remorso. Judiou tanto de
mim. MARCONDES — E de mim então? Mas vamos deixar disso e voltar
aquela nossa palestrinha... ROSINHA — Já vem o senhor outra vez. MARCONDES
— Não sejas tolinha. Dou-te toda a
garantia. ROSINHA — E a patroa? MARCONDES
— Nunca saberá Tu vais contar? Eu vou
contar? Está visto que não. ROSINHA — Não é isso. O que 44 o senhor vai
fazer dela? MARCONDES — Fica por aí, como um traste
imprestável. É um estafermo. ROSINHA — Dona Eulambia não vai se conformar.
Ela ainda está conservada. MARCONDES — Conservada? Já tem até gogó como
galinha velha! (Atirando-se) Tu sim, tetéia, minha candonga, tu é
que és da gente arregalar o olho! ROSINHA — Sai daqui, seu Marcondes. MARCONDES
— Malvada! Mas se quiseres a casinha.
Tu lá dentro. E eu, de vez em quando também. Sempre não, que eu sou um
negociante conhecido na praça e faço parte da União dos Varejistas. ROSINHA
— Não sei... MARCONDES
— Aceita, pombinha! ROSINHA
— Se falhar uma outra cousa que tenho
em vista, aceito. MARCONDES — Que outra cousa? ROSINHA
— Quero tudo que o senhor me promete,
mas casando. MARCONDES — Casando? Na Igreja? ROSINHA
— Contento-me com a Pretoria. MARCONDES
— Ainda assim é difícil. Não complica
as cousas. Aceita a casinha e o meu amor... Anda cá, senta-te aqui, ao meu
colo, vamos conversar! ROSINHA — Pode vir alguém... MARCONDES
— Não virá. Senta-te, meu bijuzinho! ROSINHA
— Mas dona Eulambia... MARCONDES
— Chama-me de meu amor. Está mansa.
Não há perigo. Deixa-te de luxo e senta-te. É só um minuto, tetéia. Dou-te um
beijinho e está tudo combinado, ROSINHA — Não. (Ouve passos fora) Então vá lá. (Senta-se)
MARCONDES
— Vem gente! [...]
Veja mais aqui.
LA
DOUBLE VIE DE VÉRONIQUE
– O filme La double vie de Véronique (A dupla vida de Véronique,
1991), do cineasta polonês Krzystof
Kieslowski (1941-1996) e com trilha sonora de Zbigniew Preisner, conta duas
histórias paralelas sobre duas mulheres idênticas: uma que vive na Polônia –
Weronika que estuda numa escola de música, trabalha duro, leva uma queda e
morre em sua primeira performance; a outra que vive na França – Véronique, que
numa reviravolta resolver não ser cantora. Elas não sed conhecem e suas vidas
são profundamente ligadas. O filme arrebatou diversos prêmios no Festival de
Cannes (1991), Cesar Awards (1992), Sindicato dos Críticos de Cinema da França
(1992), Globo de Ouro, Associação dos Críticos de Cinema de Los Angeles, Premio
Sant Jordi Barcelona (1993), Festival Internacional de Cinema de Varsóvia,
entre outros. O destaque do filme é para a lindíssima atriz franco-suíça Irène Marie Jacob. Veja mais aqui,
aqui, aqui e aqui.
IMAGEM DO DIA
Charges do livro Moro num país tropicaos (Publisher, 2002), do cartunista e criador
da logomarca Tataritaritatá Márcio
Baraldi. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
Veja mais sobre:
Ah, se estou vivo, tenho mais o que fazer, a literatura de Liev Tolstói, Funil do
ser de Nauro Machado, Teatro & a cena dividida de Gerd Bornheim, a pintura
de Lasar Segall, a música de Joyce, a arte de Patrick Conklin & Luciah
Lopez aqui.
