sexta-feira, maio 16, 2014

INGEBORG BACHMANN, SOFI OKSANEN, GURINDER CHADHA, ALICE PAUL & ROSA

 


A DANÇA DE ROSA NA ÓPERA DO CAVALO – ATO 1 – A DANÇA - Imenso salão e lá está ela em pé de costas, com seu vestido negro, ao som da Sonata para Violino nº 3 – Melodia e nº 4 Presto, de Béla Bártók. Fita as velas acesas. De repente tira os sapatos e descalça transita pelo espaço enorme. Então se deita sobre o frio piso, rola o chão, levanta-se e rodopia, braços abertos com passos firmes desenvolve uma coreografia inspirada em Anne Teresa De Keersmaeker. E lá chego na carreira para encontrá-la Fumiyo Ikeda pro nosso pas de deux. E dançamos e rolamos pelo chão e crescemos juntos e pulo no voo, tiro o paletó e faço o solo para que tenhamos o nosso momento de ir embora. ATO 2 – A ÓPERA DO CAVALO –  Lá estava ela jogadora de tênis acendendo o cigarro enquanto as bolas rolavam no piso ao som dos arcordes de Andriessen. O amante à luz noturna seguia firme, outros acompanhavam enquanto o balé pelas tábuas do piso rastejava o matadouro sob os olhos da investigadora. Ela expõe o glúteo rebolador sob a saia curta ao pegar o isqueiro, acendeu o cigarro em tragadas oníricas, sob o olhar dos supostos jogadores que passavam giz no taco imaginando-a caçapa da sinuca. À invasão de intrusos ela se desfez da peruca, largou os óculos e as vestes, seguiu ao estrado para adorar o cavalo do amante. Foi desmascarada e completamente desnudada sacudiram-na ao sofá. Ajeitou-se aboletando-se às tragadas: pensava naquele que preferia o cavalo, ignorando-a, enquanto desejava que ele a fizesse sua égua, adorando-a com o mesmo fervor que dedicava àquela montaria. O sonho dela nua sob as investidas certeiras do amo reverberava entre bailarinos e figurantes engalfinhados promiscuamente, todos fodiam como cachorrinhos ao som dos acordes da Im Sommerwind de Webern. Ele então se aproxima e espanca-a até tê-la Conchita, a estendê-la às palmadas nas nádegas, ela sorridente deliciosa, revirando-a a afagar-lhe violentamente os seios e a possuí-la inclemente. Abruptamente abandona-a e solitária ela unta o corpo nu com óleo negro provocando-o para estrupá-la por trás ao dedilhado do piano. E a trota dançante enquanto beija a partitura e a distribui aos demais presentes para que todos os cavalos trotem e possam galopar sob as ordens do ufano cavaleiro de todos os mandos, enquanto ela supliciada chora abandonada abundantemente. Fez-se égua ao seu cavaleiro. E ele cavalgava pelos desertos distantes e amava seus cavalos que escravizavam índios, caras-pálidas, dançarinos, beberrões, campesinos, abastados, o poderoso fazendeiro com seus capangas no galope. Entristecida com todas as lágrimas como se fosse a de Hiroshima do Vinícius, girava na cadeira. O trem passava tronitruante com as notícias das mortes de Bucket, Arcadio, Zick, Marseil, Juan Manuel, Butlizer, Fallthuis, Felixchange & Lennon. Ela bêbada fumando os tiros do assassinato é levada ao sacrifício, torturada, sevidiada, abusada, até ser deitada sobre o morto a chamá-lo, ambos aprisionados pela turba. Mais estupram-na e é a festa popular correndo solta, o morto enfim crucificado e ela com ele, para sempre na chuva e no fogaréu, sucumbem. Ela não sabia que renasceu no meu coração e me trouxe a sorte como se fosse a dos Ventos e se fez Amarela como presente de Afrodite a Eros e, por isso, a louvarei como se fosse a de Pixinguinha, celebrando Esmeralda com a morte do compositor. Veja mais aqui, aqui e aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Nunca haverá uma nova ordem mundial até que as mulheres façam parte dela. Nunca duvidei que a igualdade de direitos fosse a direção certa. A maioria das reformas, a maioria dos problemas são complicados. Mas para mim não há nada complicado na igualdade comum. Quando você coloca a mão no arado, você não consegue largá-lo até chegar ao final da linha. Pensamento da ativista feminista e sufragista estadunidense Alice Paul (1885-1977).