E mais:
Lagoa Manguaba, Teoria do vínculo de Pichon Rivière, História do Brasil de
Laurentino Gomes, a música de Gustav Mahler,
Amor por anexins de Artur Azevedo, a pintura de Lasar
Segall, o cinema de Vittorio De Sica & Sophia Loren, a arte de Ekaterina
Mortensen & Kiki Rainha de Montparnasse, Pavios
curtos de José Aloise Bahia & Programa Tataritaritatá aqui.
Lampião & Ascenso
Ferreira, A música de Gustav
Mahler, a pintura de Marc Chagall, Teatro a vapor de Artur
Azevedo, a arte de Bee Scott & muito mais aqui.
As trelas do Doro &
o escambau aqui.
Fecamepa: Quando um país vive só de nhenhenhém, não
dá outra: o pencó engancha na cornice e nada vai pra frente aqui.
A lenda do Curare aqui.
Brincarte do Nitolino, Questão de método de Jean-Paul Sartre, A cartomante de Machado
de Assis, Bagagem de Adélia Prado, o teatro de William Shakespeare, a música de Eumir Deodato, o cinema de Jean-Luc
Godard, a arte de Carlos Scliar, Decio
Otero & Ballet Stagium aqui.
Princípios de uma nova
ciência de Giambattista
Vico, a poesia de Anna Akhmátova, Hora e vez de Augusto Matraga de João
Guimarães Rosa, O cravo brasileiro de Rozana
Lanzelotte, Devassos no paraíso de João Silvério Trevisan, a pintura de Eliseo d'Angelo Visconti &
Moacir, a arte de Dercy Gonçalves & Programa
Tataritaritatá aqui.
Viva São João, a música de Luiz Gonzaga, a poesia de
Ascenso Ferreira, Terra de Caruaru de José Condé, Tratado da lavação da burra
de Ângelo Monteiro, o teatro de Artur Azevedo, o cinema de Sérgio Silva &
Dira Paz, Brincarte do Nitolino, a xilogravura de José Barbosa & Severino
Borges, a pintura de Rosangela Borges & Valquíria Barros aqui.
O amor de Naipi & Tarobá, Arte e percepção visual de Rudolf
Arnheim, Eles eram muitos cavalos de Luiz
Ruffato, a pintura de Fernand Léger, a música de Vivaldi & Max Richter,
Improvisação para teatro de Viola Spolin, a fotografia de Fernand Fonssagrives,
a arte de Regina Kotaka & Eugénia Silva aqui.
Penedo, às margens do São Francisco, História social do Brasil de Manoel Maurício de Albuquerque, Asvelhas
de Adonias Filho, a música de Bach & Rachel
Podger, A arte maldita de Georges Bataille, a pintura de Jaroslav
Zamazal, a arte de Marcel Duchamp, a
fotografia de Karin van der Broocke, Vanguard &
Kéfera Buchmann aqui.
Ela, marés de sizígia, Mulher de Yone Giannetti Fonseca, Tratado de argumentação de Chaïm
Perelman & Lucie Olbrechts-Tyteca, a música
de Guilherme Arantes, Pensamento crítico, Vaudezilla &
Urban Jungle, a pintura de Tom
Pks Malucelli & Time Honored Desins, a arte
de James Halperin & Luciah Lopez aqui.
As olimpíadas do Big Shit Bôbras, Os dragões do éden de Carl Sagan, O discurso da difamação de Affonso Ávila, a música de Peter Machajdik, a pintura de Brian Keeler
& Gray Artus, Microbiologia dos alimentos &
Casa do Contador de Histórias aqui.
Só a poesia torna a vida suportável, Vanguarda
nordestina de Anchieta Fernandes, Estado de choque de Walmir Ayala,
Vanguarda & subdesenvolvimento de Ferreira Gullar, o cinema de Anna
Muylaert, a pintura de Károly Lotz, a música de Ira Losco, a arte de Jean Dubuffet & Michael Mapes aqui.
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Fecamepa –
quando o Brasil dá uma demonstração de que deve mesmo ser levado a sério aqui.
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CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
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