 

ALGUÉM FALOU: Eu sei que parece muito estranho, mas somos todos crianças que buscamos a aprovação de nossos pais. Quando lhe dizem que, como cineasta negra, as histórias que você quer contar não são comerciais o suficiente, você começa a pensar: 'Vou contá-las de qualquer maneira.' Quanto mais faço filmes, mais me sinto menos inclinada a falar sobre eles e apenas deixar as pessoas assisti-los. Sinto que as fotos contam a história e não posso acrescentar nada, exceto apenas falar sobre os detalhes técnicos do que aconteceu naquele dia. Pensamento da cineasta e roteirista queniana Gurinder Chadha.

 

ROSA – O curta-metragem Rosa (1992), dirigido por Peter Greenaway, apresenta o encontro de um casal de bailarino durante dois movimentos da Sonata para Violino, de Béla Bartók, foi filmado na Gent Opera House com coreografias de Anne Teresa De Keersmaeker. Já o longa-metragem Rosa, A Horse Drama (1994), é uma ópera em 12 cenas do compositor holandês Louis Andriessen com libreto da série Death of a Composer de Peter Greenaway, que explora as mortes de dez compositores do século 20, dois reais, nos casos de Webern e Lennon, e os demais fictícios, contando a história do compositor argentino fictício Juan Manuel de Rosa, que escreve trilhas sonoras para faroestes e é assassinado no Uruguai. Sua noiva Esmeralda inveja o cavalo de Rosa, porque ele o ama mais do que ela. Rosa se apaixona por seu cavalo enquanto maltrata sua noiva, Esmeralda Boscano, que escreve constantemente para a mãe sobre esses acontecimentos. Num movimento desesperado para atrair a atenção de Rosa, ela se despe e se cobre com tinta preta, na tentativa de se parecer com o cavalo de Rosa, uma égua preta. Enquanto isso, dois cavaleiros, possivelmente irmãos de Esmeralda, avançam sobre Rosa enquanto ele cavalga e o matam a tiros. Eles então realizam o casamento de Esmeralda com o cadáver de Rosa. Acontece que Rosa deixou um testamento com uma frase "Quando eu morrer, mate meu cavalo e queime-o". A ópera termina com o cadáver nu de Rosa montado em seu cavalo morto que foi eviscerado e agora contém Esmeralda e todo o dinheiro de Rosa. Tudo é então queimado. A ação se passa em um matadouro abandonado. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

 

JANE - [...] Bem, você quer fazer alguma coisa? - Eu acho que não. - Acho que você quer ir a algum lugar, ver gente? - Na verdade. Não tenho nada a ver com ninguém. Não há nada para conversar com ninguém. Não há o que conversar quando você não vê ninguém, não faz nada, não vai a lugar nenhum. - Você deveria ir a algum lugar e fazer alguma coisa? - Por que? - Bem, havia algo para conversar. - Mas você não sabe se quero falar com alguém. Por que eu falaria? [...]. Trecho extraído da obra Baby Jane (WSOY, 2005), da escritora e dramaturga finlandesa Sofi Oksanen, que da sua arte expressa: Escrever é como representar, a questão é que está no papel, escrever um ato político e os livros são importantes para criar opinião.

 

SEM DELICADEZAS - Nada mais me agrada. \ Devo\ guarnecer uma metáfora\ com uma flor de amêndoa?\ crucificar a sintaxe\ sobre um efeito de luz?\ Quem despedaçará o crânio\ por coisas tão superficiais —\ Aprendi a levar em consideração\ as palavras\ que lá estão\ (para a classe mais baixa)\ fome\ vergonha\ lágrimas\ e\ escuridão.\ Saberei lidar\ com o soluço impuro,\ com o desespero\ (e ainda me desespero de desespero)\ com a muita miséria,\ o estado dos doentes, o custo de vida.\ Não desprezo a escrita,\ mas a mim.\ Os outros sabem\ sabe Deus\ se entender com as palavras\ Não sou meu assistente.\ Devo\ aprisionar uma ideia,\ conduzi-la até uma célula iluminada da frase?\ alimentar olho e ouvido\ com bocados \de palavras da melhor qualidade? \ analisar a libido de uma vogal,\ investigar o valor erótico de nossas consoantes?\ Tenho que\ com a cabeça destruída por granizo,\ com a cãibra por escrever com esta mão,\ sob a pressão da tricentésima noite,\ rasgar o papel,\ varrer as tramas de palavras operísticas,\ destruindo assim: eu tu e ele ela isso\ nós vós?\ (Devo, sim. Devem os outros.)\ Minha parte, que se perca. Poema da da poeta e filósofa austríaca Ingeborg Bachmann (1926-1973). Veja mais aqui.

 


DO INDIVIDUALISMO POSSESSIVO AO UMBIGOCENTRISMO DA FUTILIDADE – Já dizia o filósofo e político italiano, um dos expoentes da pós-modernidade, Gianni Vattimo: “[...] significa que hoje temos laços comunitários menos fortes, enraizamentos menos profundos na família e com a comunidade do território, não acreditamos mais na raça”. Veja mais do Umbigocentrismo. Veja mais do autor aqui


A MULHER E A SORTE PARA SÖREN AABYE KIERKEGAARD (1813-1855) – “[...] A sorte não nos bafeja muitas vezes, devemos pois aproveitá-la o mais possível quando se apresenta; o mal está em que não é de modo algum difícil seduzir uma jovem, mas sim encontrar uma que valha a pena ser seduzida”. (Diário de um sedutor, Kierkegaard). Veja mais Filosofia. Veja mais do autor aqui.

A VIDA SEMPRE POR UM TRIZ – Já dizia Baudelaire: “Felizmente, essa imaginação interminável só durou um minuto, pois num intervalo de lucidez, às custas de um grande esforço, você conseguiu olhar para o relógio. Mas já outra corrente de ideias o está levando; por mais um minuto o fará rolar no seu redemoinho vivo, e esse outro minuto será uma eternidade. Pois as proporções do tempo e do ser estão totalmente distorcidas pela quantidade e intensidade das sensações e das ideias. Parece que se está vivendo várias vidas de homem no espaço de uma hora”. (Charles Baudelaire, O poema do haxixe. Rio de Janeiro: Newton Compton, 1996). Veja mais aqui

TRIBO IK – Por força de uma determinação governamental, a tribo Ik caçadores das montanhas do norte de Uganda, foi transferida das suas terras de caça para um território com solo árido e rochoso. O resultado dessa decisão provocou a fome entre esse povo montês, definhando por falta de alimento e deteriorando sua estrutura social. A fome predominava e, por causa disso, uns se voltaram contra os outros, abandonando os sentimentos de amor e afeição que havia entre eles. As crianças da tribo que não conseguiam encontrar comida eram deixadas em cercados à espera da morte, juntamente com os avós deixados à míngua.


ANTÍPODAS TROPICAIS, DE ADRIANO NUNES – Já tem data marcada para o lançamento do segundo livro do poeta alagoano Adriano Nunes, Antípodas Tropicais, pelo selo da Editora Vidráguas, da poetamiga e editora Carmen Presotto. Em Maceió, o lançamento ocorrerá no próximo dia 28/05, às 11hs, na Editora/Livraria Edufal, no campus da Ufal. Imperdível. Veja mais Adriano Nunes.


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